O Diário de Uma Heroína escrita por Kagome_


Capítulo 13
Capítulo 13




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- E aí, onde foi que você se enfiou? – a Kikyo me perguntou, tipo, pela noningentésima vez.

 

- Lugar nenhum – respondi. – Vê se me deixa em paz.

 

- Só estou perguntando – disse Kikyo. – A gente não pode nem fazer uma simples pergunta para você? Não precisa ficar toda brava por causa disso. A não ser, claro, que você estivesse fazendo algo, sabe como é, que não devia fazer.

 

Claro que era exatamente isso que eu estivera fazendo. Só que não era o que a Kikyo estava pensando. Eu só tinha comido hambúrguer (e gravado meu nome no parapeito da janela) com o filho do líder desse país.

 

- É só que vocês dois pareciam, sei lá... – Kikyo dizia enquanto examinava os lábios no espelhinho do pó compacto. Ela tinha gastado uma meia hora contornando os lábios com lápis naquela manhã. Sabendo que hoje, no primeiro dia em que eu voltava à escola depois de toda aquela história de salvar o presidente, um monte de gente ia querer tirar foto dela.

 

Muita gente tirou mesmo foto dela (e de mim) quando saímos de casa e entramos no carro (o Serviço Secreto sugeriu que nós não fossemos no colégio até tudo isso diminuir, mas, meus pais não acharam bom, então a Kaede vai nos levar para a escola por enquanto). De modo que a Kikyo tinha realmente razão.

 

Mas não tinha razão nenhuma para achar que tinha alguma coisa rolando entre mim e o Inuyasha.

 

- Amiguinhos – terminou a frase, fechando o estojo de pó compacto. – Você não acha que eles pareciam dois amiguinhos, Kaede?

 

A Kaede, que não é a melhor motorista do mundo, e que ficou muito abalada com os repórteres que tentavam pular no capô para tirarem fotos, só falou um monte de palavrões quando o carro da frente deu uma fechada nela.

 

- Acho que vocês dois estavam muito amiguinhos – continuou Kikyo. – Muito amiguinhos mesmo.

 

- Não tinha nada de amiguinho – respondi. – Nós só esbarramos um no outro na caminho do banheiro. Só isso.

 

A Rin, sentada no banco da frente, observou:

 

- Estou sentindo um certo frisson no ar.

 

Kikyo e eu olhamos para ela como se fosse louca:

- Um o quê?

 

- Um frisson – Rin respondeu. – Um tremor de atração intensa. Detectei um frisson entre você e o Inuyasha ontem à noite.

 

Fiquei pasmada. Porque é óbvio que não tinha existido nada disso. Por acaso eu estava apaixonada pelo Kouga, não pelo Inuyasha.

 

Mas é claro que eu não podia falar isso. Não em voz alta.

 

- Não tinha frisson nenhum. Não tinha absolutamente frisson nenhum. De onde é que você tirou uma idéia dessas?

 

- Ah – respondeu rin de maneira muito polida. – De um daqueles romances de amor da Kikyo. Tenho lido aqueles livros para melhorar meu traquejo social. E tinha com certeza um frisson entre você e o Inuyasha.

 

Mas, por mais que eu negasse a existência de qualquer frisson, a Rin e a Kikyo ficavam jurando que tinham visto aquilo. O que nem faz o mínimo sentido, já que eu duvido muito que os frissons, se é que existem, possam ser detectados pelo olho humano.

 

E por mais que o Inuyasha seja fofo e tudo mais, eu sou totalmente 100% dedicada ao Kouga que, tudo bem, não parece corresponder exatamente ao meu amor, mas isso vai acontecer. Um dia desses o Kouga vai cair na real e, quando isso rolar, estarei esperando.

 

Além do quê, o Inuyasha não gosta de mim desse jeito. Ele só estava sendo legal comigo porque eu tinha salvado o pai dele. Só isso. Tipo, se elas tivessem ouvido quando ele ficou tirando sarro daquela coisa do abacaxi, elas iam desistir desse negócio de frisson na hora.

