A Deusa Perdida escrita por mari mara


Capítulo 22
Alguém por favor me dê um dicionário de italiano


Notas iniciais do capítulo

LALALALA EU DISSE!! Me tornei uma autora responsável u-ú
Eu gostei desse capítulo *u* ainda mais a parte do leggiadra. Vocês vão entender HUEHEUHEUH
Até as notas finais! :D



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22. Alguém por favor me dê um dicionário de italiano

Parte I: Point of View — Rachel Dare

As palmeiras da Califórnia passavam como borrões pela janela. Eu achava que era proibido dirigir tão rápido dentro de uma cidade, mas pelo visto o Invi não era um motorista muito cuidadoso.

Talvez pelo fato de ele ser uma roupa falante.

Ah, sim, acho que devo explicar esse negócio de Califórnia. A última pista achada pela dupla caipira Branquelo e Estressadinha (lalala) sobre o próximo local da Clave, dizia "não queira ser um americano idiota". Não é preciso ser punk para sacar que se tratava dos caras do Green Day, pais da música American Idiot.

Por isso estávamos a dois dias com o pé na estrada para chegarmos logo a uma cidade de aproximadamente cinco mil habitantes. Ela ficava próxima a São Francisco, e de acordo com nossa enciclopédia musical ambulante foi onde o cantor e o baixista do Green Day se conheceram e tiveram as primeiras idéias sobre a banda.

Só que, mesmo sendo uma Nimrod (ou seja, fã dos caras) assumida, a própria enciclopédia musical ambulante não estava lá muito animada para voltar para a Califórnia.

— Eu não gosto desse lugar — Hannah resmungou, olhando feio para a cidade.

Suspirei. Essa garota não é fácil.

— Você nunca esteve aqui. Morava em Los Angeles, não em Crockett.

Ah, sim, a propósito esse era o nome da cidade. Crockett. Orchard estava a meia hora nos perguntando se era uma homenagem aos croquetes.

— Não me importa, Rachel. Eu odeio a Califórnia em geral. Não me importa se a Clave está aqui — ela suspirou — Fala sério, o Nico podia muito bem ter viajado nas sombras e pegado, enquanto a gente esperava em Nova York ou, sei lá, na Pensilvânia.

— Obrigado por lembrar que várias viagens nas sombras seguidas me fazem desmaiar — Nico revirou os olhos, sentado na janela.

Continuei tentando entender porque alguém detestava tanto um lugar tão lindo.

— Mas olha só as palmeiras! — insisti.

— Não me importo com as palmeiras — ela respondeu carrancuda, sem nem olhar para onde eu apontava.

— Bem... Olhe a quantidade de caras gostosos, então.

Nico me lançou um olhar mortal. Mas, ei, não é minha culpa se ela era tão teimosa que me fez partir pro golpe baixo. O importante é que minha fala atraiu a atenção da Han.

*Rachel Elizabeth Dare ganha outra vez!*

Nós duas amassamos nossas caras na janela, levando em conta que Nico estava sentado em uma parte dela e não fazia questão de se levantar para deixar a gente observar a paisagem.

— Olha aquele ali, na direita — apontei para um garoto moreno de uns dezesseis anos que andava pela calçada.

Ele usava jeans e uma camisa xadrez por cima da camiseta branca. Segurava duas baquetas em uma mão e um iPod touch na outra, pelo ritmo que fazia com a cabeça devia estar escutando rock. O rapaz seguia seu caminho tranqüilamente, sem notar que no sinal vermelho ao lado havia duas garotas babando por ele.

Meus deuses. O garoto era muito gostoso.

— Não entendo esses californianos — falei, chocada — Tão quente lá fora, e eles andando por aí vestidos. Deveria existir uma lei para no calor eles andarem au naturale.

Sabe o que significa au naturale no dicionário da Dare? Bem, o importante é que pelo visto, a Hannah sabia. eheheheh

— Rachel! Que mente pervertida!

