Digimon Beta - E o Hexágono do Mal escrita por Murilo Pitombo
A movimentação dentro da mata fechada assustava os garotos que acabaram de chegar ao Mundo Digital.
Após o grito de Leandro, Fernanda também direcionou seu olhar para o local que o garoto indicou e percebeu que se tratava de algo realmente sério.
– Meninos eu to com medo! – diz a garota correndo e abraçando Leandro pelas costas.
– Quer dizer que agora minha ajuda tem utilidade?
– Eu to nervosa. Releva o que eu disse.
– O que será isso? – pergunta Igor assustando-se cada vez mais.
– Será que é uma onça? – questiona Antônio.
– Um macaco, não? – diz Leandro.
– Deve ser um leão! – exclama Fernanda nervosa.
– E desde quando leão mora em floresta?
– Não enche!
De dentro da floresta surgem quatro digimons, para espanto dos garotos.
– Leandro? – questiona um Gotsumon.
– Fernanda! – exclama o digimon mecânico, redondo como uma bola de basquete. Uma engrenagem laranja contornava seu corpo. Levitava a poucos centímetros do chão.
– Igor. Tava te esperando – diz um lindo cachorro de pelagem castanha, com calda, orelhas e olhos vermelhos.
– Antônio! – grita um escaravelho mecânico azul. Tem altura aproximada de Gabumon. Duas enormes mãos, olhos verdes graúdos e um lenço laranja no pescoço.
Sem dizer absolutamente nada, Igor inicia uma corrida pela praia e é seguido pelos demais. Os digimons, percebendo que os humanos estavam assustados, correm atrás deles.
– Pessoal. Acho que não desistirão tão cedo! – grita Antônio depois de correr alguns minutos e notar que os digimons ainda os perseguiam.
– Então é melhor nos separarmos! – propõe Igor, pegando uma trilha floresta adentro e sendo seguido pelo digimon cachorro.
Logo depois Antônio e Fernanda fazem o mesmo e são seguidos pelos digimons mecânicos.
Leo continua sua fuga pela areia, com o monstro de pedra na sua cola.
– Qual a cor do seu digivice?
João e seus amigos seguiam conversando com Levi.
– Prata. O de todo mundo é prata. Por que pergunta?
– O nosso não é prata não!
João, Carlos, Davi, Lúcia e Verônica estendem as mãos com seus digivices, revelando aparelhos nas cores preta, azul, verde, violeta e amarelo.
– Que legal! O de todos os domadores que estão por aqui é prata. Por que será que o de vocês é colorido?
– Por que somos especiais! – brada Lúcia sorrindo.
Uma sombra surge sobre o grupo que, ao grito de Levi, se joga no chão. A enorme ave de penas vermelhas dá um rasante sobre os humanos e os digimons e não consegue capturar ninguém.
– O que é isso? – questiona João.
– Deve ser uma recepção calorosa que prepararam para nós! - Lúcia ergue seu digivice e rastreia informações do digimon.
Birdramon, um digimon no nível Adulto. Uma grande ave vermelha como o fogo. Sua principal técnica é a “Asa Meteoro”.
– Quando cheguei aqui, vi essa Birdramon sobrevoando vocês e prestes a atacá-los. Pensei que a tivesse espantado – explica Levi.
Novamente a enorme ave de penas vermelhas dá outro rasante. Dessa vez consegue capturar Betamon e Plotmon.
– Betamon! – grita João.
– Choque Elétrico.
Betamon lança uma descarga elétrica contra a ave, que acaba soltando-o. Porém, Plotmon permanece presa a outra pata do digimon.
– PLOTMON!
– Betamon. Vamos atrás dela!
Betamon evolui.
João e Verônica sobem na enorme serpente e voam atrás de Birdramon.
– Pessoal, vou ajudá-los para não se perderem. Esperem aqui.
Levi segue de patins, enquanto Renamon seguia-o correndo.
Fernanda corria assustada pela floresta tentando fugir da engrenagem que a seguia quando ouve um forte bater de asas. Ao olhar para cima, a garota vê Birdramon voando e se esconde no meio de alguns arbustos. Em seguida, Seadramon rasga o céu na mesma direção tomada pela ave gigante.
– Se isso for um pesadelo, eu quero acordar agora! – pede aflita, tentando entender o que estava acontecendo.
– Rápido Renamon. Se não vamos perdê-los de vista!
Levi passa muito rápido pelo local onde a garota estava escondida. Num impulso, ela fica de pé e, antes de gritar por socorro se assusta com Renamon, que passa muito próximo a ela seguindo o garoto de patins.
– Meu Deus! Aquele monstro amarelo estava seguindo o menino dos patins.
– Fernanda! Espera, precisamos conversar!
Ao olhar para trás, a garota de vestido vermelho percebe que o mostro em forma de engrenagem conseguiu encontra-la e torna a correr. Fernanda tentava ganhar distância, mas a subida íngreme não a ajudava. O digimon que a seguia se deslocava sem grandes dificuldades.