 

Mas tanto faz. Parecia que todo mundo estava empenhado em transformar a minha vida em um inferno: minhas irmãs; os repórteres que se aglomeravam no gramado de casa; os fabricantes de certas marcas de refrigerantes de sucesso, que não paravam de enviar caixas e caixas da amostras de seus produtos lá para casa; minha própria família. Até o presidente.

 

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- O que exatamente a embaixadora teen do Japão na ONU? – Sango perguntou naquele mesmo dia, mais tarde. Estávamos na fila do almoço, o mesmo lugar em que ficávamos todos os dias da semana da nossa vida.

 

Mas, diferentemente de todas as outras vezes, naquele dia, todo mundo que estava à nossa volta olhava para mim e falava em um tom baixinho, de admiração. Uma garota da oitava série que era especialmente tímida veio até mim e perguntou se podia colocar a mão no meu gesso.

 

É. Nada como ser heroína nacional.

Eu estava menosprezar aquela coisa toda. Estava mesmo. Por exemplo, desafiando completamente as ordens da Kikyo: eu não tinha acordado uma hora mais cedo para passar condicionador de cavalo no cabelo. Não estava usando nenhuma daquelas roupas novas. Estava usando minhas próprias roupas normais do dia-a-dia, totalmente pretas, e meu cabelo estava naquela bagunça normal do dia-a-dia.

 

Mesmo assim, todo mundo estava me tratando de um jeito diferente. Até os professores, que faziam piadas do tipo: “Para vocês que não estavam jantando na Casa Presidencial ontem à noite, será que alguém viu aquele documentário a respeito...” e “Por favor, abram o livro na página 265... Quer dizer, só quem não quebrou o braço salvando a vida do presidente.”

 

Nem o pessoal que trabalhava na lanchonete me deixava em paz. Assim que estendi a bandeja, a sra. Yumi me deu uma piscadinha conspiratória e disse: “Pronto, querida”, e me deu uma fatia extra de torta.

 

Na história da nossa escola, a sra. Yumi nunca tinha dado uma fatia extra de torta para ninguém. Todo mundo tinha medo da sra. Yumi, e com razão:  se você a irritasse, podia ficar sem torta durante um ano inteiro.

 

E ali estava ela, distribuindo torta extra. O mundo que eu conhecia acabou em um estrondo.

 

- Olha, você deve precisar fazer alguma coisa – Sango, depois de se recuperar do incidente da torta, seguiu-me até a mesa que tradicionalmente dividíamos com umas outras garotas que, como a Sango e eu, ficavam nas áreas adjacentes da popularidade.

 

- Sabe, embaixadora teen na ONU. Quais são as suas funções? Tem pelo menos um comitê? – Sango se recusava a abandonar o assunto. – Para discutir questões adolescentes mundiais, por exemplo?

 

- Não sei, Sango – disse quando nos sentamos – O presidente só falou que tinha me indicado como representante do Japão. Imagino que deve ter representantes de outros países. Se não, qual seria o objetivo disso? Alguém aí quer uma fatia extra de torta?

 

Ninguém respondeu. Isso porque todo mundo da mesa estava com os olhos fixos em uma coisa que não era a torta. Em vez disso, todas as garotas olhavam para a Kikyo e o Kouga, que de repente resolveram colocar a bandeja deles na nossa mesa.

 

- Ei – exclamou Kikyo, com tanta naturalidade como se sentasse à mesa das garotas não populares todos os dias da semana. – O que está rolando?

 

- Como foi que você conseguiu um pedaço a mais de torta? – Kouga quis saber.

 

O negócio era que, sabe, a Kikyo e o Kouga na eram as únicas pessoas que tinham vindo do, sabe como é, do outro lado e que tinham resolvido sentar na nossa mesa. Para meu espanto, juntaram-se a eles mais ou menos a metade do time de futebol e umas garotas da equipe de animadoras de torcida. Dava pra perceber que a Sango estava bem abalada por causa da invasão. Era como se um monte de cisnes de repente tivesse tomado conta da lagoa dos patos. Todas nós, as marrecas, não sabíamos muito bem o que fazer ao deparar com tanta beleza.

 

- O que é que você está fazendo? – cochichei para a Kikyo.

 

A Kikyo simplesmente deu de ombros enquanto dava um golinho na Coca Light.

 

- Já que você se recusa a ficar com a gente – explicou -, nós resolvemos vir aqui ficar com você.

