Confusões e Confissões por Ino Yamanaka escrita por -thais-estrela-


Capítulo 21
A última lágrima nunca cairá - Último capítulo


Notas iniciais do capítulo

Oi queridos amorecos do meu coração ♥
Atrasei uns três dias, não é? Mas se não tivesse atrasado a fic não seria minha! >.<
Antes de eu deixá-los sozinhos com essa última parte do capítulo, vou avisando aos preguiçosos de plantão que não pulem nenhuma parte. Ficou grandinha essa parte, num ficou? Na verdade, se vocês juntarem todas as partes deste capítulo, perceberão que ele ficou muuuito maior que os outros. Também, só o flash back já tem cerca de quatro mil de palavras! (O maior flash que eu já vi).
Ainda sim, eu não quis cortar algumas partes e deixei tudo na íntegra pra vocês. Antes qualidade do que quantidade, não?

Bem, essa primeira parte é meio dramática, mas esperem só a Ino chegar com a Sakura e o Shikamaru. Eu mesma morri rindo quando escrevia essas besteiras. Lembrei de umas certas bakas.

Bom, sem mais delongas: aqui está o ultimo capítulo de Confusões e Confissões.

*Ah, o flash back está em 3ª pessoa e o resto em 1ª, não se confundam, okay?



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Resolvi não lutar contra, mas ainda não me aliaria.

Abri a mão direita, coloquei-a sobre o nariz e fui subindo, colocando minha franja para cima e revelando minha testa. Queria mostrar para ele que as marcas ainda estavam mesmo lá. Quando o imperador viu o kanji gravado em meu rosto, estancou.

Aquele era o real rosto do arrependimento.

Flash back on.

Era uma bela quarta-feira, sete horas, os raios de Sol entravam nas antigas e belas cabanas de Suna sem muita cerimônia. No céu límpido e azul, pássaros exerciam seu passeio matinal e a orquestra da mãe natureza se iniciava numa grande e ininterrupta sinfonia. As crianças corriam alegres, os pais de família iam ao trabalho motivados e as mães agradeciam a Kami-sama pela saúde de suas famílias. Porém, alguns membros daquela vinculada sociedade, os anciãos, sabiam que naquele dia algo mudaria a história daquele seu mundo, pressentiam que algo ou alguém iria fazê-lo. Mas quem?

Enquanto isso, os herdeiros do trono estavam ali, sentados à mesa, calados, como em todo ritual matinal. Na verdade, faltava um, aquele que já tinha adotado o calabouço como seu quarto. Já tinha passado da hora de ele ter subido, levado um sermão costumeiro, ter se lavado e ser “solto”. Mas, desta vez, pulariam todo esse processo para que o ciclo começasse um pouco mais adiantado.

- Senhor Sabaku – a empregada chegara inquieta tentando se pronunciar o mais calma possível – , ele não está lá.

- Hm – mostrou um pouco de desinteresse, mas ainda sim, deixou escapar um sorriso sádico de seus finos lábios. Sabia muito bem de quem ela estava falando.

Gaara havia fugido mais uma vez.

– Tudo bem, Luna, já pode ir. – E após ver a mulher saindo pela porta, sem se importar com a presença de seus outros filhos, falara com si mesmo. – Começamos bem cedo desta vez, não?  - Depois, exigiu os serviços de apenas dois de seus empregados.

A caçada ao herdeiro caçula havia começado com poucos empregados daquela vez, o imperador queria ser justo, afinal, que graça tem ganhar um jogo em que se tem tanta vantagem a ponto do rival não ter uma única chance de vencer?

Horas depois, já bem distante dali, o pequeno ruivo cessara sua correria ao encontrar um esconderijo, já era hora de descansar um pouco. Sabia que seu querido pai já havia posto os coiotes para trabalhar, mas ele tinha um belo plano de fuga. Tanto tempo dentro da sua própria masmorra servira para alguma coisa, antes bolar um bom plano do que ficar se lamentando, sabia perfeitamente disso por própria experiência. Além de que, era um jeito melhor de esquecer as dores dos hematomas e o roncar de seu estômago.

As horas dentro daquele pequeno e fétido cubículo o fizeram um garoto tímido e bem calado, mas bastante perspicaz e argucioso, poder-se-ia muito bem o chamar de superdotado.

Era bastante difícil fugir da grande fortaleza que era a Vila de Sunagakure, ainda mais quando as pessoas dali creem que você é uma espécie de demônio que amaldiçoa a todos. Crendices populares: bobagens em que o povo gosta de acreditar.

Deve ser difícil de entender o porquê de não o deixarem escapar de vez dali, já que o consideravam um verdadeiro monstro, mas a boca popular espalhara o boato de que as vilas que possuíssem seu próprio demônio e o mantivessem preso ali, tornaria os membros mais fortes e o lugar mais próspero e propenso a bons fluídos. Assim, era de interesse popular que uma criança de treze anos fosse aprisionada.

Por mais gozado e inacreditável que se pareça, todos os integrantes desta lamentável história se encontravam em pleno século XXI.

Sentado atrás de uma grande pedra em uma região rochosa do deserto, revia seus planos. Sair durante a madrugada era uma boa forma de começar, já que das outras vezes, em meros testes, provou que a segurança era realmente inferior a de outros momentos. Mas não poderia ser em qualquer hora, mas no horário de pico de sono destes vigilantes. Às quatro horas de quarta-feira, com uma corda que escondera por dentro da roupa durante um bom tempo, Gaara escalava a parede e escapava pela janelinha, saindo pela parte dos fundos sorrateira e silenciosamente. A partir daí, seria mais difícil de ser pego, uma vez que percebessem sua ausência de forma tardia.

A rota já traçada em outra noite, era diferente da habitual, como havia planejado há muito. Três meses de fugas falhas e propositais, indicando sempre os mesmos caminhos e até mesmo aparentes atalhos aos coiotes do imperador como forma de realmente fazê-los acreditar que iria para os lados de  ... quando na verdade, escolhera Konohakagure como refúgio. Não, ele não tinha algum motivo em especial para ir para lá, apenas gostava do som de suas sílabas unidas, o fato de serem três dias de viagem (de carro) também lhe agradava.

Andando cerca de sete horas, ainda não tinha percorrido dois míseros décimos de seu longo caminho, afinal, utilizava apenas seus calcanhares e sua força de vontade. Sem dúvida alguma, algum dia, iria conquistar sua tão almejada e merecida liberdade. Mas por que Suna tinha de ser tão escondida? 