— Admita que é verdade.

— Claro que não. Eu nunca faria isso. Não nesse nível. Pervo demais pra mim, hm.

Segurei o riso.

— Faria sim. Se fosse com um alguém específico, faria.

Hannah franziu a testa.

— Quem?

— Você sabe.

— Não sei não.

— Sabe sim.

Percebi quando a ficha finalmente caiu, porque ela olhou de soslaio pro Nico e enrubesceu.

— Cale a boca, Dare.

— Há há, se ficou vermelha é porque é verdade! — exclamei.

— Não é! Eu não estou vermelha! É só que... — ela arregalou os olhos — AI MEU DEUS, RACHEL, QUE RUIVO É AQUELE.

Aham, me engana que eu gosto. Tudo isso é armação pra me distrair. Fique sabendo, dona das nuvens, que eu nunca, jamais, em tempo algum, me distrairia de te irri--

O QUE QUE É ISSO MEUS DEUSES. QUE TIPO DE ABDÔMEN É ESSE DO RUIVO, APOLO APAGA A LUZ ASFKJHASFJHBASFJKASDBJHSAB

— Awnnnnn, eu adoro ruivos, eles são tão fofos! — Hannah suspirou, acompanhando o garoto com o olhar. A propósito, obrigada por me chamar de fofa indiretamente.

— Vai pegar o Orchard então — falou Nico, e eu quase dei um pulo. Depois de fangirliar, até esqueci que ele estava ali do meu lado.

Han ficou mais vermelha que o ruivo lá.

— Ahn...

Belo bem ou pelo mal, Annabeth apareceu enquanto arrumava o rabo de cavalo do cabelo. Para alguém que iria encontrar uma Clave, ela estava bem arrumada; dona Chase usava um vestido cinza prateado (mas o quê essa cor existe?) e uma sapatilha vermelha.

Nossa, Annabeth, quem te viu e quem te vê. Acho que o namoro faz isso com as pessoas, elas se vestem de forma mais fofa e tals. Só espero que quando eu ficar o Muke, eu não saia por aí de sapatilha.

— Nossa, Annie, tá indo arranjar namorado? — Hannah perguntou, aproveitando a intromissão.

— Ha ha. Muito engraçado. Fique sabendo que eu estou feliz com o Percy — ela sorriu daquele jeito que os apaixonados fazem. Argh.

— Tá, tá, enfim — interrompi os pensamentos apaixonados de coelhinhos e unicórnios e fadas pirlimpimpantes dela — o fato é, não por quem você se arrumou, mas sim por quê. Só vamos sair procurando um pedaço de metal, sei lá, numa floresta ou na Terra do Peter Pan.

Na melhor das hipóteses, seria numa padaria. Aham.

— É aí que você se engana, querida Rachel. Enquanto vocês ficavam aí de boa na lagoa, eu andei pesquisando — dessa vez ela sorriu normalmente — A clave não está no meio do nada, está num shopping center.

~~

Por isso meia hora depois eu estava em algum lugar do subsolo de um shopping em Croquete (ops, me desculpe, Crockett) com Annabeth e Percy. É, eu estava lá segurando vela pro casal 20.

E tipo, mais uma vez, o Muke ficou. Ai eu me pergunto, POR QUÊ. Eu por acaso joguei pedra em alguém na minha outra vida, hein? É isso, Zeus? Não é possível, até o garoto ruivo caipira veio, menos meu marido. "Aposto que no meio do caminho ele vai parar para cantar alguma garota, por favor", disse Hannah. E blá blá blá. Não é justo.

Mas devo dizer que ele não ficou muito irritado com isso. Acho que depois que ele e o Nico ficaram de dividir a cama (coisa que nesses dias eles tem evitado, geralmente eles brigavam até a Han chegar e mandar o Muke ficar no sofá) ele queria um tempo sozinho pra dormir.

Mas eu não reclamaria de ter ficado lá sozinha com ele, não...

