A Deusa Perdida escrita por mari mara


Capítulo 29
Amo você, você me ama, somos uma família feliz – II


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Como prometido, aqui está a parte II! Espero que gostem :D



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29. Amo você, você me ama, somos uma família feliz – parte II

Point of View — Nico di Angelo

Semideuses costumam ter sonhos com premonições de eventos passados e futuros, então eu não estranhei quando, depois de voltar do cemitério de Washington e me dar ao luxo de finalmente ir dormir, sonhei com pessoas que nunca vi na vida.

Era uma salinha bege, com uma mesa de madeira puída no centro e algumas cadeiras aos pedaços em volta, e havia um cara e uma mulher brigando. O cara usava um sobretudo, como se estivesse muito frio, e um chapéu felpudo esquisito. Ele gritava com a moça, que usava um vestido muito simples, numa língua que eu não conseguia entender. Ela gritava de volta com ele na mesma fala incompreensível e chegava a empurrar o cara, com raiva, algumas vezes. A única coisa que entendo na conversa é quando, no meio de uma frase gritada, o cara chama a mulher de 'Nebavskaya'. O mesmo nome de família que Tânatos usara pra se despedir de Hannah.

Acordo quando alguém joga um troço na minha cara. Resmungo algum xingamento qualquer e tiro a coberta da minha cara, vendo uma Rachel de braços cruzados do lado da cama.

— São três da tarde, di Angelo. Dê o troco da cama, uh?

Me viro pro outro lado, grunhindo. Eu e Han demoramos pacas no correio olimpiano, porque nossa caixa (sim, viemos encaixotados. É uma experiência que não recomendo a ninguém) foi parar de alguma maneira milagrosa no México e depois na Disney World de Orlando. Depois de eu torrar toda minha mesada em dracmas em três horas, fomos cuspidos de volta pro trailer, mas isso já eram mais de oito da manhã. Isso quer dizer que eu consegui dormir, no máximo, sete horas nessa noite.

'Noite'.

— Vamos logo, preguiça — Rach me cutuca — Você já tem tendências hadísticas a dormir de dia e ficar acordado de noite, então não ajude a genética.

— Nah — se ela soubesse o porquê, talvez me deixasse dormir. Sete horas é pouco pra mim — Me deixe em paz e vá incomodar os outros — cubro meu rosto com o travesseiro, mas a ruiva o arranca de minhas mãos sonolentas com facilidade.

— São três da tarde.

— Vocês ao menos estão fazendo algo útil lá fora? — rosno, tentando arranjar qualquer desculpa para voltar a dormir. Não me importo que sejam três da tarde, na madrugada fiz uma viagem nas sombras, uma evocação e ainda houve o troço do Correio Olimpiano. Isso requer uma energia do caralho, e agora cada músculo do meu corpo queima de dor. Tenho a impressão de que me levantar não ajudaria.

— Estar acordado já é algo útil — lanço meu melhor olhar de 'tá zoando com a minha cara', e ela dá um peteleco no meu nariz.

— Ai!

— Vá tomar um banho pra ficar perfumado perto da sua mina, rei dos fantasmas. Quando você acorda seu cheiro de terra de cemitério fica mais forte — Rachel faz uma pausa, pensativa — Mas parece que a Han não liga muito pra isso. Gosto pra homens, vá entender.

Sento-me na beirada da cama, já me sentindo um pouco (um pouco. Muito pouco) melhor. Parece que a Rachel não sabe de nada sobre nossas aventuras na madrugada, ótimo. Hoje será só um dia comum. Sem gritos por perambular por aí de noite, sem aniversários, sem aquela bobagem de 'hora de apagar as velinhas' e sei lá o que mais esse povo inventa pra me torturar.

— Você não pode dizer nada, garota que sonha em arrancar as roupas do Raio de Sol — cruzo os braços sobre o peito, me lembrando dos barracos que ela já fez por causa do Muke, também conhecido como a prova viva de que Apolo deveria usar camisinha com mais frequência.

Rachel suspira com uma expressão sonhadora, e eu balanço a cabeça em negação. Deuses, ela nunca vai superar.

— Com aquele corpinho ele podia cheirar a perfume francês estragado que eu não me importava, querido — Rachel rodopia pelo quarto, e sai saltitando pelo corredor. A visão dessa cena me deixa na dúvida se devo me atirar pela janela ou voltar a dormir, então na dúvida decido seguir a sugestão dela de tomar um banho.