Andar por aquele imenso deserto já estava ficando tedioso demais, pois após tantos passos tudo o que o horizonte apresentava era a imensidão azulada por cima do grande e grosso edredom de areia. Qualquer um já estaria perdido ali.

O solo arenoso dificultara sua caminhada, e sim, seria muito mais fácil ir pelo asfalto, mas não aumentaria as chances de ser pego. Sabia que seria assim, por isso levava com sigo sua pequena mochila entupida de regrados mantimentos, a corda usada para escapar da masmorra e uma faca pouco amolada.

Talvez por cansaço em suas pernas ou até mesmo sede, pois não bebia água há quase um dia, sentia necessidade de parar por um instante e recarregar as energias, não demorou muito a achar uma grande região rochosa que envolvia uma limpa e rasa lagoa.

Ali estava ele: determinado e sonolento. Foi impossível lutar contar as fortes ondas de seu sono, ficar sem dormir por dois dias já estava o tirando de sua lucidez. Adormeceu lá mesmo, usando as mãos como travesseiro e a sombra que as rochas ofereciam.

~

- Senhor, foi registrado mais um caso de desaparecimento. – revelou o secretário do imperador, temeroso pela reação deste. Nunca se sabia ao certo o que esperar daquele homem, ora tinha semblante calmo, ora mantinha expressões sarcásticas ou inquietas. Mas como não temer o homem que trancafiava o próprio filho?

– E eu, o que tenho haver com isso? – O silêncio pairou sobre o gabinete. Seus empregados nunca sabiam ao certo quando deviam ou não responder suas perguntas, um simples “hai” poderia destruir suas carreiras para o resto de suas vidas. – Me responda Raito.

- Nada, senhor imperador. – respondeu de cabeça baixa.

- Correto como sempre, Raito. Não é de minha responsabilidade tal assunto, mas dos que chefiam a polícia de Suna. – Respirou fundo e prosseguiu. – Já está na hora de fazer outro concurso público, não? – sorriu sarcasticamente. – E enquanto isso não acontece, eu mesmo terei de cuidar destes assuntos. Que lamentável!

Puxou o envelope das mãos do jovem e começou a passar os olhos nas informações que coletaram.

- Desta vez foram três crianças, filhas de clãs importantes de Suna. – O Sabaku riu.

- Clãs? Em que mundo você vive? – Riu mais uma vez e continuou ainda em tom sarcástico - Certamente eu não sou a pessoa mais apropriada para falar tal tipo de coisa, afinal sou imperador de um oásis em plena Idade Contemporânea, mas quem ainda usa esta palavra?  - como de costume do governante, caçoar de seus empregados e os deixa-los constrangidos por seus próprios erros, se é que eram mesmo erros.

- Desculpe, imperador. – Respondia Raito com a cabeça baixa, não era permitido que se olhasse diretamente em seus olhos.

- Francamente... Mas quais foram os garotos a sumirem? – tomou seu lado sério.

- Akyama Maru, Masaru Subaru e Soutarou Kanbe.

- Hm, Akyama, Masaru e Soutarou, não é?  Realmente, famílias muito antigas e queridas por aqui, mas por que será que desapareceram? Com estes já são dezesseis pessoas, é isso?

- Dezessete, senhor. – corrigiu.

- E por um acaso, há alguma coisa em comum  entre estas pessoas?

- Não senhor.

- E a polícia desconfia de alguma coisa, eu suponho.

- Sim, eles acham que pode ser alguma espécie de serial-killer ou, como estamos na época de caça, poderiam ser ataques de chacais.

- Ataques de chacais?  Seria pouco provável, já que não encontraram nenhum corpo. Mas de qualquer forma, vou achar o culpado por sujar minha vila. – disse em tom afirmativo, como se estivesse propondo um desafio a si. Andara falando muito sozinho. – Ah, e quanto a Gaara, já pode mandar trazê-lo aqui para o gabinete.

- Ahn, mas senhor, Sabaku no Gaara não foi encontrado ainda. – o secretário receava contrariá-lo.

- Ainda não?! – Levantou da grande cadeira giratória que ficava atrás de sua mesa imensamente surpreso.

Se estava preocupado com seu filho? Logicamente, mas estava ainda mais surpreso pelo tempo que já se passara desde que perceberam sua ausência. Entre tantas fugas, seu limite de permanência refugiado fora de apenas quatro horas e meia, então por que agora, às duas da tarde ainda não fora encontrado? 

O homem tentou se proteger de suas próprias emoções, escondendo as reais expressões de seu rosto, ainda tinha de mostrar ser o imperador seguro de si e orgulhoso que todos conheciam, mas como o fazer, sabendo que Gaara poderia ser o décimo oitavo desaparecido de Suna?

Correu até a porta e quando estava saindo do gabinete, Raito indaga:

- Aonde vai, senhor?

- Eu disse que iria atrás do culpado por sujar minha vila, não disse? – perguntou com um sorriso atroz nos lábios.

~

O garoto estava tão exausto que acabou adormecendo profundamente. Tal descanso atrapalhou seu cronômetro. O relógio que tinha marcava quatro horas e quinze minutos, teria de correr, pois queria estar fora do deserto de Suna ainda aquela noite. Bebericou mais um pouco de água da lagoa, guardou um pouco para mais tarde em uma garrafa e partiu mais uma vez.

Algum tempo depois, ainda sob os domínios de seu pai, avistou algo estranho, havia uma mancha entre as imensas dunas. Apressou o passo para ver o que tinha ali.  Ao se aproximar, notou a presença de três lagartixas pequenas e cinzentas, semelhantes à Aoi.  Não era estranho encontrar estes animais em um lugar como aquele, mas um pequeno grupo daqueles era uma coisa bastante rara de se ver lá. Aparentemente pressentiam a presença de moscas que também estavam agrupando-se ali perto, ainda que em pequena quantidade. 

Aquela pequena reunião de espécies era estranha e provavelmente estava ligada a mancha que vira entre os bancos de areia. Deu pernadas ainda maiores e mais rápidas a fim de matar a curiosidade e saber de fato o que tinha ali.

O que encontrou? Três de seus antigos amigos de escola. lembrava-se muito bem daqueles rostos e das vozes que pertenciam a eles quando o chamavam de monstro há alguns anos atrás . Mas agora a situação era outra, pois quem estava causando horror era o trio que se encontrava estirado no chão.

