Wonderwall escrita por Carol


Capítulo 3
Algo como o paraíso.


Notas iniciais do capítulo

mais um.
espero que gostem.



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Permaneci estática, sem nem respirar, encarando as costas largas de Jacob enquanto ele se afastava cada vez mais. E juro que tentei matá-lo com o poder da mente umas cinco vezes, mas infelizmente não tive sucesso.

-Aaaaaaaaaaargh, idiota! - rugi furiosamente, quando ele já não estava mais em meu campo de visão. Senti meu rosto queimar de vergonha e irritação.

Kayley, Jessica e Ângela - o trio de idiotas... digo, vendedoras - me encaravam com os olhos arregalados, como se estivessem assistindo à uma abdução alienígena. Kayley, mesmo... Aquela lá estava até meio catatônica.

-Eu não acredito - falou com a voz fraca - que aquele... Monumento, que aquele deus grego, está dando bola para você. Não, eu não posso acreditar.

Rolei os olhos.

-Jacob não está me “dando bola”, Kayley. Ele estava apenas fazendo o que sabe de melhor: me azucrinar! Fez essa ceninha toda só para me envergonhar, aquele filho de uma...

-Não, não! - interrompeu-me sem paciência - Ele te deu uma lingerie de U$200,00 dólares, e se você não fosse tão... estranha, estaria pulando de felicidade por ter fisgado um gato como aquele.

Revirei os olhos novamente, ignorei o “tão estranha” e fui até o balcão pegar minha mochila. O meu turno já estava encerrado.

-Entenda uma coisa, amiguinha... - usei o meu melhor tom sarcástico - Eu não FISGUEI o Jacob porra nenhuma. A mãe dele me dá uns reforços de Física, e sugeriu que eu me sentasse com ele nas aulas dessa matéria, já que a fazemos juntos, para que eu pudesse tirar minhas dúvidas. Jacob até que entende bem dessa coisa inútil. Então, eu e ele somos parceiros de Física desde o ano passado. E é isso. - encerrei o assunto - assunto no qual eu entrara totalmente sem vontade - só para que elas tirassem aquelas ideias idiotas da cabeça.

-Então vocês são amigos? - aquele tom falsinho da Jessica me dava vontade de vomitar.

Assenti, meio contrariada. Desde quando elas se interessavam tanto pela minha vida?

-Pode se dizer que sim. Nós... nos aturamos, embora ele seja um pé-no-saco. - torci os lábios - Mas nós não seremos mais amigos depois que eu matá-lo na segunda- feira, por ter me feito passar essa vergonha.

As três se entreolharam, sérias, e depois um meio sorriso nasceu em seus lábios simultaneamente. Eu, hein!

-Eu acho que você está na dele... E ele, completamente na sua. - Ângela, a mais aturável das minhas “colegas de trabalho”, falou-me sorrindo docemente.

Eu ri, ela era a mais aturável e a mais pirada. Eu e o Black? Rá!

-Hm, então beleza. - fiz sinal de positivo com o indicador, sorrindo amarelo para elas - Eu já vou indo.

Saí da loja rapidamente, estava morrendo de pressa. Chegar em casa era tudo o que eu mais queria agora, porque eu estava precisando DESESPERADAMENTE de uma viagem. Sabe como é, esquecer os problemas.

Assim que cruzei as portas de saída do shopping, fechei o meu casaco - que mais parecia um traje da biossegurança (n/a: sim, Bella) -, e coloquei o capuz. O frio do início de janeiro já era, por si só, algo capaz de me deixar morbidamente doente, agora imagina com aquela neve toda.

Caminhei a passos largos até a estação de metrô - eu também não ia correr para acabar me espatifando em uma poça de gelo, não é? -, comprei o meu bilhete e me acomodei em uma poltrona. Eram quinze minutos até o Brooklin, e se pá eu ainda podia tirar um cochilo.

Coloquei meus fones de ouvido e liguei o MP3 no último volume. Eu até tinha medo de estourar os meus tímpanos e tal, mas a ficar ouvindo todos aqueles terráqueos rindo, resmungando, grunhindo[...] dentro do metrô, bem... Eu preferia ficar surda.