Falando só de passagem, sabe aquele meu velho ditado de 'com grandes poderes, vem uma necessidade de tirar um cochilo'? Então, adicione grande necessidade de um banho quente também. Me arrasto até o banheiro e fico debaixo do chuveiro até a dor em meu corpo parar de queimar, o que leva alguns minutos. Acredite, viagens nas sombras e evocação dos mortos cansa pra caramba.

Quando estou de volta no quarto, já vestido, a porta se abre subitamente. Para meu desgosto, é a única pessoa que não me agrada a presença.

— Você não bate antes de entrar? — fuzilo-o com os olhos, enquanto tento lembrar onde joguei meus tênis quando voltamos. Que beleza, devem ter ido pra Nárnia.

— Nah. Perda de tempo — o filho de Apolo fala distraidamente enquanto procura algo no seu criado — Você não tem nada que eu nunca tenha visto, Playboy.

Olha, então foi aqui que larguei meus tênis, debaixo da cama do Percy e da Annabeth. Estranho.

— E se não fosse eu? Poderia uma das garotas. E ai, você teria problemas.

— Isso seria o contrário de problema, meu caro — ele sorri debochadamente, e reviro os olhos. Realmente, não há ninguém no mundo que eu goste menos do que ele. Cronos até parece um cara legal, pensando por esse lado.

Fico parado onde estou e fungo algumas vezes. Desde que Muke abrira a porta, um cheiro adocicado invadiu o quarto. Respiro fundo mais uma vez, e tenho a certeza: não é imaginação minha. Chamo a cria de Apolo pelo apelido nem-tão carinhoso de Solzinho.

— Que é? — ele se vira, com uma expressão entediada. Não achei que ele responderia pelo apelido.

— Que cheiro é esse? — pergunto, e ele franze a testa, confuso.

— Cheiro de quê?

— Se estou te perguntando é porque não sei, anta. Mas.. — inspiro novamente — É algo bom. Doce, tipo cookies.

— Ah, claro! Esse cheiro, óbvio. É minha deliciosidade.

Pausa.

— Você sabe que isso soou muito gay, não sabe? — pergunto. Ele ri, mais para si mesmo.

— É, sei sim. Combina com você — o ser humano tira algo do criado, que não consigo ver muito bem o que era porque ele logo guarda no bolso, e sai do quarto assobiando uma música qualquer do Nirvana. Respiro fundo, mantendo a calma. Se não quero bater na cara dele, terei que aprender a arte milenar da meditação.

Sinceramente, quem será que foi a mulher que soltou a franga com Apolo pra gerar esse ser humano? O deus Sol já é um cara de pau narcisista e a mãe devia ser a maior passadora de rodo da cidade, porque o Muke é o maior exemplo de metrossexual sem vergonha que a sociedade jamais vai conseguir repetir. E ele ainda diz que eu sou o Playboy daqui.

Minha barriga ronca alto, e então lembro que estou desde a noite do dia anterior sem comer nada. Ando até a cozinha, achando que encontraria alguém tomando café por lá, mas eu estava errado. Enfim, eu estou errado em 90% das vezes, então tudo bem. Quando abro a porta do armário, ele está vazio. Também não tem nada em cima da mesa, o que é estranho porque sinto cheiro de cookies vindo de algum lugar (ah não desculpa, é a 'deliciosidade' do Muke. Esqueci).

— Percy, o que você fez com a comida? — grito, mas ele não responde. Resmungo algum palavrão, irritado. Além de me tirarem da cama, somem com meu café da manhã às três da tarde — Perseu Jackson!

Mais uma vez, ele não dá sinal de vida. Chamo os outros, mas nenhum se pronuncia. Franzo (deuses, que palavra feia) a testa, ressabiado. Rach e Raio de Sol estavam no quarto a minutos atrás e estamos viajando numa estrada, eles não poderiam ter saltado em algum lugar com o trailer ex-Restart em movimento.

Volto pro corredor e vejo que a porta da sala está misteriosamente fechada, ao contrário de há dois minutos.

— Pessoal? — bato com o nó do indicador na porta de leve, e continuo sem resposta. Mas posso jurar que escutei risadinhas abafadas vindo do outro lado. Semicerro os olhos. Não quero nem saber o que é que estão tramando, embora não seja difícil imaginar.

Abro a porta devagar, e minha suspeitas se mostram reais.