Kanbe tinha sangue escorrendo de seu nariz e boca, além de grandes e profundos cortes  nas pernas e braços, faltava-lhe também a mão e parte do antebraço esquerdos. Maru era o que parecia estar em estado mais conservado, mesmo tendo um dos olhos ao lado do corpo e em seu lugar, uma pequena família de moscas se instalava. Já a, um dia bela, Sabaru-chan, não tinha mais salvação, uma vez que as vísceras estavam todas postas para fora. Todos sem vida.

Mas por que estavam eles ali, em tal canto e tão distantes de casa? Pelo o que sabia Gaara, não tinham motivos para saírem de suas casas. Mas não teve tantas dúvidas do que tinha acontecido quando cerca de cinco chacais o encaravam.

De um lado, um garoto ruivo, com alguma massa muscular, mas bastante pálido. Do outro lado, cinco pares de olhos chamuscavam em busca de sua próxima refeição. Entre eles, três carcaças das quais jorrava sangue ainda quente.

O garoto não pensou duas vezes antes de pegar a faca dentro de sua mochila, rápida, mas cuidadosamente, sabia que qualquer movimento brusco poderia ser fatal. Um rápido fio de pensamento passou em sua cabeça naquele momento: por que não deixar que estes seres acabassem de uma vez por todas com sua vida, sem a necessidade de uma luta, apenas entrega-la assim, de bandeja. Seria mais fácil e mais rápido do que seu plano inicial de conseguir sua almejada liberdade.

Mas não, ele não poderia morrer sem que pudesse pisar no coração e orgulho de seu progenitor. Assim, sem muito mais pensar, respirou fundo e se preparou para o banho de sangue que previa vir. Iria a todo custo lutar nesta batalha injusta e triunfar a fim de ter sua vingança no futuro.

O primeiro animal, em um único pulo, acertou seu braço direito, rasgando boa parte da carne. O segundo se aproximou, mas antes de abocanhar uma das pernas do  jovem, ganhou um forte e profundo corte no abdômen.

Cambaleando, mas preparando-se para o ataque do terceiro canídeo, Gaara manteve-se atento. Porém viu os chacais se dispersarem rapidamente, mesmo com alguns machucados. O porquê deste fim inesperado era o medo que os animais tinham do grande carro que se aproximara em alta velocidade.  De lá saíra Ren que correu ao encontro do filho temendo perde-lo pelo recente ataque.

- Você está bem? – esconder sua preocupação não era algo que ele se interessasse naquele momento.

- Como foi que me achou? – Perguntou o menino desanimado não pelo encontro com os animais, mas com seu pai.

- Isso não importa agora, o que importa é que eu te achei! – Falou de forma amável, como nunca havia acontecido entre eles. Gaara estranhou aquele tratamento. O imperador segurou um de seus pulsos, pronto para puxá-lo para dentro do carro. – Agora vamos para casa.

- Não! – Desvencilhou-se do toque do outro e se exaltou – Não vou participar de mais um de seus joguinhos, não!  Por que acha que eu fugi? Amo Temari, amo Kankuro, amava minha mãe e meu tio, mas você... Nunca te amei e nunca vou te amar!  - As lágrimas saíam de seus olhos espontaneamente, assim como os gritos de sua boca. – Por que não me deixa fugir de uma vez e esquece essa história de imbecis de que sou um demônio? Afinal, nós sabemos muito bem quem é que matou o seu irmão.

Após este desafio, o imperador de Suna nada fez e sua face antes preocupada, agora revelava indiferença. Tinha voltado ao estado normal. Então era assim que ele se sentia? Era a primeira e mais longa conversa íntima que já tiveram desde sempre. O arrependimento dentro de si ardia de forma devastadora, mas ao mesmo tempo em que sentia remorso, tinha ódio de sua própria pessoa. Como poderia existir alguém tão cruel? Sentia como se o desafio não fosse lançado por Gaara, mas por ele mesmo. Ele mesmo, ele próprio, sim, ele era o único culpado daquele redemoinho de emoções.

Antes que pudesse pronunciar qualquer coisa, outros três carros apareceram ali. Um corsa do secretário e duas viaturas.

- Sim, sim, já o encontramos. Estamos a mais ou menos trinta quilômetros de Suna, a leste.  – Dizia Raito ao telefone enquanto saindo de seu carro, seguido dos policiais. Ao ver aquela cena, o homem simplesmente parou tanto suas palavras quanto seus gestos – Ministro, eu ligarei depois, ok?

- Ah, então era ele o tempo todo?! Sempre duvidei dessa história toda de demônio, mas agora sei porque minha esposa sente tanto medo. – revelou um dos policiais ao outro, de forma baixa, mas não o suficiente para que os outros indivíduos presentes ali não ouvissem também.

Realmente a cena vista daquela forma não resultaria em outra conclusão.  Os três corpos jogados no chão sangrentos e recém-abertos, a faca na mão de Gaara, os rastros de sangue nele e em seus objetos. Tudo isto fazia com que as testemunhas mais novas daquela cena achassem que o pequeno Sabaku fosse responsável por tudo aquilo.

- Senhor imperador, se me permite perguntar – disse Raito – , o que aconteceu aqui?

- Sim, imperador, foi ele o responsável pelos desaparecimentos da cidade? – perguntou o delegado que também estava ali com seus recrutas.

Ren olhou para Gaara sem saber ao certo o que fazer. Sabia que o garoto não diria uma única palavra, ele não falava com frequência, ainda mais sabendo que seria em vão. Ninguém ali acreditaria nele. Mas se o imperador dissesse o que ocorrera ali, então todos, mesmo não acreditando, não contestariam. Mais uma vez ele não diria o que aconteceu e Gaara sairia como culpado de um crime que não cometeu.

Rapidamente, sem dizer uma única palavra, pegou mas uma vez o punho de seu filho, desta vez bem forte a ponto deste não poder escapar, e o jogou-o contra o banco de trás de seu carro, partindo para o oásis sendo seguido pelos empregados.

- Por que não me entrega de vez para eles? – o pequeno ruivo quebrou o silencio após alguns minutos em tom insolente – Seria mais fácil me manter preso em uma prisão do que em um porão na sua própria casa, já que sempre consigo escapar. Coloque-me atrás das celas, assim posso apodrecer de uma só vez, em um só lugar, vegetando.

- Não. – limitou-se a apenas uma palavra.