– Eles não podem demorar. Está próximo de escurecer – diz Palmon.
– Não dou quinze minutos para retornarem - afirma Davi categoricamente.
– Lúcia, o que houve? – pergunta Gotsumon ao ver sua domadora preocupada.
– Rafael... Eu sei que ele nos causou muitos problemas e que se pudesse, acabaria com a maioria de nos, mas ele faz parte da minha família. Eu me preocupo com ele!
– Também estou preocupado – diz Carlos.
– Relaxa que ele está com Gabumon. Gabumon é um cara sangue bom! – diz Terriermon enquanto pulava feito louco.
– Com quem você aprendeu a falar assim, Terriermon? – pergunta seu domador.
– Assim como?
– Relaxa; Cara; Sangue bom...
– Na televisão!
– Ótima influencia pra você. Já não regula bem...
Aos poucos eles começam a ouvir gritos de socorro vindos da mata. Cada vez mais o som se aproximava.
Terriermon, Palmon e Gotsumon se colocam na frente dos seus domadores.
Da floresta, surge um garoto magro de olhos azuis.
– Socorro! Vocês têm que me ajudar...
– O que houve? – pergunta Lúcia.
– Aqui também tem monstros! – grita ao notar a presença dos digimons.
– Monstro é você seu feioso – retruca Terriermon ofendido - Eu sou lindo!
O digimon que o seguia sai da floresta.
– Igor. Deixa eu te explicar!
Igor, assustado, corre e se esconde atrás de Davi.
– O que você quer com ele? – pergunta Palmon preparando-se para atacar.
– Eu estive esperando por ele há muito tempo!
– Seu nome é Igor, correto? – pergunta Lúcia.
O garoto, ainda assustado, confirma balançando a cabeça.
A garota de pele negra lhe mostra o digivice.
– Você tem um aparelho igual a esse?
– Não! Meu celular é diferente do seu.
– Olha direito nos bolsos.
– Eu já disse que...
– TO MANDANDO OLHAR! – grita.
Igor tateia a calça até perceber um estranho volume em um dos bolsos e o retira.
– Isso é o que você procura?
– Isso mesmo, menino. Um digivice.
– Eu já tenho quinze anos! – esbraveja.
– Nossa! Não te vejo atrás de tantos pelos no rosto – exclama irônica.
– Lúcia - intervém Carlos sorrindo – Para de abusar o garoto. Não vê que ele ta assustado. Tem muito tempo que você está aqui, Igor?
– Acabei de acordar na areia de uma praia aqui perto. Acho que fui sequestrado.
– O que aconteceu contigo e conosco, não deixa de ser um sequestro. Só que o lance é bem mais complexo. Esse aparelho em suas mãos chama-se digivice e quem o possui chama-se domador. Esses monstros chamam-se digimons e aquele simpático cachorro que te segue deve ser o seu parceiro. Assim como esses pertencem a nos.
Igor olha boquiaberto para Carlos. Tentava digerir todas as informações.
– Faz o seguinte: - prossegue Carlos – Ergue seu aparelho na direção do digimon que tava te seguindo. Se ele for seu parceiro, seu digivice avisará.
– Mas como que liga?
– Ele irá ligar!
O garoto de olhos azuis faz como o recomendado pelo Carlos e o seu digivice emite o seguinte sinal sonoro:
“O digimon encontrado está acoplado a esse aparelho”.
Agora, seu digivice que é prateado como o da maioria, exibe um ícone animado do seu digimon.
– Ele é meu digimon? – pergunta Igor ainda confuso com tantas novidades.
O digimon cachorro corre até ele e se joga em seus braços, derrubando-o.
Ao ver a bagunça, Terriermon também salta sobre o garoto, mas Carlos o segura em pleno ar.
Davi saca seu digivice e rastreia informações do digimon.
Labramon, um digimon no nível Novato. Um inofensivo cachorro com poderes de cura. Sua saliva é um poderoso licor de cura, restaurando a energia e os dados dos digimons no nível Novato.
Igor se põe de pé.
– Como que você se chama?
– Labramon.
– E por que eu vim parar aqui?
– Isso já não podemos te explicar com muitos detalhes – diz Davi interferindo.
– Então me diga tudo o que sabem sobre esse lugar e sobre os digimons.
Leandro fugia do boneco de pedra que o seguia. O calor estava intenso e, aos poucos, sua visão ia perdendo toda a nitidez. A voz de Gotsumon cada vez ficava mais distante. Tentava engolir a saliva e não conseguia. Aos poucos, o garoto ia perdendo os sentidos até desmoronar sobre a areia quente da praia.