— Feliz aniversário, Nicolau! — todos gritam ao mesmo tempo (menos Muke, o que é esperado) jogando serpentina na minha cara. Não entendo essa necessidade de me chamar de Nicolau; quantas vezes preciso explicar que Nico é um nome, não apelido? Mas de qualquer forma, complexos de identidade podem ficar para depois. Eles estão com chapeuzinhos de festa na cabeça, e Orchard segura uma bandeja de cookies azuis com uma vela no centro.

— Me falem que vocês não fizeram isso. Por favor — fecho os olhos. Santo Hades, eu vou matar a Hannah.

Ah, droga. Ela é imortal.

— Parabéns pra você! — fico parado com cara de tacho enquanto eles cantam parabéns pra mim, sem saber como reagir. É daqueles momentos que você não sabe se chora ou se ri.

Mas então começam a cantar 'com quem será', e sei muito bem o que falar.

— Opa, parabéns até vai, mas me recuso--

— É COM A HANNAH!

Aperto a ponte do nariz, embora esteja rindo de nervoso. Eles são umas pestes, deuses. A única pessoa que parece indisposta a cantar era (ironia!) a deusa da música, que gira o indicador na altura da orelha, insinuando que eram todos doidos. Vai entender esse povo, diz ela, sem emitir nenhum som, só com o movimento dos lábios.

— Por favor, me digam que vocês não fizeram isso. Sério mesmo — cubro o rosto com a mão quando eles terminam, sem acreditar. Eu detesto aniversários. Achei que tinha deixado isso bem claro no cemitério.

— Mas é claro que fizemos! — diz Annabeth, me abraçando. Me desvinculo dela rapidamente, mas pelo jeito que ri, não acha ruim — Você está ficando mais velho e para um meio-sangue isso é algo a comemorar, seu besta.

Pensando por esse lado, é verdade. Semideuses não passam da adolescência, muitas das vezes.

— Mal acreditamos quando a Han nos contou, da Vinci — Percy bagunça meu cabelo que já é naturalmente bagunçado — Por que não disse nada?

— Bom, talvez porque eu não goste de aniversários — fuzilo a loura de mechas coloridas, mas ela se faz de inocente.

— Não gostava porque nunca teve uma party hard que nem a nossa — ela aponta pro próprio chapeuzinho, que tem o desenho daquele dinossauro roxo de programa infantil. O engraçado era que Muke estava no canto com o mesmo chapéu, de cara de bunda. Ele parecia uma criança emburrada por não ter o que quer.

— Tem razão, esse tempo todo era o Barney que faltava — digo.

Rachel empurra Annie pro lado e apoia o braço no meu ombro.

— Você gostou? A idéia foi minha!

Eu já ia dizer que estava sendo irônico, quando Orchard chega na minha frente e levanta a bandeja, colocando a vela na altura do meu rosto.

— Apaga la vela y pide tu deseo, Niquito.

— Pedir que você nunca mais o chame de Niquito é válido? — pergunta Percy, e o Orchard mexicano dá de ombros.

—Tal vez. Pero tú no puedes decir que era el deseo para nosotros.

Não acredito que vá se tornar realidade, mas ora, os deuses podem estar de bom humor hoje. Não custa nada tentar. Penso por alguns instantes o que pedir e logo após sopro a chama, e mais uma vez jogam serpentina na minha cara. Virei musa de Carnaval agora, por acaso?

— Ok, chega de confete, por favor — digo, batendo a serpentina da roupa. Minha blusa antes preta está multi-colorida, agora — Isso já é abusar da minha boa vontade.

— Uai, é por nois de mió gosta docê — o velho Orchard caipira me entrega um dos cookies, que para minha surpresa é muito bom. Minha barriga roncante (?) logo pede mais — Ieu quem fiz — diz o garoto, orgulhoso.

— Olha só Orch, se nada der certo você pode ser cozinheiro — falo enquanto como outro, e ele parece tímido pelo meu (quase) elogio. O Orchard caipira é bem mais acanhado que o Orchito mexicano. Maldito Jano, ele nos paga.

Annie pega uma caixa que estava em cima do sofá e me entrega.

— O presente do Orchard foram os cookies, e esse foi de todo mundo — diz Percy, passando o braço pelo meu ombro — Foi meio difícil arranjar a tempo, mas parece que Tique estava do nosso lado. Chegou meia hora antes de você acordar.

Abro a caixa desconfiado, e a primeira coisa que vejo é um porta retrato com uma foto que eu nem sabia que existia. Nela, eu estava deitado de bruços na cama com o cabelo bagunçado, espetado em todas as direções possíveis. A minha volta estavam Percy, Annie, Rach e Orchard apontando para mim com os chapéus do Barney e cara de retardados, enquanto Hannah segura um cartaz escrito 'você dorme como uma princesa!'