- Não? Por quê? Não me diga que vai mesmo continuar com este novo joguinho e me tratar como um verdadeiro pai! Você não seria capaz de se manter assim nem por meros cinco minutos, então vamos logo para os finalmente, crave uma adaga no meu peito e pendure minha cabeça em cima da lareira. – Apenas treze anos, mas sabia se pronunciar muito bem.

Nada mais foi dito dentro do carro até que chegaram ao seu inesperado destino final. Estavam literalmente no meio do oásis, na arena principal de Suna. Dali era possível avistar a qualquer ponto da vila, desde que estivesse procurando na direção certa. 

Desceram do carro e se dirigiram bem ao centro do lugar, Gaara estava sendo arrastado pelo pai e os outros, pela sua curiosidade.

- O que você irá fazer? – disse o pequeno ruivo em tom bem baixo. – Quer que eu me entregue?

O imperador o levou para lá, pois não sabia ao certo o que fazer, queria tentar se redimir com seu filho, mas além de ser inútil pelo desdém que vinha deste, era também impossível de ser ali, com todos aqueles curiosos em volta. Fugiria ele mais uma vez? 

- Senhor, foi mesmo o garoto que matou os três garotos e o resto dos desaparecidos? – perguntou mais uma vez o delegado.

A pergunta ecoara pela arena que, céus, tinha uma ótima acústica, pois todos ali presentes, cerca de dois terços da grande vila puderam ouvir. Um grande burburinho circulou entre as pessoas: então o responsável pela agonia e desespero público com os desaparecimentos tinham sido responsabilidade daquele garoto?

- Mate o demônio, mate o demônio! – gritava a multidão enfurecida.

Até que viu em sua frente a pequena Temari e o menor ainda Kankuro. Ela tinha cerca de quinze anos e ele catorze. Olhavam para ele um tanto inexpressivos. Geralmente eram cheios de vida, alegres ou enraivecidos, mas diante do pai, nada faziam ou refletiam. Temiam serem castigados e sofrerem como o irmão.

O pai sabia disto e por isso seu coração apertou mais uma vez. Queria fugir dali, mas o que diriam as pessoas depois disso? E sua reputação de mau e sério, o que seria dela?            

- Ajoelhe-se. – ordenou o imperador. Era uma pessoa totalmente diferente da que fora momentos antes, ou pelo menos, deveria aparentar ser. E continuou o teatro. – Como pode alguém tão novo ser responsável por tamanha barbárie?  - dizia em alto e bom som, a fim de fazer com que todos ali escutassem seu pronunciamento.

Fez uma pausa, suspirou várias e várias vezes em meio a multidão enfurecida faminta por justiça, aquela situação era insuportável demais para apenas uma pessoa. Carregar tamanha tensão lhe doía por completo, mas por ser covarde e por saber disso, prosseguiu com o ato, sento palhaço do próprio circo que ajudara a armar dizendo, ou melhor, cuspindo as próximas palavras para sua pessoa e não para aquele que estava diante de si:

 – Sabaku no Gaara, se é que pode ser chamado de Sabaku, desde que nasceu, só trouxe desgraça para sua vila e sua família. Estou imensuravelmente desgostoso por ser responsável por este monstro! Agora mais do que nunca. Como pode você ser responsável por destruir tantas vidas, tantas esperanças, tantas promessas, tantas riquezas? Como? – e o povo atiçava este circo que dava ainda mais arrependimento ao imperador. – Será que é incapaz de amar alguém? Será que é incapaz de sentir algum fio sequer de amor ou compaixão? Será? Você alguma vez  já amou sua mãe, seu povo, seus irmãos? Você alguma vez se amou? Responda a todas estas perguntas com uma única palavra! Você, Gaara, já ME amou?

E o silêncio se fez presente naquele momento. Todos queriam ouvir aquela resposta, todos menos os protagonistas daquela patética cena. 

Sim, Gaara amava seus irmãos, muito. Gaara amava seu povo, mesmo sendo extremamente discriminado, ele amava sua mãe, que dera sua própria vida para salvá-lo, mas não amava a si próprio, não. Dele e de seu pai, o sentimento era o mesmo: sentia imensa pena. Do homem em pé diante a si mais que de qualquer outra coisa. E se tivesse que responder a todas aquelas perguntas com uma só palavra, poderia ela ser um “talvez”? Claro que não. Não tinha dúvidas de que sua patética existência não era digna de nem ao menos de uma dúvida.

- Não. – respondera de cabeça abaixada. Era isso que todos queriam ouvir, não? Só sentia uma pontada de remorso pelos seus irmãos.

A arena estava sendo usada naquela época para uma sessão de leilões de cavalos ou algo semelhante, por tanto, espetos de ferro usados para gravar os nomes de proprietários em seus animais não eram incomuns ali. Ren se recordou de Ai Kaluiy, um pequeno empresário que tinha vindo para o oásis apenas para estes eventos. Pegou o espeto de Kaluiy, já que o kanji de seu sobrenome era coincidentemente o mesmo kanji da palavra “amor”.

E sem pensar muito, acendeu uma das fogueiras dali, mergulhou o espeto nas chamas ardentes de fogo e levantou apontando-o em direção ao filho.

- Se é assim que se sente, se é assim que pensa a respeito de tudo e de todos, você tem sorte. – segurou o queixo do menino e levantou sua cabeça, de modo que ficassem cara a cara.  Sua mente queria fazer algo e seu corpo também, mas seu povo clamava por uma injusta justiça. Ele sim, aquele era o verdadeiro monstro e ver a face de sua cria, que espantosamente era de uma imensa semelhança a sua própria imagem, apenas piorava a situação. Estava ele perante seu filho sem dúvida o mais amado, talvez pelo fato de não poder (ou não) amá-lo, e diante a seu próprio reflexo. – Você realmente é a pessoa mais sortuda de todo esse mundo! Tem sorte por não conseguir sofrer por amor. – Suspirou mais uma vez – Essa será uma dor imensa, mas não tão grande a ponto de se assemelhar àquela que o verdadeiro amor proporciona, mesmo assim, ao menos uma vez, você vai sofrer por amor.

E assim, lutando contra cada fibra de seu corpo, ignorando todos os nervos que o impediam de ser insano, sob o céu rosado e o Sol que se punha,  Sabaku no Ren cravou em cima do olho esquerdo de Gaara o espeto de ferro que vibrava abrasador e brilhava intensamente a ponto de ter mudado de cor enquanto ainda quente.

