Unfaithful And Worthless escrita por revival


Capítulo 1
Oneshot




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Era bem divertido.

Divertido até demais, eu diria.

Começou numa noite estranha, onde uma dose de álcool tinha sido a desculpa que ele usara. Não passara mesmo de um copo. Não estávamos rindo alto, não estávamos cambaleantes ou alterados.

Mas bastou uma simples pergunta para que acabássemos rolando no sofá da casa dele, gemendo alto e aproveitando o corpo um do outro.

Era simples, divertido, sensual e no dia seguinte não passava de uma simples lembrança. Sem dramas, sem sentimentos confusos.

Eles só apareceriam na quarta ou na quinta vez.

E então uma noite veio atrás da outra. Eu não me fazia difícil, ele não se fazia de rogado e então começaram a vir os telefonemas no meio da noite. Uma noite atrás da outra, facilitadas pelos poucos andares que separavam seu apartamento do meu.

A segunda, a terceira, foram fáceis, prazerosas... Tora era... Tora era gostoso, muito gostoso.

Me alegrava ter um homem daquele calibre me desejando sexualmente, mesmo que sempre houvesse a possibilidade de ser por conta dos nossos anos de amizade. Mas eu não me importava. Era bom, era agradável, inflava meu ego ser desejado daquela forma.

E aí começou a ser agradável ter aquelas mãos acariciando meu cabelo de forma descontraída e talvez até inconsciente, ou os dedos correndo minha pele durante o ato.

Eu tinha começado a me apaixonar por Tora, mesmo sabendo que nada mais era alem de sexo e puro sexo na madrugada.

Ele me ligava, eu subia os dois andares de escada, batia na sua porta e já começávamos ali mesmo.

No dia seguinte, não tínhamos conversas, não tínhamos olhares constrangedores, tinha só eu e ele e as nossas brincadeiras costumeiras.

Nada de estranho, incomum, até que ele me ligasse de novo, às 3 da manhã.

E então, chegou um momento em que eu achei que aquelas suas ligações pedindo que eu subisse acabariam.

Numa sexta típica estávamos na casa de Hiroto, jogando videogame como sempre, Nao falando de alguém que ele estava stalkeando, eu cozinhando qualquer porcaria pra enganar o estomago e Tora e o esquilo se matando na frente do jogo.

Quando a campainha tocou.

Um silêncio se fez presente na casa e nós quatro nos paramos para nos encarar, uma pergunta muda se alguém estava esperando companhia.

Aí eu o vi se levantar, ir até a porta com um sorriso meio alegre demais e recepcionar o recém-chegado.

Meu vizinho, Kohara Kazamasa.

E pelo beijo que ele e Tora trocaram logo em seguida, namorado de Shinji.

Senti minha garganta apertar e meu estômago embrulhar. Minhas mãos se fecharam furiosamente no cabo da panela antes que eu respirasse fundo e me acalmasse um pouco.

Não queria encará-lo nem um pouco, minha atenção sendo detida pela gororoba que eu tinha acabado de queimar.

Tora tinha arranjado um namorado.

E eu ia voltar a dormir a noite toda.

Ou foi o que eu pensei .

Na minha percepção, ele até que tentou prestar por algumas semanas. E apesar de saber que ele era um bom rapaz, ele não era do tipo que resistia às tentações.

Ou talvez não resistisse a um pouco de perigo.

Então lá pela terceira semana dormindo noites inteiras, ele me ligou. Com aquela voz manhosa, de quem tava se masturbando no telefone.

E eu não resisti. Só concordei fraco, peguei as chaves no meu bolso e sai de casa, subindo os três andares pelo elevador.

E aquele cenário tão comum pra mim voltou a se repetir.

A porta escorada e aberta, a sala fechada, o barulho dos meus passos no chão de madeira dele. Então as mãos fortes em minha cintura, os beijos molhados no meu pescoço. E a voz sussurrando meu nome roucamente no pé do meu ouvido.

-       Saga-shi...

000

Arrasado pelo orgasmo, suado até o dedo do pé, não quis ficar ali até a manhã seguinte. Não era a mesma coisa de antes. O namorado dele não poderia me encontrar ali, enroscado e nu em Tora.

Então só recolhi minhas coisas e saí, sorrindo para ele, que nada ficou.

Era mais comum ele pedir pra que eu ficasse, mas aparentemente as idéias que passavam por sua mente eram iguais às minhas.

Aquele sorriso lindo de “obrigada” surgiu em sua face, mas o meu não se alterou.

Deixei o quarto em silencio, descendo para meu apartamento.

000

A manhã seguinte foi um Sábado e, como em todo fim de semana, íamos pra casa de Hiroto para jogar qualquer coisa, coçar o saco, beber cerveja e falar putaria.

Não achei que algo ia mudar, ser diferente ou que ele ia me olhar mais longo ou mais carinhoso.

