Meu Charlie escrita por Ellen Cullen


Capítulo 1
por você


Notas iniciais do capítulo

Essa história surgiu, quando a professora propôs fazermos uma história que lembrasse " o soldadinho de chumbo" espero que gostem. :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/160041/chapter/1

Prefácio

A morte é uma coisa fácil de encarar... A vida, no entanto não é fácil.

Mas a morte pode chegar a você de uma maneira simples e rápida...

Já a vida pode ser um pouco mais... Complicada.

A morte faz parte da vida de todos nós, mais não sabemos a que hora iremos morrer, só temos certeza de uma coisa: um dia ela vem.

Alguns acreditam que a morte só chega quando você realmente tem que morrer, por outro lado, há aqueles que acreditam que a morte não tem hora nem lugar, ela pode te pegar quando você menos espera para acontecer...

Foi assim que aconteceu comigo... Nunca pensei muito na morte. Mas mesmo que eu tivesse, eu não iria imagina-la assim...

Meu nome é Mike, moro sozinho, todos os dias para mim são iguais aos anteriores, sigo uma rotina normal: acordo tomo café, leio o jornal e vou trabalhar. Quando chego em casa trabalho mais um pouco em meu escritório e vou dormir.

Já fui casado, mais me separei há pouco tempo e meus pais morreram num trágico acidente de carro no dia do meu aniversário, desde então sou sozinho no mundo.

Na verdade, eu quase já me acostumei em ficar sozinho, depois de um tempo você aprende a viver com a solidão. Penso, no entanto, que apesar de ser uma escolha minha, às vezes eu sinto falta de uma companhia...

Hoje pela manhã senti que não pareceria ser um dia normal, comum, por que a partir de hoje decidi: quero mudar esta rotina.

Li no jornal hoje a parte dos classificados e soube que haverá uma exposição de cães de diferentes raças, e resolvi adotar um, afinal como todos dizem “o cão e o melhor amigo do Homem”

Por que não? Eu sempre gostei de animais.

Depois que sai do meu trabalho, peguei o jornal e segui o endereço, era quase de tardezinha, havia poucas casas na rua, a maioria era terreno baldio. A rua havia mudado, agora ela tinha asfalto, menos arvores mas o resto continuava do mesmo jeito.

O lugar não fica muito longe de onde moro, cerca de 20 quarteirões apenas. Não tive dificuldades de estacionar a rua estava quase deserta.

Reconheci o lugar logo que vi, ficava em uma antiga lojinha de brinquedos, que eu vinha com o meu pai. O lugar era um tanto pequeno demais para uma exposição.

Uma senhora meio rechonchuda veio me atender assim que pisei na loja. Passei por várias seções diferentes, um cão mais lindo do que outro.

Quando estava passando, senti uma língua passar pelos meus dedos, e quando me virei, eu o vi, seu lindo rostinho de filhote travesso abanando o rabinho.- Do tipo que você olha e se apaixona instantaneamente.

Percebi por que ele tinha dificuldade de se apoiar na grade, ele não tinha uma das patas da frente.

Resolvi adotar ele.

A senhora que me atendeu, ficou um tanto surpresa pela minha escolha.

— Mas senhor - ela tentou escolher bem as palavras- quero dizer, o senhor tem certeza que quer mesmo este cão?

Percebi que ela olhava para o cachorro e para mim com um olhar de dúvida nos olhos.

— Mais é claro - respondi confuso pela sua pergunta- por que não este?

— Bom, é que ele só tem três patas e...

Ela deu de ombros.

— Na verdade eu já percebi isso- respondi secamente.

— Claro, então tudo bem.

Sai da exposição com meu (bom, agora meu) cachorro. Senti que a mulher me encarava mesmo de costas, mas nem liguei.

Cheguei em casa com meu cachorro que ainda não tinha um nome.

— Bom, acho que você precisa de um nome meu caro.

O cachorro me olhava como se tivesse tentando me acompanhar. - O que acha de... Charlie?

O cão virou a cabeça como sinal da minha pergunta. Então ele deu um latido e abanou o rabo.

Charlie era um labrador, e era um tanto travesso, ele comia ração e de vez em quanto um sapato, ou  o que estivesse em sua vista...

Todas as tardes eu passeava com Charlie, íamos aos parques e praças, e a meio a esses passeios descobri algo sobre Charlie: ele não era só um cachorro que lutava com suas dificuldades de andar, mesmo com as dificuldades que tinha, ele era alegre, mas para mim ele era mais do que isso, ele era um pequeno vencedor.

Costumava-mos andar também bastante de carro, Charlie adorava sentir o vento da janela do carro, - alias ele preferia fazer isso a andar com as próprias patas.

Mas para Charlie não existia um desafio que ele não conseguisse cumprir ele era pequeno, ágil e muito inteligente.

Resolvi que como hoje eu estava de folga, poderia tirar um dia para mim e Charlie, seria bom sair de casa pra variar e fazia um dia lindo lá fora. Poderíamos ir para a praia...

Hoje, no entanto, a pista estava um pouco movimentada demais, e Charlie estava um pouco agitado com isso. Enquanto prestava atenção na pista percebi que um caminhão que estava com uma grande quantidade de troncos de madeira grossos balançava um pouco com o peso e só havia três cordas grossas amarradas entre elas.