Fala sério, eu até me arrumei para vir pra cá e seduzCOFCOF ficar bonitinha pro garoto. Digo, quase arrumei. Era só uma blusa do acampamento, mas isso não vem ao caso. A pobre da Hannah que eu e Annie obrigamos a ficar parecendo uma princesinha, porque fala sério, ela ficava muito fofa de vestido. Parecia a Rapunzel, só que de cabelo colorido e lápis preto nos olhos. É.

Porém os xingamentos que ela falou depois não eram nada Reais. Na verdade foram tão obscenos que eu mandei ela deixar a gente em paz e andar pelo shopping. E não é que ela foi mesmo? Mas ao menos o Percy insistiu pro Orchard ir junto com ela. Melhor assim.

Só que depois o Nico ficou tão puto com a gente que desistiu e foi embora também. É.

— Rachel!

Saí dos meus devaneios loucos e olhei pro Percy. Pelo visto, era lá pela quinta vez que ele chamava meu nome.

— O quê?

— Nós perguntamos se você acha que devemos ir por aqui.

Olhei para onde ele apontava. Era uma portinha, que tinha escrito ‘Carquinez Middle School, Crockett, CA. Recordações de 1980 à 1997’.

Nota dos leitores: Explica direito esse negócio!

BLÁ BLÁ BLÁ. BANDO DE APRESSADOS. TÔ INDO, A PRESSA É INIMIGA DA PERFEIÇÃO, SABIA? LALALALA.

Tá, de acordo com várias pesquisas na internet foi nessa escola, Carquinez Middle School, que Billie e Mike participaram de uma competição da escola e ganharam como a melhor banda. Uma das alças do troféu era uma das partes da Clave da Hannah, só que o diretor não sabia disso e simplesmente o doou para uma exposição sobre algumas coisa que a Annie comentou e eu não prestei atenção no shopping. O tempo passou e todas aquelas coisas escolares e inúteis foram entulhadas no ‘porão’.

Sei lá como que chama porão de shopping center, velho.

Com um pouco de manipulação de Névoa (créditos ao Percy, que finalmente aprendeu), passamos pela sala dos zeladores (ou ‘Galeria Técnica’, como disse Annie) sem sermos encomodados, e seguimos por um corredor que tinham várias portinhas. ‘Decoração de Natal’, ‘decoração de Páscoa’, ‘decoração de dia das crianças’, acho que esse lugar tem decoração até pro dia de São Nunca, meus deuses!

Olhei mais uma vez para a ‘Carquinez Middle School, Crockett, CA. Recordações de 1980 à 1997’. Eu estava com mau pressentimento, algo me dizia que as coisas iam desandar se fôssemos ali.

— Não sei se devemos... — quando os instintos de Oráculo falam mais alto, geralmente é uma boa idéia escutar — Talvez possamos perguntar.

Annie revirou os olhos. Pra ela deve ser difícil conviver com pessoas menos favorecidas por Atena, como eu.

— Nós usamos a Névoa justamente para não sermos pegos. Ai você vai lá e pergunta, acaba com o disfarce. Boa, Rachel.

— Garotas, não há mais o que fazer — Percy balançou a cabeça — É nossa chance.

Suspirei. Queria estar como Hannah, Orchard ou Nico, que estavam por aí andando no shopping. Mas não, eu fui lá e abri a porta infeliz.

Parece que não foi dessa vez que nós fomos ouvidos, senhor Oráculo de Delfos.

~~

Parte II: Point of View — Hannah

Eu não queria brigar com eles. Não mesmo.

Só que, caramba, eu tinha o direito de reclamar da minha roupa! Eu estava perfeitamente feliz com minha blusa do The Maine, mas ai a Annie e a Rach cismaram que eu deveria parecer mais fofinha e me jogaram pra um vestidinho. Sem motivo nenhum, foi só porque elas acharam que ficaria bonitinho. Sem motivo nenhum, tipo, oi? Qual é o sentido? QUAL!?