— Quando vocês tiraram isso!? — pergunto com a voz esganiçada, sem acreditar na criatividade das pessoas. Eu, aquele que sempre evita câmeras, estou eternizado numa foto de pijama, dormindo e praticamente babando no travesseiro.

— Hoje de manhã — responde Rachel, rindo da minha cara perplexa — Quem mandou ter sono pesado? Eu queria ter feito uma pintura, mas sua pose de Bela Adormecida deu a ideia pra gente.

Balanço a cabeça. A que ponto esses baderneiros chegaram.

— Vocês são impossíveis, deuses — rio, olhando pro porta-retrato mais uma vez. A Rachel está ótima, os olhos verdes vesgos e a língua pra fora. Olho pra ela — Nunca vou conseguir esquecer isso cara, nem que eu tente.

— Eu sei que sou diva, obrigada — o Oráculo faz uma reverência teatral, que me faz revirar os olhos — Mas, ah, não é só isso, não! — diz ela de repente, como se tivesse acabado de se lembrar de algo — Cadê a outra caixa, alguém sabe?

Hannah cutuca o Muke emburrado no canto. Ele tira uma caixinha menor do bolso, de no máximo cinco centímetros de largura, e a entrega. Ah, então é isso que ele foi caçar no quarto.

— Achou que teríamos gastado toda nossa criatividade só com uma foto? — diz a quase-deusa, me entregando o bagulho. Abro e vejo que nela há um anel completamente preto, parecido com o que meu pai usa. Ele não refletia nenhum brilho, como se tivesse sido pintado com piche. Na parte de dentro há uma inscrição em branco, que tenho que apertar ligeiramente os olhos para ler.

— “Ohana quer dizer família”? — leio — Por acaso vocês estão me pedindo em casamento?

— É isso mesmo, Nicodemo — responde Percy. Legal, agora além de Nicolau tem Nicodemo também — Estou te propondo em casamento, meu amor — ele abraça minha cintura, e eu logo o empurro pro lado.

— Tá me estranhando, Perseu?

— Não, Nico. Acho que tenho que admitir logo de uma vez. Tanto tempo escondendo... — ele põe a mão no peito fingindo aflição. Annabeth murmura 'santa Atena, lá vamos nós de novo' — Tenho uma paixão ardente por você — diz Percy — É a verdade. Todo esse tempo fingindo amar a Annie, sendo que quem eu amava era você.

Rachel cobre o rosto com as mãos na hora que Percy beija minha bochecha, para esconder (de forma não muito eficiente) que está rindo descontroladamente.

— Obrigado — limpo a baba em meu rosto com as costas da mão — Mas entre na fila e espere sentado, porque tem muita gente na frente já.

— Quer dizer que nega meu pedido? Se for por causa da Hannah, não se preocupe. Ela já deixou. Na verdade, ela que vai celebrar o casamento.

— É verdade — concorda a filha de Zeus — Espero que sejam felizes na lua de mel. Eu e Annie estamos torcendo por vocês.

Coloco o porta retrato na frente do meu rosto, rindo. É impressionante como eles conseguem ser retardados as vezes.

— Tá legal, eu aceito seu pedido, Jackson. Mas será que agora vocês podem me dizer de verdade porque está escrito 'ohana quer dizer família'? — indago.

— Família quer dizer nunca mais abandonar ou esquecer — Annabeth me responde — E mesmo que não aconteça nenhum casamento..

— Não vai acontecer uma ova, aceite que foi trocada — Percy a interrompe. Ela dá um tapa na barriga dele, sorrindo.

— Continuando — Annie põe a mão no meu ombro, e olha bem nos meus olhos quando fala —, nós somos sua família agora senhor di Angelo, quer você queira ou não.

Fico calado alguns segundos. Bianca foi minha única proteção por tanto tempo, mas agora percebo que nos últimos tempos minha família tem sido um surfista lerdo com tendências homo, uma mini Einstein, uma pintora safada, um caipira mexicano e uma loura com certos problemas mentais. As pessoas têm razão quando dizem que familiares não são só de sangue. Se bem que, tirando a Rachel, eles realmente são meus parentes de sangue porque os deuses olimpianos são todos primos ou irmãos que cometem incesto e coisa e tal. Mas isso não vem ao caso.