Mas achei que ele ia ser menos cretino e dar aquela mordidinha de canto nos lábios que ele dava de nervoso quando visse o namorado.

Nem isso o cretino deu.

Nem isso.

E aí eu pensei o quão filho da puta ele podia ser. E eu pensava que eu era tão pior quanto ele, porque eu sorria, brincava, fazia piadas com Shou tanto quanto qualquer outro ali.

Tinha me tornado um filho da  puta, com consciência disso.

O pior é que eu não fazia questão de ser diferente.

Mas no final eu tinha que admitir que sabia porque Tora, mesmo tendo sexo comigo, tinha escolhido outro. Ou melhor, tinha escolhido ele.

Shou era doce, brincalhão, divertido – um pouco troll demais até -, era divertidamente brega, bonito e carismático.

Eu era só um magrelo com cara de prostituta e raiz por fazer.

Que no momento estava cheirando a peixe.

Não tinha o que discutir ou o que pensar. Era óbvio o motivo de Shou ter sido escolhido. E também era óbvio, pra mim que ele só me chamava toda noite porque ele sempre foi um cretino que tinha achado o pau no lixo.

Naquela tarde isso estava mais que óbvio pra mim.

Shou tinha se encaixado tão bem em nosso grupo que até eu sentia que ele sempre tinha estado ali. Jogando Winning Eleven ele parecia, sem sombra de dúvidas, um de nós.

Gritando, xingando, falando putaria como todos nós.

Começava a achar que eu era o intruso ali.

Eu gostava dele, brincava, tentava interagir o máximo possível, mas pra mim a minha presença não era bem vinda.

Ainda mais quando eu conversava com Tora e eles trocavam algum beijo aleatório na minha frente ou ficavam encostados em cantos, achando que ninguém os olhava, quando todo mundo ouvia os gemidos dos dois.

Pra mim, estava na hora de matar aquela esperança que pulsava no meu peito. E com ela, a culpa que eu sentia de fazer Shou de idiota.

Então naquela noite, quando meu telefone tocou, eu só virei para o lado e cobri minha cabeça com o cobertor.

Não ia atendê-lo. Eu precisava respeitar Shou, respeitar a mim mesmo!

Eu não era um cachorro que ia assim que era chamado.

Eu precisava acabar com aquilo.

000

Meu telefone tocara pelos três dias seguidos, inclusive fora do horário habitual. Era óbvio que Tora tinha estranhado minha falta de resposta e pensara que algo tinha acontecido comigo.

Tinha me mandado sms’s, deixado recados debaixo da minha porta, pedido para Hiroto me ligar.

Mas eu agira como se não tivesse feito nada. Só falava que estávamos nos desencontrando ou que não ouvira meu telefone tocar.

Estava sendo cínico e fui mais ainda quando apareci na casa de Hiroto naquela terça feira, carregando um engradado de Sapporo Beer e três porções de batata frita com queijo.

O esquilo adorável abriu a porta, gentilmente pegando a cerveja da minha mão, abrindo uma quente mesmo e me deixando ali mesmo com o resto das coisas, rolando os olhos.

Entrei reclamando do loiro escroto, me calando rapidamente ao notar que os outros três estavam já reunidos na sala de estar, uma discussão calorosa sobre a burrice de um deles ao fazer algum movimento no videogame.

Cumprimentei-os de modo divertido, mas, sinceramente, falso.

Passei direto para a cozinha, tratando de colocar as cervejas na geladeira e as batatas em cima da mesa.

Quando eu me virei, lá estava ele, parado no batente da porta, o semblante fechado, os braços cruzados.

“Hey, Tora!”

cretino, cínico, eu queria me dar um tapa!

“Hey o caralho, por onde você andou?!”

Pisquei os olhos, falsamente confuso.

“Pela rua, ué, e depois pelas escadas. Eu to precisando de um pouco de exercício”

Quase senti o punho dele contra minha cara, mas ao invés disso seu corpo se chocou no meu e minhas costas foram direto à parede, num baque violento.

“O que é que você tem comigo, Saga?!”

“Eu não tenho nada, Shinji. Agora me largue” franzi minhas sobrancelhas, minhas mãos se espalmando no peito dele, tentando afastá-lo. Sem sucesso, claro.

“Como que não tem nada?! Anda me ignorando todos esses dias, merdas!”

“Não ando te ignorando! Só nos desencontramos!” menti na cara dura. E ele soube porque eu tenho um maldito tique de tremedeira na mão direita quando minto. E ela no peito dele não deixou esconder.

“Não sou besta, Takashi! Passei na sua casa, te deixei recados, emails, mensagens! Você nem sequer atendia minhas ligações, mas atendia as do Hirot...!”

A raiva me deu uma força que eu não sabia possuir. Afastei ele com um empurrão brusco e o joguei contra a bancada, meu veneno saindo em formato de palavras.

