Someone To Call Mine II escrita por Gabi G


Capítulo 9
Capítulo IX


Notas iniciais do capítulo

E ainda que eu tenha este amor por hiatus longos, cá está mais um capítulo.
Este deu um pouquinho de trabalho porque reescrevi basicamente a parte de Dan e Angelinne inteirinha, ela tem agora um tom bem mais sério do que anteriormente (até porque trata de um tema bem sério que, a meu ver, eu havia tratado de maneira displicente da primeira vez).

Espero que gostem.

Beijos,

Gabi G.



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Quando Tess saiu do trabalho naquela segunda-feira, decidiu fazer um agrado para a irmã a fim de livrá-la um pouco de seu sofrimento. Passou no restaurante favorito dela e comprou comida para levar. Tarde demais se lembrou que o ato poderia lhe trazer lembranças ruins por que tinha sido onde ela tinha ido com Ethan no primeiro encontro deles, e lamentou sua falta de tato. 

 

Forçou-se a pensar positivamente sobre o gesto e a manter um comportamento gentil, embora o que ela mais quisesse era caçar aquele Nerd idiota e castrá-lo. Quando sugerira a ideia no dia anterior, Millie negara fervorosamente e a proibira de se meter daquela forma. Descontente, Tess tivera que se contentar em apenas insultá-lo.  

 

Quisera praguejar por sua falta de sorte quando fora obrigada a subir no elevador com a Sra. Oldie, que a encarava com reprovação desde que seu marido a flagrara em uma situação delicada com Adam há semanas atrás. Como imaginara na época, a fofoca sobre o episódio foi repassada aos inquilinos no prédio.  

 

Ao elevador abrir em seu andar, Tess murmurou. - Boa noite. 

 

A senhora grunhiu algo que não parecia nem de longe com uma saudação em resposta. Balançando a cabeça, ela resolveu aceitar que seu destino era ser a falada do prédio enquanto abria a porta. 

 

Ao perceber a iluminação na sala e por causa do horário, soube que felizmente sua irmã já deveria estar em casa. - Millie, você vai querer me abraçar e nunca mais soltar depois do que eu fiz! Como eu sei que você está precisando de um mimo, passei no Luigi e trouxe uma coisinha para nós... 

 

A bióloga estava sorrindo quando entrou na sala, mas sua expressão se desfez quando viu a pessoa sentada ao lado de sua irmã no sofá.  

 

— Bella. 

 

— Oi, Tess. 

 

Percebendo o clima tenso, Millie se levantou. - Hoje é dia das visitas-surpresa. Dan também esteve aqui hoje. Agora, eu acredito ter ouvido você dizer algo sobre a comida maravilhosa de Luigi? 

 

Tess forçou um sorriso, mas seu bom humor tinha se esvaído. - Dentro da sacola.  

 

A modelo aceitou o embrulho e fez um som de yummy. - Você é a melhor, Tess. - Ela deu um beijo na bochecha da irmã e a lançou um sorriso que dizia que o agradecimento era por mais do que a comida. - Juro que vou tentar deixar algo para você. 

 

Então a loira se voltou à Bella. - Aceita? 

 

— Não, obrigada. Eu não vou demorar, só vim falar com a Tess um momentinho. 

 

A bióloga sentiu seu estômago se revirar com a frase, mas tentou manter-se estável. Millie deu um beijo em Bella e seguiu para a cozinha logo após. Elas estavam sozinhas. Tess sabia que aquilo não era no sentido literal, mas era assim que se sentia.  

 

Por que estava começando a parecer uma idiota ali parada sem se mover, Tess lentamente foi até o sofá e se sentou. Colocou sua bolsa ao seu lado e esperou. Ela não podia encará-la, no entanto. Havia poucas pessoas no mundo que conseguiam intimidá-la, e honestamente? Bella era a primeira delas.  

 

— Eu sinto muito por ter aparecido sem avisar, eu não vou tomar muito seu tempo.  

 

Elas pareciam duas estranhas, Tess não podia deixar de pensar. Ela sempre havia considerado Violet e Millie as pessoas mais importantes de sua vida; elas eram familiares próximos de sangue. E embora houvesse sido criada por Violet, sempre a vira como sua avó.  

 

Bella tinha se tornado a personificação de sua mãe desde que a conhecera quando tinha cinco anos. Tess sempre gostara de pensar que se sua mãe fosse viva, seria bem parecida com a Bella. E agora aquela mesma mulher estava ali diante dela e era como se não se conhecessem de verdade.  

 

— Não tem problema. - Tess disse baixinho.  

 

Isabella suspirou quando ela continuou sem encará-la e ignorando seu plano inicial de tratar uma coisa de cada vez, segurou a mão dela.  

 

— Eu sinto muito por ter magoado você, meu amor. - A médica balbuciou em um tom suplicante e Tess hesitantemente levantou os olhos. - Eu agi estupidamente no sábado e eu quero que me perdoe. 

 

Ela balançou a cabeça firmemente. - Não há nada o que perdoar. Eu entendo. 

 

A expressão de Isabella mudou. - Você entende o fato de eu ter te tratado mal? Eu faço isso com frequência? 

 

— Não! Não! Não foi isso que eu quis dizer! Eu só... Eu entendo por que está chateada. 

 

Bella inclinou a cabeça. - Por que acha que estou chateada? 

 

— Ah... Eu sei que Adam tem passado muito tempo comigo. Eu entendo que esteja preocupada comigo tirando todo o tempo livre dele, ainda mais com a faculdade que ele faz e com a dedicação que ele tem que ter... Eu entendo. 

 

Isabella balançou a cabeça. - Não tem nada a ver com isso. 

 

Tess piscou. - Não? 

 

— Não. O fato é muito simples, Tess. - Ela murmurou com a voz suave. - Eu amo você, desde que você tinha cinco anos e se recusava a entrar depois no casamento da Alice, e embora você não tenha sido concebida por mim, eu sinto como se fosse a primeira filha que tive. E por que eu procuro ser honesta com todos os meus filhos, não vou fazer diferente com você. Não acho que seja certa para o Adam. 

 

Tess sentiu que seus olhos se arregalavam. Sentiu sua mão deslizando da de Bella. Parecia que seu coração tinha despencado para seus pés.  

 

Sua voz parecia como a de uma criança acabando de receber a notícia de que o Papai Noel era uma ilusão. - O quê? 

 

A médica suspirou. - Não é o que parece. 

 

— Como não pode ser? Você deixou claro: eu não sou boa o suficiente para ele. 

 

— Tess, não foi isso que eu disse. Eu nunca acharia disso, você é maravilhosa do jeito que é. E deve ser boa o suficiente para si mesma, para ninguém mais. - Ela explicou, mas sabia que a bióloga não estava prestando a atenção.  

 

Ela tinha congelado na mesma posição e a encarava como se a visse pela primeira vez.  

 

Bella buscou pelas suas duas mãos. - Tess, olhe para mim. Realmente olhe. Tem um motivo para nós termos nos conectado logo de cara, algo que eu só descobri quando você ficou mais velha. Nós somos parecidas demais. E quando eu olho para você, eu me lembro de como eu era. 

 

Tess estava começando a perceber onde aquilo estava indo. - Você está com medo que eu magoe Adam assim como você magoou Edward. 

 

— Sim. Eu estou. Você pode mesmo me culpar por não querer ver Adam sofrer?  

 

— E você acha que por isso eu vou cometer o mesmo erro que você? - Tess sabia que estava aumentando o volume da voz e não tentou controlar. - Nós podemos ser parecidas, mas não somos iguais! 

 

Bella assentiu. - Eu sei que não. 

 

— Eu não quero machucar o Adam. 

 

— Você acha que eu queria? Eu fiz mesmo assim, não fiz? - Isabella se levantou e caminhou até a janela. - Nós não temos controle sobre tudo, Tess. 

 

— Eu tenho controle sobre minhas ações. Sobre minha vida. - Ela garantiu firmemente.  

 

A médica deu um sorriso triste. - Se é o que acha, eu não posso te convencer do contrário. 

 

Elas ficaram em silêncio. Tess com os olhos grudados em suas mãos que apertavam sem cessar uma a outra e Isabella olhando pela janela.  

 

— Eu confio em você, Tess, e eu acredito que goste de Adam. Mas o ponto é que nada no mundo me faria arriscar a felicidade dos meus filhos. Eu também me sentiria assim por você, pela Millie... A mera possibilidade de Adam se machucar não me deixa aprovar o relacionamento de vocês. 

 

— E se fosse ele a me machucar? - Tess sugeriu; sua voz estava baixa outra vez.  

 

Isabella se virou e parecia achar graça da ideia. - Ele não vai, não se você não fizer primeiro. Você vê, Tess, Edward me magoou muito também, mas foi depois do que eu fiz. Ele reagiu. De maneira estúpida. Ele se arrepende disso tanto quanto eu me arrependo de ter o magoado em primeiro lugar. Mas Adam é muito parecido com ele, como você sabe, e ele conhece melhor do que ninguém a minha história com o pai dele. Acredite em mim quando eu digo, Tess, ele não vai agir para te machucar. Reagir talvez, mas não agir. Simplesmente não é dele. Eu conheço meu filho. 

 

Por alguma razão, Tess acreditava. - Você esquece, Bella, que nosso caso é diferente. Bem diferente. Eu não estou procurando por isso. - E então ela abaixou ainda mais a voz. - Eu gosto do Adam, mas eu estou bem do jeito que estou. Eu não procuro pelo que você tem com Edward.  

 

Ela arqueou a sobrancelha. - Se isso é verdade, então você não faz a menor ideia do que é felicidade. Apenas idiotas não desejariam ter o que temos, e sim eu estou sendo totalmente presunçosa. Você é uma idiota? 

 

Tess suspirou. - Não... Mas Bella, você não entende. As pessoas têm sonhos diferentes. 

 

— Sim, elas têm. Mas eu nunca soube de ninguém que conseguisse ser feliz sozinho. 

 

O assunto estava trilhando para um território um tanto desconfortável. - Eu não preciso ter um marido para não ficar sozinha. Eu sou jovem, não quero esse tipo de compromisso agora. E Adam? Ele só tem vinte anos. 

 

— Eu tinha vinte e um quando conheci Edward. - Ela murmurou pensativa e então balançou a cabeça. - Eu não quero que Adam tenha esse tipo de compromisso agora. Ele ainda está na faculdade, ainda não tem emprego. E principalmente, você acha que eu quero que ele se case e me deixe? Que tipo de mãe eu seria se quisesse isso? Mas acontece, Tess, que eu tive meu final feliz. E eu quero isso para os meus filhos. Isso não significava casar e ter filhos, e sim estar com quem ama. 

 

— Eu não prevejo o futuro, Tess, mas eu já disse a você: não tomo chances com meus filhos. Eu queria vir me desculpar com você e explicar. Eu devia ter sido sincera desde o princípio e eu peço desculpas outra vez. Mas eu não gosto de vocês juntos. Eu não sei se você vai ou não o magoar e eu espero que não, mas não posso mudar o que eu sinto. Eu sou mãe dele, e assim como eu faria se fosse com você, ou com a Mel, ou com a Millie, tento manter todo e qualquer perigo longe de meu filho. 

 

— Mas eu não quero ser um perigo para ninguém.  

 

Bella relaxou os ombros e deu um pequeno sorriso. - Você é um perigo para ele de qualquer modo. Com semelhança comigo ou não. Não vê o modo como ele olha para você? 

 

Tess baixou a cabeça outra vez. - Eu não quero que deixe de gostar de mim. 

 

Bella acariciou a bochecha dela e nos olhos de Tess viu a sua pequenina ruivinha de cinco anos outra vez. - Como eu deixo de amar uma filha? 

 

Os olhos da bióloga lacrimejaram. - Você não deixa.  

 

— Exatamente. 

 

— Eu... - Tess respirou fundo. - Eu posso... Terminar com ele. 

 

Isabella a encarou. - Você faria isso? 

 

— Sim. - Ela ignorou sua repentina escassez de oxigênio. - Se você fosse... ficar mais aliviada assim. 

 

— Eu iria ficar mais aliviada. 

 

Tess assentiu e mal sentiu as lágrimas em seu rosto. - A última coisa que eu quero... é decepcionar você. 

 

Ela não relutou quando Bella a puxou para um abraço, e sim colocou os braços ao redor dela. Agradecia por estar sentada por que não estava conseguindo sentir suas pernas.   

 

Bella acariciou seu cabelo. - Você fará isso por mim? 

 

A bióloga assentiu. Ela não conseguiria confirmar verbalmente outra vez e curiosamente haviam tacado uma bola de fogo em sua garganta.  

 

— Eu já vou. Assim você pode ir atrás de Millie antes que ela deixe você com fome. - Ela beijou o topo da cabeça de Tess e pegou sua bolsa no sofá. - Fique bem, meu amor. 

 

Tess assentiu de novo, mas não disse nada. Sua cabeça devia estar explodindo? Havia recuperado a sensação das pernas, mas elas pareciam pesadas demais de repente. Bella começou a caminhar para a porta. A bióloga colocou as duas mãos na cabeça.  

 

Aquilo não podia ser normal. Depois de lançaram a bola de fogo em sua garganta, duas mãos tinham descido pela sua goela até seu peito e estavam comprimindo seu coração. Oh, não, era a falta de ar outra vez. Ela deveria chamar um médico? Pensamento ridículo quando Bella ainda estava ali.  

 

As mãos invisíveis continuavam a comprimir seu coração até que ela achou que o sentia diminuindo. Sua cabeça não devia estar explodindo ainda! Talvez fosse melhor chamar uma ambulância. Será que era um enfarte? Não era enfarte, Tess deixou as mãos penderem para seu colo. Seu problema era outro e ela sabia daquilo.  

 

Ela se levantou e gritou. - Bella, espera! 

 

A mulher se virou e deu outro sorriso infeliz. - Eu estava quase na porta, Tess. Por um momento não te reconheci. 

 

A bióloga hesitou e então encolheu os ombros. - Eu teria tentado. 

 

— Eu sei. 

 

— Eu sinto muito. 

 

— Tess, nunca se desculpe por ser quem você é. Não me faça querer te dar um sermão. 

 

Ela se abraçou. - Eu não quero que fique triste. Eu amo você. 

 

— Aah, droga... Eu tinha conseguido manter a compostura até agora. -  Ela largou a bolsa no chão e foi abraçá-la outra vez. - Eu não estou triste, estou preocupada. E isso é meu problema, eu tenho que lidar com isso, não você. 

 

Tess a abraçou de volta, inalando o cheiro tão familiar de Bella, e fechou os olhos. 

 

***  

 

Edward saiu do carro no momento em que viu sua esposa deixando o prédio. Ele foi até a calçada e ela ergueu os olhos.  

 

— O que faz aqui? 

 

— Está mesmo me fazendo essa pergunta? 

 

Isabella suspirou e seus ombros despencaram. Ela caminhou até ele e imediatamente foi envolvida por seus braços.  

 

— Como foi? 

 

— Horrível. Estou me sentindo uma bruxa. 

 

Ele acariciou suas costas, seu cabelo e beijou sua testa. - Bem, você é uma no momento. 

 

Bella fungou. - A mais cruel, mesquinha, e insensível vilã dos contos de fada. 

 

— Isso você também é no momento. 

 

Ela grunhiu. - Esta não devia ser a parte onde você me assegura que meu comportamento é perfeitamente justificável? 

 

Edward ergueu seu queixo e encostou os lábios dele nos seus. - Seu comportamento é perfeitamente justificável. É seu filho. 

 

— É seu também. Por que você não está agindo assim? 

 

— Por que nós somos parceiros, amor, e dividimos as tarefas. Você é a estraga-prazeres do Adam e eu sou o estraga-prazeres da Mel. Estamos fazendo um bom trabalho, não acha? 

 

— Já disse que detesto quando quero ficar de mau-humor e você me faz rir? 

 

Edward sorriu e a beijou outra vez. - Algumas vezes. 

 

Isabella descansou a cabeça em seu peito outra vez. - Ao menos, Mel não te odeia.  

 

Edward suspirou com pesar com o pensamento da esposa. - Adam não te odeia, Bella. Ele não iria gostar de ouvir você dizendo isso nem de brincadeira e eu não posso dizer que me sinto diferente. 

 

Ela não ergueu o rosto. Ele suspirou longamente. - Bella... 

 

— Eu preciso ficar um pouco sozinha, ok? Vai para casa. Eu vim com meu carro. 

 

— Bella... 

 

— Por favor. Eu não vou demorar. - Ela o beijou.  

 

Ele respondeu quando ela tinha se virado. - Isso é mesmo só sobre o Adam, Bella? Eu começo a me questionar... 

 

Ela pausou quase imperceptivelmente, e então continuou a caminhar até seu carro.  

 

Edward tinha sua resposta.  

 

 

***  

 

No fim do dia, Tess foi correndo para casa. Felizmente tinha conseguido sair mais cedo, como se estivesse prevendo o engarrafamento que ia enfrentar. O trânsito de NYC era um inferno às vezes. Ou sempre. 

 

Era pouco antes das seis quando chegou e a casa estava vazia. Depressa ela seguiu para seu quarto e direto para o banho. Ela achava que estava em um horário bom, mas quando estava retirando seu vestido do armário, ouviu a campainha tocar.  

 

Ela checou o relógio apenas para ter certeza e constatou que estava mesmo cedo. Ela fechou mais o roupão contra o corpo e foi abrir a porta.  

 

Adam estava ali parado, sorridente. - Boa noite, Sereia. 

 

Ela recebeu o beijo enquanto ele passava por ela e fechou a porta. - Você chegou cedo. Eu ainda nem me maquiei. 

 

— Eu sei. Eu fiquei com saudade. - Ele sorriu novamente. - Vem cá abrir seu presente. 

 

— Huum. - Tess caminhou até ele e aceitou a sacola, notando também a caixa em suas mãos. - E o que é isso? 

 

— Isso sou eu sendo extremamente generoso. Como você não liga para flores ou chocolates, eu trouxe sua paixão. - Ele anunciou e abriu a caixa.  

 

— Cupcakes! Oh, meu Deus, passa um para cá. Estou morrendo de fome. 

 

Havia uns dez ali e ela achou que ia ficar caolha de tanta felicidade. Após comer dois de uma vez, ela olhou dentro da sacola. Havia uma menor ali dentro e ela a abriu primeiro.  

 

Retirou de lá de dentro seu conteúdo e encarou Adam. - Uma calcinha comestível? 

 

Ele riu. - Está certo, esse presente é para mim. O outro é seu. 

 

— Que lindo você levar em consideração suas necessidades também, não é. - Ela balançou a cabeça e então retirou da caixa seu presente. Ela sorriu. - Por acaso essa é bolsa que comentei com você que queria. 

 

— Por acaso é. - Adam beijou seu nariz. - Eu queria dar algo que soubesse que ia gostar, portando deixei os presentes criativos para outra ocasião. 

