1997 escrita por N_blackie
“Vai abrir um buraco no chão, pai. “
Remus parou de andar pela cozinha e se encostou à pia, observando o filho mais velho fazer um avião para dar comida ao bebê. Romulus empurrou a colher colorida lentamente na boca de Teddy, que abriu um sorriso feliz quando engoliu a mistura marrom. “Isso é bom? “ Perguntou ao bebê, pegando um pouco daquela meleca e experimentando. Parecia que alguém havia misturado batata sem sal e carne cozida.
Lá fora, o céu claro começava a escurecer, e a sombra vaga do que seria uma lua bem cheia começava a aparecer. Romulus procurou o olhar do pai, mas não teve resposta. Remus estava inquieto, claro, mas havia mais de um motivo para isso.
“Daqui a pouco ela chega, fica tranquilo. “
“Já faz uma hora que ela devia ter chegado...” Remus mirou o lado de fora da casa pela décima vez, e depois a lareira. Nada de Nymphadora chegar. Teddy parou de comer e começou a seguir o pai atentamente com os olhos púrpuras, curioso.
“Está deixando o Ted nervoso também. Se chegar a hora pode descer que eu cuido dele. Daqui a pouco ela chega e ficamos bem. Como está se sentindo? “
“Instável. “
“Vai ficar mais se continuar se agitando. Já tomou a poção? “
“Já. Lily trouxe mais cedo. “
“Ok. “
Romulus não queria dizer ao pai – Remus já estava abatido demais -, mas estava ficando lentamente mais preocupado com o paradeiro de Tonks, especialmente porque ela tinha anotado todos os horários de volta em um quadro pendurado próximo à porta, para segurança. Desde que voltara de Hogwarts muitas mudanças ocorreram, quase todas relacionadas à se proteger contra tudo e todos. Tudo mesmo, inclusive o Ministério.
“Não podemos mais confiar em ninguém”, Remus dissera na noite do regresso.
Até o clima na casa estava pesado, como se o ar sentisse que estavam todos preocupados. O único que parecia alheio à tudo era o próprio Teddy, que ainda permanecia um bebê amigável que precisava das mesmas coisas. A mão gorda bateu em seu pulso, fazendo o talher cair no chão com um tang!. Remus soltou uma exclamação.
“Que susto você deu na gente, Ted! ” Romulus falou por cima do guincho do pai, tranquilizando o menininho. Outro estalo seguiu o barulho do talher.
“Meninos? ” A voz familiar de Nymphadora desacelerou o coração de Romulus, que sorriu aliviado ao vê-la entrar pelo portal da cozinha. Parecia cansada e meio assustada, mas viva e bem. Remus correu para sua direção. “O que está fazendo aqui, seu maluco? ”
“Fiquei preocupado. Você não chegava...”
“Algum doido tentou me seguir na saída do Ministério, ” explicou ela enquanto enchia uma chaleira com água, “tive de fazer um caminho mais longo, meio trouxa, para conseguir chegar. “
“Ministério ou comensal? “
“Comensal, acho. “ Ela amarrou os longos cabelos castanho-escuros para longe da nuca suada. Romulus perguntara porque tinha abandonado os tons coloridos, e ela lhe dissera que não queria mais chamar tanta atenção no ministério. A chaleira começou a apitar, e Tonks fez uma careta. “Pode pegar pra mim, Rem? ”
Remus foi até o fogão, perto da janela, mas quando pegou a chaleira não teve forças. Romulus conhecia aquela mudança, e olhou pela janela para ver a luz do luar chegando aos poucos na casa. Pousou a colher que usava com calma, e limpou a boca de Teddy.
“Pai, é melhor você descer. “
Cambaleando, Remus se apoiou na esposa para seguir para a escadaria que dava em seu porão, onde estava livre para se transformar sem problemas e passar a noite. Poucos minutos depois, Nymphadora voltou, e sentou-se para tomar o chá.
“Ele comeu bem? ” Passou os dedos pelos pezinhos do filho, que sacolejava para sair do cadeirão. Romulus assentiu.
“ E como estão as coisas no ministério? “
“Malucas, bizarras. Parece que sempre tem alguém no meu ombro me observando, sabe. Sem James os aurores ficaram paranoicos... Frank é bacana, mas não é a mesma coisa. “
Teddy balançou mais, e Nymphadora fez menção de tirá-lo dali, mas Romulus a impediu. “Pode descansar, eu cuido dele. “
Com um barulho de trem saindo da estação, Rom tirou Teddy da cadeira, pousando-o com segurança no chão. O menino saiu correndo imediatamente, sem um rumo certo.
“Você é jovem demais pra ficar cuidando de criança, moço. “ A madrasta riu, mas parecia mais triste do que animada. Romulus sorriu.
“Talvez. Dora, se eu te perguntasse o que realmente está acontecendo, seria honesta comigo? “
“Seria, eu acho, “ ela deu de ombros, baixando a caneca fumegante, “se quiser mesmo saber. Ninguém te conta as coisas por aqui, né? “
“Nem aqui nem na casa da minha mãe. Tenho dezessete, sabe. Queria que contassem as coisas pra mim. “
“Eu também queria, quando tinha a sua idade, “ respondeu ela, “na verdade foi por isso que me tornei auror. Achei que assim as pessoas iam me contar segredos sérios e parar de rir do meu cabelo. “
Trocaram um olhar divertido, mas logo uma sombra apagou o brilho nos orbes de Nymphadora. "A verdade, Rom, é que... Cara, eu acho que eventualmente o Ministério vai nos pegar. Sabe, pegar mesmo, de prender e tudo. Sei lá, a outra opção é nos matarem, então veja bem as opções. Eu tento não pensar nisso. “
“Pegar pelo que? Por serem da Ordem? “
“Isso. Você leu O Profeta de hoje? “
“Não, vocês pararam de assinar, não é? “
“Ahn... Não, na verdade não. Deveríamos, né, mas não paramos não. Quem te disse isso? ”
“Meu pai. “ Romulus estava começando a se sentir enganado de novo. Dora chamou o jornal com a varinha, e ele saiu direto do lixo para a mesa, amarrotado.
“Espero que Rem não fique bravo comigo por isso, então, mas veja... Uma, duas, três entrevistas com ex-comensais da morte. ”
“Eles estão dando entrevistas? “
“Estão distribuindo delas, na verdade. Todos dizem que querem justiça, que foi tudo uma armação contra eles... Um monte de bosta que o Ministério está disposto a engolir por algum motivo. E quem você acha que estão culpando por isso? “
“A Ordem. “
“A Ordem. Estou com medo, Romulus. Medo de não ver o meu garoto crescer. Remus também está com medo, por você e Teddy. “
“Não tem como isso acabar? Essa perseguição... Quero dizer, se ela tem motivo para acontecer, deve ter motivo para parar, não? “
“Talvez quando nos exterminarem, isso pare. “
“Não fale assim. Teddy precisa de você, e do meu pai. “
Romulus não queria soar agressivo, mas achou que foi muito duro com ela. O rosto de Nymphadora murchou e os olhos nublaram com lágrimas. Estendeu a mão para a madrasta, que apertou as suas com firmeza.
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