Cara, o que eu podia fazer? Era mais do que ÓBVIO o fato de que eu era o ser mais antissocial desse planeta, então, sinceramente, eu não me importava muito com o que os outros pensavam ao me ver balançando ao ritmo de Drain you, enquanto o metrô avançava sobre os seus trilhos, consumindo a si mesmo e... Hm. Eu definitivamente precisava de algo, a abstinência estava me deixando doida.

Era pior do que levar uma surra. Sério mesmo.

Olhei através do vidro. Respira fundo, garota. - pensei - Agora só falta um pouquinho.

Ao pisar na plataforma, me senti um pouco mais leve. Eu estava a poucos minutos do meu paraíso, e isso era tudo no que eu conseguia pensar.

Puxei o capuz mais para baixo e olhei para os lados para me certificar de que não havia nenhum conhecido por perto - procedimento padrão. Assim que me senti segura, rumei para o lado sul do bairro - o extremo oposto de onde ficava a minha casa.

Caminhar por aquelas ruazinhas sujas e mal-iluminadas já não me dava mais medo. Eu só sentia uma expectativa incrível, a sensação que eu tinha era de que a viagem já começava aqui. Com menos intensidade, é claro, mas era ótimo pensar que eu estava na busca por “El Dorado”. Excitante - era a palavra.

Virei à esquerda, entrando no beco sem saída - rá, quem não conhecia Marcus achava que aquele não passava de um simples beco mesmo -, caminhei até a porta de ferro estreita e enferrujada ao lado dos relógios de força, e fechei a mão em punho. Antes que eu pudesse, porém, tocar a porta, algo me fez pular para trás.

“Hear the sound of the falling rain,

Coming down like a...”

Levei um susto do inferno quando o meu celular começou a BERRAR Holiday - sim, porque estava no último volume, aquela bosta. O sangue fugiu um pouquinho do meu rosto, enquanto eu desligava o aparelho rapidamente. Os caras não gostariam muito de saber que eu estava atraindo a atenção da galera para aquele point - lá era só para gente confiável. Olhei em volta e me senti aliviada ao ver que as ruas estavam totalmente desertas.

Senti vontade de dar meia-volta e ir embora correndo, mas a minha necessidade era maior. Ergui o punho e dei três batidinhas na porta.

Ao mesmo tempo em que me atenderam, uma brisa gelada acariciou minha face. Entrei rapidamente, aquela rua escura fazia o clima parecer ainda mais frio.

Caminhando cautelosamente, atravessei o cômodo pequeno e abafado que eu já conhecia tão bem. Alec andava à minha frente.

-O chefe achou que você tinha nos abandonado. - ele disse, me olhando por cima do ombro - E não estava nada contente com isso.

-Eu tenho minhas preferências. - falei rispidamente - Só estava sem grana para vir antes.

Ele deu uma risadinha e abriu a porta de madeira escura.

-Chefe, tenho alguém aqui para você.

-Mande entrar.

Alec fez um gesto e eu adentrei a sala de Marcus. Parecia um escritório de advocacia barato, aqueles das páginas amarelas.

-Renesmee. - ele me cumprimentou surpreso, com um sorriso faceiro nos lábios.

-Olá, Marcus. - falei, igualmente feliz. Marcus era uma espécie de “ponte” entre mim e o meu céu. E eu o adorava por isso.

-Faz tempo que não vem me ver, querida. O que houve?

Cocei a nuca.

-Eu estava zerada. - admiti, ficando rubra.

Ele deu um tapinha no ar como quem diz: “besteira!”.

-Você sabe que tem crédito comigo.

-É, mas eu já estou te devendo, então...

-Quanto você tem aí? - interrompeu-me.

Mordi os lábios, enrolando as pontas dos cabelos com o dedo indicador. Ele me conhecia suficientemente bem para saber que eu só fazia aquilo quando estava nervosa.

-Eu nem tenho o suficiente para quitar a dívida. - falei, vencida - E estou precisando de mais.

Ele me sorriu, compreensivo. Sério, Marcus era o traficante mais gente boa do mundo.

-Posso lhe fazer um desconto... - piscou para mim - E você paga o resto quando puder.

Eu ri nervosamente.

-Você não existe.

Marcus sorriu e me levou até o seu estoque. Sério, se rolasse um incêndio naquela sala, havia erva o suficiente para a América inteira ficar doidona.

Pegou um pacotinho e me entregou.