 

— Eu adorei, obrigada. - Ela enlaçou um braço pelo seu pescoço e encostou os lábios nos dele. - Parte de seu presente não está aqui.  

 

Ele arqueou a sobrancelha. - Ele se perdeu no caminho? 

 

— Há-há. Não. E eu não direi o que é, por que é surpresa. Deixe-me terminar de me arrumar e então vamos. - Ela lhe deu mais um beijo e então balançou a cabeça quando ele começou a segui-la. - Nada de me espiar hoje. Só vai me ver pronta. 

 

Ele cruzou os braços. - Ora, mas eu vim mais cedo para ficar com você.   

 

— Ora, não posso fazer nada quanto a isso. Se você me vir antes, não terá o menor sentido. - Ela deu um sorriso aberto e seguiu pelo corredor.  

 

***  

 

Mulher era um bicho complicado, Adam pensava enquanto enchia um copo de água.  

 

Ele queria ser romântico, tirando um tempinho a mais para ficar com ela e Tess o dispensava daquela forma? Ele balançou a cabeça para si mesmo. Se ele a ignorasse, ela ia reclamar.  

 

Ele voltou à sala, ligou a televisão e ficou passando os canais sem prestar atenção. Millie chegou cinco minutos depois de a irmã ter ido para o quarto. Ela sorriu e deu um beijo em sua bochecha, mas sua expressão era forçada.  

 

Ethan tinha mesmo pisado na bola, Adam sabia, mas o rapaz estivera em uma situação complicada. Ele entendia que tivesse agido mal depois de ser publicamente exposto daquela forma, e ainda na frente dela. Era um problema que nunca seria resolvido enquanto os gêmeos não entrassem em um acordo.   

 

— Eu vou lá para baixo, fiquei de jantar com a Vovó hoje. - Ela murmurou e não precisava falar para que Adam entendesse que era por que não queria ficar sozinha. - Aonde vocês vão? 

 

— Eu não sei. Sua irmã está fazendo mistério. - Ele deu de ombros.  

 

— Aaah. - Ela concordou e decidiu que sua irmã provavelmente não tinha lhe contado por que não queria deixá-la triste ao saber de seus planos quando ela mesma não tinha um. - Bem, divirtam-se onde quer que seja. Vejo você depois, ok? 

 

Ela saiu logo em seguida, levando um cupcake roubado da irmã nas mãos.  

 

Quando Tess finalmente apareceu, Adam já estava pronto para ir atrás dela. Ele ia fazer um comentário sobre a demora, mas suas palavras se perderam quando olhou para ela.  

 

Satisfeita com sua reação, Tess deu uma voltinha. - Viu por que tinha que esperar? 

 

Ele balançou a cabeça lentamente. - Eu não teria deixado você sair do quarto. 

 

O tecido branco do vestido era tão macio que parecia seda e grudava em seu corpo, evidenciando suas curvas, como se houvesse lhe sido feito sob medida. Uma alça lhe cobria apenas um ombro e as costas do vestido era rendada, deixando bem à mostra suas costas. A renda terminava poucos centímetros acima da linha de seu bumbum.  

 

Ele a olhou de cima a baixo diversas vezes sem saber onde de fato queria centrar sua atenção. Ela era linda, linda demais, e ele simplesmente não conseguia se acostumar. A sereia da vida real.  

 

— Gostou? - Ela perguntou com um sorriso inocente.  

 

Ele se levantou. - Eu acho que comentários são desnecessários. E de qualquer modo, eu tenho que ficar calado – estou quase engolindo minha língua. - Enquanto ela gargalhava, Adam se forçou a reparar em outra coisa além de em seu corpo naquele vestido. - Você está usando a bolsa. 

 

— Sim, estou. - Ela se virou e mostrou a bolsa com orgulho. Então foi até ele, apoiou uma mão em seu ombro e aproximou a boca de seu ouvido. - Eu também estou usando a calcinha. 

 

Ele grunhiu e por que precisava tocá-la se quisesse continuar a viver, colocou as mãos em seu quadril. - Por Deus, Tess. 

 

Ela sorriu e prendeu o lóbulo de sua orelha entre os dentes. - Talvez devamos levar o cupcake. Ele pode ter alguma utilidade mais tarde. - Quando dessa vez ele arfou em resposta, ela teve que se controlar também. - Só estou fazendo bom uso de meus presentes. 

 

— No momento eu só penso fazer bom uso de você. 

 

Ele inclinou o rosto em sua direção e ela colocou um dedo em seus lábios. - Nada disso. Temos que ir. 

 

— Não. - Ele a pressionou contra o quadril dele e mordeu o dedo dela.  

 

— Sim, nós temos. Não está curioso?  

 

Ele balançou a cabeça. - Vamos deixar para outro dia e ficar por aqui. - Suas mãos casualmente deslizaram para baixo e agarraram suas nádegas. - Você sabe melhor do que para me provocar, Sereia. 

 

— Faz parte do seu presente. - O sorriso de Tess era enigmático. - Vamos, Adam. Controle-se. Ou vamos acabar nos atrasando. 

 

Ele grunhiu alto, tentou convencê-la do contrário, mas no fim é claro que eles fizeram o que ela queria. Adam duvidava que o presente fosse o bastante para aplacar sua frustração, mas estava disposto a descobrir.  

 

***  

 

O táxi parou em frente ao hotel vinte minutos depois. Eles saíram do carro e Adam estacou no lugar quando Tess fez menção de entrar no hotel.  

 

Ela o encarou por cima do ombro. - Qual o problema? 

 

Ele arqueou a sobrancelha. - Roosevelt? Você fez reservas no Roosevelt

 

— Por quê? Você não gosta daqui? 

 

Adam balançou as mãos. - Isso deve ter custado uma fortuna! 

 

Tess suspirou, balançou a cabeça e enlaçando um braço no dele, começou a guiá-lo gentilmente para dentro. - Querido Adam, isso é um presente e, portanto, não espere que eu lhe diga quanto custou. A verdade era que quando eu pensei em comprar algo para você, percebi que não fazia a menor ideia do que gostava. Com uma exceção. 

 

— De você. -  Ele declarou.  

 

Ela sorriu. - Exatamente. Logo, cá estamos nós. Eu estou me dando de presente para você. E se faz você se sentir melhor, é um presente para mim também. Eu vou aproveitar da mesma forma. 

 

— Não faz me sentir melhor. 

 

— Ah, por favor, não seja tão machista. Se a ideia tivesse sido sua, não iria ser todo esse estresse. 

 

— Obviamente. Por que quem faz esse tipo de coisa é o homem, não a mulher. - Adam comentou ranzinzamente.  

 

— Dê-me paciência. - Ela resmungou de volta.  

 

Eles adentraram o lobby e ao olhar ao redor, aí mesmo que Adam começou a reclamar sobre o absurdo daquilo. Tess o ignorou sabiamente e o rebocou até o balcão.  

 

O recepcionista sorriu em cumprimento. - Boa noite. Reservas, senhor? 

 

O rosto de Adam ficou vermelho em vergonha, mas Tess tomou à frente sem se abalar. - Boa noite. Sim, temos. Tessalia Agnelli, por favor. 

 

O recepcionista a encarou, clareou a garganta e assentiu. - É claro, eu sinto muito. Um instante. 

 

Enquanto Adam tentava se esconder sob sua própria pele, Tess esperou enquanto o homem checava a reserva no computador e a estendia o cartão do quarto. Ela tocou o braço de Adam, que estava com o rosto virado para o outro lado, e os dois andaram para o elevador.  

 

— Você viu? Você viu o que eu disse? - Ele reclamou em um cochicho alto.  

 

Ela o encarou de lado. - Sim, eu vi. Isso só prova que o mundo é tão machista quanto você. 

 

— Não. Isso é sensatez, Tess. Você não tinha que ter feito isso. - Ele continuou e então pigarreou. - Eu não ia poder ter trago você aqui. 

 

— Isso talvez por que você tenha vinte anos. - Ela contradisse calmamente e ele fechou a cara. - O que é, Adam? Não foi você que disse que a idade não importa? 

 

— Sim, ela não importa. Até que você resolva jogar isso na minha cara. 

 

O elevador chegou e eles entraram enquanto duas pessoas saíam. Por que havia um ascensorista lá dentro, eles se mantiveram calados. Eles desceram no décimo quinto andar e quando ela foi andando na frente, Adam segurou sua mão.  

 

— Tess. Tess, desculpe-me. 

 

— Está tudo bem, Adam. Você detestou o meu presente. Há sempre 50% de chance de isso acontecer, não é mesmo. 

 

— Isso não é verdade. Eu adorei, Tess. Eu adorei você ter pensado nisso, mas...  É desconfortável para mim. Você não consegue entender? 

 

— Só é desconfortável se você deixar ser. - Ela suspirou. - Qual é o grande problema? Eu queria fazer algo especial para você. Eu não posso por que sou mulher? 

 

Ele balançou a cabeça. - Não é isso. 

 

— Não? 

 

— Está bem... É, mas... Olha, é só... Estranho. 

 

— Homens. - Tess revirou os olhos mais uma vez. - Será que não podemos simplesmente aproveitar? É algo natural, Adam. Eu estou presenteando você. 

 

— Mas um perfume poderia ter sido ótimo. 

 

— Então eu te dou um perfume para o seu aniversário. Feliz? Podemos entrar agora? 

 

— Ok. - Ele a puxou para perto dele e colocou os braços em volta da sua cintura. - Eu estou sendo idiota, eu sinto muito. Não existe melhor presente no mundo do que você. 

 

Ela sorriu. - Era isso que devia ter dito desde o começo. - Tess beijou seus lábios, seu queixo e o seu nariz. - Agora vamos. Eu estou doida para ver o quarto! 

 

Ele manteve um braço ao redor dela enquanto andavam até a porta. “Eu estou doido para ver a cama!”  

 

Tess gargalhou alto. - Finalmente estou te reconhecendo.  

 

Ela teve sérios problemas para conseguir abrir a porta com o cartão. Quando Adam se ofereceu para tentar e conseguiu, deu um sorriso extremamente satisfeito – como se tivesse feito seu papel de homem. Tess queria fazer uma piadinha, mas desistiu e apenas revirou os olhos. Homens².  

 

Deluxe Room era composto por uma cama King Size, banheiro luxuoso, som stereo, duas linhas telefônicas, televisão e um cofre interior. A decoração era o histórico combinado com o moderno e pela janela, tinha-se visão da Madison Avenue.    

 

Adam fez o possível para fechar a boca. - Certo. Você não vai mais me ouvir reclamar. 

 

A bióloga sorriu e jogou sua bolsa sobre a cama. Ele balançou a cabeça como se para clareá-la e então começou a caminhar em direção a ela. Antes que a mulher pudesse fugir, ele a tinha sob ele contra a cama.  

 

— Quero desembrulhar meu presente. - Ele anunciou com um sorriso sacana e começou a distribuir beijos pelo pescoço dela.  

 

No mesmo momento, houve uma batida na porta seguido por uma voz masculina murmurando “Serviço de quarto!”.  

 

Tess riu e tentou tirá-lo de cima dela. - Sossegue, Adam. Eu pedi nosso jantar. 

 

Ele grunhiu. - Depois. 

 

— Não, agora. Estou com fome. - Ela insistiu e ele deixou que ela lhe empurrasse para o lado.  

 

Ele apoiou o cotovelo sobre a cama e a lançou um olhar luxurioso. - Também estou com fome. 

 

— Comporte-se. - Ela apontou um dedo para ele, checou se seu vestido estava no lugar e abriu a porta.  

 

Um garçom entrou no quarto empurrando um carrinho. Ele corou ligeiramente ao ver Adam deitado na cama no melhor estilo ‘você-está-atrapalhando-e-eu-não-estou-contente-com-isso’. Tess balbuciou outro ‘comporte-se’ para ele, mas o rapaz continuou a encarar o pobre homem do mesmo jeito.  

 

O cheiro estava maravilhoso e assim que o garçom saíra, Tess se aproximou do carrinho e começou a destampar os pratos. 

 

Interessado pelo cheiro, Adam se sentou e espiou. - O que tem aí? 

 

— Rosbife ao molho tártaro e legumes e uma caesar salad

 

— Hum. - Ele murmurou e correu um dedo por sua coxa descoberta. - Eu ainda preferia mordiscar você, mas me contento com isso por enquanto. 

 

— Vamos comer, Adam. - Ela deu um lento sorriso. - E depois eu vejo sobre realizar seu desejo. 

 

***  

 

— Eu poderia facilmente me acostumar com isso. - Tess comentou enquanto assoprava uma bolinha de sabão para o alto.  

 

Aproveitando-se do coque que ela tinha feito no alto da cabeça para o banho, Adam depositou um singelo beijo em sua nuca exposta e depois no ombro molhado. Ele com certeza podia se acostumar a dividir um banho com ela noite após noite.  

 

A bióloga deu um suspiro contente ao sentir as mãos dele esfregando a água ensaboada contra a pele de sua barriga e se inclinou, encostando as costas contra o peito dele.  

 

— Não posso discordar, Sereia. - Ele beijou sua orelha e subiu as mãos para seus seios, massageando-os. - Um quarto, você e eu. Definição do paraíso. 

 

Tess descansou a cabeça contra o ombro dele. - Eu não acho que se contentaria em olhar apenas para mim pelo resto de sua vida. 

 

Os dedos dele lentamente acariciaram seus mamilos e embora ela tenha sentido a pontada de desejo no estômago, sabia que a intenção não era aquela. Adam relaxava e excitava ao mesmo tempo; algo que ela não conseguia compreender.  

 

— Você gosta demais das pessoas. - Ela adicionou.  

 

Ele deu de ombros. - Talvez sim, talvez não. Mas o fato é que você é o bastante para me manter muito entretido. 

 

— Eu já mencionei que você me quer apenas pelo meu corpo? 

 

— Já. - Ele sorriu contra a pele dela. - E eu disse na época que não era só isso, mas é uma parte grande. 

 

Tess riu. - Você não presta. Ainda admite! 

 

— Sou sincero. Eu vou colocar assim: eu me interessei por você antes de você ir para a Austrália, Tess. Imagine minha situação. Eu tinha quinze anos, estava no auge da puberdade e não sabia o que fazer com tanto hormônio ao mesmo tempo. Você já era uma mulher, linda ainda por cima. Toda vez que eu olhava para você, ganhava uma ereção. 

 

Ela pressionou os lábios em diversão. - Não acredito que está me contando isso. 

 

— É a verdade. - Ele respondeu e subiu as mãos para massagear seu pescoço. - Não temos laços de sangue, ao menos não diretamente, logo eu podia me dar ao luxo de não me sentir culpado. E lembra, Sereia, que naquela época, você tinha o costume de usar aqueles shorts que deixavam sua bunda quase à mostra. Parecia que eu ia explodir cada vez que você aparecia com um daqueles. 

 

— Eu não me lembro disso não, Adam. Nunca peguei você me espiando. O Tom sim, o Dan com certeza, mas não você. 

 

— Eu era discreto. E minha mãe tinha reparado no meu súbito interesse e ficava pegando no meu pé com o discurso de que você era ‘quase minha irmã’. Ela detestava que eu tivesse largado o video game e começado a me interessar por seios. - Adam tinha a mente mergulhada em lembranças. - Ela quis me matar quando me pegou vendo fotos impróprias na internet e me tirou o computador por dois meses. Eu fiquei maluco sem ter como ‘extravasar’. E você com os seus malditos shorts. Foi um período muito ruim. 

 

— Até a stripper. - Ela virou o rosto para encará-lo. - Engraçado que você não estava pensando nos meus shortinhos na hora. E eu ainda não tinha me mudado. 

 

Ele segurou o riso quando ela cerrou os olhos. - Você está mesmo com ciúme de algo que aconteceu há quase seis anos? 

 

— Não. Estou fazendo um comentário. 

 

— O que, no seu caso, é a mesma coisa. - Adam piscou e Tess crispou os lábios. - O que quer que eu diga? Sim, até a stripper. Não era como se você fosse me dar bola. E foi ideia do Tio Emmet, para início de conversa. - Ele se defendeu. - Eu era apenas um menino inocente. 

 

— Você ainda lembra o nome dela? 

 

— Claro que eu lembro o nome dela. Lila. - Ele deu um sorriso nostálgico. - A mulher era... Ai, Tess! - Ele praguejou e esfregou a coxa que ela tinha beliscado. - Foi você quem perguntou! 

 

Ela só estava arrependida de não ter beliscado mais forte. - Eu perguntei o nome, não pedi para você ficar fazendo expressões orgásticas! 

 

Adam mordeu o lábio para não rir. - ‘Expressões orgásticas’? Sereia, só você. E eu não estava fazendo expressão nenhuma. Mas eu tenho boas recordações. Merda! - Ele xingou quando ela beliscou a outra coxa. - Jesus, mulher. Assim você vai me arrancar um pedaço. 

 

— Da próxima vou beliscar onde você sentirá de verdade.  

 

Adam queria ressaltar que ela estava tentando parecer brava, mas apenas parecia linda com o resquício de espuma na bochecha. Mas ficou calado antes que ela resolvesse cumprir a ameaça.  

 

— Sereia. - Ele passou os braços em volta dela. - Não seja assim. Não há ninguém no mundo que se compare a você. 

 

— Humpf. - Tess resmungou. - Eu era sua fantasia, mais ninguém podia ser. 

 

Ele abriu um sorriso cheio de dentes e balançou a cabeça. - Tessalia, você é inacreditável. 

 

— Não me chame de ‘Tessalia’. Ninguém que quer continuar vivendo me chama assim. 

 

— Ah, é? - Adam segurou os tornozelos dela, colocou uma perna em cada lado de seu quadril e a puxou para perto. - E por que isso? 

 

Ela hesitou. - Apenas meus pais me chamavam assim. - Ela desviou o olhar assim que ele a encarou e deu de ombros. - Ao menos foi isso que minha avó disse. Não é como se eu lembrasse. 

 

— Não faça isso, Tess. 

 

— Não faça o quê? 

 

— Toda rara vez que começamos a falar dos seus pais, você dá de ombros como se não tivesse importância. 

 

— E o que você quer que eu diga? - Ela o encarou em irritação. - Eles estão mortos. 

 

Adam a segurou pelo queixo quando ela tentou virar o rosto outra vez. - Não desvie o olhar. Eu estou aqui. - Quando ela tentou fazer a mesma coisa, ele segurou seu rosto com as duas mãos. - Olhe para mim. Sim, eles estão mortos, mas você não, Tess. Você é humana. Respira, vive e sente como todo mundo. E você pode dizer que sente falta deles. 

 

— Eu não me lembro deles. - Ela colocou as mãos em sua barriga e desceu até fechar uma mão ao redor dele. Adam arfou. - E esse assunto é muito pesado para hoje.  

 

— Não. - Ele manteve seu rosto no lugar quando ela tentou beijá-lo e fez o possível para alienar sua mente da região onde as mãos mágicas dela estavam. - Você não se lembrar deles não quer dizer nada. Nem sempre o coração e a mente estão associados. 

