1997 escrita por N_blackie


Capítulo 53
Leonard




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O salão de bailes nunca estivera tão sombrio. Era um ambiente pouco usado na época em que Sirius e Marlene comandavam a casa, e Druella sempre reclamara. A resposta padrão para quando isso acontecia era que a família não tinha dinheiro para esse tipo de evento, o que Leonard sabia que era uma mentira deslavada. Era só mais divertido usar o quintal.

Cortinas de veludo negro caiam até o chão em torno das amplas janelas de batente branco, emoldurando uma noite estrelada e fria, sem lua ou estrelas. O chão de mármore era rajado de pedra vermelha e preta, e pontilhado por várias mesas redondas de cristal e madeira ladeadas por cadeiras de assentos macios e elegantes das mesmas cores. Naquela noite, um palco havia sido montado, e sob ele tocava um quarteto de cordas vestido em suas melhores capas. A música enchia o ar, bem como a mistura por vezes enjoativa de muitos perfumes chiques. Andando pelos casais que dançavam, Leonard as vezes podia sentir o cheiro de vinho e carne assada, mas ao contrário de se sentir faminto, só sentia saudade de Jack. Ele sempre adorou carne assada.

Enquanto entrava no salão, se esforçou para sorrir, algo que lhe parecia mecânico demais para a ocasião, mas que a cada segundo, a cada movimento em falso, Leonard percebia que seria essencial para sobreviver. Não por ele, exatamente, mas por Violet. Druella e os Malfoy não matariam o último herdeiro Mckinnon-Black. Mas uma nascida-trouxa, para atingi-lo, o garoto já não tinha tanta certeza.

“Essa é oficialmente a festa mais sinistra em que eu já estive. “ Richard comentou em sussurros quando ele sentou-se novamente. Leonard tinha de concordar. Todos os garotos tinham acordado e dado de cara com fraques e ternos muito chiques, e mesmo Rich, que nem sabia como abotoar um terno, tivera que colocar um.

Druella deixara que se sentassem junto com as meninas, para “as filhotes de trouxa não se sentirem solitárias”, mas ficava constantemente olhando a mesa deles de soslaio, então Leonard ainda não pudera falar com Violet, e muito menos comentar que ela estava linda. Mas ela estava. Era preciso um esforço sobre-humano para não dar um beijo nela.

“Você conhece todo mundo aqui, Leo? “ Samantha coçou o pescoço, que aparentemente era alérgico a joias caras.

“Não, só alguns. “ Druella tinha sumido por um instante, e Lucius e Narcissa conversavam com outro casal, que Leonard nunca vira pessoalmente, mas ouvira lendas. “Aqueles dois, por exemplo, eu só conheço pelas histórias. “

Bellatrix Lestrange. Quando Leonard era muito pequeno, já ouvia Druella sussurrar o nome da filha do meio sozinha no quarto, ou usá-la como exemplo de elegância e lealdade à família, em discussões mais sérias com Sirius. A resposta do pai de Leo era sempre a mesma: “se ela fosse metade do que você pensa, tia, ela estaria viva. “

Um dia tomara coragem para perguntar a Marlene quem exatamente era essa moça, e lembrava nitidamente dela lhe sentando em seu colo, alisando seus cabelos, e sorrindo. “Você é uma criança muito curiosa, sabia? “ Sua voz parecia a mesma de sempre, doce e carinhosa, mas Leo sabia que tinha tocado num assunto delicado. “Bellatrix Lestrange foi uma bruxa muito, muito má. Ela era prima do seu pai, mas fez escolhas erradas, e por elas, acabou sofrendo muito. “

“Mas ela tá viva, mamãe? “

“Não. “ O peito confortável de Marlene subiu e desceu lentamente, levando a cabeça do filho junto. “Nem sempre a vida é tão gentil com quem faz o mal, filho. E com Bellatrix, ela foi bem cruel. “

Apesar dessa explicação, Leonard não parara de perguntar, e foi em edições antigas d’O Profeta que encontrara a resposta. Não fora a vida quem decidira o destino de Bellatrix Lestrange.

Fora seu pai.

Leonard tinha doze anos quando lera sobre isso, e ainda assim, com quinze, não conseguia entender como aquela mulher tinha sobrevivido à maldição da morte. Lá estava ela, de salto e vestido comprido negro, pele tão branca quanto o mármore em que pisava, os cabelos longos e enrolados como os de Adhara eram quando ela os usava compridos. E um sorriso idêntico aos da irmã de Leonard. Como era possível duas pessoas nunca terem de encontrado, e terem modos tão similares?

Apesar de estar abraçada no marido, um cara que Leonard conseguiria descrever apenas como “alto e sinistrão” (e Richard de fato usara essas palavras, então Leo sabia que acertara), dava pra perceber quem estava no comando daquela dupla. Suas mãos terminavam em dedos compridos e garras pintadas de preto, que pousavam ameaçadoramente nos ombros largos do seu companheiro. Os olhos tinham o mesmo formato dos de Sirius e Adhara, mas em vez de serem cinzas, eram negros. Não tinham a expressão fria e divertida do pai de Leonard, mas a postura feroz e provocadora de Adie, e olhava Narcissa como Adhara olhava Jack. Era um irmãozinho, uma menininha ou menininho a quem ela devia cuidar, mas que era engraçado e patético ao mesmo tempo.