Uma vez sem o objeto em seu rosto, Gaara mantinha a mesma indiferença de antes enquanto, por trás de uma multidão contente e barulhenta, vira uma única lágrima descer sob a cútis do imperador. Uma cena que só ele pôde ver.

Flash back off - Gaara's pov

- Realmente, nada pode apagar as marcas que você me fez. – não sabíamos ao certo se eu falava conotativa ou denotativamente. Tirei a mão da minha cabeça e voltei a fitar o horizonte.  – Sabe, foi mesmo por sua culpa que eu demorei tanto para me tornar uma pessoa de verdade, mas também é por sua causa que eu consiga valorizar de forma justa e intensa meus sentimentos. Por sua causa eu posso amar como ninguém jamais amou.

- Quer dizer que será tão fácil assim, me redimir com você depois de tudo? - O outro me olhou surpreso, muito surpreso. Achava que seria duramente acusado por ter estragado a vida de alguém ou coisa semelhante, mas recebeu uma espécie de agradecimento.

- Alguma vez eu disse que você se redimiu?  - perguntei duramente, quebrando o clima amigável que já estava se formando. – Acha que é fácil esquecer e me livrar de toda essa imensa mágoa de dentro de mim? Sinceramente, você já foi mais esperto.

- Estas não parecem as palavras de um filho para um pai. – respondeu-me desanimado, era a sua forma de fugir de minhas perguntas. Mas eu não permitiria que ele escapasse assim tão facilmente.

- E quem disse que você é meu pai? – senti-me vitorioso ao dar esta declaração.

- Sinto em lhe dizer, mas isso nós não podemos mudar. – ele riu desanimado.

- Não, você não é o meu pai. Ele morreu quando você afundou aquele pedaço de ferro escaldante em mim.

- Não, muito pelo contrário. Foi naquele dia que seu pai nasceu, desde quando você se levantou e declarou que iria embora. Quando eu vi você e seus irmãos partirem, foi ali que eu nasci. – agora quem tinha o sorriso nos lábios era eu, sempre carregado de escárnio.

- Por mais que eu negue você sempre tem um argumento na manga. Sinceramente, esse joguinho ridículo não funcionará comigo. – ele suspirou ao me ouvir.

- Bom, você não tem mais do que razão em não acreditar em mim, mas eu realmente tentei sentir a mesma dor que você sentiu.

- Como? – me exaltei sem perceber. – Me diga como poderia sentir a mesma dor que eu senti. Diga!

Neste momento, o imperador tirou a camisa vermelha que usava e tive uma das visões mais assustadoras da minha vida. A mesma marca que eu tenho em minha testa, ele tinha em seu abdômen. Abdômen não, mas também ombro, e parte das costas. Eram dezenas de “kanjis do amor” cicatrizados em sua pele.

- Assim. – respondera. – Tentei inúmeras vezes sentir o mesmo que você, mas nunca bastava. Semanas depois que vocês partiram a perícia feita naqueles e em outros corpos que acharam comprovaram que os desaparecimentos foram ocasionados por chacais. A notícia se espalhou rapidamente e todos souberam que eu o condenei injustamente. E foi daí que eu descobri que , ao contrário do que todos pensam, eu não sou um sádico, mas um masoquista. É como se tivesse tornado um ridículo vício fazer mal aos outros, não porque eu goste de ver a agonia alheia, mas pelo remorso que vem acompanhado ao ver tal agonia, me fazendo sofrer bem mais que qualquer outro. Entende? Espero que não.

Eu não sabia ao certo o que dizer. Minha cabeça estava muito confusa a ponto de começar a doer. Aquelas marcas ainda faziam parte do jogo dele? E ele estava mesmo jogando, assim como eu pensava?

- Tudo bem. – eu disse.

- Perdão, mas não entendi o que está bem.

- Eu o perdoo. – ao ouvir tais palavras, ele arregalou os olhos de forma rápida e espontânea.

- Como? – não era de seu feitio  mostrar alguma expressão, mas naquele momento, mandava-mos esta indiferença para longe.

- É muito difícil para mim lidar com tudo isso, mas não posso ignorar seus sentimentos.

- E pensar que eu acabaria aprendendo  muito com você, e olha que tenho quase trinta anos a mais! – eles riram. – Vou conquistar sua confiança algum dia.

- Será, pai? – senti meu coração vibrar e ele mais ainda, me sufocando em um forte e sincero abraço.

- Desculpe, meu filho.  Fui um completo idiota, sem dúvida alguma e agora quero com toda a certeza me redimir com você!

- Nossa, Sabaku no Ren fazendo ceninhas de desculpas? Achei que morreria sem mer algo assim. – eles riram novamente, mas desta vez sem tensão alguma no ar.

- Mas agora me diga, quem é a felizarda?

- Como?

- Você disse que havia encontrado o amor. – ele sorriu malicioso – Não vá me dizer que é mais de uma, hein, garanhão?!

- Ok, me arrependi. Eu não te perdoo coisa nenhuma! – me desvencilhei de meu pai que agora corria em tom de brincadeira atrás de mim, tentando mudar de assunto. Não, eu não falaria sobre a minha Ino, nem para ele e nem para ninguém.

Aquele fora um encontro tardio, mas repleto de surpresas.

~

Ino’s pov                           

Escuro, tudo ali era escuro. E agora? Viveria meus dias daquela forma solitária, perdida num mar de escuridão? Abri os olhos e vi dois pequenos orbes preocupados sobre mim.

- Ela acordou Sakura! – dissera Shikamaru um tanto agitado.

- Acordou?! – ouvi a voz exaltada da rosada. Levantei meu tronco a fim de sentar e entender melhor o que estava acontecendo ali. Eu estava na cama dela, no quarto dela. Por que eu estava ali? Por que a minha cabeça doía e as coisas pareciam girar? Vi a garota vindo em minha direção - Ino, você tá bem? Tá legal? Precisa de um comprimido ou algo do tipo?

- Não, Sakura. Estou bem, eu acho. – respondi ainda um pouco rouca. – Mas a minha cuca tá doendo. – fiz biquinho.

- Ah, você está bem mesmo? – assenti com a cabeça. – Então, da próxima vez que for fazer chilique na frente da casa de alguém, NÃO DESMAIE! – e me deu um tapa por trás da cabeça.

- Chilique na casa de alguém? – não estava entendendo muito bem. Ô novidade!

- Não. – ela me corrigiu – Chilique na FRENTE da CASA de alguém. É diferente, porque se você tivesse entrado lá, os problemas teriam sido maiores.