 

— O que diabos você quer, Adam? - Ela tentou tirar as mãos dele do seu rosto com as suas e as manteve ali quando ele não soltou. Seus olhos estavam grandes e aterrorizados. - O que você quer? 

 

— Que você se permita sentir. Isso não é pecado. 

 

— Como você possivelmente pode entender? Eu não me lembro deles, eu não tenho direito de sentir nada. Eu não me lembro dos meus próprios pais. - Ela tentou tirar as mãos dele outra vez quando sentiu lágrimas escorrendo de seus olhos e soluçou quando de novo ele não soltou. Deixe-me em paz, Adam. Antes que eu perca o controle. - Eu não os conheço e nunca os conheci. 

 

— E como você poderia? Você tinha um ano. Um ano, Tess. Você nem se conhecia ainda. 

 

— Não importa. Você não entende. Você tem seus pais. E eu preciso de fotos para reconhecer os meus. Um maldito papel... - O soluço lhe escapou da garganta outra vez, e outro, e outro. - Mas que droga. Por que você tinha que fazer isso? 

 

Ela pôs os braços em volta do pescoço dele e apertou as pernas ao redor de seu quadril. Adam alisou as costas dela enquanto ela chorava, mas não disse nada. Quando a bióloga finalmente se acalmou por que parecia que não tinha mais lágrimas, deitou a cabeça em seu ombro.  

 

Com a voz rouca pelo choro, sussurrou. - Você está me fazendo estragar a noite. 

 

— Não é possível estragar nada. Você está comigo. 

 

Ela levantou a cabeça para olhar para ele e coçou os olhos. - Eu devo estar horrível. 

 

— Isso também não é possível. - Ele encheu a mão de água e passou pelo rosto dela. E depois repetiu o processo. - Olha aí. Agora seu rosto está molhado apenas por causa do banho. 

 

Ela sentiu seus lábios se curvando mesmo sem que ela tivesse os ordenado. - Como é que você sempre me faz sorrir? Mesmo depois de eu chorar... 

 

— É meu carma. - Ele beijou seu nariz. - E o ato não é totalmente altruísta. Seu sorriso é sexy demais. Eu gosto de olhar para ele. 

 

Tess colocou as mãos em seu rosto e o observou. - Você é terrivelmente bonito. Chega a ser quase criminoso. 

 

Ele deslizou as mãos para seu bumbum e a puxou para o colo dele. - E quem é você para me acusar disso? 

 

— Alguém que já fez uma avaliação minuciosa enquanto você dormia. - Ela cravou os dentes no queixo de Adam e ele grunhiu baixinho.  

 

— Você ficou me olhando enquanto eu dormia? Sereia, você está tão na minha. 

 

— Acho que estou. Isso é perigoso. - Ela franziu o cenho. - Isso é realmente perigoso. 

 

Percebendo que ela estava começando a pensar, Adam levantou seu quadril e desceu sobre sua ereção. Ela arfou em surpresa e separou os lábios.  

 

Ele mordeu o seu lábio inferior em aviso. - Pare de pensar. 

 

Ela sentiu os arrepios causados pelo olhar dele em cada centímetro do seu corpo. Lentamente ele a penetrou, o tempo todo a encarando, e seu corpo se liquefez diante àquela expressão seriamente sexy. Ela apertou os ombros dele e engoliu em seco por várias vezes quando eles se encaixaram completamente.  

 

Tess não conseguiria pensar nem se quisesse.  

 

***  

 

— Adam! - Ela exclamou quando ele passou torta de chocolate pela boca e queixo dela, e começou a lamber. - Adam, isso é ridículo. 

 

— Então por que você está rindo? - Ele a empurrou contra a cama, deitou em cima dela e continuou a tirar o chocolate com a boca. - É bem mais gostoso em você. 

 

— Sai de cima de mim! Você é pesado... - Ela gargalhou e começou a empurrá-lo, mas ele não se moveu. - Adam! 

 

— Eu já sei que gosta de exclamar meu nome, Sereia. Já entendi. E eu fico em cima de você o tempo todo, você não parece desgostar tanto assim. 

 

— Aaaah. - A mulher gritou quando ele a mordeu outra vez. - Espera, estão batendo na porta! Tenho que abrir! 

 

— Um minuto. - Adam lambeu o resto da torta e então a beijou várias vezes, mas apenas encontrou os dentes dela por que Tess estava rindo novamente.  

 

— Sai, sai. Deixe-me levantar. - Ela pulou da cama e quase caiu quando ele segurou seu pé para impedi-la. - Adam! 

 

— Reflexo. - Ele teve a cara de pau de se justificar.  

 

Ela apontou um dedo em ameaça e fechou seu roupão. Adam não conseguia ver quem era na porta por que a pessoa continuou do lado de fora, então voltou a comer a torta. Uhum, com certeza era mais gostoso na pele dela.  

 

— Para você, meu docinho. Cortesia do hotel pelo dia de hoje. - Tess tinha um sorriso irônico no rosto e um buquê de rosas vermelhas na mão.  

 

— Muito engraçado. 

 

— O que foi, querido? Talvez você prefira outra cor? Eu ligo para a recepção, meu bem. Tudo por você. - Ela sugeriu e ele começou a se levantar. - Adam, qual é. Leve na esportiva. Foi engraçado. 

 

— Eu sei, Sereia. Só quero ver o buquê, não posso? - Ele sorriu quando ela deu passos para trás e ele para frente. - É para mim, afinal. 

 

— Sei. - Ela arqueou uma sobrancelha em desconfiança. Tess andou para trás até que deu de costas com a parede. - Adam... Veja bem o que vai fazer. 

 

— Mas que falta de fé. - Ele declarou simplesmente e segurou o buquê. - Hum, é muito bonito. Vou levar para casa e ligar para que meus amigos possam ir me invejar. 

 

Ela gargalhou e sentiu o estômago protestando contra aquilo; ela tinha rido mais nas últimas horas do que em um mês inteiro. - Vai, é? 

 

— Vou sim. Acho até que vou levar uma rosa para a faculdade para me exibir mais. Poxa, chuchu, você bem que podia me escrever um cartão. Ia ser tão mais romântico. 

 

— Adam, sua performance feminina está começando a me assustar. - Tess declarou risonha. - E nunca mais me chame de chuchu. É degradante. 

 

Ele fez uma expressão horrorizada. - Mas chuchu, não seja tão insensível. - Adam teve a audácia de colocar uma mão no quadril. - E quanto ao meu cartão? Sou exigente.  

 

— Realmente me assustando. - Ela repetiu.  

 

— Isso, Sereia, é por que sou bom em tudo que faço.” Ele a puxou pela cintura com um braço.  

 

— Nisso sou obrigada a concordar. - Tess deu um sorriso maroto e um beijo em seus lábios. - Você gostou das flores? Vou ligar para elogiar o hotel pela belíssima ideia da qual meu docinho tanto gostou. 

 

— Tess, sua performance masculina é péssima. 

 

— Eu sei. - Ela riu pela milésima vez. - Acho melhor sermos apenas nós mesmos. 

 

— Eu gosto de você sendo você mesma. - Ele mordeu seu nariz. - A Tessalia é encantadora. 

 

— Sabe... - Ela acariciou a nuca dele. - Até que gosto do meu nome nos seus lábios. 

 

— Você gosta dos meus lábios, ponto.  

 

— Mas que homem presunçoso eu fui arrumar. - Ela o abraçou pelo pescoço, esmagando o buquê entre eles. - Ainda dá tempo de mudar de ideia? 

 

— Não. - Ele sorriu. - E eu arranjei uma mulher muito braba, querida. Temos que aceitar nossos defeitos. 

 

— Justo. - Ela suspirou e o aroma de flores entre eles estava perfeito. - Feliz Dia dos Namorados, Adam. 

 

— Igualmente, Sereia. Ano que vem vou te levar para andar num balão. 

 

O cérebro de Tess ainda processava a parte do ‘ano que vem’. - Balão?  

 

— Eu nunca fiz amor num balão. 

 

Ela balançou a cabeça. - Você é incrível. 

 

— Oh, chuchu, você também. - Ele deu uma piscadela. - Obrigado pelo buquê 

 

— De nada. E Adam? - Tess aproximou a boca de sua orelha. - Não me chame de chuchu. 

 

Quando eles se beijaram desta vez, foi um encontro de dentes e não de bocas, por que eles estavam sorrindo bobamente. De novo.  

 

 

### - X — ### 

 

O universo devia estar conspirando a favor por que mesmo na hora do rush em pleno Dia dos Namorados, Thomas conseguiu chegar a casa em apenas quarenta e cinco minutos. Certo que não era tanta vantagem em um trajeto em que levava apenas vinte, mas ele decidiu que poderia ter sido pior.  

 

Rosalie estava calçando seus sapatos quando ele apareceu quase correndo para chegar ao quarto. Ele pausou e foi dar um beijo em seu rosto, por que independente de tudo, ele sempre fazia aquilo primeiramente.  

 

— Boa noite, mamãe. Cadê o papai? 

 

— No banho. Atrasado como sempre. Depois dizem que as mulheres que não sabem cumprir horário. Eu me aprontei em meia hora. 

 

— E você está maravilhosa. 

 

— Eu encontrei mais uma ruga esta manhã, mas obrigada pelo elogio, querido. Parece com pressa, vai sair? 

 

— Sim, vou. 

 

Ela o observou. - Pensei que detestasse sair nos Dia dos Namorados. Você não diz que ‘passa uma impressão errada’ ou qualquer coisa assim? 

 

Tom sorriu, mas não explicou nada. - Eu tenho que ir tomar banho. Divirta-se, mamãe, e não faça nada que eu não faria. 

 

Rose riu. - Isso era para ser um conselho? 

 

***  

 

Tom tomou um banho demorado por que queria dar tempo para que seus pais saíssem de casa. Era difícil driblar as perguntas e mais ainda evitar as respostas. Conforme o tempo passava, estava ficando complicado manter as coisas descomplicadas em casa.  

 

Seus pais estavam estranhando o fato de ele não estar mais saindo. E mais ainda quando ele começara a ir buscar Mel na escola depois do incidente com Steve. Aquilo não estava mais acontecendo já que Edward havia vetado a carona assim que soube que a estivera ajudando a se encontrar com o rapaz.  

 

Mas ainda assim, sua mãe não esquecera o fato. Antes tinha que brigar com Tom para deixar as saídas apenas para os finais de semana. Não era incomum para ele chegar a casa com pressa para sair, por que tinha costume em fazer aquilo durante a semana e ir à faculdade virado, no dia seguinte. Seu corpo não aguentaria aquele tipo de regalia para sempre, então devia aproveitar, era o que sempre dizia.  

 

No entanto, a grande verdade era que ele não tinha mais vontade de sair. Melanie nunca havia lhe pedido exclusividade e eles nunca nem tinham conversado sobre aquilo. As coisas com ela meio que aconteceram e eles simplesmente estavam deixando fluir.  

 

Era fácil com ela. Tudo era fácil com Mel por que ela era uma pessoa tranquila de lidar. Ele tinha certeza que se por acaso tivesse continuado com suas saídas e seus constantes casos, ela não iria lhe cobrar. Ela sempre reafirmava que ele não era dela e contraditoriamente aquilho lhe incomodava. 

 

Thomas sabia bem que ela devia pensar que era apenas uma questão de tempo. Ela não o levava a sério e embora ele soubesse que ela tinha todas as razões para aquilo, ele não podia dizer que gostava. O ponto era que ele nunca pensaria em ficar com outra pessoa enquanto estivesse com ela. Primeiro, por que era Mel. E segundo por ele não sentia a menor vontade.  

 

Talvez fosse apenas por que ele estava há tanto tempo esperando para ficar com ela, talvez fosse por isso que tudo parecia mais intenso. Thomas enrolou uma toalha na cintura enquanto refletia sobre aquilo. Seria justificável e até previsível que aquela fosse a explicação, mas por alguma razão as palavras de Dan continuavam a lhe atormentar.   

 

Thomas, é a palavra com ‘A’ com certeza

 

Ele suspirou, passou a mão no rosto e foi até a pia para fazer a barba. Ele ia acabar ficando maluco de tanto se questionar e tonto de tanto seu cérebro dar voltas, mas não era como se ele pudesse evitar. 

 

Quando saiu do banheiro, abriu rapidamente a porta do quarto e checou por barulhos. Satisfeito que seus pais já tinham saído, ele começou a se arrumar. Em menos de dez minutos estava pronto para ir. Foi rapidamente até a cozinha para apagar a luz que provavelmente sua mãe tinha deixado acesa, provavelmente pensando que ele ia comer algo.  

 

Ele caminhou para o hall assoviando, ansioso pela noite, quando ouviu o barulho de chave na porta. Tom não teve tempo de esconder o pacote em suas mãos antes que ela se abrisse e seu pai aparecesse. 

 

Como se soubesse desde sempre o que ia encontrar, o olhar de seu pai recaiu sobre o objeto em suas mãos antes que se centrasse nele. - Não sabia que ia sair. 

 

— E eu pensei que vocês já tivessem saído. - Ele estava ciente que não tinha conseguido controlar o tom de acusação.  

 

Emmet arqueou a sobrancelha e entrou, deixando a porta aberta. - Sua mãe esqueceu algo. Aonde você vai? 

 

Tom não respondeu, apenas o encarou. Seu pai sabia muito bem aonde ele ia; era ridículo tentar negar e mentir apenas faria mal para os dois.  

 

O homem balançou a cabeça. - Thomas... 

 

Seu pai só usava seu nome quando estava descontente com algo. Era sempre ‘Tom’, ‘filho’, ‘minha prole’, seu pai já zombara o chamando de ‘meu esperma manifestado’. Emmet estava usando o nome dele com frequência nos últimos tempos.  

 

— Você tem visto bastante a Mel.  Ele começou parecendo subitamente incerto sobre o que dizer.  

 

— Eu sempre vi bastante a Mel. 

 

— Não use o jogo de palavras comigo. - Emmet alertou.  

 

Tom detestava a capacidade que seu pai tinha de lhe fazer se sentir com dez anos a menos. - Eu não estava fazendo isso. 

 

— Thomas. Você se lembra do que conversamos? Do que prometeu? 

 

Eu nunca prometi nada, pai. Você assumiu que sim. Tom permaneceu calado, encarando-o.  

 

— Será que eu ainda posso confiar no meu filho? 

 

As palavras queimavam sua garganta. - Não estamos fazendo nada demais. 

 

— Eu sei que não estão. A questão é se você vai.  

 

Seu pai sempre usava o termo no singular. Como se, por um acaso acontecesse, ele fosse fazer tudo sozinho. Claro que a culpa seria dele de uma forma ou de outra. Se ele não tivesse começado a cercar a Mel, nada daquilo estaria acontecendo.  

 

Ele não conseguia sentir nenhum arrependimento. - Eu posso ir agora, pai? 

 

— Não é como se você fosse me obedecer se eu dissesse para ficar em casa. 

 

Eles se encararam por outro minuto. Seria daquele jeito entre eles? Enquanto ele estivesse com a Mel, o pé-de-guerra com seu pai continuaria? Decidir entre os dois era a última coisa que queria fazer.   

 

— Eu não quero continuar brigando com você. - Tom declarou com a voz baixa.  

 

— Eu também não, filho. - Emmet deixou de lado o papel de pai rabugento que não combinava com ele e puxou Tom para um abraço. - Eu só quero que tenha juízo. 

 

Havia muita pouca coisa no mundo que lhe afetavam como um abraço de seu pai. - Mas eu nunca tenho. 

 

Emmet sentiu a risada escapar antes que pudesse conter, mas não disse nada. Eles continuaram abraçados por mais um tempo, então Tom se afastou e saiu. Sua mãe estava do lado de fora do carro em frente à casa, os braços cruzados em apreensão.  

 

Ele ofereceu um sorriso a ela, que retribuiu com a expressão mais calma. Quando Tom entrou em seu carro, entretanto, seu sorriso se desfez. O problema com seu pai tinha sido domado, não eliminado. 

 

***  

 

— Pela centésima vez, mamãe, eu vou ficar bem. - Melanie cruzou as pernas debaixo dela e se ajeitou em sua poltrona.  

 

Isabella estava parada na soleira da porta, incrível em seu longo vestido azul-marinho e saltos altos. Seus braços estavam em volta do corpo e seus olhos desconfortáveis.  

 

— Não gosto que você tenha que ficar sozinha aqui.  

 

— Não fui eu quem me colocou de castigo. - Embora as palavras, o tom de Melanie foi suave e ela apoiou uma mão no queixo, apreciando sua mãe. - Por que ainda está aqui conversando comigo e desperdiçando esse vestido? Pela cara que o papai fez quando te viu, ele está querendo tirá-lo com os dentes. 

 

Isabella corou todos os tons do vermelho. - Melanie. 

 

— O quê? Vai me dizer que ele não sugeriu algo parecido com isso? 

 

— O ponto não é esse. - Ela a lançou um olhar e clareou a garganta. Era desnecessário mencionar que Edward havia sugerido exatamente aquilo. - E nós estamos sendo muito flexíveis com seu castigo, meu bem. Você não está exatamente trancada em casa.  

 

— Eu sei. Apenas no Dia dos Namorados. Por que papai quer se assegurar de que eu fique longe do Tom. Por que está se culpando? Papai não está. 

 

— Eu não estou feliz, se é isso que acha. - Edward escolheu aquele momento para aparecer. - Eu não gosto de colocar meus filhos de castigo, Melanie. 

 

Ela mordeu a língua, mas não desviou o olhar. - Não vou pedir desculpas pelo que eu disse. É a verdade. 

 

— Eu sei que não vai. Mas você está errada quanto a ser verdade. - Deliberadamente ele encarou a esposa. - Vamos, Bells? 

 

A mulher hesitou e então assentiu. Enquanto ela ia até a filha para lhe dar um beijo na testa, Edward saiu sem dizer mais nada.  

 

— Você não devia ter dito aquilo. - A médica comentou. - Seu pai nunca faria nada intencionalmente para ferir você. E muito menos ficar feliz com isso. 

 

— Olha, eu sei. - A menina respondeu e balançou a mão. - Já estou me sentindo mal. Não gosto de quando ele está certo e eu errada. 

 

— Que bom que isso não acontece com frequência. - Bella sorriu. - Você vai falar com ele? 

 

Mel assentiu. - Vou. 

 

Edward estava de pé ao lado da porta, balançando a chave do carro em uma mão. Mel podia ver que ele tinha o pensamento longe – com certeza no que ela tinha dito -, mas percebeu perfeitamente quando ele sentiu que ela estava ali.  

 

Ele continuou de costas, mas sua postura mudou. Ela viu sua expressão se alterar completamente – como se ele quisesse parecer estar absolutamente tranquilo. Melanie sorriu. Seu pai era a pessoa a quem ela mais conhecia no mundo.  