 

- Ei, Kagome – disse Kouga, tirando uma caneta do bolso do sobretudo preto. – Deixa eu assinar o seu gesso.

 

- Aaaah – gritou Ame, com os pompons sacudindo-se de tanta animação. – Eu também! Eu também quero assinar o gesso dela!

 

Tirei o braço do alcance deles e mandei:

 

- Hã, acho que não. Obrigada.

 

Kouga ficou com cara de decepcionado.

 

- Eu só ia desenhar um jovem rebelde aí – explicou. – Só isso.

 

Era preciso reconhecer que um jovem rebelde teria sido legal. Mas se eu deixasse o Kouga desenhar no meu gesso, todo mundo ia querer fazer a mesma coisa,e logo logo aquela brancura maravilhosa se transformaria em uma zona. Mas se eu dissesse que só o Kouga podia desenhar ali, todo mundo ia saber da minha paixão secreta pelo namorado da minha irmã.

 

- Hum, mesmo assim, obrigada – respondi. – Mas estou guardando o gesso para eu mesma desenhar.

 

Fiquei mal por estar sendo chata com o Kouga. Afinal, ele era minha alma gêmea.

 

Ainda assim, eu queria que ele se tocasse logo, e parasse de andar com a Kikyo  e com os amigos babacas dela. Porque esses caras estavam se comportando como imbecis completos, jogando salgadinhos de milho uns nos outros e tentando aparar com a boca. Era revoltante. E também irritante, porque eles ficavam balançando a mesa, o que fazia com que fosse difícil para pessoas com uma mão só comerem.

 

- Ei! – gritei quando um dos salgadinhos caiu no molho de maçã da Sango. – Será que vocês podem dar um tempo, caras?

 

A Kikyo, que estava entretida na leitura de um artigo de revista a respsito de coxas perfeitas, manifestou-se com voz entediada:

 

- Caramba. Só porque vai ganhar uma medalha ela já está se achando.

 

O que foi totalmente injusto, porque, o que ela acha que eu devia fazer? Simplesmente aceitar a coisa do salgadinho no molho e tudo bem?

 

Sango olhou pra mim, com os olhos esbugalhados:

 

- Você também vai ganhar uma medalha? Você é embaixadora teen na ONU e ainda vai ganhar uma medalha?

 

Infelizmente, sim. Uma medalha presidencial de valor, para ser mais exata. A cerimônia seria realizada em dezembro, quando a Casa Presidencial estivesse toda decorada para o Natal, para as fotos ficarem mais bonitas.

 

Mas eu nem tive tempo de responder. Isso porque minha segunda fatia de torta de repente desapareceu e foi percorrendo a fileira de jogadores de futebol em um jogo de frisbee.

 

- SERÁ QUE VOCÊS PODERIAM FAZER O FAVOR DE DEVOLVER A MINHA TORTA? – berrei, porque tinha a intenção de dar aquele pedaço para o Kouga.

 

A Kikyo, obviamente, não sabia disso. Simplesmente mandou:

 

- Faça-me o favor, é só um pedaço de torta. Acredite, você não precisa dessas calorias a mais.

 

Uma observação típica da Kikyo, que eu tinha começado a responder quando ouvi uma voz muito familiar atrás de mim.

 

- Oi, Kagome.

 

Virei-me e vi a Kagura com aquela cara de perfeita presidente da classe, e ela estava olhando para mim.

 

- Aqui está o convite da minha festa – declarou Kagura, entregando para mim um pedaço de papel dobrado. – Espero mesmo que você possa ir. Sei que tivemos nossas diferenças no passado, mas gostaria mesmo que pudéssemos hastear a bandeira branca e ficar amigas. Eu sempre a admirei, Kagome, você sabe disso. Você é uma pessoa que respeita de verdade suas convicções. E eu não ligava de ter que pagar pelos desenhos. Não mesmo.

 

Só fiquei olhando para ela. Não dava para acreditar que essas coisas estavam acontecendo. Fala sério, tudo aquilo: os caixotes de refrigerante, os ursinhos de agradecimento, o jantar na Casa Presidencial... mas a Kagura (a Kagura) puxando o meu saco era a coisa mais esquisita de todas. Comecei a entender como a Cinderela deve ter se sentido depois que o príncipe afinal a encontrou e o sapatinho serviu no pé dela. As irmãs postiças devem ter começado a puxar o saco dela bem do jeito que a Kagura estava puxando o meu.