Pois é...... Agora pare de rir, por favor.

Eu xinguei tanto os deuses e o mundo, que a Rachel mandou eu dar uma voltinha por aí pra esfriar a cabeça.

Mas esse nem é o ruim. Se fosse pra eu ficar por aí andando sozinha eu tava feliz. Mas não, eu tinha que levar o Orchard junto. Enquanto eles partiam em uma emocionante aventura pelos cafundó do shopping (oi?) eu era babá de um ser altamente caipira. Já tentou correr atrás de um garoto de nove anos que nunca viu uma escada rolante? Não é pra qualquer um, não.

— Volta aqui, seu moleque endiabrado! — gritei enquanto corria atrás do Orchard.

Tirei um dos meus all star e joguei em sua direção. Um segurança se aproximou depois que acertou a cabeça do garoto.

— Vocês dois estão bem?

— Ah, claro. É que eu tropecei, e meu sapato voou no meu irmão. Ele esta legal — dei um sorriso Colgate pro cara.

O Homem de Preto franziu a testa, sem acreditar, mas mesmo assim não fez mais perguntas e foi embora.

— Iss dueu, sabia? — Orchard falou, com a voz fanhosa. Ah, por favor, não me faça ser babá de um caipira chorão, ainda.

Revirei os olhos.

— Agradeça que eu não estava de coturnos, Chico Bento. Eles doem pra caramba.

Acho que o all star de cano médio que eu fui relutante o bastante para não trocar não era macio que nem gelatina, mas eu estava concentrada demais pra isso.

Por quê? Bem, eu escutei um som familiar. A melodia de Slow Dancing in a Burning Room. Foi só olhar na direção e vi que era um garoto tocando guitarra numa loja de música.

AWKFJHASFKJBASFJHBAJSHFBAJSH

— Ocê reclama que ieu corro, má ocê merma corre tambéim — Chico Bento falou, quando me alcançou. Fiz o sinal de 'shh!' pra ele, a música era boa demais para ser interrompida. Só que no final fui eu quem interrompi. O guitarrista parou de tocar e levantou os olhos pra loira doida que o encarava.

— Ahn... Olá — ele falou timidamente — Eu te conheço?

Foi então que vi que, sim, eu o conhecia. Era o garoto bonitinho que andava na calçada (o de fones de ouvido, moreno). As baquetas que ele carregava aquela hora até estavam em cima da caixa de som.

ALÉM DE LINDO E BATERISTA ELE AINDA É GUITARRISTA, JESUS APAGA A LUZ.

— Meu Deus, você toca pra caralho!

Não me olhe assim, pelo menos eu fui uma pessoa normal e não gritei ‘ô lá em casa’. Sou doida, mas nem tanto.

Senti Orchard puxando a barra da minha saia insistentemente, tentando falar alguma coisa. Dei um tapa de leve na cabeça dele, como se dissesse espera, caramba!. Afinal, eu estava muito ocupada pensando em bancar o cupido pra Rachel (sim, eu pretendia jogar o garoto pra cima da ruiva. Talvez assim ela se desencantasse do bulustrucado do Muke).

— Obrigado — o garoto riu — Não é sempre que eu ouço isso.

Certo momento eu estava pensando se conseguiria trancar ele e a Dare em algum lugar do shopping, quando me peguei reparando que o benedito era ainda mais (acredite, muito mais) bonito pessoalmente. O cabelo castanho caía um pouco no olho, que era de um marrom acinzentado....

Parei de babar por cinco segundos e percebi uma coisa. É impressão minha ou ele se parecia com o Nico? o.o

— Alguma coisa errada? — o garoto perguntou, porque eu estava o encarando.

— Ahn... Não! É só que você se parece com... Com um amigo meu — olhei pro Orchard, que estava enroscado na minha perna que nem um garoto de cinco anos assustado — Não é verdade?

Só que ao invés de me ajudar, o diabrete piorou a situação.