 

Ela não disse nada, mas Edward sabia quem estava lá. Os braços de sua filha o abraçaram por trás e Mel descansou a cabeça contra suas costas. Seu ressentimento evaporou como se nunca houvesse estado lá. 

 

— Desculpe, papai. 

 

— Pensei ter ouvido você dizer que não ia se desculpar. 

 

— Eu não me aguentei. Não gosto que fique chateado comigo. 

 

Edward colocou uma mão sobre uma das dela, descansadas contra seu peito. - Você sempre fez isso, sabia? Desde que era criança e fazia alguma coisa errada. Primeiro, quando era bem pequena, você se enrolava na minha perna depois que fazia besteira e me encarava infinitamente até que eu sorrisse e te pegasse no colo. Depois começou a me seguir para todo lado até que eu desistisse e fosse brincar outra vez com você. Então isso. Você vinha silenciosamente e me abraçava por trás, de um jeito que me fazia esquecer por que estava chateado antes que dissesse qualquer coisa. - Ele se virou até que estivesse de frente para ela. - Acha mesmo que eu fico contente quando está infeliz, Melanie? 

 

— É claro que não. Eu também falo umas besteiras de vez em quando.  

 

Ele sorriu sem sentir. - Quase nunca acontece, sempre fico surpreso. 

 

— Não precisa me elogiar. - Ela colocou os braços em volta dele e dessa vez, Edward correspondeu e beijou sua testa. - Eu te amo mais do que tudo no mundo. 

 

Quem dera que fosse para sempre daquele jeito, ele pensou. O problema maior era aquele. O médico apertou a filha contra si e aproveitou a sensação enquanto ela ainda estava ali.  

 

— Fale baixo. Sua mãe se chateia quando escuta que eu sou sua pessoa preferida.  

 

Mel gargalhou. - Ela é também. Meu coração é grande. 

 

— Isso não poderia ser mais verdade. - Ele acariciou seu cabelo. - Eu não gosto da ideia de você sozinha aqui. É perigoso. Talvez você devesse vir com a gente... Eu espero você se arrumar. 

 

— Não, obrigada. Vou ficar em casa e cumprir o meu castigo. Eu menti, mesmo que por uma boa causa, e respeito a punição. 

 

— Melanie... 

 

— Não. Eu vou ficar aqui. - Ela insistiu e então riu com a ridicularidade daquilo. - Está vendo isso? Eu quem estou defendendo o fato de ficar em casa. Agora vocês precisam ir. Já se atrasaram demais. 

 

Isabella apareceu como se apenas estivesse esperando a hora certa. - Tem certeza, filha? 

 

Mel revirou os olhos. - Andem logo. E arranjem mais um irmãozinho, cansei de ser caçula.” Ela piscou por que sabia que mãe ia corar. E ela fez. - Já foram? Ainda vejo vocês aqui. 

 

— Demos muita liberdade a essa menina. - Edward disse, mas com um sorriso no rosto.  

 

— E vocês me amam assim. - Ela mandou um beijinho e abriu a porta para os dois. - Até amanhã. 

 

— Vamos voltar hoje. 

 

Edward arqueou a sobrancelha. - Não vamos, não. 

 

Bella pigarreou. - É claro que vamos. Temos que trabalhar, esqueceu? 

 

— Sim. Estou sofrendo de uma amnésia temporária. Coisas da idade. - Ele deu um belo sorriso e passou um braço pela cintura da esposa. - E você também está, meu amor. 

 

— Engraçado que ele só fica velho quando o convém. - Mel zombou e enxotou os dois de casa, após mil e uma recomendações.  

 

Ela estava com fome, mas com nenhuma vontade de preparar nada. Buscando enganar o estômago, ela foi até a cozinha e comeu duas barrinhas de cereais. Então seguiu até o quarto de seu irmão e aproveitando que ele não estava e não reclamaria, selecionou alguns DVDs de sua coleção e levou para seu próprio quarto. 

 

Adam tinha um ótimo gosto para filmes e como era muito meticulosa com seu dinheiro, apenas usufruía dos filmes que ele comprava com o dele. Por que estava frio, trocou o short que usava por uma calça moletom e meias. Ainda não satisfeita, ligou o aquecedor.  

 

Melanie estava inserindo o DVD no aparelho quando ouviu o toquinho em sua janela. Ela franziu o cenho e logo veio o segundo toquinho. Ela não precisava de confirmação por que conhecia o jeito de bater e a impaciência. Caminhou até lá e quando abriu as cortinas, lá estava Thomas.  

 

E como se não fosse só, ele tinha o cabo de uma rosa vermelha entre os dentes. Melanie mal conteve sua diversão. Ele abriu um sorriso enorme e indicou que era para ela abrir a janela. Cautelosamente, Mel empurrou o vidro para cima.  

 

— O que está fazendo aqui, Tom? 

 

— Feliz dia dos namorados, doce Mel. - Ele declarou com uma voz cantante e com os dentes, balançou a rosa para que a recolhesse.  

 

A menina balançou a cabeça e sorriu o sorriso torto de seu pai quando, após ela pegar a rosa, Thomas fez um bico em sua direção.  

 

— Está esperando alguma coisa? 

 

— Minha retribuição. - Ele fechou os olhos e o bico se tornou ainda mais protuberante.  

 

Ela riu alto e se inclinou para lhe dar uma bitoquinha rápida. - Obrigada pela rosa, mas agora vá embora. Se meu pai pega você aqui... 

 

— Bom para mim que isso não acontecerá. Estava esperando que eles saíssem. Belo vestido da minha madrinha, por sinal. Garanto que eles não vão voltar tão cedo. - Sua expressão era extremamente contente. Ele ergueu uma das sacolas que tinha nas mãos e o vento levou um cheio maravilhoso até seu nariz. - E eu aposto que você não vai me mandar embora depois de saber o que eu tenho aqui. 

 

Mel estava salivando. - Você comprou Hot Dogs no Lucius

 

— Yep. E torta de morango na Mary’s

 

— Ok. Você venceu. Apenas por que é o melhor cachorro quente da cidade. - Ela sorriu. - Eu vou sair para o quarto não ficar cheirando à comida. 

 

— Espere. Abra o seu presente. 

 

Melanie arqueou a sobrancelha. - Você odeia comprar presentes. 

 

— Mas eu amo você. Anda, abre. - Ele insistiu com um sorriso ansioso. Ela aceitou a sacola com desconfiança e lentamente a abriu. - Não tem aranhas aí dentro, Mel. 

 

— Vai saber, não é. Às vezes suas brincadeiras são de mau gosto. - Ela provocou e então olhou dentro da sacola. Sorriu. - Você me conhece bem demais. 

 

Era uma camisa referente à This Is Us, sua série predileta em todo o mundo. E não era só, mas também havia ingressos para uma convenção da qual o elenco iria participar dali a dois meses. 

 

— Eu não sei o que dizer. Isso é estupendo.  

 

— E meu beijo? Eu não mereço? 

 

— Sim, merece. Muitos. - Ela segurou seu rosto e beijou sua boca várias vezes. - Eu amei, Tom. 

 

— Sabia que ia gostar. - Mas seu sorriso estava mais satisfeito do que antes. - Agora pula para cá, anda. Eu quero poder agarrar você sem o parapeito da janela no meio e estou com o estômago nas costas. 

 

Mel balançou a cabeça e apertou seu nariz. - E quando não está? 

 

***  

 

Eles comeram sentados na antiga mesa de piquenique no jardim dos fundos. Thomas perguntou se ela tinha notícias de Steve. Ela dissera que havia falado com Susanna e que ele estava em uma clínica de reabilitação.  

 

Estava sendo difícil, mas ele estava determinado. Tom sorrira para aquilo, com entusiasmo, mas pela Mel. O orgulho que ela sentia era contagiante e enquanto ela estivesse contente, ele também estava.  

 

Quando voltaram a casa, Melanie ia seguir para entrar pela porta, mas Tom insistiu que entrassem pela janela.  

 

— Eu adoro sua janela. - Ele deu um sorriso safado enquanto pulava para dentro por cima do parapeito.  

 

Assim que entraram, ela foi até a mesa de seu computador.  

 

Thomas inclinou a cabeça quando ela abriu uma gaveta. - O que está procurando aí? 

 

Ela se virou e sorriu. Sentou-se ao seu lado na cama e deu a ele. - Não é necessariamente um presente, mas... 

 

— Eu vou gostar de qualquer coisa, Mel. Sabe disso. 

 

Tom abriu rapidamente o envelope e retirou de dentro dele dois ingressos para o Jogo dos Yankees VS. Phillies, no dia quatro de março.  

 

Ele a encarou sem entender. - Como você conseguiu isso? Procurei há dois meses e já tinha esgotado. 

 

— E eu procurei há três. 

 

— Mel... - Ela murmurou em pura adoração. - Não sei o que dizer. 

 

Ela gargalhou. - Sabia que ia ficar assim. O que há entre homens e beisebol? 

 

— Uma relação de amor eterno. - Ele sorriu como se houvesse acabado de descobrir a cura para a morte e a esmagou em um abraço. - Você vai comigo ao jogo? 

 

— Sabe que eu não gosto, mas eu iria por você. O lance, Tom, é que ambos sabemos quem é seu parceiro de jogos. 

 

— Não acho que seu pai esteja muito feliz comigo no momento. 

 

— E daí? É beisebol. Não há nada no mundo que o faça recusar. 

 

— É bem provável. - Ele concordou a cabeça e beijou seus lábios. - Obrigado, Mel. Acho que se você tivesse me dado um avião, eu não teria ficado tão contente. 

 

— Claro que não. Você odeia voar. 

 

— Touché. Mas você captou a ideia. 

 

Ela sorriu mais uma vez e então foi fechar a janela por que estava entrando um vento frio. Enquanto isso, Thomas levantou para ir mexer em seu som stereo

 

Enquanto Love Song da Sara Barreilles começava a tocar, Thomas sorrateiramente chegou por trás dela e a abraçou pela cintura.  

 

— Quero passar a noite aqui, Mel. 

 

Ela o encarou por cima do ombro. - Mesmo?  

 

— Seus pais só vão voltar de manhã, não é? Adam também. Eu vou antes de amanhecer.

 

— E meus vizinhos? Esqueceu deles? Acha que ninguém vai ver que seu carro chegou à noite e só saiu de manhã?  

 

— Eu deixei meu carro há duas ruas daqui. Ninguém vai ver. 

 

— Tom... 

 

— Eu quero dormir com você. Só hoje, por favor. Prometo que não ronco. - Ele adicionou com um sorrisinho.  

 

— Isso está muito errado. Sabe o que meu pai vai fazer com você se descobrir?  

 

— Proibir você de me ver? - Thomas sugeriu.  

 

— Pior. Uma castração.  

 

— Acho que é pior ficar sem ver você. - Ele beijou seu queixo.  

 

— Que romântico de sua parte. - Mel riu. - Mas tente convencer seus ‘corações’ depois. 

 

Imediatamente ele ergueu os olhos. - Eu não tenho nenhum dos ‘corações’ que você menciona. 

 

— Estou falando do futuro, Tom. E não... 

 

— Por que você sempre faz isso? - Ele interrompeu. - Qual é o propósito de tocar nesse assunto toda maldita hora? 

 

Ela franziu o cenho. - Eu estava apenas brincando. Nunca incomodou você antes.  

 

— Por acaso as coisas mudaram. Ou você não reparou? 

 

— Eu pensei que tínhamos combinado que nada ia mudar. 

 

— Quer dizer que você não se importa de me imaginar com outra pessoa? Se eu agarrasse uma mulher na sua frente, você ia achar natural? 

 

Mel cruzou os braços. - É sua vida, Tom. É sua decisão. 

 

— É minha vida? É minha vida? É isso que você diz? - Deveria haver um bom motivo para ele estar gritando, mas no momento ele não sabia qual era. - Pois eu acho bom que não pense que isso vale para você. Por Deus, Melanie. 

 

Ela continuou o encarando calmamente. - Eu acho que você me conhece bem demais para achar isso. Mas o que quer eu diga, Tom? Nós somos amigos antes de qualquer coisa. 

 

— Amigos? É o que você disse? 

 

— O que você acha que somos? 

 

— O que você acha que somos?  

 

Melanie balançou a cabeça. - Por que nós estamos brigando?

 

Thomas queria insistir na pergunta. Era a primeira vez que falavam naquilo e ele estava cansado de ficar maluco sozinho. Queria pressioná-la até que cedesse, mas a verdade era que ele não sabia se estava pronto para ouvir a resposta.  

 

Ele suspirou e passou os braços em volta dela. - Eu não sei. Não gosto de brigar com você. Prefiro te beijar. 

 

Como se buscando demonstrar sua vontade, ele começou a beijar seu rosto por toda parte até encontrar sua boca.  

 

O sorriso dela foi amplo. - Você é doido.  

 

— Não fale mais sobre outras mulheres. Eu estou com você agora e eu quero você. 

 

— Você tinha que ter dito apenas isso. - Mel respondeu e colocou uma mão em sua bochecha. - Não seja tão temperamental, Tom. Isso não faz bem para seu sistema nervoso. 

 

— Meu sistema nervoso está em constante risco quando estou com você. Na verdade, boa parte dos meus sistemas. 

 

— Isso foi um elogio? 

 

— Sempre é, Mel. Sempre é. 

 

***  

 

Um dedo percorrendo a linha de um rosto. Começa pela testa, desce por entre os olhos e pela extensão do nariz. Quando chega aos lábios, pausa e delicadamente os acaricia.  

 

Mel suspirou. - O que você vê? 

 

Ele deixou o olhar se perder nos lábios dela por um minuto. Ou vinte. Nunca parecia demais olhar para ela. Com as mãos debaixo da cabeça, Mel permaneceu esperando por uma resposta.  

 

— Tudo. - Ele disse enfim.  

 

Os lábios que tocava se curvaram ligeiramente.  

 

Deitado na cama de lado, assim como Mel, ele continuou com a minuciosa observação como se nunca a houvesse visto antes. Poderia muito bem ser verdade por que sentia uma sensação esquisita no estômago em todas às vezes.  

 

— Você é tão linda. - Ele murmurou enquanto acariciava seu maxilar. - Por que você decidiu ceder, Mel? Já tem um bom tempo que eu te cerco, mas eu nunca entendi o que te fez mudar ideia. 

 

— Seu sex appeal, talvez. - Ela abriu os olhos e riu. - Eu não sei. Acho que cansei de lutar contra o que eu nunca achei que seria errado. 

 

— Então por que você evitava? 

 

— Acho que sabe a resposta para isso, Tom. - Mel se moveu para perto dele e colocou a cabeça no mesmo travesseiro. - Isso não importa agora. 

 

Tom desviou o olhar e colocou uma mão sobre o quadril dela. - Talvez... Eu devesse ter deixado você em paz. 

 

— Acredita mesmo nisso? 

 

— Não sei, mas eu não teria te deixado em paz de nenhuma forma. - Tom encostou a testa na dela e sentiu os dedos de Mel em seu rosto. - Eu nunca entendi, Mel. Não consigo ficar longe de você. Era estranho antes e ficou ainda mais estranho quando comecei a te desejar. Mas agora... Agora que realmente tenho você, parece que o antes não era nada. 

 

Ela franziu o cenho e sua voz se suavizou. - Por que faz soar como algo ruim? 

 

— Porque eu não entendo. E se for uma doença, Mel? E se eu estiver obcecado com você? 

 

Ela conteve a risada. - Não acho que deva se preocupar com isso. 

 

— Mas e se for? 

 

Melanie balançou a cabeça. - Se for, Tom, nós vamos resolver juntos e ponto. 

 

Ele assentiu, mas não parecia mais tranquilo. - Vem cá. 

 

Eles ficaram abraçados por um longo tempo, combinando respirações e carícias. Música tocou atrás de música, mas ambos estavam pouco cientes da melodia e mais que havia um som longínquo em algum lugar.  

 

— Posso ficar? - Thomas murmurou contra a pele de seu pescoço.  

 

Como se ela pudesse negar algo quando ele usava aquele tom de voz. - Pode. 

 

Ele abriu um enorme sorriso satisfeito, afastou-se um pouco e a beijou nos lábios. - Te amo. 

 

Mel provocou. - Você ainda ia me amar se eu tivesse negado? 

 

— Eu ainda ia amar você mesmo se me arrancassem o coração. 

 

Qualquer vestígio de humor deixou a expressão dela, mas seu semblante era algo indecifrável. Quanto mais o tempo passava, mais difícil era para Mel ouvi-lo dizer coisas daquele tipo e responder a frase com um sorriso fácil.  

 

Ela se orgulhava do fato de que as pessoas apenas conseguiam identificar seu humor se ela permitisse e aquilo não acontecia por que estava sempre sorrindo. Não se considerava dissimulada ou falsa, apenas reservada.  

 

Era complicado ajudar alguém se a atenção estivesse voltada sobre ela e ajudar era geralmente o que Mel estava fazendo sempre. Com Tom, ela tinha que colocar uma boa dose de esforço na ação. Ela não podia domar seu coração com a facilidade que domava seu cérebro.  

 

— Eu teria que criar um meio alternativo e seria difícil, mas eu iria pegar o jeito em algum momento. - Ele continuou em um tom bem-humorado, no entanto percebeu que seu sorriso de resposta estava bem diferente de seu olhar. - O que foi? 

 

— Nada. Por quê? 

 

Thomas ia insistir, mas o celular dela começou a tocar. Mel se levantou e atravessou o quarto depressa até onde o celular estava. Pelo que ele ouvira da conversa era Adam e ele queria que ela avisasse em casa que iria direto para a faculdade no dia seguinte.  

 

— Como se precisássemos de aviso... Ele passa todo o tempo com Tess agora. - Mel murmurou quando voltou para a cama.  

 

Tom não podia perder a brecha. - Ciúmes? 

 

— Não. Eu não perco tempo com ciúmes, Tom, você sabe. - Ela respondeu e estava sendo sincera. - É que... Ele e a mamãe ainda estão se estranhando.  

 

Sabendo que ela estava preocupada, Tom ficou sério novamente. - Por causa de sábado? 

 

Ela assentiu. - Eu queria que eles conversassem e resolvessem logo. Eu não entendo por que sempre resolvemos as coisas conversando, mas dessa vez Adam não quer papo. 

 

— É justificável, Mel. Depois do que você falou que a madrinha disse para ele. Não era como se ele fosse deixar a Tess por isso, mas a opinião dela é importante. Ele deve ter ficado desapontado com o comportamento hostil. 

 

— Mas a mamãe nunca faria isso sem razão. Há um motivo por trás. Eu vejo isso, por que ele não vê? 

 

— Por que ele é a parte afetada, não você. - Tom sorriu quando seus lábios formaram um bico descontente e beijou a ruguinha que se formara na testa dela. - Pare de pensar nisso, agora. Não é você que pode resolver, Mel. 

 

— Eu sei. - Ela suspirou, mas sua boca sorriu por conta própria quando ele beijou seu bico. - Mas você pode continuar tentando me convencer. 