“É que o Hiroto não me chama pra transar com ele quando já tem um namorado”

Suas feições ficaram iguais às minhas e ele abriu a boca pra reclamar, mas não teve o que discutir. Um minuto de silêncio se passou até que ele falasse de novo.

“Você não se importava antes”

“Não me importava porque só tinha eu de idiota. Agora envolve outra pessoa.”

Talvez eu tenha soado dolorido demais. Talvez ele finalmente tinha se tocado daquilo, mas o semblante que ele fez deu a entender que ele tinha entendido tudo.

Só não deu tempo de falar porque meu nome foi vociferado por um Naoyuki já bêbado.

Uma última troca de olhares foi dada e eu sai do meu torpor, seguindo para a sala, pegando uma das cervejas no caminho.

Parecia que ninguém tinha notado a semi discussão que acontecera na cozinha. Não haviam olhares estranhos pra cima de mim, nem pra Tora, mas dentro de mim o clima estava estranho.

Eu não pretendia que as coisas terminassem daquele jeito. Queria meu velho amigo de volta, nossa confiança e cumplicidade.

Eu queria esmagar aqueles sentimentos que ainda estavam vivos dentro de mim, mas eu sabia que era questão de tempo.

Não ia ser hoje, nem amanhã, talvez nem daqui a um mês,  mas eu tinha o objetivo de fazer tudo aquilo voltar ao normal, voltar ao que era antes. Antes da bebedeira e das ligações.

Velha e boa amizade.

Mas no momento, aquele aperto incomodo no meu peito estava me dando vontade de chorar. E olhar pra ele, um braço pelo ombro de Shou, fingindo que nada tinha acontecido deixava tudo ainda pior.

Melhor que um perfeito idiota, eu era um perfeito bêbado.

Por esse exato motivo eu peguei minha velha amiga Sapporo e deitei no sofá de Hiroto, o liquido não necessariamente gostoso descendo pela minha garganta.

Logo aquela sensação de sono me invadiu e eu não lutei contra, aconchegando minha cabeça no encosto e tirando um cochilo pesado.

000

Deveria ser tarde da noite quando finalmente consegui abrir os olhos. Já estava acordado há alguns minutos, mas o mormaço do lugar não me dava muita vontade de levantar dali.

Não haviam sons, não havia luz.

Aparentemente os outros já deviam ter ido embora e Hiroto teria desligado a luz para me deixar dormir.

Ele podia ser o cretino que dissessem, mas ele sabia respeitar o espaço de alguém.

Sentei no sofá esfregando os olhos, tentando me acostumar com a pouquíssima luz que vinha do corredor. Levantei preguiçoso, procurando algum sinal do dono da casa ou até mesmo das minhas coisas, pra que pudesse ir embora.

“Com fome, Saga-kun?”

Soltei um xingamento baixinho pelo susto e me virei, o nanico vindo do corredor com um sorriso, ligando um dos abajures da sala. Concordei com a cabeça e segui o loiro até a cozinha, me sentando na mesa enquanto ele começava a fazer os udons.

Alguns momentos de um silêncio confortável se fizeram presentes, eu ainda calado pelo sono. Mas sabia bem apreciar aquele cheiro gostoso de comida recém preparada.

Logo a tigela foi posta na minha frente e eu murmurei um “itadakimasu” baixo, começando a comer com gosto. O esquilo fez o mesmo, sorrindo para o meu jeito afobado.

“Tudo bem?”

Estranhei a pergunta, parando de comer um instante e o encarando. Concordei com a cabeça, esperando algum tipo de explicação. Hiroto pareceu meio desconcertado, coçando a nuca inseguro.

“Eu assisti a sua discussão com o Tora”

Ao contrario do que eu faria normalmente, sorri, voltando a comer.

“É a vida, mas agora já dei um jeito.”

“Não parece muito feliz...”

“E não estou pra falar a verdade, mas essa era a melhor solução que eu podia dar. Vai demorar um tempo, mas me acostumo.”

“Você gostava dele”

“Claro que gostava” ri, comendo mais um pouco do macarrão “Mas isso não me impede de desgostar. Ele é acima de tudo meu amigo, e é isso o que eu quero agora. Não tenho o mínimo desejo de tirar ele de Shou”

Hiroto sorriu calmo, parecendo entender. Buscou um dos pedaços de porco em seu prato e me encarou.

“Quem sabe agora eu até arranje um namorado que preste”

Ri de leve, voltando minha concentração à comida. Não haviam conselhos, recriminações ou qualquer outra coisa, mas aquela conversa havia me deixado mais leve.

Hiroto era incrível em fazer os outros se sentirem bem.

Alguns outros minutos de silêncio se passaram e eu já estava quase virando a tigela de udon para tomar o caldo e me lambuzar todo – como sempre – quando ele pigarreou.

“Saga... Eu presto o suficiente pra esse cargo...?”

Meio assustado, sorri.

É, Hiroto prestava sim.


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