Apenas Amor. escrita por Deeh-chan


Capítulo 1
- O piano.


Notas iniciais do capítulo

Um começo já cheio de momentos lindos que vão faze-los desejar mais e mais.
Leiam com carinho.

Comentem bastante, eu adoro ler todas as opiniões.



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Tenho medo de não estar mais ao seu lado, medo de acordar e não estar mais aqui, ou de não poder mais levantar, meus dias se resumem a uma cama, uma maquina e um espelho, que com muita dificuldade eu tento não olhar.

-Hinata.

19 de Outubro.

__Está pronta?

__Já vou.

Mais uma vez guardava minhas coisas em uma mochila velha, sentada em uma cama descoberta, com as mãos trêmulas e o olhar baixo.

__Vamos você precisa descansar.

__Vou demorar um pouco, mãe, pode ir à frente, depois te encontro.

__Tudo bem. –Minha mãe se foi com um sorriso.

Quando finalmente fiquei sozinha deixei as lágrimas caírem pelo rosto, era difícil parecer forte quando suas forças já se esgotaram há muito tempo.

__Tudo bem, aguente... –Olhei para cima e fechei os olhos tentando encontrar uma saída.

Depois de enxugar o rosto peguei a pequena toquinha que estava pendurada no cabide da sala branca e a coloquei, deixando as dobras cheias de flores para fora, e a única coisa que me restou foram os olhos prateados que não perdiam o brilho.

__Demorou muito.

__Desculpa, tive de me despedir de uns amigos. –Batia a porta do carro arrumando a bolsa no colo.

__Vamos logo, preparei uma surpresa para você.

__Ah, mãe, espero que não seja o tio Martim apresentando mais um dos seus filhos pervertidos para mim.

__Poderia ser, e se fosse? Afinal você é um partido e tanto.

__Claro... –Respirei fundo. __Só espero que eles não briguem por mim. –Olhei pela janela e escorei o rosto.

Minha mãe ficou em silencio, só ouvi o barulho da marcha e depois o carro andando, e o hospital ficando para trás.

A tarde caia e logo veio à noite.

__Surpresa!

Quando abrimos a porta uma faixa de Bem vinda estava posta em cima da sala, e todos os nossos amigos e parentes estavam lá.

__Minha linda! Tudo bem?!

__Como você cresceu!

__A cada dia, mais fofa!

Tios, tias, primos, amigos do meu pai, avós, todos estavam sorrindo para mim.

__Obrigada.

Agradecia e seguia andando, minha mãe tirava os pratos e os colocava á mesa, meu pai contava piadas e todos os velhos riam, minhas primas forçavam sorrisos para mim.

Minha cabeça doía muito.

__Vou me deitar... –Sussurrei para mim mesma, quem tivesse ouvido tudo bem, mas quem não tivesse não me importava.

Subi as escadas e fui para o quarto.

Quando cheguei lá tirei o casaco os sapatos e cai na cama sem pensar duas vezes, mas não conseguia dormir.

Ouvia os barulhos e as risadas lá embaixo, minha mãe gritando o meu nome, minha irmã chorando por algum motivo besta, e os meus pensamentos vazios. Nessas horas não é bom pensar, sempre acabamos imaginando o que não devíamos. Meus olhos se voltaram para uma foto em cima de mesinha ao lado do computador.

Eu era tão linda.

Um longo cabelo preto escorrido pelo rosto e muitos amigos da faculdade ao meu lado, livros nas mãos e flores de cerejeira deixando suas pétalas cair só para se exibir diante de nós.

Quando o nariz começou a coçar e as lagrimas rolaram silenciosas. Eu me levantei, coloquei os pés no chão, bagunçando o tapete, andei até onde ela estava e a tomei em minhas mãos, olhando para o meu sorriso, a mais alegre, a mais bela, a mais importante, a mais bonita, a mais viva de todas as outras, pois é, com certeza se tornou passado.

__Hinata!

__Mãe... –Guardei a foto, enxuguei o rosto e abri um pequeno sorriso.

__Filha, você sumiu? –Minha mãe surgia por trás da porta, abrindo de leve deixando o barulhinho das dobradiças rangerem.

__Estou com dor de cabeça, posso ficar aqui?

__Claro meu bem, mas depois desça para comer alguma coisa, todos estão se divertindo, e sua tia Marlene disse que isso é normal, não se preocupe o cabelo cresce de novo, as coisas vão estar melhores, ela é psicóloga, você pode conversar com ela um dia desses e...

__Mãe!

Ela se calou.

Eu apertei os punhos.