 

Tom a brindou com um sorriso sacana. - Buscamos sempre atender as expectativas do freguês. 

 

Melanie o puxou com as mãos na gola de sua camisa e encostou os lábios nos dele. Ele girou o corpo até que estivesse sobre o dela contra a cama e acariciou lentamente a sua língua com a dele. A única coisa que poderia ser melhor do que beijar Mel seria fazer amor com Mel. Não havia nada no mundo que se aproximasse.  

 

E embora ele não tivesse testado a teoria completa, colocaria a mão no fogo pela veracidade da mesma.  

 

***  

 

Tendo cumprido sua palavra, Thomas acordou na manhã seguinte com o toque do despertador do seu celular. Sem abrir os olhos, ele esticou o braço até encontrar o aparelho na mesa de cabeceira e tocou na tela para desligá-lo.  

 

Melanie tinha um sono terrivelmente leve, mas apesar de ter se remexido com o barulho, não acordou. Aquilo ele sabia por que tinha sido a primeira vez que eles dormiam na mesma cama, mas não na mesma casa.  

 

Mas uma novidade para ele foi saber o quanto ela era espaçosa. Diferentemente da Mel consciente, a Mel adormecida era extremamente zelosa com seu espaço e nenhum um pouco com o dos outros. Ela tinha movido a cabeça para o seu travesseiro e puxado o edredom para si até que ele estivesse descoberto.  

 

Cinco minutos depois, Mel largara o cobertor e se embrenhara nele. Como ainda estava. O cabelo dela estava espalhado pelo travesseiro e um de seus braços em volta dele. Thomas tinha uma perna sobre as dela e embora eles estivessem tão grudados que tivesse com dificuldade para respirar algo que não fosse ela, ele não tinha do que reclamar.  

 

Fora a melhor noite que já tivera. E levando em conta que se tratava dele e a pessoa ao seu lado na cama estava vestida, aquilo era no mínimo bem estranho. Mel se remexeu um pouco mais, movendo-se mais para o lado dele até que Tom estivesse na ponta da cama e então suspirou.  

 

Ele sabia que tinha que ir embora, mas decidiu que uns minutos a mais não faria mal. O rosto dela estava bem de frente ao dele, tão perto, que ele sentia a respiração dela contra seu rosto. Não conseguindo resistir, ele encostou os lábios nos dela entreabertos e acariciou sua bochecha.  

 

Mel se moveu mais ainda contra ele, deixando-o mais consciente do que nunca de sua ereção matinal. Thomas grunhiu e encarou o volume em suas calças com evidente irritação. Agora não é o momento.  

 

Movimentando-se devagar para não acordá-la, ele girou o corpo e checou o horário no celular. Eram cinco e meia. Ele precisava ir. Naquele momento. Ele quis praguejar em voz alta, mas se conteve.  

 

Quando girou de frente para ela outra vez, Mel fez um som baixinho na garganta como se mesmo desacordada, soubesse que tinha gente perturbando sua paz. Tom deu um sorriso divertido para aquilo e a sacudiu gentilmente.  

 

— Mel? 

 

— Shhh. - Ela resmungou. - Dormindo. 

 

Thomas grudou os lábios em sua bochecha. - Estou indo. 

 

Relutantemente, ela abriu os olhos e bocejou. - Já? 

 

— Vai amanhecer logo. Eu te ligo mais tarde, tudo bem? 

 

Ela assentiu e coçou a vista. - Levanto com você... 

 

— Não precisa. - Ele contradisse; ela não parecia nem um pouco disposta a levantar naquela década. Beijou sua boca e depois sua testa. - Continue dormindo. Eu amo você. 

 

Mel bocejou novamente e esticou as pernas. - Amo. 

 

Tom sorriu por que ela não estava usando coerência em suas frases. - Até depois. 

 

Ele a beijou de novo, mais demoradamente e lamentou ter que se afastar dela. Então se levantou antes que perdesse a coragem recolocou no bolso o celular, a carteira e as chaves.  

 

— Acho que me sinto um tanto inconsequente agora. Vendo você se apressar assim para sair antes que meus pais cheguem. - Ela agarrou um travesseiro enquanto falava; seus olhos miúdos de sono.  

 

— Eu quem sou o inconsequente aqui, não fique preocupada. - Ele deu uma piscadela e se inclinou para beijá-la mais uma vez por que ele não conseguia evitar. - Já disse que te amo? 

 

Melanie driblou a preguiça com um sorriso aberto. - Sim. 

 

— Tudo bem. - Ele assentiu. - Eu te amo de novo. 

 

Thomas se prolongou por mais dois minutos e então se forçou a lembrar que tinha que ir embora. Antes de desaparecer pela sua janela, ele a lançou mais um sorriso caloroso que gritava em silêncio como ele estava feliz naquele instante.  

 

Mel permaneceu deitada na mesma posição depois que ele se foi, tentando buscar pelo cheiro dele em seu travesseiro, mas no geral apenas sentiu seu próprio xampu. Era o que ela ganhava por ser tão espaçosa. Mas ela não dormiu.  

 

Não havia lhe passado despercebida a frequência estranha com a qual ele dizia que a amava. A experiência sempre lhe trazia sentimentos antagônicos. Na verdade, todos os momentos com ele lhe traziam sentimentos antagônicos.  

 

Estar com ele era surpreendentemente fácil e ao mesmo tempo absurdamente confuso. Por mais que tenha tentado evitar, Mel já se perguntara muitas vezes se ele por acaso estaria saindo com outras pessoas enquanto eles estavam juntos.  

 

Nunca perguntara por que aquele tipo de comportamento fazia parte dele e ela não entrara naquela enganada. Ela o conhecia bem demais para tentar se iludir ao pensar diferente. Mas a reação dele na noite anterior a assustara de verdade e ainda mais sua pergunta.  

 

O que eles eram?  

 

Ela não sabia dizer, mas o que ela sabia era que tinha conseguido a resposta para a pergunta que não tinha feito. E ela acreditava fielmente naquilo por que Tom não era nenhum mentiroso.  

 

No entanto, o conhecimento daquilo apenas fez outra questão surgir em sua mente. Se Thomas não estava vendo mais ninguém, por que não tinha tentado mais nada com ela? Mel cogitou a possibilidade de ele ter ficado receoso depois do episódio na praça, mas não conseguia acreditar totalmente naquilo.  

 

Eles haviam passado a noite juntos. Ele não tinha tentado absolutamente nada – de fato, ele tinha suavemente evitado qualquer contato mais íntimo. E o ponto era que ela não tinha certeza, mas entendia bastante de si mesma para pensar que se ele tivesse feito algum avanço, ela teria deixado as coisas rolarem.  

 

Não havia como evitar o inevitável, apenas adiá-lo. Mel pensava que ele também sabia daquilo. Apenas não via o propósito em ele tentar adiar. Bem, fosse o que fosse, Melanie não achava que fosse durar por tanto tempo. As circunstâncias certas se apresentariam para eles dois de uma forma ou de outra.  

 

Ou talvez ela o fizesse.  

 

### - X — ### 

 

O som dos nós de seus dedos batendo contra a porta parecia alto demais no corredor vazio. Ethan esperou por alguns instantes e quando não houve resposta, apertou dessa vez a campainha. Não houve barulho outra vez. Mais do que apreensivo, ele apertou as alças da sacola que segurava contra a mão. 

 

Millie não estava em casa. Ou será que tinha visto que era ele e estava se recusando a atender de propósito? Mas a porta não tinha um olho mágico. Ele mudou o peso de uma perna para outra e tocou a campainha mais uma vez. De novo, ninguém respondeu. Ele suspirou e balançou a cabeça em derrota.  

 

E se ela tivesse saído com outra pessoa? Obviamente que ela não iria ficar esperando por ele para sempre. Ethan começou a se desesperar. Se ela tivesse mesmo saído com alguém, o que ele ia fazer? Descobrir quem era o infeliz e caçá-lo não seria uma boa ideia.  

 

Ethan permaneceu parado em frente à porta por mais um momento e então se virou. Ele ia atrás dela. Dane-se se ela estivesse com outra pessoa, eles tinham que conversar. Ele não ia simplesmente desistir daquela maneira.  

 

Violet devia saber onde ela estava. Sim, ele iria até lá. Foi apenas quando ele estava em frente à porta da senhora em questão que percebeu que precisaria de um plano para convencê-la. Com certeza Millie teria contado a ela sobre o que aconteceu. Bem, mas ele tinha conseguido passar por Tess daquela vez, provavelmente a avó seria mais fácil.  

 

Confiante, ele tocou a campainha. Quando ouviu os passos do outro lado da porta, já tinha seu discurso preparado. A porta se abriu e ele logo separou os lábios para começar a falar antes que ela pudesse impedi-lo, mas engoliu as palavras no mesmo segundo.  

 

Millie não demonstrou nenhuma surpresa em vê-lo. - Ethan. 

 

O rapaz passou um minuto inteiro tentando se recompor e reorganizar seus pensamentos. Ele devia ter ao menos considerado que ela pudesse estar lá. Talvez assim não estivesse fazendo papel de idiota.  

 

— Oi. - Ele murmurou baixinho e esperou que ela dissesse algo, convidasse-o para entrar, ou algo do tipo. Ela continuou do mesmo jeito. - Uh... Eu pensei que tivesse saído. 

 

— Você veio falar com a vovó? 

 

— Não! Eu quis dizer que eu bati na sua casa... Pensei que tivesse saído... Com alguém. - Ele avaliou sua expressão, mas ela permaneceu indiferente.  

 

— Com quem eu iria sair? Meu namorado terminou comigo há três dias.  

 

Suas bochechas ficaram vermelhas e seus olhos pedintes. - Millie... Eu queria falar com você. Posso entrar? 

 

Ela hesitou primeiramente e ele achou que ela fosse bater a porta na cara dele, mas então a modelo deu passagem. Ao menos ela estava disposta a ouvi-lo, ele pensou. Desde que tinha aberto a porta, achou que a Millie que conhecia não estava mais ali.   

 

Ethan caminhou para dentro depressa antes que ela mudasse de ideia e se deparou com Violet sentada no sofá da sala, tomando um chá.  

 

Ela o encarou quando ele entrou. - Olá, rapazinho. 

 

Ele corou. - Boa noite, Violet. 

 

Millie andou até ela e colocou uma mão em seu ombro. - Vovó, eu tenho que conversar com Ethan. 

 

Ela bebericou de seu chá calmamente. - Não me importo que o façam na minha frente. Quero ouvir o que o rapaz tem a dizer. - Quando a neta a lançou um olhar, a senhora resmungou. - Ora, é minha casa. 

 

— Não tem problema. Então nós vamos lá para cima.  

 

Violet se levantou reclamando. - Você sabe que eu vou ficar ouvindo tudo mesmo. 

 

Com o nariz em pé, marchou para fora da sala com o chá nas mãos.  

 

Millie se sentou no mesmo local que a avó estivera, cruzou uma perna sobre a outra e o encarou.  

 

Ethan respirou fundo. - Eu... Eu trouxe isso para você. 

 

A modelo encarou a sacola, aceitou-a e a colocou no chão ao seu lado. - Obrigada.  

 

Ele fez uma cara de desolação. - Não vai abrir? 

 

— Não. 

 

Ethan a observou tristemente. Ele tinha ido comprar chocolates, para somar ao presente dela, quando saiu da biblioteca, por que sabia como ela amava chocolates. E tinha esperança que ela ficasse mais contente. Pelo visto, aquilo não ia acontecer.  

 

Ele começou a se sentir idiota parado ali no meio da sala, com a mochila nas costas e a sensação de que já tinha sido dispensado antes mesmo de falar. Na verdade, ele não sabia mais o que ia dizer. Millie não era daquele jeito. Se ela tinha mudado com ele, então... Que esperança havia, afinal?  

 

A única coisa que ele podia fazer era tentar fazê-la entender um pouco seu lado, ao menos para que eles pudessem ser amigáveis, um com o outro, quando se encontrassem nas festas de família. Ethan parecia estar carregando o Coliseu em seus ombros, mas se forçou a caminhar até o sofá e se sentar ao lado dela.  

 

Aliviado por que ela não se moveu para longe, ele começou. - Você vai me ouvir? 

 

— Eu deixei você entrar, não foi. 

 

Era o que ele tinha achado, mas do jeito que ela estava agindo, não tinha mais tanta certeza. Ele tirou a mochila do ombro e pressionou uma mão contra a outra.  

 

— Millie... Eu me arrependi pelo que te disse no sábado. 

 

— Qual parte? Você disse muita besteira, vai ter que ser mais específico. 

 

O rapaz continuou olhando para baixo. - Por tudo. Eu te magoei e se tem alguém nesse mundo que não merece isso é você. - Ela continuou em silêncio e aquilo o enervou ainda mais. “Tem certas coisas que são limites para mim. Ou pessoas. Eu... Eu tenho mesmo um problema com meu irmão e eu gostaria de poder te explicar de verdade o que é, mas eu não sei. Nós sempre fomos assim. Na linguagem popular, pode-se dizer que meu santo não bate com o dele. Eu não devia ter me deixado levar, mas acontece era meu assunto limite com a minha pessoa limite. Você entende? 

 

— Sim. 

 

Encorajado por que sua voz estava mais suave, ele ergueu a cabeça. - Eu não queria machucar você. Será que pode me perdoar? Eu não vou prometer não fazer de novo, por que eu já fiz isso e não cumpri, mas prometo que se eu fizer outra vez, não corro quando você for tentar me esfaquear. 

 

Ela deu um pequeno sorriso, e ele ficou satisfeito mesmo que estivesse esperando por um grande. - Eu não guardo rancor de ninguém, Ethan. Mesmo que tenha me magoado mais do que qualquer outra pessoa. 

 

Aqueles grandes olhos verdes pareciam falar por conta própria de seu tormento. - Eu sinto muito. Poderia dizer isso por séculos, mas não equalizaria quanto eu sinto. 

 

Millie sacudiu a cabeça e abriu a sacola. Retirou a caixa de chocolates de lá dentro e o encarou de soslaio. - Você é terrivelmente inteligente. Suponho que isso fosse para me amolecer. 

 

Ele deu de ombros timidamente. - Funcionou com a orquídea. 

 

Ela abriu a caixa e começou a brincar com os bombons, mas não colocou nenhum na boca. Ethan esperou, mas ela não disse mais nada assim como ele previa. Ela iria desculpá-lo por que era uma boa pessoa, mas acabava ali. Ele tinha a perdido por conta de sua própria estupidez, e o ponto era aquele.  

 

Além do Coliseu, Ethan agora carregava a Torre Eiffel e o Empire State nas costas.  

 

Millie ergueu os olhos quando ele pegou sua mochila e se levantou, mas ele não viu por que começou a caminhar para a porta. Suas mãos colocaram a caixa de lado e seu corpo se levantou sem que ela ordenasse para ir atrás dele, mas ela se refreou por que ele parou e se virou para ela.  

 

Era absurdamente injusto o fato de que ele parecia um menino arrependido de ter quebrado o vaso de plantas da mãe, com os grandes olhos verdes um tanto arregalados.  

 

— Millie... - Ele inclinou a cabeça para o lado e a encarou como se a visse pela primeira vez. - Eu te amo. 

 

Ela arfou. Sentiu como se observasse as lágrimas preenchendo seus olhos eficientemente, como se estivessem apenas esperando sua vez de entrar em cena.  

 

Ele pigarreou e as pontinhas de suas orelhas coraram em resposta. - Achei... que devia saber. 

 

Mas ele não se virou em direção a porta outra vez. Ele não achava que ela tinha que saber, ele tinha dito aquilo por que sabia que ia desarmá-la e fazê-la amolecer como marshmallow no chocolate quente.  

 

— Por que você tem que estragar tudo? - Ela fungou. - Eu estava indo tão bem. 

 

Ethan deu um minúsculo passo para mais perto dela e então Millie se atirou contra ele. Ela se agarrou nele como sanguessuga na pele e ele não pôde evitar sorrir contra os lábios dela.  

 

Millie socou seu ombro, beijou-o outra vez, tornou a socar. - Você não me deixou nem apenas ter meu orgulho. Eu só ia deixá-lo sofrer mais um pouco para que nunca mais fizesse isso. 

 

— Eu não podia esperar. - Ele secou o rosto dela com as duas mãos, mas as lágrimas continuaram a cair. - Não chore mais, Millie. Por favor. 

 

Obviamente ela continuou chorando, mas também estava sorrindo. - Eu choro por absolutamente tudo e por nada. Não notou ainda? 

 

— Isso não significa que eu tenho que gostar. - Ele acariciou seu cabelo, encarando-a em preocupação.  

 

— É verdade o que você disse? Ou também era para me amolecer? 

 

Envergonhado, ele mergulhou o rosto em seu pescoço. - Os dois. 

 

Ela riu alto. - Seu tratante. 

 

Ele voltou a olhar para ela. - Eu não queria perder você. 

 

— Ethan... É muito injusto alguém ter olhos assim. - Ela suspirou.  

 

— Como?  

 

— Como os seus. - Ela segurou seu rosto e encostou a testa na dele, fechando os olhos. - É impossível continuar irritada quando seus olhos dizem tudo o que está sentindo. Acho que é o mesmo que enxergar seu coração. 

 

— Isso é fácil. É só você se olhar no espelho que o verá. 

 

Ela o encarou, mas não havia nada no mundo que pudesse dizer. Então o abraçou o mais forte que pôde e deixou as lágrimas escorrerem.  

 

***  

 

— Millie, tem certeza que quer fazer isso? Eu ficaria contente em passar a noite com você no seu apartamento, sério. - Ethan disse mais uma vez.  

 

Eles já estavam dentro do local, sentados confortavelmente nas poltronas e ele ainda insistia com aquilo.  

 

— E, troque a fita. Eu gosto de teatro, pela milésima vez. E nós somos muito sortudos por eu conhecer alguém que conhece alguém que nos arrumou ingressos logo hoje. Vamos aproveitar. 

 

Ele segurou a mão dela e entrelaçou seus dedos. - Eu sei. É por que nem todos acham ficar sentado por horas, assistindo uma peça, algo extremamente divertido. E como a ideia foi minha... 

 

— Sou a exceção à regra. - Ela sorriu, inclinou-se e beijou sua bochecha. - Você precisa acreditar mais no que eu digo. 

 

— Eu não vou mais desconfiar de você. - Ele apertou sua mão e ela apertou de volta, sabendo sobre o que ele estava falando.  

 

A peça começou pouco tempo depois. Eles voltaram sua atenção ao palco, observando enquanto gradativamente os atores apareciam, mas a mente de Ethan estava centrada naquele pequeno e significativo contato físico que ele achou que nunca sentiria outra vez.  

 

**  

 

O som dos aplausos soava tão alto que parecia sacudir o teatro, mas Ethan não prestava atenção. Sem mais saber o que fazer, ele começou a dar tapas nas costas de Millie que chorava incessantemente. Definitivamente eles deviam ter ficado em casa e assistido a um filme ao invés.  