 

Mas o negócio é que, assim como a Cinderela, eu não tive coragem de mandar a Kagura para o lugar que ela merecia ir. Deveria ter mandado. Eu sei que deveria.

Mas o negócio era o seguinte: Por quê? Sabe, para quê? Tá, ela havia sido nojenta comigo a vida inteira. E você acha que se eu fosse nojenta com ela também, isso lhe daria alguma lição? Ela era nojenta por natureza.

 

Gentileza. Era isso que a Kagura precisava. Um exemplo a seguir. Alguém cuja atitude simpática ela pudesse copiar.

 

- Não sei – respondi, colocando o convite dentro da mochila, em vez de aceitar meu instinto de enfiar aquilo na lata de lixo mais próxima. – Vou ver.

 

Mas eu nem precisava me preocupar, já que a Kikyo teve a capacidade de estragar tudo em um segundo, sem nem tirar o olho da revista:

 

- Ela vai.

 

A Kagura sugou o ar para dentro dos pulmões com força, toda animadinha:

 

- Vai mesmo? Ótimo.

 

- Para falar a verdade, não tenho certeza se vai dar para ir, Kikyo – insisti, com um olhar nefasto para a Kikyo, que ela não viu por estar entretida em um artigo sobre como cuidar das cutículas adequadamente.

 

- Claro que vai – repetiu ela, virando a página. – Você, o Inuyasha, Kouga e eu podemos ir todos juntos.

 

- Inuyasha? – repeti. – Quem é que falou alguma coisa do...

 

- Acho um amor – revelou Kagura com um suspiro. – Você com o filho do presidente e tudo o mais. Quando a Kikyo me contou, eu quase morri.

 

- Quando a Kikyo contou o quê? – reivindiquei.

 

- Bom, que vocês dois estão ficando, claro – respondeu Kagura, um pouco suspeita.

 

Naquela hora, eu bem que poderia ter matado a Kikyo de verdade. Cara, você tinha que ver o que aconteceu quando a Kagura proferiu aquelas palavras. A Sango que estava mastigando sua torta, observando enquanto aquele draminha se desenrolava na frente dela, deixou o último pedaço cair no colo. Todas as animadoras de torcida pararam de fofocar e olharam para mim como se eu fosse algum esmalte cintilante, ou qualquer coisa assim. Até o Kouga, que áquela altura já tinha pegado a meu pedaço de torta, parou de dar uma mordida no meio e disse:

 

- Até parece, caramba.

 

Olha, foi meio desconcertante.

 

- É isso – aproveitei. – O Kouga está totalmente certo. Até parece. Eu não estou ficando com ele, tá? Não estou ficando com o filho do presidente.

 

Mas a Kagura já estava matraqueando:

 

- Não se preocupe com isso, Kagome, sou uma pessoa muito discreta. Não vou falar nada pra ninguém. Mas você acha que uns repórteres vão aparecer lá? Tipo, na minha festa? Porque se alguém quiser me entrevistar, sabe, tudo bem. Podem até tirar uma foto minha. Se você quiser que eu assine uma licença de uso de imagem, ou qualquer coisa assim...

 

Enquanto tudo isso acontecia, a Kikyo só ficou lá, inabalável, folheando a revista. Não dava para acreditar. E eu achando que aquela coisa da aula de desenho já era ruim.

 

- Ei! – A Kikyo se manifestou quando finalmente reparou, pela minha expressão, que eu não estava muito satisfeita com ela. – Não vem pôr a culpa em mim. Foi você que ficou naquele frisson com o cara, não eu.

 

- Eu não gosto do Inuyasha, tá bom? – disparei, dando um olhar direto para o Kouga, para ter certeza de que ele estava ouvindo.

 

- Tá bom – respondeu Kikyo.- Não precisa ficar tão... ai!

 

Fala sério, se tem alguém que merece levar pelo menos um beliscão todo dia, esse alguém é a minha irmã Kikyo.


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