Como se tivesse percebido o olhar de Leonard, Bellatrix inclinou a cabeça e fixou o olhar nele, e os pelos na nuca dele arrepiaram. Aquela definitivamente não era a sua irmã. Desviou o olhar como se tivesse levado um choque.

“Bonsoir. “ Pollux se aproximou, os dedos passando para tentar desgrudar os fios de cabelo que estavam cheios de um gel brilhoso. “Pela sua expressão, primo, já conheceu Bellatrix. “

“Não precisei conhecer. “ Leo abriu espaço para ele sentar, mas Pollux recusou com um aceno das mãos.

“Não vou me demorar. Vim perguntar se podemos ter uma conversa mais tarde, Leonard. “

“Sim, mais tarde. “

“Ótimo. Ah! Antes que alguém mais se aproxime, “ o sonserino inclinou o corpo esguio para o centro da mesa deles, “acredito que seja prudente começarem a pensar em autodefesa. Pelas conversas que venho ouvindo, Hogwarts não será gentil quando retornarmos. “

Druella chegou aos poucos atrás dele, e Pollux virou os olhos para o lado, notando sua presença.

“Bem, tenham um bom jantar. Adieu. Olá, Tia. “

“Olá, querido. “ Um sorriso satisfeito iluminou a cara seca de Druella, e ela deu tapinhas nas costas dele. “ Tem uma moça linda que quero que conheça, me espere na varanda. “

Enquanto Pollux se afastava, a velha pegou no braço de Leonard e o levantou, lhe lançando um olhar severo. “E você, tenho alguém para te apresentar também. Vai esquecer a trouxa num minuto. “

Leonard ficou tentado a mencionar que Violet estava há menos de um metro de distância dela, mas se limitou a olhar a namorada de relance. Ela sorriu de forma neutra, e fez sinal para que fosse.

Se desvencilhou de Druella no meio do caminho, avisando que podia andar sozinho, e só recebeu uma risadinha em troca. Viu alguns rostos conhecidos na multidão, de artigos sociais que as vezes apareciam nos jornais, e notou algumas figuras do Ministério por lá também. Ludo Bagman fez um brinde silencioso a ele quando passou, e o peito de Leonard queimou de raiva. Ludo era amigo de seus pais, o que estava fazendo ali, brindando naquele vinho das trevas com aqueles bruxos das trevas? Cruzou os braços, e quase trombou em Druella quando ela repentinamente parou.

“Bella, minha querida, este é Leonard! “

E, sem perceber, Leonard percebeu que se deixara cair nas mãos de Bellatrix. De perto, ela não era mais alta que ele, mesmo de salto, mas sua presença o fez ficar ao mesmo tempo assustado e intrigado. “Boa Noite. “ disse automaticamente.

“Você é a cara do seu pai. “ Ela sorriu, circulando – o como um predador. “Ele também tinha esse jeitinho descolado que você tem. “

“Leonard é da corvinal, querida. Acredita? Um Black na corvinal! “

O marido de Bellatrix riu, mostrando uns dentes que pediam uma escovação urgente, mas a mulher mesmo não disse nada. Apenar o encarou, como se o avaliasse. Sem calcular muito bem, Leonard disse o que estivera pensando minutos antes.

“E você parece muito a minha irmã. “

Bellatrix Lestrange parou de avalia-lo, e sorriu de lado. “Eu sei. Era uma garotinha adorável. Pena que Sirius a tenha educado para ser uma rebelde traidora de sangue que nem ele, não? Haha, mas quem sabe eu não a encontre por aí e nós fiquemos boas amigas? Eu adoraria ter uma boa conversa com ela. “

O sangue de Leonard congelou, e ele afastou de sua cabeça a imagem dessa conversa que Bella estava insinuando. Sorriu friamente, mas por dentro só queria sair dali. Respirou fundo para estabilizar as mãos, e continuou sorrindo. “Com licença. Tia, pode me apresentar as moças daqui a pouco? Preciso ir ao toalete. “

Voltou quase correndo para a mesa, e se sentiu estúpido por sentir alívio ao ver que todos os amigos continuavam lá. O que estava imaginando? Violet franziu a testa. “Está pálido. “

“Bellatrix é uma versão mais velha e mais assustadora da minha irmã. “ Tomou um copo de água, fingindo que parara ali para tirar o terno. “É uma ameaça, com certeza. Vamos precisar aprender a nos defender disso, Pollux tem razão. “

“Estávamos discutindo isso. “ Samantha falou tentando não mexer os lábios. “Vamos voltar pra Hogwarts, e por lá começamos a treinar. Aqui não tem condição. “

“Sim, isso, isso mesmo. “

“Porque está com pressa, Leo? “

“Prometi que ia no banheiro. Até mais. “


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