 

— Desculpe. - Ela murmurou entre soluços, esfregando os olhos borrados de rímel pelas lágrimas. - Sei que fica desconfortável quando eu choro, mas... É tão triste. 

 

Ele pigarreou e esfregou suas costas em compreensão. - Achei que já tinha visto O Fantasma da Ópera antes.  

 

— Já tinha. E eu chorei em todas as vezes. 

 

Ela chorou mais e mais, até que uma senhora que estivera sentada na fileira atrás deles tocou no ombro de Ethan, que ergueu a cabeça. - Aqui, dê a ela. - A senhora estendeu um lenço a ele. - Não precisa devolver. Eu sei como é. 

 

E sem dizer mais nada, ela se foi, enxugando os próprios olhos com outro lenço. Ele parecia ser a única pessoa no teatro inteiro a não estar chorando.  

 

Vermelho, Ethan deu o lenço a Millie. - Ah... Aqui. 

 

Depois de cinco minutos abafando os soluços contra o lenço, Millie conseguiu se controlar. Ela disse que iria ao banheiro retocar a maquiagem e lá se foram outros cinco minutos. Ele ficou parado ali no meio de pessoas soluçantes, com as mãos nos bolsos e as orelhas vermelhas.  

 

— Pronto. Tudo certo. - Millie retornou com um sorriso que iluminava todo o cômodo, sem resquício algum de ter chorado copiosamente pela última meia hora. - Vamos a Times Square! 

 

— Você está bem? - Ele perguntou, avaliando-a meticulosamente.  

 

A modelo riu e enlaçou um braço ao dele. - Ótima. Meus humores mudam rapidamente. Agora já estou feliz, feliz, alegre, alegre, como criança com um algodão-doce. A peça foi linda e obrigada por ter tido a ideia! Agora vamos a Times Square! - Ela comentou sem pausar para respirar. - Hoje tem flash mob*

 

— Uh... 

 

— Não me diga que você nunca foi assistir a um flash mob. - Ela o fez pausar assim que saíram do teatro.  

 

— Tudo bem, então eu não digo. 

 

Ela abriu a boca horrorizada. - Ethan, mas você precisa viver. O que é que você faz com seu tempo? Mora em NYC e nunca foi assistir a um flash mob. Isso é uma catástrofe! - Ela jogou as mãos para o alto, chamando atenção para eles.  

 

Ethan podia ver as pessoas se questionando o que era uma catástrofe e se afastando deles depressa para evitar que as atingisse. - Millie, não é tão ruim assim. 

 

— Oh. - Ela arfou e apontou um dedo para ele. - Você não sabe o que diz, Ethan Hale. Anda, vamos andando. Precisamos batizar você ainda hoje. 

 

**  

 

Se Ethan não estivesse tão certo de seus sentimentos pela Millie, teria se convencido naquele momento. A mulher tinha um dom inacreditável para fazê-lo experimentar coisas que nunca tinha feito ou pensado em fazer antes. Aquele tipo de coisa totalmente anti-Ethan. E o pior de tudo? Ela ainda o fazia se divertir.  

 

Se aquilo não era amor, ele não sabia o que era.  

 

Ele olhou para ela por um momento, com os braços para cima, olhos arregalados e dentes a mostra em um sorriso celestial, e esqueceu que também tinha que dançar. Em resultado, o casal atrás dele continuou seguindo a voz de Frank Sinatra cantarolando New York New York e esbarrou nele quando não saiu do lugar.  

 

Millie balbuciou ‘Mexa-se, E!’ e ele voltou a se mexer. Ethan sabia que aquilo estava sendo gravado e se forçou a não pensar que alguém veria a sua ridícula tentativa de fazer algo com suas pernas que não fosse andar. Ele tinha que admitir que começasse entender por que as pessoas faziam aquilo.  

 

Seria absurdamente estranho um bando de gente se reunir em um espaço para dançar em sincronia com pessoas que nunca antes haviam visto na vida. Mas não em Nova Iorque. A cidade não era sempre tão receptiva e mágica como era retratada em filmes e livros, mas ele podia sentir por que as pessoas paravam suas vidas e procuravam aqueles eventos ocasionais. A magia estava ali.  

 

E era dia dos namorados, afinal.  

 

E então a música estava chegando ao fim e Ethan mal podia se reconhecer quando sentiu a pontada de decepção dentro de si. Ele olhou para Millie e ao ver que ela sorria para ele, tentou curvar os lábios para sorrir de volta e com surpresa percebeu que era impossível, por que ele já estivera sorrindo sem notar.  

 

Parece que Kyra estava enganada. A habilidade de fazer sorrir era uma via de mão-dupla. 

 

***  

 

Ethan observou enquanto Millie dava um telefonema, sorriu e falou algumas palavras em italiano, e então Luigi saiu pela porta do restaurante e caminhou até eles, que estavam esperando na enorme fila. O chef abraçou Millie, beijou suas bochechas e então abraçou Ethan com o mesmo entusiasmo. 

 

Em dois minutos, eles estavam sentados em uma mesa reservada dentro do restaurante. As mesas estavam postas de modo diferente, uma vela aromatizada no centro desta queimava entre eles.  

 

— Millie. - Ethan comentou sussurrando. - Nós passamos a frente de umas vinte pessoas. Eles nos xingaram pelas costas, sabia. 

 

Ela gargalhou alto. - Claro que eu sei, elas berraram. E foi por isso que eu liguei para Luigi, é claro. Relaxe, ninguém vai embora por causa disso. - Ela indicou com a cabeça o lado de fora pela parede de vidro. - Todos adoram demais a comida. E Luigi sabe disso, então pode arriscar a preferência por nós. 

 

— E se eles nos atacarem quando sairmos? 

 

Ela riu ainda mais. - Ethan, eles vão dar a primeira garfada e esquecerão o transtorno totalmente. Não se preocupe. Você é terrivelmente certinho, já te disseram isso? 

 

Ethan foi ajeitar os óculos no nariz e então se lembrou que estava usando lentes. - Muitas vezes. 

 

— Você não gosta das lentes, não é. - Ela comentou. - Por que começou a usá-las? 

 

— Hum. - Casualmente ele pegou o cardápio em cima da mesa e levantou na altura do rosto como se fosse ler.  

 

A loira empurrou o cardápio para baixo e o encarou seriamente. - Você vai precisar começar a ser sincero comigo, Ethan. 

 

— Eu achei que ia ficar melhor, só isso. 

 

— Melhor para mim ou para você? - Ela arqueou a sobrancelha e seu silêncio foi resposta o suficiente. Ela sacudiu a cabeça. - O que você está fazendo durante a noite? 

 

— Não vamos falar nisso hoje. Acabamos de nos reconciliar e eu não quero que fique chateada comigo de novo.  

 

— Ainda tenho a caixa de chocolates. - Ela sugeriu para amenizar a situação.  

 

Ele sorriu; suas covinhas aparecendo lindamente. - Não por muito tempo. Você comeu metade antes de nós sairmos. 

 

— Você também comeu! 

 

— Não acho que a metade do bombom faça uma grande diferença. 

 

— Enfim. - Ela balançou uma mão displicentemente, como se fosse um detalhe pífio de ser mencionado. - Ethan, diga-me o que você está fazendo durante a noite. 

 

Para a sorte do rapaz, Luigi apareceu naquele instante perguntando se eles já sabiam o que iam pedir. Ele obviamente não tinha tempo de servir as mesas quando estava cozinhando e por que sabia que ele estava fazendo deles uma exceção, Millie segurou sua mão e beijou.  

 

— Ainda não decidimos, mas já pediremos. Talvez umas bruschettas por agora? - Ela olhou para Ethan, que assentiu. 

 

— Em um segundo. - Ele disse bem-humorado e então revezou olhares entre ela, Ethan e as mãos deles entrelaçadas em cima da mesa. - Seu amico, hein? 

 

Ethan corou e Millie riu, dando uma piscadela a ele. - Não seja tão entrão, Luigi. Você não era assim. 

 

Ela disse algo em italiano que fez o homem rir, balançar a cabeça e voltar para a cozinha.  

 

— Como você conhece Luigi tão bem? - Ele questionou.  

 

Millie não podia se decidir se ele estava tentando desviar o assunto que discutiam de propósito ou se estava realmente interessado, mas decidiu não insistir. Por enquanto.  

 

— Ele veio com a gente para Nova York quando nos mudamos. Ele e a vovó ficaram amigos logo quando ela se mudou para a Itália para cuidar de Tess e eu, e quando viemos para cá, ele disse que não haveria mais nada para ele na Itália. Ele nunca se casou nem teve filhos. A verdade é que ele e a vovó já tiveram um romance e eu acho que ele sempre foi apaixonado por ela, mas eles pensam que eu não sei. 

 

— Mas... Ele não é... Hum... Bem mais novo do que ela? 

 

— Para o amor não tem idade, Ethan. - Ela sorriu docemente quando as pontinhas de suas orelhas ficaram vermelhas e torceu para que ele continuasse exatamente daquele jeito pelo resto da vida. - Mas sim, ele é. Dez anos. E se quer minha opinião, ele ainda não desistiu. Vovó sempre parece meio sem fôlego quando ele vai visitar. 

 

Ethan se mexeu em desconforto. - Não coloque essas imagens de Violet na minha cabeça. 

 

— Ora, Ethan. Senhoras de 80 anos também amam. - Ela conteve a risada quando ele fez uma expressão horrorizada, como se já estivesse imaginando. - Acho que a vovó sempre achou que fosse uma traição ao vovô ou coisa assim, por isso nunca persistiu ou teve um relacionamento sério com ninguém. Embora ele tenha morrido logo depois dos meus pais. 

 

Ele segurou sua mão entre as suas quando ela permaneceu calada e ele percebeu pela primeira vez que eles nunca tinham falado sobre os pais dela. - Quer falar nisso? 

 

— Não. - Ela balançou a cabeça e agradeceu quando serviram as bruschettas. - Hoje não. 

 

— Ok. - Ele assentiu e manteve sua mão entre as dele. - Você nunca me disse por que escolheu modelar como profissão. 

 

Ela riu. - Mudança sutil de assunto. 

 

Ele sorriu. - Tudo bem, irei mais devagar então. Nossa, essas bruschettas são ótimas!  

 

Millie riu mais. - Eu não escolhi essa profissão, ela quem me escolheu. Ou melhor, Marc me escolheu. Foi algo totalmente estúpido de verdade. Eu tinha dezesseis anos e estava fazendo um curso de teatro. Sempre, sempre gostei da ideia de palco e plateia e como eu nunca gostei de ficar em casa, estava constantemente enfiada em uma atividade ou outra. Eu conheci o Marc enquanto estava indo para o curso e ele quase me atropelou. Não precisa fazer essa cara, eu disse ‘quase’. Ele até hoje é um péssimo motorista. Mas enfim, ele saiu do carro todo afobado e me perguntou um milhão de vezes se eu não tinha mesmo me machucado. Quando ele finalmente se convenceu e parou de procurar ferimentos mortais pelo meu corpo, ele levantou o rosto e ficou uns cinco minutos me olhando. Obviamente que eu comecei a ficar assustada e logo me despedi e entrei no curso. Eu achei que tinha sido o fim daquilo, é claro, mas no outro dia quando eu fui para o curso, ele estava lá. Ele deve ter visto minha cara de espanto, por que disse que tinha apenas ido para garantir que estava mesmo bem e me entregou o cartão dele. Assim que eu entrei no curso, joguei o cartão fora. Não era como se eu fosse ligar e ele era mais velho, afinal. 

 

— Você era uma menina muito responsável. - Ethan elogiou.  

 

— Na verdade, não. Só não estava interessada. - Ela corrigiu e riu quando a expressão dele mudou para choque pelo que ela tinha dito. - Ethan, eu nunca fui uma santa. Mas, voltando à história. No dia seguinte, ele apareceu outra vez. Mas dessa vez, dentro do meu curso. Eu fingi que não o vi e ele também não me disse nada. A partir daí, ele todo dia ia ver os meus ensaios. Era um curso público, mas ainda assim eu não entendia como ele tinha permissão. Até que um dia eu contei para a vovó. Já tinham duas semanas e ele simplesmente aparecia lá todos os dias. A vovó foi até o curso comigo no outro dia e, para variar, ele estava lá. Eu nem precisei dizer nada, ela imediatamente sabia quem era. Até por que ele era o único bem-vestido do local e assim era fácil notar que não era dali. Vovó caminhou até ele com aquela expressão de estou-prestes-a-esmagar-uma-barata e ele simplesmente abriu o maior sorriso do mundo, como se ele houvesse acabado de ver quem ele esperava. E foi isso. Marc tinha acabado de abrir uma agência e por acaso, ele disse a vovó, a neta dela era a mais linda de todas as suas modelos juntas. Ele queria que eu fosse trabalhar com ele. 

 

— Uma boa visão ele tem. - Ethan disse e ela sorriu.    

 

— Eu nunca tinha considerado ser modelo até ele aparecer, de verdade. Comecei mais fazendo desfiles, mas eu não gostava da pressão. Tínhamos que trocar de roupa em dez segundos e eu demorava vinte. Como alguém consegue fazer isso nunca entendi. Enfim, eu meio que fui puxada para dentro de tudo. Marc, quem eu pensava ser psicopata primeiramente, se tornou meu melhor amigo e professor. 

 

— Você gosta? 

 

— Gosto da atenção. É exigente demais no meu caso por que sou preguiçosa por natureza, como você já sabe. Mas eu não me imagino fazendo outra coisa, não agora ao menos. As coisas seguiram esse caminho sem nem eu tentar, entende? Teve aquele momento de crise em que fui cursar comércio exterior, lembra? Mas a faculdade de moda foi onde me encontrei. E eu tinha Marc, então foi mais fácil para mim do que para outras meninas que começam com aquela idade. Eu era terrivelmente ingênua e se não fosse ele... Quem sabe. 

 

— Acho que teria se saído bem. Mas agradeço por ele ter estado lá e ajudado a manter os lobos longe. 

 

Ela se reclinou na cadeira e riu muito até saírem lágrimas de seus olhos. Ethan não entendeu qual era o motivo de tanta graça e teve que esperar mais um pouco para saber por que um garçom veio anotar seus pedidos e como ainda não tinham decidido, escolheram o que tinham escolhido da primeira vez que estiveram lá. 

 

— O que eu disse demais? - Ele finalmente questionou quando o garçom se afastou.  

 

A loira passou uma mão no cabelo e o encarou amorosamente. - Ethan, meu amor. Marc era o lobo. - E ela pausou para rir por que não conseguiu evitar. Vendo que sua ingenuidade o impedia de compreender, usou o tom mais dócil que conseguiu. - Eu perdi a virgindade com Marc.

 

Ele literalmente congelou no lugar. - Mas... Mas... - Ethan parecia estar experimentando pela primeira vez na vida um momentâneo lapso de estupidez. - Ele é gay. 

 

— Gay? - E se ela já não tivesse rido antes, Millie jogou a cabeça para trás e gargalhou como se fosse a última vez que pudesse rir na vida. - Marc nunca foi gay. Ele é excêntrico. E talvez, ok, ele goste de dar a impressão de ser gay quando o convém, até por que estilistas homens têm esse estereótipo. Mas eu nunca conheci ninguém tão hetero na vida e conhecendo Dan e Tom, isso é dizer algo. 

 

Ethan não parecia achar nada nenhum pouco engraçado. Percebendo que ele não tinha gostado nada da notícia, Millie se controlou.  

 

— Isso foi há muito tempo, Ethan. 

 

— Mas você ainda está com ele. 

 

— Eu não estou com ele. Ele é meu melhor amigo. 

 

Ele encolheu os ombros e suspirou como se houvesse acabado de descobrir que a vida não era o conto de fadas que imaginava.  

 

— Imagino o que ele pensa de você. Aposto que são pensamentos totalmente amigáveis... 

 

— Ethan... 

 

— Eu sei, eu sei. Mas Millie, sejamos honestos aqui, ok? Estamos falando de você! Até morto levantaria para olhar, pelo amor de Deus! 

 

Ela pressionou os lábios e ele cerrou os olhos. - Você quer rir. Vá em frente. Alguém tem que achar graça do fato de que eu não dormirei hoje. 

 

— E? - Millie sacudiu as mãos dele e esperou até que ele direcionasse seus irritados olhos em direção a ela. - Eu amo você. 

 

Ele tentou o máximo que conseguiu manter a expressão de acabei-de-descobrir-que-o-melhor-amigo-da-minha-namorada-não-é-gay, mas não pôde. Suas orelhas, bochechas e pescoço coraram.  

 

— Droga. - Ele sussurrou vencido. - Isso é payback, não é. 

 

Seu sorriso era doce e inocente. - Com certeza. 

 

***  

 

Por insistência de Millie, assim que eles retornaram ao apartamento, Ethan experimentou a camisa que ela tinha comprado para ele. Embora ele tivesse gostado, não conseguia entender todo o alarde quando ela começou a lacrimejar.  

 

— É o primeiro presente meu que você usa. - Ela explicou.  

 

— Isso não é verdade. Escuto o CD que me deu praticamente todos os dias. 

 

— Ah, você entendeu. Não tire a camisa ainda. Vamos tirar uma foto! 

 

Ela saiu correndo para buscar sua máquina e fez questão de que o bracelete que ele tinha lhe presenteado com seu nome aparecesse. Eles tiraram umas três fotos até que ela se satisfizesse e confessasse que tinha gostado de todas, apenas tinha dado aquela desculpa por que se quisesse tirar mais, ele não iria querer. Ele ia reclamar da manipulação, mas honestamente ela estava certa. Bem, não totalmente. Ele teria tirado por que era o que ela queria fazer. 

 

— Vamos ligar a televisão e fingir que assistiremos a algo, enquanto eu casualmente tento te agarrar. 

 

— Casualmente? 

 

— Claro. Sutilidade é meu apelido. - Ele a beijou outra vez.  

 

— Ethan Hale, definitivamente eu não estou te reconhecendo.  

 

— É você. - Ele desceu os beijos para o seu pescoço e a empurrou sobre o sofá, ignorando a ideia de ligar a TV antes.  

 

— Espere um minuto. Você ainda não me respondeu o que faz a noite. - Ela insistiu, mesmo que os lábios em seu pescoço fossem o bastante para distraí-la.  

 

Ele grunhiu e o som saiu abafado. - Vamos esquecer o assunto. 

 

— Não. - Gentilmente, ela o tirou de cima dela e para dar tempo a ele, posicionou a almofada no braço do sofá e deitou contra ela. - E então? 

 

Ele se sentou corretamente, apoiou os cotovelos nos joelhos e olhou fixamente para frente. - Eu estou... Fazendo academia. Ou estava, antes de ficar de castigo. 

 

Ela apoiou um cotovelo contra o sofá. - Academia? Você? - Ele assentiu, mas não olhou para ela. - Por que, Ethan? - Ela esperou e ele não disse nada. - Você acha mesmo que eu sou tão fútil assim? 

