Madness. escrita por Rarku


Capítulo 1
Just.


Notas iniciais do capítulo

Enfim, cá estou eu de novo, me livr- er... postando mais uma one minha perdida. xD Daqui pro final da vida eu consigo postar todas (Y~ -n



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            E aí vem mais um sábado.

            Dia perfeito pra ficar de olhos fechados, apenas ouvindo a própria respiração e babando na cama, sem precisar fazer mais nada da vida.

            ...

            Mas quem disse que o sol é legal comigo? Cinco da manhã e ele me acordando é pior que o maldito despertador que eu quebrei na cara do Kouyou.

            Sem querer, só para constar.

            Bem, voltemos ao maravilhoso astro rei, que se empenha tanto para me deixar de bom humor. Ele resolveu que seria lindo me ver resmungar quase de madrugada até que o meu – muito bem-humorado - amigo, que se autoconvidou para morar no meu apartamento, levante e resolva rir da minha cara um pouco mais cedo que de costume.

            Droga, logo hoje que eu tinha passado a noite sonhando com algo quentinho me abraçando e.

            Aliás, eu não posso falar com o Uru sobre isso.

            É sério se ele tiver outra crise de riso às minhas custas eu mudo de nome, de país e de piercing – que eu já nem tenho mais, mas não vem ao caso, é.

-Bom dia, moreno, posso entrar? – perguntou Kouyou da porta, educado assim só pode estar querendo me obrigar a alguma coisa.

-Não, cara, sai daqui. – me cobri de novo, deixando só uma fresta do rosto para fora...

            Pra falar a verdade nem sei pra que, mas tudo bem.

-Ah, vai Yuu, não faz assim. Eu só quero só dar bom dia, será que nem isso? Qual é, Shiro... Por favor, então?

            Sim, ele tem 19 anos, univesitário, mal entrou e já é o maior galinha da faculdade, quase um engenheiro, mas... É uma criança de manhã. Daqui a algumas horas o verdadeiro Kouyou aparece. É só esperar ele comer e o telefone tocar.

-Ok. – suspirei. – Entra, coisa loira.  – eu ainda na posição fetal, afinal, tá bem confortável aqui.

-Estou entrando Yuu-kun... – abriu a porta e eu posso descrever exatamente como ele está agora: parado, com os braços cruzados, uma sobrancelha levantada e com aquele sorriso meio maníaco que ele tem todas as manhãs. – Larga mão de ser preguiçoso, Shiroyama.

            Escute bem, eu não tenho descanso nem no meu próprio quarto. É uma conspiração.

-Não. – rebati indignado.

-Você sabe que eu vou te tirar daí, certo?

            Oh sim, eu posso ouvir ele se aproximando. Pode vir, não tenho medo dos seus 1.77m, sei me virar.

-Não vai. Eu me recuso. – continuei no mesmo canto... Não tenho muito para onde fugir se quiser ficar deitado, certo?

-Como se adiantasse alguma coisa.

-Ah, vai te catar. – bufei e senti suas mãos geladas nos meus tornozelos por entre o meu cobertor quentinho.

            Não, não e não. Ele não vai fazer isso... Ou vai?

            Pior que vai.

-Não, eu vou catar você. Agora. – me puxou.

            Me diga uma coisa: como é que uma pessoa de 21 anos, estagiário lascado, mas honesto e morando longe da familia pode ter algum respeito sendo arrastado de sua cama pelos pés, como uma criança?

            Isso aí, não tem. Mas eu não vou desistir assim. Lutarei pela minha dignidade.

            Me agarrando às grades da cama, claro.

-Isso não vai adiantaar... – cantarolou.

            Maldito.

-Me deixa dormir. – choraminguei um pouco, talvez o coração dele esteja amolecido com toda a minha cena.

-Não hoje. Você vai passar o dia inteiro comigo.

-E eu não já passo todos os dias contigo? Olha que essa tinta tá penetrando no cérebro, ein.

            Nós ainda continuavamos formando o patético quadro dele achando que eu sou um carrinho de mão.

-É cada uma que eu tenho que aguentar... Agora solta. – soltou meus pés e eu já me preparava pra me encolher de novo no meu adorável casulo... -Hã, hã, mocinho. Solta e levanta dessa cama. Já fez palhaçada de mais por hoje.

            Na boa, eu que devia chamá-lo de mocinho, eu que devia botar ordem, eu que devia... Ah... Você viu, eu tentei.

            E por favor, esqueça a parte do casulo, isso foi muito gay. Não que eu seja totalmente hétero, é claro, só não acho que deve ser assim que os pais querem descobrir essas coisas... Se bem que eu não acho que tenha um jeito pra contar isso, ou deve ter, se não ninguém contava...

