“E então vocês chegam atrás do segundo artilheiro e executam a manobra Broadmoor que vimos ontem,” os bonecos montados em vassouras do desenho de Harry moveram-se através do quadro negro ao toque da varinha do garoto, “mas nada de fazer a manobra inteira, senão além de perdermos o jogo vamos acabar sem batedores.”

O balaço feito de giz atravessou o campo imaginário, foi rebatido pelos dois batedores simultaneamente e acertou em cheio o artilheiro adversário, despedaçando sua imagem. O coração de Jack deu uma cambalhota, e o garoto apertou com mais força o cabo de seu bastão. Olhou para o lado, buscando Adhara, e percebeu que a irmã sorria de expectativa.

A manobra Broadmoor era chamada assim em homenagem a Charles e Kevin Broadmoor, irmãos batedores mundialmente conhecidos por sua atuação nos Falmouth Falcons. Eram tão violentos que conseguiram ser advertidos mais de quinze vezes pelo Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, e foram responsáveis pela popularização do lema “Vamos vencer, mas se não pudermos, arrebentamos o adversário.”. Jack amava os Falcons, e mesmo Adhara, torcedora fiel das Holyhead Harpies, tinha pôsteres dos Broadmoor no quarto.

Jack sabia que irmãos batedores eram um apelo chamativo de patrocínio nas ligas comerciais, e sabia mais ainda que o time ganhara muito desde que ele entrara no time, fazendo par com a irmã. Mesmo os professores mais rabugentos não resistiam quando os dois entravam em campo. Eram simplesmente engraçadinhos demais!

“Não dá pra adaptar uma manobra Broadmoor, tem que ir até o fim!” Adhara reclamou. Harry a olhou com severidade.

“E abrir a cabeça de um dos nossos colegas com um balaço? Não estou tão disposto assim a ganhar a todo custo, e menos disposto ainda de ver vocês dois sendo expulsos.”

Adhara e Jack riram. Desde a confusão com Zabini, os treinos estavam correndo bem, e apesar do clima tenso que pairava em Hogwarts – e das visitas cada vez mais frequentes de agentes do Ministério, que ficavam horas conversando com professores e Dumbledore – o campeonato estava para começar, e Harry já começara com a costumeira paranoia. Depois de mandar outro discurso falando sobre o campeonato (“É nosso último ano, Padfoot! O time vai se dividir!”), Harry finalmente os liberou, e Jack começou a trocar de roupa quando Adhara apareceu.

“O que achou da manobra alterada?” perguntou ela, apoiando-se a armário com um sorriso irônico. Jack tirou a camisa, e depois riu.

“Uma porcaria. Não precisamos matar ninguém pra fazer a Broadmoor, Prongs está preocupado a toa.”

O restante do time começou a sair, e entre os acenos de adeus, Jack respondeu:

“Também acho... Podemos ir pela direita, e ai você rebate e eu direciono. Isso diminui a intensidade, mas mantém a precisão. Sem contar que vai ficar bem legal.”

“Nem McGonagal vai resistir, somos bonitos demais...”

Jack fechou o armário e começaram a deixar o vestiário. O sol estava quase obscuro atrás das montanhas, e uma brisa fresca trazia o cheiro dos pinheiros que circundavam a orla da floresta. Começaram a caminhar pela trilha que dava para o castelo, quando o som de vozes bem conhecidas os alertaram.

“Pensei que quisesse me acompanhar nesta visita, Minerva, na verdade, fiquei bem feliz pela iniciativa.”

“Tolos são os professores que negam o que está acontecendo, Albus. Alguém precisa fazer alguma coisa!”

Jack fez menção de continuar a caminhar, mas a mão de Adhara fixou-se em seu peito, empurrando-o para trás de uma moita. “Hey, o que está fazendo?”

“Cala a boca e escuta.”

O diretor e a professora surgiram no campo de visão dos dois, caminhando apressados pela trilha. Adhara levantou-se assim que eles os ultrapassaram, e começou a seguir os dois escondida. Jack bufou, e começou a acompanha-la. Porque quando ela fazia ninguém estava lá pra impedir?

Dumbledore e McGonagal fizeram uma curva, e depois outra, até acabar diante da cabana de Hagrid. Adhara colou-se atrás de uma moita, e Jack a imitou, espiando pela janela esfumaçada da cabana. O diretor e a professora bateram discretamente, e logo a passagem se abriu, e eles se juntaram a outro conjunto de sombras que caminhavam dentro do lugar.

Jack achou que reconheceu um vestido que se aproximou melhor da janela, mas não conseguia distinguir nada em meio ao vapor que nublava as vidraças. A seu lado, um grunhido frustrado lhe disse que sua irmã estava tão decepcionada quanto ele em não conseguir ver nada. “Acho que dá pra gente ir...” sugeriu. Ela deu de ombros, e começou a voltar para o castelo a passos irritados.

Não conversaram no caminho, mas Jack achava melhor assim. O castelo já estava silencioso, na costumeira calmaria antes de todos descerem para o jantar, e não encontraram ninguém curioso no caminhar pelos corredores até o sétimo andar.

“Senha?”

“Delícias Gasosas” Jack murmurou, e a passagem se abriu para os irmãos.

O salão comunal estava cheio, e mesmo assim, silencioso. O único som provinha de um rádio improvisado, recostado num canto do ambiente, que entonava notícias numa voz entrecortada pela estática. Ao lado da caixa, Harry abraçava Violet pelos ombros, e Samantha se apoiava na parede com a expressão lúgubre.

“Foi anunciada, nesta semana, a reabertura do inquérito investigativo interno referente à caça, assassinato, e condenação póstuma de Tom Marvolo Riddle, em alguns círculos conhecido pelo nome Voldemort. Os membros da organização intitulada Ordem da Fênix, atuante no período e largamente responsável pela divulgação e captura dos nomes relacionados a Voldemort, estão sendo investigados por associação para subversão da ordem, falso testemunho, e em alguns casos, assassinato.”

Violet estremeceu nos braços do irmão, e Jack sentiu como se seu estomago tivesse virado gelo. Samantha negou silenciosamente, e seu olhar encontrou o de Jack.

“Dentre os acusados, nomes conhecidos da cena pública bruxa. James e Lily Potter, Sirius e Marlene Black, Remus Lupin, Emmeline Prewett, Dorcas Meadowes, e outros de seus associados estão sendo convocados a depor acerca dos referidos eventos, bem como está sendo emitido, neste momento, uma ordem de convocação a ser enviada para os Ministérios da Magia francês e alemão, para buscar por Regulus e Oreon Black, também atuantes no momento da morte de Tom Riddle. O novo Chefe do Departamento de Mistério, Bartemius Crouch Junior, deu uma coletiva hoje pela manhã sobre o assunto. ‘Nenhum fio ficará intocado nesta trama que, creio eu, revelará não só a quebra do princípio de inocência presumida, mas também uma conspiração para tomar o poder ministerial por parte de Dumbledore e sua organização. Conspiração essa, que devo notar, foi bem sucedida. O Ministério irá até as últimas consequências, e todo aquele que for considerado traidor do mundo bruxo irá ser exemplarmente punido por isso. Um Bom Dia.’”