__Quero voltar para as aulas de musica.

__O que?

__Tranquei a faculdade para fazer a quimioterapia, mais quero voltar!

__Mais filha, você...

__Eu não preciso de psicólogos, não preciso de sorrisos falsos, não preciso e não quero ser tratada como uma enferma, eu ainda não estou morta mãe!

__Não fale assim! –Minha mãe gritou.

Ouve-se o silencio.

__Desculpe...

__Esta tudo bem ai em cima?! –Minha tia perguntou da escada.

Todos se calaram com o grito de minha mãe.

__Sim, claro! –Minha mãe forçou um sorriso e depois se voltou para mim. __Tudo bem...

Levantei os olhos e abri um sorriso.

__Mãe...

__Olha, não precisa ser tão rude!

__Desculpe...

__Eu te amo. –Ela sussurrou e depois veio até e mim e me deu um abraço.

Depois desceu para terminar a festinha e limpar a cozinha, e eu fui junto para pelo menos aparecer e dizer que eu ainda estou ali.

Aquela noite teria se tornado relativamente melhor depois daquela conversa.

O dia amanheceu.

Era segunda e teríamos aula hoje à tarde, eu tinha de estar lá, rever os amigos, aparecer mesmo que desse jeito, com um sorriso no rosto e viva novamente, afinal foram só alguns meses, as coisas não poderiam mudar tanto.

Eu estava errada.

Caminhando pelos corredores e pelo salão da faculdade eu podia ver e ouvir os comentários, meus amigos falando de mim e me olhando como se eu fosse um monstro ou algo de outro mundo, risinhos e piadas também eram constantes, e o meu coração ficou tão espremido tive de segurar para não chorar.

__Tenten!

Ela virou os olhos quando me viu.

Porque isso estava acontecendo? Eu era a mesma. Não tinha uma doença contagiosa, era o meu carma, não deles, então porque tornarem tudo tão difícil para mim.

__Hinata...

__Professora, que bom vê-la.

Ela me estendeu as mãos e me entregou um papel.

__Você ficou meses fora, vai ter de esclarecer para as contas da escola, além do mais seus amigos estão bem a frente de você agora.

__Desculpe, eu estava doente.

__Eu soube. –Ela me olhou de cima a baixo.

Minha toquinha estava meio desbotada mais as florezinhas ainda eram bem coloridas.

__Agora vá depois passe na minha sala.

Ela passou por mim sem olhar para trás, meu corpo ficou frio, porque espera um abraço, e nada aconteceu.

Segui em frente passando pelo corredor das salas, os alunos olhavam e desviavam os olhares, tinha alguns que nem se quer vinham até mim, outros me olhavam com pena, alguns conversaram mais o assunto era ‘’Doeu, como é, você esta bem, como se sente, vai ficar assim, o cabelo cresce, você esta bonita acredite, ficou estranho mais vai ficar tudo bem’’.

Eu não era mais a mesma.

O sinal tocou e todos foram para as salas.

Lá dentro eu vi que era uma novata, muitos amigos tinha saído, ou já se formaram, afinal estávamos no final, eu que fiquei para trás.

__Hinata!

__Presente!

Assim o dia passou. Fiquei encolhida nos livros, tentando não encarar ninguém de frente, eu estava me sentindo horrível, e apesar dos homens não entenderem, quando uma mulher se sente horrível o dia se torna horrível.

__Hinata...

__Sim!

__A diretora está te chamando!

Eu me levantei arrastando a carteira e segui andando passando pelo corredor e os olhares foram me acompanhando.

__Essa é a Hinata?

__Coitadinha.

__Olha só a toca...

Sussurros.

Apertei os punhos e fui até a porta e sai.

Finalmente em paz, com o silencio de um lugar que antes era o meu refugio, talvez minha mãe tivesse razão, talvez eu não devesse ter voltado, ter parado para sempre e seguir no meu tratamento tentando ao máximo sobreviver, era assim, quem sofre com isso passa dias no hospital, para sempre vou estar ligada a um aparelho, nunca mais vou poder sair e viajar despreocupadamente sem ter um telefone de emergência, ou um medico de prontidão, vou ter de colocar na minha agenda no lugar de ‘’Sair com as amigas’’ um ‘’Medico hoje’’, depois vou ir até lá passar pelo tratamento, ficar pior do que já estava e voltar para casa, deitar na cama e lembrar de tudo, e assim sucessivamente até que tudo acabe.

Meus olhos se encheram de lágrimas ao ponto que o som dos meus sapatos soava pelo corredor, eu não iria aguentar mais, vou sair correndo e deixar todos para trás, agora mesmo.

Quando apressei o passo para sair correndo, ouvi o som de um piano.