— É devera, pareci sim — então ele falou pro garoto — Ocê si pareci cum o namorado dela.

Senti minhas bochechas fervendo.

— Orchard! O Nico não é meu namorado!

— Uai, se ocê diz... Má por que ele ti beijô, intão?

Wait. What. COMO??? AJSFHJKASHFAJKSKJASHFDGDFH

— Como você sabe que ele me beijou? — perguntei, atônita.

Ninguém sabe disso além de mim. E do Nico, naturalmente. Mas acho que ele estava tão chapado na hora que não deve se lembrar, sei lá.

— Ieu num sabia não — Orchard começou a rir loucamente — Má se ocê perguntô como eu sei é qui é devera!

Oh shit. Trollada por um filho de Deméter. PRA VER COMO MINHA VIDA É LEGAL.

— Tá Orchard, agora fica calado e vai lá comprar sorvete — apontei pro McDonalds e joguei uma nota de dez dólares pra ele, que saiu andando feliz. Pois é, as vezes o preço do sorvete aumentou, nunca se sabe.

O futuro marido da Rachel (que eu mentalmente apelidei de Ferdinando, porque esse nome é legal) piscou, tentando entender o que diabo tinha acontecido, mas acabou desistindo e desviou do assunto.

— Você toca?

Se ele soubesse.

— Aham. Sou pianista — dei de ombros. Não vem ao caso outras coisas que sou, desse jeito facilita a vida de todo mundo.

— Ah, porque aqui eles são legais. Não se importam que a gente bagunce um pouco — Ferdinando apontou pro piano — Você tem cara de quem toca bem, deveria tentar.

Já estava indo, quando me lembrei.

— Com licença, posso te fazer uma pergunta? É a primeira e última, juro.

— Claro — respondeu, sorrindo. Aw.

— Você gosta de ruivas?

O garoto piscou.

— De garotas ruivas? Ué, acho... acho que sim. Minha namorada é morena, mas ruivas são legais também.

Wait what. Namorada? .________.

É, acho que eu não sou um bom cupido mesmo não.

— Ah, era só curiosidade mesmo. Ahn, arrasa na guitarra aí, Ferdinando.

É, eu o chamei pelo apelido que eu tinha dado mentalmente. Eu meio que esqueci que ele não sabia, por isso eu dei meu jeito pra correr antes que Ferdinando pudesse me perguntar se eu tinha parado de tomar algum remédio pra loucura, ou sei lá.

Sentei no banquinho e fiquei passando os dedos nas teclas, tentando escolher uma música. Tinha tanto tempo que eu não tocava um piano daqueles, de cauda.

Você sabe, cauda é o compridão. Piano vertical é o fino, que ocupa menos espaço e ISSO NÃO VEM AO CASO.

Me lembrei de Clocks, e da primeira vez que a ouvi. Estava voltando da escola, e Muke ficou cantando o refrão no meu ouvido o caminho inteiro.

Aquele viado.

O lado bom é que no fim ela acabou se tornando umas das minhas favoritas. Apertei as primeiras notas, que são famosas internacionalmente.

Lights go out and I can't be saved, tides that I tried to swim against...

Eu só murmurava a letra, mas então o Ferdinando juntou a guitarra ao piano Algumas pessoas cantavam junto, outras eram mais tímidas e apenas balançavam a cabeça no ritmo. Tudo o que digo é que Chris Martin ficaria orgulhoso, foi tão lindo *chora de emoção*.

Quando acabou, me levantei e acenei com a cabeça para o Ferdinando (não, não vou parar com isso) e o povão todo que tinha se juntado à música. Saí da loja antes que eu tomasse posse do piano ou, sei lá, roubasse um banjo.

SEM ZUEIRA, O BANJO QUE TINHA LÁ ERA TOP. É.

— Nem parecia a mesma doida que vive me batendo, estou impressionado.

Quase dei um pulo, mas vi que era só o Nico recostado numa pilastra.