 

— É claro que não! Millie, não. - Ele segurou suas mãos e balançou a cabeça firmemente. - Você mesma disse: o problema sou eu. Não é ou era você. Você nunca me deu motivos nenhum para pensar nada disso ou agiu de modo a me fazer pensar.  

 

— Ser virgem não é tão grave como você pensa, sabe. 

 

Ele piscou para a palavra e então respirou fundo. - É quando você é um Nerd esquisito de dezenove anos. - Antes que ela pudesse responder, ele continuou. - O ponto, Millie, é que eu achei que isso fosse... hum... Melhorar algo. Sabe, minha aparência. 

 

— Ethan, você é maravilhoso do jeito que é! Já que é tão bom com lógicas e cálculos, monte um gráfico na sua cabeça e considere as estatísticas reais! Considere o número de pessoas que dizem e acham isso de você e pese com o que você acha. Sendo ótimo em tudo, e logo em matemática, garanto que encontrará um resultado que esmagará sua concepção como uma mosca no para brisa! 

 

Ethan demorou até conseguir falar. - Nunca ouvi você gritando antes.  

 

— Eu me contenho para ocasiões especiais. - Ela bufou e começou a brincar com o cabelo. - Você simplesmente não se enxerga realmente, E

 

— Minha visão ficou comprometida por que eu lia demais. 

 

Mesmo irritada, ela não pôde evitar a risada e esticou o braço para tirar uma mecha de cabelo que caía sobre seus olhos. - Você é a pessoa mais especial para mim. 

 

Ele se inclinou e para sua surpresa, deitou sobre ela no sofá. - E você a mim, Millie. 

 

Ocorreu a Ethan, tardiamente, enquanto a sentia suspirar e relaxar sob ele... Quando seus lábios se partiram e retribuíram o beijo... Que Millie não só era especial, mas maravilhosa em seu jeito de ser. E ele tinha sido simplesmente estúpido ao esquecer isso e pensar que ela era como as outras pessoas. 

 

E ele não fazia ideia do que ainda estava esperando. 

 

 

 

*Flash Mobs: são aglomerações instantâneas de pessoas em certo lugar para realizar determinada ação inusitada previamente combinada, estas se dispersando tão rapidamente quanto se reuniram. A expressão geralmente se aplica a reuniões organizadas através de e-mails ou meios de comunicação social.  

 

 

### - X — ### 

 

Josh virou o rosto quando percebeu alguém vindo na direção deles e não se surpreendeu ao ver que era Daniel.  

 

— E aí, Dan? Você tem aparecido um bocado por aqui. Pensando em voltar a estudar? Eu cedo de bom grado a minha vaga. 

 

Dan balançou a cabeça e se agachou no chão junto a eles. - Muita gentileza da sua parte, mas estou passando. O inspetor ronda bastante aqui por esses lados, sabia? 

 

Um dos rapazes deu de ombros e um sorriso. - Ele não mexe com a gente. 

 

— Claro que não. Ele sabe quem é meu pai. Vai um? - Josh ofereceu um cigarro a Dan, que recusou. - Parou? 

 

— Eu nunca comecei. Gosto dos meus pulmões limpos. 

 

— E dane-se o fígado, não é. - O playboy retrucou ironicamente.  

 

Dan sorriu. - Temos sempre que preservar algo. 

 

Josh balançou a cabeça e tragou o cigarro. - Vamos pular a conversa fiada. Sei que você está querendo alguma coisa. Nunca fomos de conversar. 

 

Engraçado que nem sempre ele lembrava daquilo, Dan pensou. - Está certo. Qual é o lance entre você e a Angelinne? 

 

Ele trocou um olhar com os colegas idiotas e deu um sorriso sacana. - Ela não te contou? 

 

— Se ela tivesse contado, por que eu estaria perguntando a você? 

 

Josh gargalhou. - De fato, é verdade. Angelinne é uma garota difícil, Dan. Bem difícil. - Ele colocou uma mão no ombro dele em camaradagem. - Prepare-se para esperar.  

 

— Não foi isso que eu perguntei. - Dan afirmou secamente.  

 

O rapaz arqueou a sobrancelha. - Se eu não te conhecesse, acharia seu comportamento muito estranho. Quase ciumento. - Ele riu outra vez e seus colegas o acompanharam. - Agora, tudo bem, de volta a sua pergunta. Meu lance com a Angel, qual é? - Mais risadas. Dan cerrou as mãos em punho. - Daniel, você é inteligente. Qual é o único lance que eu poderia ter com uma garota bonita? 

 

— Você não transou com ela. - Ele murmurou em um tom quase agressivo.  

 

O sorriso de Josh se expandiu. - Olha, galera. Ele ficou bravo por que ela não é mais virgem. Desculpe, Dan, mas nessa eu cheguei primeiro. 

 

Conhecendo Dan como conheciam, todos os presentes estavam esperando uma atitude agressiva depois daquela frase. Surpreendentemente não foi aquilo que aconteceu. Dan permaneceu estático por mais um minuto, então se levantou e se afastou sem dizer mais nada.  

 

Ainda rindo, Josh berrou. - Bem, de nada pela informação! 

 

***  

  

— Angel, sete horas estou passando aqui. - Sua amiga Taylor repetiu enquanto dirigia.  

 

Angelinne rolou os olhos. - Eu já disse a você que não gosto dessas festas, Tay. 

 

— Você prometeu que iria comigo. 

 

— Claro. Por que você tinha se esquecido de mencionar que era na casa da Brittany. Sabe como eu não suporto... 

 

— Angel, mas o Pietro vai estar lá. Você prometeu que iria me dar apoio moral! 

 

— Ah, está bem! - Ela se deu por vencida. - Mas eu juro que na primeira gracinha que aquela garota fizer, eu... 

 

— Ei! Aquele não é Daniel? 

 

Angel se endireitou no banco. - Onde? 

 

— Ali, na frente da sua casa! 

 

Realmente era ele, encostado no carro de Alice e encarando a estrada. O que ele estava fazendo ali? 

 

Taylor assoviou sugestivamente. - Algum motivo para ele estar ali? 

 

— Claro que não. - Angel respondeu imediatamente. - Ele deve apenas estar querendo falar algo sobre o Musical. 

 

— Sim, óbvio. Telefone para quê, não é? 

 

Ignorando-a, Angelinne desceu do carro assim que Taylor parou. Dan ergueu os olhos em sua direção no exato momento em que ela começou a se aproximar. Ela não sabia o que pensar sobre a expressão que viu no rosto dele. 

 

Sem saber ao certo o que lhe aguardava, ela fez um sinal de despedida para Taylor, que hesitou ainda, mas por fim deu partida com o carro.  

 

Então ela se aproximou dele. - Dan, o que faz aqui? 

 

Ele hesitou, então disse. - Queria falar com você. 

 

— Hum... Ok. - Angelinne concordou ainda sem saber o que pensar e retirou suas chaves de dentro da bolsa. - Quer entrar?  

 

Ele assentiu e sem dizer mais nada seguiu atrás dela. Aquele comportamento estranhamente quieto de Daniel estava decididamente ativando seu escudo de autodefesa, embora ela não tivesse certeza do que tinha que se defender. 

 

Ela jogou a bolsa sobre o sofá e desistindo de prolongar a situação oferecendo a ele uma bebida ou algo do tipo, ela cruzou os braços e o encarou. - Então, o que quer falar? 

 

Ele hesitou por um período longo demais dessa vez, passou uma mão pelo cabelo e por fim soltou um longo suspiro. Parecia incerto sobre o que dizer. 

 

Ela insistiu. - Daniel? O que aconteceu? 

 

Por fim, ele voltou o olhar a ela. - Eu sei que não é da minha conta, sei que não tenho que opinar sobre nada em sua vida e que não tenho direito a exigir que me conte nada sobre você, porque é sua decisão o que e com quem você compartilha sua história. 

 

Quando ele pausou de novo, ela franziu o cenho. - Ok? 

 

— E eu fiz algo que não vai gostar de saber e sei disso, mas eu não poderia mais ignorar a sensação de que há algo errado. Eu não podia fingir que não percebia os sinais de que tinha acontecido alguma coisa, então eu passei por cima da sua vontade de me contar o que quer que fosse e fui falar com Josh. 

 

Angelinne sentiu cada mínima partícula de seu organismo congelar com aquilo, e não importava quantas vezes já tivesse se deparado com aquele específico assunto e quantas discussões, diálogos, sessões de terapia, sessões em grupos de apoio já tivesse vivido, no fim das contas aquela primeira reação era sempre a mesma. 

 

Ela sentiu quando seu corpo pendeu sobre o sofá sem que ela o ordenasse a fazê-lo, sentiu o olhar cauteloso de Dan e mais do que tudo, sentiu as lágrimas lhe queimando os olhos. Perguntou-se quantas vezes mais em vida precisaria reviver tudo aquilo de novo. 

 

— Angelinne. - sem saber se seria muito bem recebido, ele arriscou e foi se sentar ao lado dela. - Eu sinto muito ter invadido sua privacidade, eu sinto muito que meu ego em querer entender a situação me fez agir assim.  

 

Ela olhou para ele com um olhar quase translúcido de quem não enxergava na de verdade. - Qual o problema com você que te faz achar que sua curiosidade é mais importante do que a minha vontade? 

 

Ele sabia que aquela pergunta viria, é claro, ou ao menos uma versão dela e no caminho para casa dela, ponderou várias vezes sobre como responderia, qual frase seria mais cabível na situação e qual justificativa faria com que ela o detestasse menos. 

 

Por fim, decidiu que lhe devia a verdade. - Eu estava com ciúme. E estou ciente de que isso não justifica absolutamente nada, mas eu estava com ciúme não só do que minha imaginação projetou sobre o que tinha acontecido entre você e Josh, mas com ciúme de que eu era a única pessoa na família com a qual você não se sentia ã vontade para compartilhar nada, muito menos o segredo que até meu irmão sabe e eu não. 

 

Naquele momento, com aquela frase, Angel olhou para Daniel e percebeu que ele ainda não fazia ideia, percebeu que ele não tinha ligado os pontos ainda, percebeu que sabe se lá o que ele tinha descoberto não alcançava mais do que a superfície da coisa toda e ele não tinha percebido que era somente a ponta do iceberg. 

 

— Angelinne... - quando ele tentou segurar mão dela, sentiu que suava frio. 

 

— Vá embora, Daniel. 

 

— Eu só queria... 

 

— Não é sobre você! - ela exclamou, sem conseguir mais conter as lágrimas. - Você não consegue entender que as coisas não são sobre você! Depois de tudo o que aconteceu, você ainda me tira o direito de escolha de quem deve ou não saber.  

 

E naquele momento, antes que ele retomasse seu monólogo sobre sentir muito, reconhecendo que estava errado, admitindo o egoísmo das suas ações, antes que continuasse perpetuando ações estúpidas que objetivavam que ele se sentisse melhor, Daniel entendeu perfeitamente o porquê de tudo. Ele finalmente ligou os pontos. 

 

A reação de Angelinne após o único beijo que tinham trocado, o silêncio dela após cada mínima interação com Josh, o segredo, as lágrimas no rosto dela naquele momento. Agora quem sentiu o corpo congelando foi ele, que finalmente estava enxergando as coisas depois de parar de olhar para o próprio umbigo. 

 

E ela percebeu o exato momento em que a expressão dele mudou de arrependida para algo diferente, algo frio.  

 

— Daniel... 

 

Mas ele não estava a ouvindo, não mais. Ele simplesmente se levantou e marchou depressa para fora, entrando no carro e arrancando violentamente com ele. Ele era movido à ódio e naquelas circunstâncias, ele deixava de ser quem era. 

 

Angelinne praguejou não ter conseguido impedi-lo, praguejou pelo rumo das coisas e pelas consequências que para sempre se perpetuavam, praguejou querer odiá-lo por tudo de errado que fazia e não conseguir, praguejou por se preocupar com ele, com suas ações, quando a protagonista da história era ela. Praguejou que apesar de ele estar mais uma vez ignorando o que ela queria, sentia que ele seguia fazendo besteiras tentando alcançar um resultado positivo. 

 

E por tudo isso, com o coração apertado e lágrimas ainda nos olhos, ela buscou pelo celular dentro da bolsa e ligou para Thomas. 

 

***  

 

Após algum tempo sem saber o que estava acontecendo, Angelinne resolveu avisar Alice e Jaspes sobre o que tinha acontecido. Ao final do dia, basicamente toda a família estava ciente da situação e toda hora alguém ligava para saber se havia notícias de Daniel. 

 

Angel tinha o celular grudado na mão basicamente, enquanto sua mãe tentava lhe acalmar ao seu lado e seu pai fazia um trabalho terrível fingindo que não aprovava a atitude de Dan.  

 

A menina por fim disse, sentindo que citava uma frase de sua mãe. - Você sabe que é a masculinidade tóxica enfiada na goela de vocês que faz com que pensem que violência vai resolver algo ao invés de causar mais estragos, não é mesmo? 

 

Yuri a encarou, suspirou e balançou a cabeça. - Ele está fazendo o que eu gostaria de ter feito. A diferença é que ele é jovem e por isso suas atitudes impulsivas são melhor justificadas. 

 

Angelinne balançou a cabeça, ciente de que seu comentário havia sido ignorado com sucesso por seu pai, quando seu celular tocou. Era Alice. 

 

*** 

 

Angelinne seguiu com os pais para a delegacia e chegou lá no mesmo momento em que Alice e Jasper.  

 

Angelinne tinha pintado em sua mente um cenário específico: de Daniel atrás das grades com dois companheiros de cela assustadores e Thomas andando de um lado para o outro no aguardo do advogado da família. Ou então Dan sendo interrogado por dois policiais frustrados e mal pagos ansiosos com a oportunidade de aterrorizar um playboy metido à justiceiro. Ou ainda o pai de Josh furioso apontando o dedo na cara de um policial exigindo que Dan recebesse a pena de morte.  

 

Ela deveria estar assistindo a muitos filmes, porque ela errou e por muito.  

 

Chegando ao andar indicado, encontrou Thomas e Daniel sentados em uma fileira de cadeiras no canto; Thomas segurava uma compressa de gelo sobre um olho e Dan, agora com mais alguns machucados para somar aos remanescentes pela briga com o irmão, ignorava o que Peter, o advogado da família, tentava explica-lo. 

 

— Daniel!  

 

Ele ergueu os olhos quando ouviu a voz de Alice, que correu imediatamente até ele, inspecionou seus ferimentos e parecendo ficar satisfeita quando percebeu que não era nada grave, atribuiu-lhe um tapa na orelha.  

 

— Você sempre buscando novas maneiras de me causar um enfarto precoce. 

 

Jasper perguntou rapidamente à Daniel se ele estava bem, fazendo com que o rapaz baixasse os olhos e assentisse muito discretamente. Ele parecia querer dizer mais, mas por fim pediu para conversar com Peter e os dois se afastaram.  

 

Porque Dan havia feito questão de não olhar em direção à ela e ela não sabia muito bem o que sentir ou pensar ou fazer com àquilo, com sua raiva que ainda não havia sido apaziguada e com a preocupação em saber o que tinha acontecido, ela se aproximou de Thomas, que tentou dar um meio sorriso à ela. 

 

— Eu te devo uma, eu acho.  

 

Ele balançou a cabeça. - Dan deve, não você. Odeio separar brigas.  

 

Ela olhou em direção à Daniel, que se levantava e seguia um policial para dentro de uma sala, junto com o advogado e um homem de meia-idade trajando um terno, o pai de Josh. Alice, Jasper, Yuri e Fernanda conversavam com expressões preocupadas.  

 

— O que aconteceu, Tom? 

 

Ele deu de ombros. - O que imaginou. Eu tentei falar com Dan logo depois que me ligou, mas presumidamente ele não me atendeu. Então liguei para algumas pessoas para tentar descobrir se alguém sabia onde Josh costumava ficar e me disseram que às vezes ele usava aquele antigo galpão perto do Lincoln Center para juntar uma galera e fumar, beber e tal. Foi um tiro no escuro, mas fui pra lá e devo ter chegado uns cinco minutos depois de Dan. Claramente ele não estava usando nenhum dos seus dois neurônios quando chegou, porque Josh estava com quatro amigos e ele partiu para cima dele mesmo assim. Não quero nem pensar o que teria acontecido se eu não tivesse ido. Em algum momento algum passante chamou a polícia e a sorte é que estávamos em menor número, o que conta um pouco em nosso favor, mas ainda assim foi Dan que iniciou tudo. 

 

Ela concordou com a cabeça, então se forçou a perguntar. - E Josh? 

 

— Eu não sei, Angel. Ele estava desacordado no fim de tudo. - Thomas respondeu. - É torcer para que a situação dele não seja grave, porque do contrário tudo se complica. 

 

Pouco tempo depois, os três saíram da sala. O pai de Josh marchou em direção aos elevadores sem dirigir a palavra a ninguém, enquanto Peter se aproximou de Alice e Jasper. Daniel seguiu o policial novamente até o balcão no meio da sala, onde ele assinou alguma coisa e assentiu ao que lhe era explicado. 

 

Então assim, de um modo bem menos catastrófico do que esperava, Daniel foi liberado. Seus pais fizeram um sinal para ela, que se levantou e foi até eles. Pouco depois, todos eles deixaram a delegacia. 

 

E durante todo aquele tempo, Daniel e ela não trocaram uma única palavra. 

 

***  

 

Três dias depois, Thomas abria a porta do quarto de Daniel sem cerimônias e ouvia o grunhido do amigo vindo da cama. Ignorando o fato de sua presença não ser bem-vinda, abriu as cortinas para que a luz entrasse no quarto e arrancou o edredom de cima dele. Pouco se importou que o amigo estava vestindo somente uma cueca, porque a intimidade entre eles passava daquilo. 

 

— Você é o filho da puta mais sortudo do universo.  

 

— Talvez.  

 

— Talvez? Será que não passou pela sua cabeça por um minuto no que teria acontecido com você se Joss tivesse morrido? Ou se machucado seriamente? 

 

Daniel se sentou na cama e seriamente respondeu. - Não, não passou.  

 

Thomas balançou a cabeça, como se a resposta não o surpreendesse. Então, puxou a poltrona que ficava de frente para a escrivaninha para mais perto da cama, sentou-se e encarou o amigo.  

 

— Dan, é sério. Você precisa dar uma segurada nas merdas que anda fazendo. Nem tudo seus pais vão poder resolver, sabe. Acho que precisa começar a pensar que algumas coisas têm consequências à longo prazo.  

 

Daniel trincou o maxilar e mal sentiu as mãos cerrando em punhos. - Como o fato de Josh ter estuprado Angelinne e ninguém ter feito nada? 

 

Thomas suspirou, sabendo que aquilo viria em algum momento e buscou no seu arsenal responsável de palavras a maneira como um adulto responderia àquilo.  

 

— Dan, eu entendo que você... 