- Não sei do que está falando. – respondi. Minha cabeça ainda latejava e piorava a cada grito da minha amiga louca descomungada.

- Como não sabe, Ino? Não se faça de desentendida, como é que você... – ela mesma se interrompeu, olhou para Shikamaru que estava simplesmente jogado em um canto do quarto, com um exemplar de algum mangá em mãos, mas que prestava atenção em nossas palavras. Como bom amigo que ele é, estava preocupado. – Shikamaru, meu lindo e sexy amiguinho...

- Eu tenho namorada e olha que ela é uma das suas amigas. – ele disse num tom desentediado.

- Ah, eu sei disso, eu também tenho um namorado lindo, mas – notem a ênfase no “mas”. Aviso para os meninos: quando uma garota quer alguma coisa, não levem suas palavras muito a sério, ela provavelmente está persuadindo vocês. - como você está mais forte e mais másculo do que nunca, será que poderia fazer um favor pra mim?

- Eu sabia que isso ia dar merda. – respirou fundo rapidamente – Algo me diz que vou me arrepender de perguntar, mas o que é que você quer Sakura?

- Vai na farmácia, comprar uns comprimidos pra dor de cabeça pra porquinha? – pediu ela com a maior cara de pau do mundo.

- E um pote grande de sorvete. – completei.

- Sorvete?! – os dois perguntaram ao mesmo tempo.

- Deu vontade de comer. De morango, de preferência.

- Mas se a sua cabeça dói, não devia ficar comendo coisas geladas.

- Não, nada de sorvete. Você acabou de acordar de um desmaio e já quer comer porcaria? – Gritou Sakura mais uma vez. – Nananinanão.

- Então compra pelo menos um pacotinho de marshmallow! – pedi com carinha de gato do Shrek.

- Ok. Comprimidos e marshmallows, eu estou esquecendo mais alguma coisa? – disse sarcástico.

- O sorvete! – exclamei.

Ambos me olharam e pronunciaram um grande e sonoro “não”.

- Vai logo, Shikamaru. – a rosada o empurrou para fora do quarto. Quando ele se foi, um olhar de fúria foi lançado para mim. Logicamente ela só queria se livrar dele para me dar uma bronca. Volta Shikamaru, volta! – Ino, porca, vaca-jega o que é que você foi fazer naquela casa?

- Que casa? Juro que não sei do que você está falando.

- Kamissama, por favor – ela olhava para cima - , eu rezo para que você salve esta alma e que o Gaara fique bem rico e paciente porque a mente dela não tem mais salvação e ninguém vai querer contratá-la no futuro, então, que ela se case com ele e fique de boca calada. Amém.

- Tá rindo da minha cara, é? – perguntei tentando tirar satisfação. – Estou com o orgulho ferido!

- “Orgulho ferido”? Ãh? Sua louca, você realmente não se lembra de ter desmaiado na frente da casa da Temari?

- Desmaiei onde?! – agora as coisas estavam começando a fazer algum sentido para mim. – Ah, agora eu me lembro! Eu estava conversando com a Sakura.

- Comigo?

- Não, a outra Sakura.

- Ãh? Tá batendo bem da bola, mulher?

- Claro! Já não disse que me lembrei de tudo agora? Está tudo bem claro na minha cabeça, tintim por tintim.

- E o que foi que aconteceu? Não, me deixa dizer o que aconteceu. Você, num dos seus chiliques, resolveu colocar todo o seu esforço a perder e foi atrás do Gaara, perguntar para ele se vocês estavam namorando ou não. Não foi isso?

- Céus, tô passada e de chapinha bem quente! – eu disse. – Como é que você sabe de tudo isso, por acaso você andou fazendo algum cursinho de macumba, Sakura?

- Curso de macumba? Está louca? – Era a segunda vez que ela me chamou de louca só naquele momento, pelo menos, diretamente.  Além de quê, ela estava repetindo demais tudo o que eu dizia. Até parece que não estava acostumada a me ouvir falar bobagens.

- É sério, onde foi que você fez? Porque daí eu não vou precisar consultar de novo a Dona Dinah pra fazer uma simpatia. Ela cobra muito caro! – revelei sem dar muita importância.

- Sério mesmo que você já foi numa mãe de santo atrás de uma simpatia?! Ino, estou ficando cada vez mais preocupada com você. Quando sairmos daqui, vamos num médico, ok? – ela falava sério, essa vaca. – Mas vamos ao que interessa: VOCÊ ESTÁ FICANDO MALUCA?

- Por quê? – perguntei surpresa pela mudança repentina no tom de voz dela. – O que eu fiz?

- Como assim? Você simplesmente iria quebrar a regra numero um das mulheres apaixonadas!

- Sakura, tem certeza de que sou eu quem precisa de um médico?!

- Tenho – respondeu sem dar muita estimação, acho que ela não entendeu que eu a chamei de maluca, mas tudo bem. –, pois não fui eu que quebrei a regra!

- Pelamordekami, que regra é essa? – perguntei já impaciente.

- Nunca mostre para um homem o quanto você está desesperada por ele!

O silêncio tomou conta do cômodo. Não é que ela tinha razão no final das contas!

- Desculpa. – falei feito uma criança de quatro anos depois de quebrar a televisão de oitenta polegadas novinha do pai.

- Aqui, meninas.  - Shikamaru entrou no quarto com uma pequena sacola plástica branca. – Não tinha marshimallows lá, mas eu trouxe jujubas.

- Tá, agora vai comprar uma garrafa de água. – disse Sakura puxando a sacola da mão dele e o empurrando novamente para fora do quarto.

- Mas não tem água aqui na sua casa?

- Tem, mas ela precisa de água com gás.

- Eu odeio água com gás! – eu disse da cama.

- CALA A BOCA, INO! – E mais uma vez, a rosada gritou comigo. – Shikamaru, se não deu pra perceber, eu quero conversar com aquela anta que está sentada na minha cama, agora pode me dar licença?

E o garoto foi mais uma vez expulso do quarto [n.a.: fico a cada capítulo com mais pena dele, tadinho].

- Anta é você! – xinguei ela e puxei os doces da sacola.

- É, mas não fui eu que quase joguei tudo fora. Ino, você tem que esperar que ele venha te falar algua coisa! – falou mais séria.

- Mas já faz um mês que eu não falo com ele. Eu estou desesperada, Sakura! Será que ele não gosta de mim e fez tudo aquilo só pra ficar comigo aquela semana?

