1997 escrita por N_blackie


Capítulo 28
Adhara




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Adhara sempre gostara do anoitecer. A forma com que a escuridão engolia a tudo e a todos por igual, o vento frio que aconchegava as pessoas mais perto, sempre a fascinaram. Contudo, naquele dia, acordara cedo para ver o amanhecer. Outubro avançava, e a cada manhã o nascer do sol parecia mais frio, especialmente nas alturas do campo de quadribol.

Sentada em um dos aros que marcava a posição do goleiro do campo, a grifinória suspirou, mirando o horizonte sem realmente entender por quê. Umbridge estivera sufocando-a, inspecionando cada aula que fazia, e fazendo observações aleatórias em sua prancheta sempre que percebia os olhares de Adhara, talvez na expectativa de criar mais tensão na garota. Mal sabia ela que todo aquele jogo de capa e espada não causavam metade do medo do que as notícias que vinham do exterior faziam.

Adhara virou o corpo com cuidado, e voltou o olhar para a floresta, que parecia inofensiva. O dia anterior passava em sua mente como uma memória de infância, turva e distante, mas o peso do que acontecera causava um misto de perda e tensão nos ombros dela.

Já não estava no melhor dos humores quando encontrara Prongs na manhã antecedente, e desciam para o café da manhã quando notaram a aglomeração de estudantes diante do quadro de avisos próximo à entrada de sua torre. Ron correra (em sua memória, parecera que o ruivo viera muito lentamente, embora ela soubesse que ele estava com pressa) na direção deles, balançando a cabeça. Suas olheiras queimavam da cor de seus cabelos.

“Harry, Padfoot!” exclamara, incrédulo. “Mumble se demitiu!”

Os dois correram até o quadro, que tinha apenas uma nota avisando da substituição do professor de DCAT nos próximos dias, mas nada era dito sobre sua demissão, e tampouco sobre seu destino. Adhara franzira a testa, e a movimentação de Harry lhe disse que o amigo também achava aquilo muito suspeito. Se entreolharam, sem dizer nada.

Um pé de vento acordou Adhara de cima de seu poleiro, e ela notou que estava sonhando acordada com o sumiço do professor. Balançou a cabeça e bocejou.

“Padfoot!”

Olhou para baixo, e viu o vulto de Harry, a quase vinte metros de distância, cobrindo os olhos do sol com uma mão enquanto acenava com outra. Vestia o uniforme com sobretudo, e a sombra turva de um pulôver parecia pendurada em seu braço erguido. Assoviou, e a vassoura veio de algum lugar para ajudá-la a descer.

Quando pousou os pés no gramado orvalhado, viu o amigo sorrir. “Hermione disse que acordou cedo, achei que estivesse aqui. Trouxe um casaco.”

Adhara sorriu sem abrir a boca. Aceitou o pulôver, mas notou que algo na atitude carinhosa de Harry estava nervosa. Quando passou a cabeça e ajeitou as barras da blusa, o amigo a encarava ainda sorrindo, como se quisesse consolá-la em antecipação. Por outro lado, ele estivera assim a semana inteira. Sempre que olhava para Prongs, encontrava um sorriso afetivo, e ele dera para abraça-la sempre que podia. Estava ficando irritante, e com certeza ela já teria mandado outra pessoa ao raio que o parta. Mas esse era Harry, e mesmo seus gestos mais incômodos a irritavam mais tarde do que os outros. Ignorou o sorriso imbecil.

“Os outros já desceram?” perguntou.

“Sim, estávamos no salão para comer quando Hermione avisou.”

“Valeu pela blusa,” começaram a andar, “não estava pensando em ficar tanto tempo, achei que ia dar tempo de pular no dormitório pra pegar uma antes da aula.”

“Não tem problema, amigos são pra isso.”

O salão de avizinhou.

“Ei, tem alguma coisa errada acontecendo, Prongs?”

Os alunos comiam freneticamente, e o som de conversas abafou a resposta murmurada dele. Alguém deu uma risadinha perto dela, e Adhara virou-se rápido procurando quem era. Achou os amigos, e eles lhe encararam com medo.

“Que foi?” perguntou irritada, já se cansando daquela atitude bizarra. Moony a olhou sério, e se levantou com ar solene. Levava às mãos o jornal do dia, e uma foto lhe chamou a atenção. Parecia seu pai. “Moony. Me dá esta merda.”

Arrancou o papel das mãos dele, mas não encontrou muita resistência. Harry se aproximou, querendo abraça-la de novo, mas Adhara se desvencilhou, abrindo a folha.

FUGA EM MASSA DE AZKABAN

QUEM IRÁ NOS PROTEGER AGORA?

O sangue gelou nas veias dela. A foto era de Sirius mesmo, mas estava enquadrada ao lado de outra, tirada no escritório dele. Os móveis estavam revirados, e o carpete fora remexido pelo que parecia terem sido vários pés. Contudo, a figura central não era a bagunça, mas sim o próprio diretor de Azkaban, desacordado.

“Não quisemos te mostrar isso desse jeito...” dizia alguma voz ao fundo. A matéria falava em nomes conhecidos que escaparam, como os irmãos Carrow, mas o que Adhara realmente procurava era o que acontecera ao pai. Um terror irracional a tomara de assalto, e só conseguiu voltar a pensar quando, numa das últimas linhas, leu que Sirius estava bem.

“Estuporado.” Leu vagamente, mais para si mesma do que para os outros. Baixou o jornal. “Preciso escrever para ele.”

“Agora não adianta.” Moony aparecera do nada a seu lado, e ela se deu conta de que estava há muito tempo apertando o jornal nas mãos. Não sabia se estava assustada com a fuga ou extremamente agradecida por não terem assassinado seu pai, mas realmente precisava falar com ele.

“Vamos, você ainda não comeu.” Romulus se aproximou lentamente, tirando o jornal das mãos dela calmamente. Adhara quis reclamar, mas Moony chamou a lógica, dizendo que não iria conseguir receber resposta nenhuma mesmo. Sentou-se, e Harry colocou bacon e ovos em seu prato. Lewis pôs outro prato, com doces, ao lado daquele, e lhe deu alguns bombons. “Força, Padfoot.” Disse.

A figura de seu pai desacordado ficou flutuando em sua mente no caminho até as classes, e quando chegaram às estufas, a Professora Sprout já os aguardava, energética. Gritou para irem a estufa certa, mas quando Adhara passou com Moony, chamou ambos para perto.

“Tudo certo, Black?”

“Claro, fiquei meio desapontada por não ter tanto sangue.” Continuou andando, cansada de ter professores correndo atrás dela para saber como estava.

“Pode usar todo o seu mau humor comigo, menina,” o suspiro veio igualmente preocupado, “mas estamos aqui para ajudar. Mumble não morreu a toa.”

“O que?” ela e Romulus exclamaram, mas a professora já seguira em frente para abrir as portas da estufa.


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