Charlie estava no banco da frente do meu lado observando o caminhão como eu, e então ele se deitou pra tirar um cochilo. Percebi que estava ficando um pouco frio, apesar de estar bem calor quando sai de casa, e isso talvez pudesse atrapalhar meus planos de hoje.

Do nada, Charlie pulou do banco e começou a olhar pra todos os lados, alarmado com alguma coisa, talvez ele tenha tido um pesadelo, pensei.

— O que foi Charlie? Teve um pesadelo?

Charlie olhou para mim e foi para o banco de trás e começou a latir para todas as janelas que estavam abertas do carro, e começou a andar pra lá e pra cá. Parecia que ele estava incomodado com algo, mais eu não consegui detectar o que o incomodava tanto.

— Charlie! - gritei para ele- Se comporte agora!

Charlie me ignorou, o que não era próprio dele e continuou a latir. Percebi que o caminhão estava agora atrás do meu carro, e estava se aproximando, Charlie ainda latia e me olhava como se quisesse me dizer algo desde que havia acordado.

Mas o que poderia ser?

Continuei a dirigir e Charlie continuava a latir e latir...

Foi então que algo inesperado aconteceu, foi tão rápido que parecia ter sido um vulto, vi Charlie pelo espelho pulando pra fora do carro. Fiquei desesperado eu não podia parar no meio da pista, mais também, não podia deixar Charlie na pista com todos aqueles carros.

— Charlie! Volta aqui agora!

Fiquei desesperado, o que ele estava tentando fazer na pista com todos aqueles carros?

— Charlie!- Tentei gritar novamente- Charlie volta!

Ele só me olhou uma vez mais continuou a latir então percebi que ele latia para o caminhão carregado com troncos grossos e seja lá o que ele tivesse tentando fazer ele parou o caminhão.

Queria saber por que ele implicou com aquele caminhão, desde a hora que ele estava tirando a sua soneca ele de alguma forma... Ficou incomodado.

Buzinas tocavam no meio ao tumulto provocado pelo caminhão, então, aproveitei para tentar tirar ele lá do meio da pista, desci do carro para tentar pega-lo.

Eu me sentia como se estivesse preso num daqueles terríveis pesadelos onde você precisa correr até os seus pulmões estourarem, mas você não pode fazer o seu corpo se mover depressa e bem agora que eu precisava, minhas pernas estavam se movendo devagar, tentei atravessar a multidão de carros e motos pela pista.

Tive outra sensação, me senti num daqueles filmes, onde você vê tudo em câmera lenta passar por você, e tudo o que parece improvável ou exagerado acontece.

A única coisa que poderia ter acontecido e não aconteceu, foi alguém por um acaso me ajudar. Impressionante como nessas horas não tem um que venha te dar uma mão.

Estava tudo lento em minha mente, eu estava tentando assimilar tudo o que estava acontecendo comigo.

Um carro bateu no caminhão e ele tremeu e balançou sua carga, ela se desprendeu das cordas que a seguravam, os troncos rolaram e caíram sobre Charlie.

— Não! Charlie! Não!

Queria fazer algo, queria impedir que os troncos caíssem sobre ele. Será que era por isso que ele esteve tão inquieto? Será que ele só estava impedindo do caminhão se aproximar do carro, por que ele sabia o que ira acontecer? E preferiu arriscar a sua vida para salvar a minha, seu dono? Tentei não pensar nisso.

Quando finalmente eu consegui atravessar a pista para socorrê-lo uma moto me atropelou. Fiquei caindo no chão quase inconsciente vendo Charlie morrer sem poder fazer nada. Eu via o seu fim trágico e sabia que não poderia ajudar Charlie. Ele me olhou uma ultima vez nos olhos...

Arrastei-me no chão mesmo sabendo que ele estava morto, isso na verdade não importava pra mim, eu queria ter a chance de vê-lo uma última vez, e vi que o tronco estava com Charlie esmagado rolando penhasco abaixo, continuei a me arrastejar e a ultima carga do caminhão caiu sobre mim. Vi a morte chegar mais perto de mim, a cada segundo.

A cada vez que eu tentava respirar, que tentava chamar por Charlie, sentia meu corpo ficar mais fraco, mais gelado... Vi o meu sangue percorreu penhasco abaixo parando ao lado do tronco que estava o Charlie esmagado. Naquele momento eu sabia que eu estava morto, minha alma já não estava mais em meu corpo, e esse foi o momento mais feliz que tive naquela hora, por que eu sabia que Charlie estava morto mais eu também estava. Mais nada importava para mim, só ficar ao lado de meu cachorro...

Há quem vá pensar que esse seja um pensamento egoísta, ou doentio, mas o que mais eu iria pensar nessas horas?

Charlie foi à única coisa importante que eu tive em toda a minha vida, e perde-lo desta forma foi muito doloroso para mim, mas penso que teria sido bem pior se ele tivesse morrido e eu tivesse ficado vivo...

Vi por cima das rochas onde a minha alma que estava vagando algo pequeno e vermelho.

Um pequenino coraçãozinho foi formado com o meu sangue e o sangue de Charlie...

Meu Charlie...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Meu Charlie" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.