- Sério que faz tanto tempo assim que vocês não se falam ao vivo?!

- Nem ao vivo, nem por telefone, nem por nada! Eu ligo pra ele e só chama e chama e chama. Acho que o celular dele já deve ter umas trezentas ligações não atendidas minhas.

- É, do jeito que você é impaciente, eu não duvido mesmo disso. – eu estava sendo dramática naquele momento, mas ela levou isso pro lado literal. Realmente, eu tenho que rever minha lista de amigos. – Mas ele não te mandou nem uma mensagem?

- Nada, neca de catibiriba!  - ficamos em momento meio deprê a partir daí.

- Ah, mas ele não iria fazer isso. Não é normal dele agir assim! – ela tentou me animar. – Já passou pela tua cabeça que ele pode estar com vergonha ou algo assim?

- Então, sua barata tonta, eu fui lá ver ele acreditando que era isso mesmo. Mas ele não estava.

- Ah! Deve ser isso! – ela gritou. – Kankuro me disse que ele ia viajar com a Matsuri, acho que ele foi junto.

- Mas foi isso mesmo que aconteceu. – eu disse cabisbaixa.

- Mas se você sabe o que aconteceu, então por que ainda está assim? É só uma viagem, afinal, eles estão de férias. Que mal tem isso?

- O problema não é a viagem, Sakura, mas o destino dela.  – minha voz tremia, sentia as lágrimas vindo.

- E pra onde eles foram?

- Para Suna.

-Suna? – ela repetiu surpresa. A rosada também era amiga dos Sabaku e sabia que eles não tinham motivos para fazerem visitinhas para o oásis.  – Não, você deve ter entendido errado.

- Tenho tanta certeza de que foram para lá quanto que um mais um é igual a três!

- Nossa, Ino, desta vez você se superou. – ainda não entendi o porquê de ela ter dito isso, mas fazer o quê, não é?

– Mas se eles foram para lá, quer dizer que...

- Quer dizer que Gaara não vai mais voltar. – completei com lágrimas nos olhos.

- O QUÊ?! COMO EU NÃO PENSEI NISSO ANTES! – entrou Shikamaru como uma bala. – Eu deveria ter me tocado disso.

- Você estava ouvindo a nossa conversa por trás da porta, seu tapado? – perguntou Sakura realmente irritada. Ele apenas assentiu com a cabeça e veio me abraçar. E assim terminou nosso dia: Shikamaru abraçado a mim enquanto eu não conseguia parar de chorar e Sakura, como sempre, gritando em nossos ouvidos. – Ei, seu veado, cadê a água com gás que eu te pedi?

- O quê? Era mesmo pra comprar a água?

- Lógico, jumento!

~                                                                                                                  

As costas doíam, o cabelo parecia mais um imenso ninho de gaivotas e os olhos tinham sob si bolsas enormes, azuis e inchadas. Prazer, esta sou eu, Ino Yamanaka. Gostaria de ter a desonra de não pronunciar estas palavras, mas não tinha algum motivo para mentir, afinal o que de pior pode acontecer comigo?

Meu quarto se encontrava em um estado talvez até mais deplorável que o meu. Podiam-se muito bem me chamar de porquinha, pois aquilo estava um verdadeiro chiqueiro: montanhas de caixas de pizza vazias, muitos potes de sorvete e pacotes de jujubas espalhados. Talvez o único lugar limpo da minha casa fosse o banheiro, afinal, toda a vez depois dos meus enjoos, um vidro de desinfetante era despejado no lavabo para limpar tudo e depois, quando já estava tudo brilhando, o vaso sanitário recebia mais uma imensa dose de vômito causada pelo cheiro forte do produto de limpeza. Ao menos os desmaios tinham diminuído a sua frequência.

Essa estava sendo a minha vida depois de descobrir que não haveria mais amor nela. Eu tentava cuidar da saúde, mas meu problema não seria resolvido de qualquer forma. Se Gaara não voltasse eu estaria destruída para sempre. E não, não era drama ou algo do tipo, minha situação era realmente lastimável.

O relógio corria e aquela coisa ia crescendo em mim, aquele sentimento de abandono. Sem dúvida alguma, as piores férias da minha vida.

Num destes dias medíocres e solitários, ouvi a campainha soar. Tentei rapidamente pentear as madeixas e vestir uma roupa mis ou menos, tentando amenizar minha aparência de zumbi. Talvez não tenha funcionado, mas ainda sim desci as escadas.

O tilintar da campainha era incessante e irritante. Quem era a pessoa tão impaciente? Realmente eu deveria atender, ou deveria fingir que não havia ninguém ali? Resolvi esquecer e dar meia volta, a caminho da cozinha, beliscar alguma coisa. Se fosse um assassino tarado batendo à porta eu teria me salvado.

De repente meu telefone tocou, evento que não acontecia há dois dias. O que era totalmente incomum, já que meu Delgado estava acostumado a uma vida agitada. Coincidentemente, o aparelho estava em minhas mãos e sem me preocupar muito, atendi ignorando o identificador de chamadas.

- Alô? – eu e minha voz entediada.

- Você não vai mesmo abrir a porta para mim?

Aquela voz “não, não poderia ser ele!”, pensei. Descolei o celular da orelha e li o nome que estava me ligando. Corri para a porta sem ao menos pensar. A carreira foi tanta que mais uma vez, Delgado se desmontou no chão.

Abri a porta e meu coração disparou. Fui tomada em seus braços de forma intensa e profunda. Não há palavra alguma que possa descrever tamanha intensidade ou ao menos definir que sentimentos eram aqueles. E antes de nossos olhos se encontrarem, os lábios acharam o caminho das bocas  alheias.

- Pensei que não fosse mais voltar. – revelei já com os olhos encharcados.

- Voltei só para te ver. – e o sorriso mais lindo do mundo saiu da sua boca. Gaara estava diferente, estava realmente mudado. Nunca o tinha visto com aquele brilho nos olhos ou expressão semelhante. Ele estava realmente feliz.

Foi neste instante que voltei à realidade e esqueci um pouco o momento magia.

- Seria bom nem voltar mais, sabia? – comecei a repreendê-lo com gritos e tapas – Como é que você viajou sem ao menos me avisar, hein, seu mentecapto? Que tipo de melhor amigo é você?!

- Melhor amigo? Sério mesmo que ainda quer ser só minha amiga? – ele perguntou descrente enquanto eu senti minhas maçãs corarem rapidamente.