 

— Não, você não entende nada. Se você entendesse teria... 

 

— Daniel. - Tom o interrompeu, sentindo sua própria raiva começar a borbulhar. - Eu sei que pensa que todos fomos negligentes, que alguém devia ter quebrado a cara dele mais cedo, que alguém devia ter agido... O que você não está levando em consideração é que estávamos todos respeitando o que Angel queria e ela nunca quis prestar queixa, ela nunca quis que ninguém quebrasse a cara dele, ela nunca quis nada disso. E independente do que eu acho ou você ache, a decisão é dela. Ou você acha que foi fácil para os pais dela aceitarem isso? Como diabos você acha que eles se sentiram? Mas nada disso importa, porque o mínimo que qualquer pessoa podia fazer era respeitar a vontade dela, concordando ou não.  

 

Dan se calou diante daquilo, esfregou as mãos no rosto e se arrependeu em seguida porque se esqueceu dos machucados que arderam em resposta.  

 

— Olha... Thomas continuou tentando amenizar a situação. - Acho que todo mundo já esteve onde está; logo depois de descobrir o que houve, digo com certeza que cada um teve que suprimir o impulso de fazer algo e de externalizar essa raiva. Eu entendo. E eu entendo o quão difícil isso deve ser considerando o que sente por ela.  

 

Ele esperou que o amigo negasse, que zombasse do que estava dizendo e que agisse como de costume, que entregasse a performance que eles já haviam executado por tanto tempo. Daniel não contradisse, nem o encarou na verdade. Considerando a situação, a negativa seria no mínimo um insulto.  

 

— Mas Dan, não é sobre o que você quer ou o que você acha ser certo ou o que você precisa fazer. É sobre ela, do início ao fim. O que ela quer, o que ela acha certo e, mais importante, sobre o que ela precisa. E você vai ter que dar um jeito de entender, aceitar e respeitar isso, se quer ter alguma chance com ela.  

 

— Não importa o que eu quero, Tom. - Dan respondeu pesadamente. - E principalmente agora eu entendo isso e entendo o porquê. Eu sei que está certo, em tudo isso que falou. Mas eu não tenho chance nenhuma com ela e nunca vou ter. 

 

— Engraçado você dizer isso porque Angel veio pra cá comigo para falar com você. 

 

Dan virou a cabeça em direção a ele depressa e fosse as circunstâncias um pouco menos sérias, Thomas teria rido da expressão em seu rosto.  

 

— Talvez você esteja errado quanto a isso, então. De todo o modo, acho que deve um pedido de desculpas a ela.  

 

E sem mais delongas, Tom se despediu do amigo e saiu do quarto. 

 

Depressa Dan levantou da cama e procurou no armário uma camisa qualquer para vestir e pegou o primeiro jeans jogado no chão que encontrou, enfiando pelas pernas de qualquer jeito. Então recolheu as outras roupas que estavam jogadas no chão e as depositou de maneira displicente no chão do armário, fechando a porta do mesmo em seguida. Perguntou-se porque fazia aquilo e de que importava. 

 

Pensou tardiamente na sua garrafa de vodca quase vazia ao lado da cama e quando se movia para tentar esconde-la, houve uma batida na porta. Ele empurrou a garrafa com o pé para debaixo da cama e murmurou um “Entra”.  

 

Cautelosamente, Angelinne girou a maçaneta e deu um passo para dentro. Viu Daniel sentado na cama com os braços cruzados e uma expressão fechada no rosto, e se questionou de novo porque estava fazendo àquilo.  

 

— Oi.  

 

— Oi.  

 

Após um tempo de silêncio, ela disse. - Soube que eles não irão prestar queixas contra você. 

 

— Não sei se eles não queriam o escândalo ou se o pai dele achava que Josh merecia a surra, mas no fim sim, podia ter sido pior. Eu tenho que manter uma distância dele, porém.  

 

— Você não deveria ter ido atrás dele. 

 

Dan estava fazendo o possível para evitar olhar para ela, mas simplesmente era impossível, então ele o fez. Ela estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo e tinha os braços cruzados ao redor do corpo; ela parecia pálida demais, triste demais. Dan entendia cada vez mais porque ela sempre tinha lhe odiado, perguntou-se se ela via um reflexo de Josh quando olhava para ele. Tinha certeza que sim. 

 

Enojado com si mesmo, ele desviou o olhar. - Eu sei que não, eu sinto muito. E eu não tenho o que dizer, Angelinne, de verdade. Eu decidi por você, de novo, por causa do que eu estava sentindo. Eu sabia que não devia e eu fiz mesmo assim, essa é a pessoa que eu sou.  

 

— Essa é a pessoa que você escolhe ser. - ela corrigiu com a voz baixa. 

 

— É a mesma coisa. 

 

— Não, Dan, não é nem de perto a mesma coisa. - ela hesitou e por fim se aproximou, sentou na cama de frente para ele. - Eu sabia que não daria em nada denuncia-lo, sei o que dinheiro faz. E eu sei o quão hipócrita isso soa considerando que eu quero fazer Direito, mas é diferente quando se está desse lado ou talvez eu simplesmente seja covarde... 

 

— Nunca diga isso. Nunca... 

 

— Eu sei que não sou. - ela o interrompeu. - Eu sei que não, é só um sentimento que surge quando penso nisso às vezes. Eu já me questionei muito se estava fazendo o certo, já questionei o que minha decisão significava sobre a minha escolha de carreira, já me julguei e já me intitulei fraca. E por fim, eu entendi que cada um tem uma experiência diferente sobre o que precisa para seguir em frente e percebi que minha falta de fé na justiça agora é exatamente a razão que me faz saber com mais certeza do que quero, me faz ter certeza no que quero fazer de diferente como advogada. Mas antes de mais nada, eu fui uma vítima e eu aceitei que a minha forma de cura era deixar ir. Era deixar ir a raiva, o medo, o desespero, a culpa. Eu comecei a sair com ele ciente do que ele queria, fui até a casa dele ciente do que ia acontecer, e na hora percebi que não era o que eu queria, que não estava confortável e que não era a hora para mim, mas ele, assim como muitos outros, não entendem ou respeitam o conceito de consentimento. Então, ele se sentiu no direito de decidir por mim, ele se achou no direito de fazer o que queria com o meu corpo. E eu já me culpei muito, Deus, como eu já me culpei... Por cada mínima decisão, por ter ido, por ter escolhido sair com ele, por não ter tido força de impedi-lo... Eu já me culpei por absolutamente tudo e depois de um processo longo que envolveu o apoio incondicional dos meus pais e da família, o acompanhamento com minha terapeuta e frequentar grupos de apoio, onde conheci tantas histórias similares à minha e extremamente individuais ao mesmo tempo, eu entendi que a culpa não foi e não é minha, de nenhuma maneira, por nada. Eu sofri uma violência e a responsável por isso não sou eu, eu fui uma vítima, mas não é quem eu sou, o que sou, e por isso eu decidi deixar ir. E eu não espero que entenda ou concorde e não preciso de sua aprovação para nada, é minha vida. Eu só quero que entenda que você não tirar a decisão das mãos de alguém, por melhor que seja sua intenção e eu sei que sua intenção era boa, Dan. Eu sei que seus motivos foram egoístas também, mas eu sei que estava preocupado e estava preocupado porque ter que encontrar com Josh é extremamente difícil para mim e sei que isso ficou claro para você. Então eu sei que no fim você queria entender qual era o problema. E se posso ser honesta, preciso dizer que a ideia que a ideia de Josh sem alguns dentes me causa uma satisfação nada saudável, mas real. Mas não é o que quero e nem o que preciso, o que eu quero e preciso é seguir a minha vida, sabendo que sobrevivi ao que aconteceu comigo e sobrevivo todo dia e essa é minha resistência, essa é a minha justiça.  

 

Daniel não sabia uma única palavra adequada em resposta, e talvez nada do que ele pudesse dizer seria adequado. Então a primeira coisa que ele fez foi segurar a mão dela e agradecer silenciosamente quando ela permitiu.  

 

— Eu queria que ele sentisse uma parcela da dor que causou em você. E eu sei que isso não diminui em nada a sua dor. O que eu queria fazer tinha a ver comigo e só, era eu que não suportava a ideia de não fazer nada. Mas isso não importa. Eu só queria poder te ajudar de alguma forma. 

 

— Você pode. Me ouça, me respeite e, principalmente, não estrague o Musical. - e ao final, ela adicionou um sorriso. 

 

Ele não sorriu de volta, mas assentiu. - Eu posso fazer isso. 

 

— Eu sei que sim. 

 

*** 

 

Angelinne temia que ele passasse a trata-la como uma boneca de porcelana depois disso, mas ela felizmente estava errada. Ela tivera que lutar com seus próprios pais para manter a ideia de que não era frágil e não havia sido uma boa experiência. 

 

Eles retomaram aos ensaios normalmente e Daniel estava agindo como de costume, ou talvez nem tanto porque havia parado completamente com as piadas maliciosas e com os sorrisos sugestivos. Ela não sabia ao certo se estava grata por isso ou não, pois não estava certa sobre o que seus sentimentos por ele eram. Ou talvez não quisesse estar certa. 

 

Quando sentiu os olhos pesando mais uma vez querendo se fechar, ela olhou de soslaio e viu que sua avó Carmen ainda recitava animadamente um trecho do livro O Morro dos Ventos Uivantes enquanto suas amigas ao redor ouviam atentamente, cada uma carregando uma cópia do livro em questão nas mãos. 

 

Suspirou pesadamente e sua mãe segurou sua mão em repreensão, lançando lhe um olhar de reprovação. Angelinne amava a sua avó, mas ter que participar do clube do livro que ela organizava uma vez por mês era massacrante. Ao menos se ela escolhesse livros menos pretenciosos e mais socialmente relevantes, ela se interessasse mais.  

 

Para passar o tempo, ela pegou o celular e o escondeu na frente da cópia de seu livro; qualquer um que olhasse para ela imaginaria que ela estava acompanhando o trecho que sua avó lia com atenção. Deparou-se após algum tempo abrindo a janela do chat com Daniel. 

 

Imagine só que adiei o ensaio para ser sufocada sob ondas violentas de um tédio massacrante

 

Menos de dois minutos depois ela viu as reticências indicando que ele digitava algo de volta e ela se repreendeu pela satisfação instantânea que aquilo causou. 

 

Clube do livro indo bem, eu imagino. Qual a sua desculpa para estar com o celular nas mãos? Ebook

 

Angel deu um pequeno sorriso em resposta e pensou que o ebook era uma ótima ideia. Usaria no próximo clube no mês seguinte. 

 

Não, escondendo o celular dentro do livro mesmo, mas você me deu uma ótima ideia para a próxima vez.  

 

Angel percebeu sua mãe a lançando mais um olhar de um jeito que pensou ser discreto e ela encolheu os ombros, ajeitando melhor o celular entre as páginas do livro. 

 

Vou ser legal com você, como de costume. Por acaso estou perto da casa de sua avó e veja só, com a agenda livre. Precisa ser resgatada? 

 

Era tentador demais e ela tinha certeza que ele sabia disso. Observou sua avó novamente, mordeu o lábio e sentiu quando Fernanda bufou ao seu lado. 

 

Ela sussurrou quase sem mover os lábios. - Vá logo, Angelinne. Ela não vai reparar. Só esteja de volta antes das sete. 

 

Angelinne não estava certa se sua mãe estivera lendo suas mensagens ou se o desejo por liberdade estava assim tão nítido em sua expressão. Ela não parou para ponderar muito, porém, não queria pressionar sua sorte. 

 

Acho que estou desesperada o suficiente para isso. Tempos sombrios, com certeza

 

Após enviar a mensagem, ela aguardou mais cinco minutos e da forma mais sorrateira que conseguiu, sorriu inocentemente para a mãe e se levantou do sofá. Seguiu pelo corredor como se fosse ao banheiro e então virou no hall de entrada. 

 

Fernanda se aconchegou no sofá após a filha sair, sentindo uma mistura de diversão e preocupação, e se forçou a relaxar. Ela bem queria proteger a filha do mundo, mas sabia que não poderia e que não era lugar dela. Torcia então para que a própria menina se protegesse. 

 

***  

 

Qualquer um pensaria que eles eram um casal se os visse sentados lado a lado no High Line Park, observando a cidade e as pessoas; não porque estavam abraçados ou dividindo uma proximidade íntima, mas porque havia um ar de puro conforto entre eles que quem os conhecia e sabia de seu histórico jamais acreditaria existir.  

 

Ao menos, era isso que Dan pensava. Para ele, havia alguma coisa ali que não estivera antes e ele não sabia como ou porquê havia mudado, se tinha a ver com a forma totalmente honesta que ela tinha se aberto com ele, mesmo depois de ele ter invadido por completo a sua privacidade. Ele nunca teria pensado que ela reagiria bem depois do que ele fez e não entendia ainda porque ela tinha o feito. 

 

Havia tanto sobre Angelinne que ele não entendia, ela era bem mais complexa do que jamais havia considerado; mas todos eram, ele supunha. Todos eram muito mais do que pareciam ser.  

 

Ele observou quando ela enfiou a colher dentro de seu pote de sorvete e franziu o cenho ao perceber que havia acabado; desapontada por um momento, fez um bico e então colocou o pode vazio ao lado, voltando a olhar a cidade através da parede de vidro.  

 

— Eu absolutamente adoro esse lugar, ele foi transformado em um palco para observar a cidade, não acha?  

 

De fato, o famoso parque suspenso na região do Chelsea costumava ser uma antiga ferrovia e pela extensão dele alguns dos trilhos ainda foram preservados para que pudéssemos ter a experiência do passado e presente se mesclando. E havia partes do parque onde paredes de vidro foram instaladas especialmente para a contemplação da cidade, mas ela empalidecia perto do que era observar Angelinne, a ponto que ele se esqueceu de responder. 

 

Quando percebeu que ela não respondeu, ela o encarou e sorriu envergonhada. - Acho que meu amor por Nova Iorque está aparecendo. 

 

— Está, mas não o esconda. 

 

Ela corou e depressa virou o rosto para o outro lado. Daniel tentou se lembrar se já tinha visto Angelinne corar antes, mas acreditava que não. Que engraçado pensar que ela escondia a sua reação a um elogio, mas escancarava suas respostas afiadas quando pensava ter sido ofendida. Ela quem era objeto de contemplação. 

 

Como se precisasse reestabelecer as regras do jogo, ou o controle sobre si mesma, ela o encarou novamente. - Acho que está colecionando hematomas. 

 

— Ossos do ofício.  

 

— Que ofício, Dan? O de procurar problemas? 

 

Ele deu de ombros e desviou o olhar. - Cada um faz o que sabe. 

 

— Triste pensar que acredita que é a única coisa que saiba fazer. - ela balançou a cabeça com pesar e não se surpreendeu quando não recebeu resposta. - Você é um músico incrível e é um baita desperdício que não busque fazer algo com isso.  

 

E lá estavam eles entrando em um dos assuntos que ele mais desgostava de debater. Com um longo suspiro, ele sentiu quando toda a sua postura mudou e ele voltou a olhar para frente, ao invés de na direção dela. 

 

— E é claro que já ouviu isso muitas vezes e não quer ouvir mais uma. - ela decidiu, lendo-o perfeitamente. Por fim revirou os olhos. - Eu não consigo decidir se é o medo ou a teimosia que toma decisões por você. 

 

— Você acha que me conhece por completo, não é mesmo? - ele constatou, sem olhar para ela. Então ele deu um sorriso sem humor. - Eu não consigo decidir se é a sua presunção ou sua ingenuidade que pensa as coisas por você. 

 

Esconda o horror com humor, clássico Daniel. Angelinne sabia bem que quando ele começava a se sentir acuado, voltava a atacar. Ela havia passado tanto observando Dan a partir de uma projeção que ela tinha criado que era engraçado a clareza com a qual ela conseguia enxerga-lo agora. 

 

— Você não é tão difícil de ler quanto pensa. É tipo uma obra de arte que você passa horas e horas tentando entender, e quando finalmente consegue interpretar, pensa que era óbvio desde o princípio e se pergunta como não enxergou antes. Cada mínimo detalhe passa a fazer sentido. 

 

— Eu não sei qual sentido é esse que pensa ter descoberto, mas te garanto que está errada. Não sou nenhuma obra de arte, Angelinne. Eu me surpreendo ouvir você dizendo isso. - e porque sentia que aquela conversa estava perigosamente ameaçando desestabiliza-lo, ele deu uma piscadela. - Quem ouve pode até pensar que você gosta de mim. Seria o apocalipse. 

 

Ela ficou calada por um momento e então disse em um sussurro. - Acho que já é. 

 

E estava ali a habilidade genuína que ela tinha de fazer com que ele perdesse a habilidade de raciocínio ou a coordenação de discurso. Ela olhou para ele com uma expressão confusa que beirava à irritação, como se ele fosse um quebra-cabeças que ela tinha acabado de desvendar e não gostava do resultado. 

 

Mas havia algo na expressão dela que ele reconhecia bem demais porque lutava com aquilo há muito tempo cada vez que estava perto dela; sendo absolutamente sincero, talvez lutasse com aquilo antes mesmo de admitir para si mesmo que era ela quem causava tudo: anseio.  

 

— Angelinne. - a voz dele soou falhada, quase prestes a quebrar. Talvez ele estivesse quase prestes a quebrar. Ele ligeiramente tocou seu dedo indicador no dela, quase um ensaio de toque. - Nós temos um acordo, lembra. 

 

Ela olhou para os dedos se tocando, olhou para ele. - Eu lembro. 

 

Ele então entrelaçou os dedos nos dela. - E você vai perder. 

 

Ela assentiu com a cabeça, então balançou a cabeça como se tivesse acabado de lhe ocorrer uma epifania. - Ou vou ganhar. 

 

Então ela se inclinou em direção a ele e o beijou. 

 

E ela tinha certeza que seria como da primeira vez, na verdade ela não imaginava que pudesse ser de outra forma com ele; ela esperava sentir de novo a explosão, a urgência, a pressão intensa que beirava o exagero, esperava que ele a tocasse como se quisesse tomar conta de tudo o que ela era. 

 

Não foi isso que ele fez, porém. No primeiro momento ele nem ao menos se moveu, a ponto de Angelinne se questionar se era possível que ele não tivesse percebido o que estava acontecendo. E quando ela estava quase insegura o suficiente para recuar, ele enfiou uma mão por dentro do cabelo dela e a puxou para mais perto dele. 

 

Ele não a tocou de nenhuma outra maneira, apenas moveu os lábios e a língua como se quisesse engoli-la por completo, mas sem resquício algum de pressa ou agitação, era uma degustação demorada centímetro por centímetro, atribuindo valor a cada segundo. 

 

E cada um daqueles segundos se traduzia em ternura, a ponto de ela sentir lágrimas se formando nos cantos de seus olhos. Aquele era o Dan músico, ela tinha certeza, e aquele era o Dan que ela passou muito tempo sem saber que existia. 


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