Talvez fosse minha imaginação, mas não, vinha de uma sala adiante. Fui até lá ainda com os olhos vermelhos e segurando a toca para não cair, minha saia longa parecia um vestido, eu gostava de roupas assim, aquelas senhoritas lindas e perfumadas com seus vestidos de época, eu me imaginava uma princesa, e logo o som se tornou cada vez mais alto, e as notas maravilhosamente combinadas em um tom leve e misterioso, romântico e triste, heroico e meloso, quem estava tocando era um mistério.

Ao me aproximar havia um piano no palco do salão da escola, era imenso e as cadeiras estavam vazias, e só existia o som de um tocador fantasma.

Olhos fixos nas notas, um homem, suas mãos passavam com carinho por todo o instrumento.

Ele olhou para mim, mais não parou de tocar, pelo contrario, aumentou o ritmo ao ponto que eu entrava, parecia estar tocando para mim.

__Com licença...

__Continue.

__O que?

Eu começava a me sentir uma intrusa, ele não parava de tocar, parecia estar com raiva por ter sido interrompido, eu era realmente uma idiota.

__Desculpa!

 Quando dei meia volta senti o som ficar mais fino, mais triste, foi então que percebi que ele tocava como se estivesse interpretando meus movimentos.

Olhei para trás e ele me olhava, os olhos meigos e totalmente azuis, nem era preciso olhar nas teclas, eu sabia que ele entendia o piano, ele conseguia me entender.

__Você é pianista, toca muito bem.

Ele parou, e sorrio.

__Os sentimentos podem ser expressos aqui, e acredite foi difícil entender você.

__Deve ser porque agora eu não sei o que estou sentindo.

__Optei pela triste porque sei que você estava chorando, e depois pela romântica porque a toquinha e cheia de flores, uma mulher romântica gosta de flores.

Meu rosto ficou vermelho.

__Desculpa...

Dei meia volta para sair quando ele segurou a minha mão.

__Por quê?

__Você deve estar me achando uma idiota. –Virei o rosto e apertei as mãos ao peito esperando uma resposta irônica.

__Por quê? Eu só consegui reparar os seus olhos, não se lembra do que eu disse agora a pouco.

Eu me virei e olhei para ele como se fosse um cachorrinho assustado.

Ele tinha os fios de cabelos loirinhos caídos pela camisa, os olhos azuis claros como o céu, a camiseta de manga vermelha, e um sorriso nos lábios.

Ele soltou a minha mão.

__Eu vi você hoje mais cedo.

__Como?

__Você fica sentada debaixo da arvore de cerejeira do parque, lendo.

Ergui meu rosto pera encará-lo.

__Eu não faço isso tem muito tempo.

__Eu sei, porque o parque ficou muito mais triste depois da sua partida.

__Você nem me conhece e já sai falando essas coisas, como se eu fosse tudo isso.

__Porque não pode ser?

Fiquei calada.

Ele pegou na minha mão e me levou até o piano e as colocou sobre as notas.

__Parece um monstro quando olhamos assim, mais é só parar e entender.

Ele abaixou alguns dos meus dedos e com as sua mão por cima me fez tocar algumas notas combinadas.

__Que por trás de tudo isso existe uma bela melodia.

Depois ficamos no silencio daquele palco imenso.

Eu sorrindo olhei para ele do meu lado.

__Quem é você?

__Eu sou a musica que você estava ouvindo quando entrou aqui.

__Então você é complicado de entender.

Ele sorriu.

__Hinata!

__Diretora!

Uma mulher alta e com seios enormes chegava gritando o meu nome, fazendo com que meu coração disparasse e o clima de silencio fosse interrompido bruscamente.

__Precisamos conversar se lembra! Você vem ou não?! –Ele parou na porta e arrumou os óculos com uma cara feia para mim e para ele, que estava sorrindo meu desajeitado.

Olhei para o piano e vi que a mão dele ainda estava sobre a minha.

__Vou sim senhora! –Falei alto e sorrindo.

__Ótimo, venha, Ah, Meninos não mexam nisso! –Ela saia gritando pelos corredores.

O sinal já tinha batido e estava uma bagunça lá fora, e nós nem tínhamos percebido.

Estávamos sozinhos de novo, nos encaramos e então ele retirou a mão do piano meio envergonhado.

__Quero te ver hoje a tarde no parque viu. –Ele pegou a mochila e saiu sorrindo.

Ele tinha ido, e eu deveria ir também, mas só sei de uma coisa, minha mão estava sobre o piano, e a vontade de tocar florescia de novo dentro de mim.

 Continua.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima. Qualquer duvida é só perguntar.