- O fato é – desconversei – que você não me deu nem um simples telefonema. Nem uma mísera cutucada Facebook eu recebi de você.  Acha que eu sou o quê? Um simples brinquedinho que você pode usar quando quer e depois jogar fora?! Pois saiba que eu NÃO SOU!

- O que deu em você? Está mais exaltada que o normal. Está de TPM ou coisa parecida? Eu acabei de dizer que voltei apenas para te ver e você me recebe com paus e pedras.  – A expressão dele mudara e voltou a ser o Gaara habitual. – Desculpe, sua maluca, mas em Suna não há rede de  telefone e não consegui falar com você antes de viajar porque  Temari me avisou tudo muito em cima da hora.

- Não é desculpa! Que mandasse uma carta ou então um cartão postal. – cruzei os braços e fiz biquinho.

- Acha mesmo que no meio do conflito com meu pai eu iria ter cabeça para escrever cartas? – eu era a única pessoa que sabia o que havia acontecido com Gaara e seu pai, fora somente para mim que ele contou tais acontecimentos. Realmente ele tinha razão, mas eu não podia deixar que aquilo me abalasse, ainda tinha muita coisa que eu deveria falar com aquele indivíduo.

- De qualquer forma, tenho algo para te falar.  – declarei.

- Ah, eu também tenho algo muito importante a te dizer. – e de repente, vi o ruivo ajoelhado diante mim. “Não, ele não irá fazer isso!” eu pensava. Pegou minhas mãos e segurou-as com cuidado. – Bom, na minha viagem a Suna, ainda não sei bem ao certo como, fiz as pazes com meu pai. – Eu sorri de orelha a orelha, finalmente eles haviam se resolvido e eu sabia que isso significava muito para ele, muito, muito mesmo. – Foi difícil, mas agora já estamos bem. Na verdade estamos tão bem que ele quer que eu vá morar lá com ele, para aprender com ele o ofício de imperador. Ele quer que eu seja seu sucessor.

- Gaara, isso é ótimo, mas realmente tenho a te falar!– exclamei.

- Por favor, me deixa continuar. Eu não conseguiria essa aproximação toda com meu pai se não tivesse te conhecido. Você me ensinou a ser humano, a reconhecer meus sentimentos e me encorajou, porque antes eu não acreditava na felicidade. Mas você me amou e me mostrou que posso ser feliz.  – Meus olhos se encheram novamente e um arrepio passou pelo meu corpo. - Ino, andei conversando com seu pai secretamente e ele, estando longe quase que o ano inteiro, se mostrou muito preocupado com você, assim como eu. Seu pai me permitiu te levar para Suna comigo.  – moveu uma de suas mãos para pegar algo em seu bolso. Era um anel dourado que brilhava a meus olhos. – Não sei bem como dizer isso, mas serei o mais devagar possível, para que possamos lembrar-nos de cada segundo deste momento.

- Gaara eu não acredito que está fazendo isso.  – e minha voz falhava em meio a tanto pranto.

- Ino, acredito que me ames o tanto que eu te amo e realmente nada neste mundo pode me deixar mais satisfeito do que um sorriso teu. Ino Yamanaka, como motivo do meu sorriso, da minha alegria, você quer ser feliz comigo, morar em Suna e enquanto namora comigo?

Milhares de sentimentos transtornaram minha cabeça. Agora eu não teria chance alguma em dizer para ele o que revelei antes querer anunciar. Ele estava inteiramente bem com o pai e o povo de Sunagakure, eu não poderia arruinar esse momento, afinal, dali a alguns anos, ele seria o imperador e eu com toda a certeza estragaria esse momento de glória. Diante isto, respondi:

- Não.                                                                      

Vi uma  gota de água salgada escorrer dos meus olhos e pingar exatamente em sua testa, onde a marca em que a palavra amor estava escrita. Aquela lágrima ainda rolou mais alguns centímetros e se confundiu com as dele.

Assim, Sabaku no Gaara se levantou, segurou meu queixo delicadamente e despejou um beijo em minha boca. Aquele seria nosso último ósculo, sua maneira de dizer adeus. E depois disso, seus pequenos e claros olhos que tanto me causavam fascínio, antes brilhantes e esperançosos, agora estavam opacos e mortos.

Eu o conhecia extremamente bem, na verdade, bem até demais e por isso me doía tanto. Saber que quando me deu as costas, além de desolado, assim como eu, ele se sentia enganado, sentia o orgulho ferido e imenso ódio dentro de si. Ódio de mim. Partiu para talvez nunca mais ser visto por meus olhos traidores.

Se eu queria estar ao lado de Gaara? Lógico! Mas meu bom senso e meu infinito amor por ele não permitiriam que um grande e sonoro sim saísse de meus lábios, como mandava meu coração. O futuro imperador talvez nunca mais fosse meu, mas tive que sacrificar minha felicidade pela dele. É isto que significa o amor, não? Ver seu amado criar asas, e voar para além do horizonte, feliz e realizado, mesmo que aquilo lhe custe todas as suas penas e que tenha de cortar suas próprias asas.

A última lágrima nunca poderá cair, pois só poderia parar de chorar estando junto a ele mais uma vez, mas é como eu disse a mim mesma ali :

- Meu amor por Gaara é tão grande que a última lágrima nunca cairá!

Aquele instante não poderia ter sido mais doloroso para ele do que foi para mim, não! Mas revelar que eu estava esperando um filho dele estragaria completamente seu futuro. 


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Notas finais do capítulo

Tá, agora pode bater palma porque eu mereço ser aplaudida, não? Também mereço muitas recomendações, haha. :D

Cara, eu chorei com esse final! Cabô a fic!

E antes que você queira me decapitar, não se esqueça do que eu já disse antes: IREI FAZER A SEGUNDA TEMPORADA!! Então relaxa essa cuca que esse não é o final definitivo.
Só dei fim nesta porque ela estava muito longa (pra mim) e também porque estava atrapalhando um pouco as outras fics que eu quero postar. Por tanto, só começarei a postar a segunda temp. (que já está sendo escrita) depois de postar ao menos uma fic ou pelo menos três capítulos dela. Então não tenho uma data marcada. Mas recomendações podem acelerar esse processo! *----------*

E como saber quando eu já tiver postado? Fuça a minha conta do Nyah! de vez em quando, me manda algumas M.P.s ou me favorita como autora. :)

Beijos de maçã e até a próxima fic :*



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