-Tem cento e cinquenta gramas aqui, garota, além de cinco balas. Vê se vai devagar. - avisou, quase que de maneira paternal - Vai querer pó também?

Torci os lábios, a oferta era tentadora, mas...

-Dessa vez, não, Marcus. Sério, eu não vou ter como te pagar depois.

Ele rolou os olhos.

-Preocupações bobas e desnecessárias. Mas se você prefere assim...

-É, eu prefiro.

Marcus me abraçou pelos ombros e me guiou até a porta.

-Volte logo, menina.

Eu sorri e lhe entreguei o dinheiro.

-Voltarei.

Saí de lá com um sorriso maior que a cara nos lábios. Cento e cinquenta gramas!

Guardei minha mercadoria na mochila e quase corri na direção norte. Eu precisava do meu quarto agora.

Lembrei-me de antes e voltei a ligar o celular. Olhei no visor.

Evey - três chamadas perdidas.

Meu, o que será que ela queria? Disquei seu número enquanto caminhava saltitante.

-Nessie? - ela atendeu no primeiro toque.

-Credo... - falei - O que é?

-A sua mãe me pediu para avisar que você precisa comprar mussarela.

Hein? - pensei.

-Hein? - falei.

-É que ela estava sem créditos.

Rolei os olhos.

-Tudo bem, eu passo na padaria. - e então lembrei... - Não vai dar, não. Estou sem grana.

-Ela disse que pode pendurar lá, que ela paga amanhã.

-Ok, então. Você vai lá em casa...?

-Amanhã. - respondeu ela.

Ótimo, ninguém no meu quarto hoje! - comemorei internamente.

-Ok, vou desligar agora, Evey.

-Tudo bem. Um beijo, Nessie.

-Um beijo.

Desliguei o celular e abri o zíper da mochila para guardá-lo. Suspirei ao olhar para o pacotinho pardo... Caminhando, era uma meia hora de onde eu estava até em casa. Eu não conseguiria aguentar isso tudo.

Dei uma olhada em volta. Tinha pouca gente na rua, e esse pouco estava doido demais para me notar ficando doida. Aquela rua era bem escura, e estava frio pra caralho, ou seja: ninguém, além de drogados como eu - ou gatos vira-latas -, estaria perambulando por ali à uma hora daquelas. Era seguro.

Fui até um canto da calçada e me encolhi ao lado de umas latas de lixo. Peguei uma folha do meu papel de seda, enrolei umas poucas gramas da maconha recém-comprada, e acendi com o meu isqueiro de caveiras sorridentes.

Tomei uma pílula do LSD que Marcus praticamente me dera - de tão generoso que fora seu desconto, e sorri de olhos fechados, só de sentir o cheiro da erva queimando...

Levar aquele cigarro aos lábios era como receber um espírito de felicidade: eu me livrava dos problemas, da dor, de tudo... Esquecia que era uma excluída, uma esquisita... Esquecia da vontade de morrer.

E tudo isso porque, estando sob o efeito da minha “amostra do paraíso”, eu não conseguia lembrar quem eu era.

Narrador observador.

Renesmee olhou para cima, encarando os flocos de neve que dançavam no ar. Eles adquiriam cores diferentes à medida que se contorciam na brisa gelada. Eram azuis, vermelhos, verdes... E aquilo era extremamente engraçado para ela.

Na verdade, tudo era engraçado naquele momento: seu corpo estava leve, e tremia por conta das gargalhadas. Até um gato fuçando nas lixeiras ao seu lado a fazia rir, e quando o gato pulou e caiu quase em seu colo... Sua gargalhada foi estrondosa. Tão forte que ela se inclinou para a frente, com as mãos na barriga, e acabou caindo com o rosto em uma poça de gelo derretido - o que lhe provocou outra rodada de risos histéricos.

“O mundo é tão melhor quando se está alucinada!” - era o que ela pensaria no dia seguinte, trancada em seu quarto, chorando baixinho. Porque naquele momento tudo parecia tão legal e divertido... E quando ela voltasse ao normal, todas as cores mágicas voltariam ao cinza deprimente e angustiante. Nessie puxou o último trago e virou de barriga para cima, aproveitando ao máximo o êxtase que lhe restava.


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Notas finais do capítulo

Revieeeeeeeews?