— Gente, eu ainda sou contra aniversários.. — coloco o anel preto no meu polegar, e ele magicamente tem o diâmetro perfeito pro meu dedo. Bendito seja o sono pesado — mas vocês se superaram. Nem sei como posso agradecer, sério.

— Sorrir pra gente seria uma boa forma de agradecer — Rachel diz casualmente. Dou o melhor sorriso que consigo, mas não sou muito bom com essas coisas de sentimentalismo.

— É Michelangelo, vai precisar de mais alguns anos de prática — diz Percy, e respondo com uma cotovelada — Okay desculpe! Já é um começo.

Olho mais uma vez para a foto que eles tiraram. Ainda estou impressionado por não ter acordado com tantas pessoas apontando pra mim, mas pelos deuses, eu nunca nem imaginaria uma coisa dessas.

— E aí, gostou por eu não ter deixado você me impedir? — paro de encarar a cara de 'O Grito' da Annabeth na fotografia e vejo Hannah parada na minha frente, com os braços cruzados sobre o peito.

— Por mais que me doa admitir, sim — passo a mão na nuca, sem jeito — Obrigado por isso.

— De nada — ela parece satisfeita consigo mesma. Por algum motivo, isso me lembra a madrugada em Washington.

— Nós temos que terminar o que começamos hoje — não deixo explícito, mas por sorte ela entende que estava me referindo ao quase-beijo, antes de Hermes chegar na hora errada.

— Algum dia, quem sabe? Seria divertido — ela dá de ombros — E pra sua informação, eu te escrevi um negócio de aniversário — levanto as sobrancelhas, surpreso — É isso mesmo que você ouviu. Só que não vou te entregar, você tem que achar sozinho.

— Tenho que achar sozinho..? — repito.

— É isso aí. Está em algum lugar alcançável, e no dia que você resolver procurar, vai achar.

— Pode ao menos me dizer o que é? — ela balança a cabeça negativamente — Fala sério, como uma pessoa usando um chapéu do Barney pode ser tão má?

Ela ri.

— Assim, ó: pode ser uma música, um poema, uma carta ou um testamento. Mas não adianta reclamar, que não vou entregar. Boa sorte no caça ao tesouro.

Mulheres. Nunca as entenderei.

— Espero que saiba que isso não é justo — retruco.

— A vida por acaso é justa com algum de nós, meu caro? — Han sorri de lado e fica na ponta dos pés para beijar minha bochecha — Feliz aniversário, Nicolau — e ela vai atrás do Orchard, que estava levando a bandeja de cookies de volta pra cozinha.

É engraçado como sempre que acho que já a conheço, ela vai lá e me surpreende. Acho nunca vou saber quem é a Hannah de verdade, porque ela é como a caixa de Pandora. Assim como a coitada que trouxe os males ao mundo, eu estou nesse dilema de ou deixar contrariado o jarro trancado, ou descobrir o que tem lá dentro e causar um estrago.

Muke sai do canto que estava e anda pra perto de mim, o que não me deixa muito animado. Não achei que ele se daria ao trabalho de quebrar nosso acordo silencioso de nos ignorarmos o máximo o possível só porque eu passara a ser um ano mais velho.

— Parece que você finalmente saiu droga da casa dos treze, Defunto — diz ele, se apoiando na parede — Parabéns, eu fiquei um bom tempo preso nela.

— Tipo um ano? — pergunto sarcasticamente.

— Talvez — Muke tira o chapéu da cabeça e o observa por alguns instantes, até que resolve mudar de assunto — E o tal pedido? Algo que valesse a pena?

— Depende do que é valer a pena pra você — eu não pedi nada muito impossível, ou irreal. Na verdade, foi o mais simples o possível.

Que as coisas continuem dando certo, como estão agora, foi o que pensei quando Orchard disse para desejar algo. Muke ri sem humor no momento que me lembro disso, como se lesse minha mente.

— Só lembre que não são todos os deuses que estão do seu lado, Playboy — ele coloca o chapéu do dinossauro roxo na minha cabeça e sai da sala, assobiando a mesma música qualquer do Nirvana.


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Notas finais do capítulo

Hm, Muke misterioso demais pro meu gosto. Nada bom isso ai não, hein?

Mas o que acharam? Me contem nos reviews!

Até a próxima, pessoal! Meu prazo é um mês, mas como estou de férias tenho quase 90% de certeza que terminarei (bem) antes. Que os deuses abençoem essa quase certeza, risos



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