Rafael continuava irado com João, Verônica, Davi e Carlos. Jurava ter sido vitima de traição por parte do garoto domador de Terriermon. Ainda caminhava dentro da floresta, porém no limite que a dividia de um rigoroso deserto de solo arenoso com várias dunas que seguiam até onde as vistas pudessem alcançar.
– Rafael. É muito perigoso andarmos sozinhos – diz Gabumon.
– CALA A BOCA! Não quero encontrar aqueles idiotas nunca mais!
O garoto avança sobre o deserto a passadas largas.
– O deserto pode ser perigoso demais pra gente.
– Se ta com medo é melhor voltar, Gabumon!
– HEI!
O grito faz Rafael parar e olhar para trás. Uma bela garota corria na sua direção enquanto segurava a barra do vestido, a bolsa e as sandálias. Em sua cola estava uma engrenagem laranja.
– Pelo visto todos aqui possuem um mostro a tira colo! – diz Fernanda apoiando as mãos na cintura, ofegante.
– Você é uma domadora? – pergunta Gabumon.
– Todos os monstros falam?
– Somos digimons – explica-se.
– E esse garoto não fala?
– Ele se chama Rafael.
– Olá, Rafael. Me chamo Fernanda.
– Oi!
– Que bom saber que você sabe falar!
A digimon mecânica se aproxima levitando.
– Cansou de fugir, Fernanda?
– Me acostumei com a ideia de ter algo estranho me seguindo depois de ver outras pessoas sendo seguidas. O que você quer?
– Ela é sua digimon! – interfere Rafael curto e grosso.
– Isso mesmo! Me chamo Solarmon.
Rafael lhe mostra o digivice vermelho.
– Com certeza você deve ter um aparelho como esse.
Fernanda procura em sua bolsa até achar um na cor prata. A garota o retira e acaba erguendo-o na direção da digimon, fazendo com que ele fosse ativado, assim como Igor fez com seu aparelho.
– Alguém o colocou na minha bolsa. Ele não estava aqui antes.
– Normal! Eles se materializam próximo dos donos. Quer dizer que você é uma caloura?
– Se caloura significar pra você alguém que ta conhecendo tudo isso agora, sou sim!
Rafael sorri.
– Vê como é bem melhor sorrir do que ficar de cara amarrada por conta de algum problema? – diz Fernanda olhando no fundo dos seus olhos.
O garoto desconversa.
– Quer saber mais sobre Solarmon?
– Tem como?
Rafael ergue seu digivice na direção da digimon engrenagem.
Solarmon, um digimon no nível Novato. Esse pequeno digimon engrenagem possui vasto conhecimento sobre máquinas, androides e cyborgs. Sua técnica é o “Anel Brilhante”.
– Posso te ajudar com seu problema?
– É psicóloga? – pergunta Rafael.
– Pretendo cursar. Dizem que tenho o dom. Um pouco rude, mas tenho!
Rafael respira fundo antes de começar a falar.
– Você acha legal alguém querer destruir outras pessoas?
– Não!
– Pois eu quero! Quero, tenho força e dinheiro suficientes pra isso.
– Você ta bem grandinho pra esse tipo de coisa de coisa, não acha? Já está na hora de rever seus conceitos e mudar de opinião. Não fique esperando que as pessoas caiam do céu do jeito que você sempre quis. Não existe ninguém perfeito. Cabe a você controlar seus instintos ruins e ir atrás das coisas boa. As pessoas não podem se moldar ao seu gosto só porque você tem dinheiro. Felizmente ou infelizmente, poucas pessoas pensam como eu e tenho certeza de que a causa da sua revolta está justamente nisso. Nessa minoria que te trata como mais um. Que te bajula e puxa seu saco. Nossa! Falei bonito agora!
Rafael sorri ao ver o sorriso estampado no rosto da garota de cabelos ondulados. A maneira como falava simplificava tudo aquilo que lhe causa confusão.
– Ajudei? – questiona.
– Digamos que me fez refletir. Porém, minhas escolhas não têm volta!
– Você é tão bonito... Não é possível que seja só a casca!
Algo surge voando por de trás do domador loiro. Fernanda passa a observar o ser que se movia na direção deles. Rafael, ao notar a feição séria estampada no rosto da garota que até pouco sorria, volta seu olhar na mesma direção e também fica apreensivo.
Com a aproximação, longas asas negras como as de morcego, e perfuradas, se revelam num corpo idêntico a um humano esguio, vestido em um macacão que lhe cobria quase que todo o corpo, a não ser pela boca e queixo, que ficavam amostras em sua palidez. Seus braços são longos e finos, chegando ao joelho com mãos assustadoramente gigante. Um par de chifres, caveira no joelho direito e um morcego laranja desenhado no peito. Cintos, ataduras escuras na mão esquerda, correntes e remendos completavam seu visual tenebroso.
O ser pousa a alguns metros dos domadores, distância suficiente para deixar Gabumon e Solarmon atentos a o que poderia acontecer.
– Amiguinha nova, Rafael?
Continua...
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