— Ah, obrigada — senti meu rosto ficando vermelho. Era estranho pensar que ele me viu tocando piano — Acho que vou precisar de um hobby desse tipo, agora que não posso ficar te batendo o tempo inteiro.

Ele sorriu, mas só de lado. Acho que vou ter que esperar alguns anos até ver o Nico sorrindo de verdade.

— E por que você não pode me bater o tempo inteiro?

— Ah... Não sei. Acho que porque você não se sente mais incomodado com meus tapas. Vou ter que arranjar outro jeito de provocar você, um jeito mais eficiente.

— Então vou esperar pacientemente até você descobrir, leggiadra.

Poker face. Do que ele me chamou?

— Claro, use francês no meio da conversa. Quando eu achar um dicionário eu te respondo.

— Não é francês, inteligente. É italiano — ele fez uma pausa, como se estivesse resolvendo se continuava ou não — Minha mãe era da Itália, por isso que eu falo. Mesmo que não goste de usar muito.

— Por quê? — foi mal aí se sou curiosa.

— Ah, é uma longa história — deu de ombros — Longa mesmo, você não quer ouvir.

— Quem disse? Quero sim — falei, cruzando os braços.

Nico me lançou um olhar severo.

— Não quer não.

Era a milésima vez que ele desviava desses assuntos. Mas deixo passar, porque eu não sou muito diferente.

— Você não deveria estar junto com a Rach e companhia? — mudei de assunto.

— Ah, eu estava. Só que Percy começou a discutir sobre o caminho com a Annie, ai eu desisti e voltei. Mas acho que conseguem achar sozinhos.

Entendo .-.

— Legal, agora o Quarteto Fantástico virou Trio Parada Dura.

Nico ignorou meu pequeno comentário retardado.

— Você não pode falar nada, cadê o Orchard?

— Ah, ele está bem. Descobrindo o McDonald's ou algo do tipo... Ei, não me olhe assim, ele vai ficar bem. O máximo de problema que vai conseguir criar é uma discussão sobre vegetais transgênicos com os atendentes — falei enquanto arrumava a porcaria do vestido.

Ah, como eu detesto esse negócio. Diacho.

— Tem certeza? — Nico perguntou, ressabiado.

— Absoluta. Eu sou uma ótima babá a distância, sério. — Nos sentamos num sofazinho, perto da praça de alimentação. Se o Orchard roubasse o alface de alguém (?) eu veria.

— Posso te fazer uma pergunta? — falei.

— Eu já te disse isso milhões de vezes, Hannah — ele colocou as mãos entrelaçadas atrás do pescoço — Você pode me perguntar o que quiser, só não sei se vou responder ou não.

Estreitei os olhos.

— Tá. Que seja. Eu só quero é saber o que é ‘leggiadra’.

— Ainda se perguntando isso? — ele riu — Não achei que era tão persistente.

— Aham, ainda quero saber, senhor da Vinci.

— Sinto muito. Eu não vou contar.

— Ah, por favor, você me viu de toalha. É o mínimo que pode fazer.

Mesmo enrubescendo (aquele dia foi tenso, sim), ele deu de ombros.

— Descubra sozinha.

Bati o pé no chão, indignada. Fala sério, eu teria que esperar até chegar no ônibus pra descobrir o que diabo é isso?

— Não é justo!

— A vida não é justa, leggiadra.

Que absurdo, isso non ecziste!

Eu ia protestar, dizendo que aquilo poderia ser uma ofensa contra minha pessoa e eu tinha o direito de entender, mas um grito agudo cortou o ar. Achei que era alguma criancinha infeliz que perdeu o balão, mas percebi que não era qualquer uma. Era nossa criancinha infeliz que perdeu o balão. Aquela que eu deveria estar tomando conta.

Orchard.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu sempre falo isso, mas adoro finais de suspense MWAHAHAH o que será que aconteceu com o Orchard, hein? TAN TAN TAN TAAAN ~música de filme de terror~