            É o sono, releve.

            Soltei e logo me senti puxado, mas dessa vez escorreguei até sentir o chão.

            Mas nem pra me segurar direito ele serve? Ah, tenha dó.

            Alguns segundos de silêncio e eu ouvi uma risada baixa, que se transformou em uma um pouco mais alta, um pouco mais, só mais um pouquinho, pronto. Agora ele está curvado, gargalhando e lacrimejando.

            Bom saber que eu faço a alegria matinal de uma pessoa.

            Depois de algum tempo ajoelhado pagando promessa e olhando feio pr’aquela anta, eu vi que não ia resolver. Levantei e fui procurar uma roupa na cômoda, com ele agora sentado na minha cama. Revirei os olhos. Idiota.

-Não fica assim, ó... Não foi tão ruim... O que será que eu posso fazer por você pra ganhar um sorriso hoje? Hm... – me virei pra ele, estreitei os olhos e fui andando em sua direção.

-Você me derrubou da cama, numa quase madrugada e acha que vai me recompensar? Eu só tenho dois dias pra acordar tarde e você não me deixa dormir que nem gente em nenhum deles. – me curvei até o meu rosto chegar a alguns centímetros do dele.

            Seja intimidante, é. Se bem que eu não preciso de muito esforço, é só ele resolver sentir o meu hálito a essa hora. Assustador.

-Já sei, prometo que te compro Nutella. – sorriu como se tivesse tido a idéia do ano.

            E eu devo advertir que sem o meu consentimento meus olhos começaram a brilhar e um sorriso ameaçou passar pelo meu rosto.

            Ameaçou. Respirei fundo e voltei a ficar em pé.

-Quantas eu quiser? – tentei não soar alegre demais.

-Quantas você quiser, agora vai tomar banho logo.

            Peguei a minha roupa e sai do quarto indo em direção ao banheiro.

            No corredor, CLARO. P orque quando o meu pai me disse que eu já era um vagabundo velho, na faculdade e deveria me arranjar como gente – aos 18 –, eu resolvi me mover pra procurar onde morar. O Uruha achou que seria legal vir comigo.

            Enquanto eu tentava fechar negócio num apartamento com uma suite, ele disse que não era justo, que eu deveria ver pelo ângulo dele também, porque iria ficar em desvantagem.

            Tentamos par ou impar, quebrar o osso, tirar no palitinho, cara ou coroa... E eu ganhei todos.

            Então ele ficou com raiva, continuou o discurso de não ser justo e me fez comprar esse lindo apartamento aqui, agora eu tenho que me movimentar muito mais de manhã.

            Eh, que feliz.

            O melhor de tudo é que ele não veio morar comigo de imediato, porque ainda tinha dezesseis. Agora me diga: pra que eu comprei essa porcaria?

            Como era esperado ele me seguiu, entramos no banheiro e eu já fui tirando a camisa, joguei em qualquer lugar.

            Peguei a minha escovinha azul e estava escovando os dentes, feliz, quando senti uma mão me apalpando o peito, o braço, a barriga, as coxas, êpa. E ainda fica me encarando pelo espelho, esse... Indecente.

-Andou malhando, Aoi?

-Claro, claro, começando das 25 às 27h no dia 32 de cada mês, só pode.

            Fechei a torneira e guardei a escova.

-Wow, tudo bem, Shiroyama. – ele se afastou e de alguma forma eu senti falta das suas mãos em mim.

            Balancei a cabeça e fui pro box. Terminei de me despir, liguei o chuveiro. Água quente, uma coisa boa no meu dia. Sorri.

-Você fala como se não passasse todas as horas possíveis grudado em mim.

-Eu não trabalho com você.

-Não, mas eu recebo uma ligação sua a cada 20 minutos, querendo saber o que eu fiz, faço ou vou fazer. Sabia que eu recebo mais ligações que o chefe?

            Silêncio enquanto o sabonete resolvia testar sua habilidade de escapar de mim e a minha de ficar de bunda pra cima catando ele.     

-Se não gosta, basta me ignorar.

-Como se eu conseguisse.

            Levantei os olhos e ele estava sentado no balcão, ao lado da pia, balançando as pernas.

-Você fala como se fosse uma coisa boa.

-E é, oras. Não tenho porque negar. É engraçado ver o Ru-san fazendo careta quando o meu telefone toca. E além do mais você faz parte da minha vida.

            Desliguei o chuveiro e estiquei a mão pra ver se conseguia tatear até encontrar a toalha. Depois de meia hora eu descobri que sim, eu podia fazer isso. Me enrolei nela e saí pra agora pegar uma toalha pro meu cabelo como uma pessoa normal: vendo onde ela está.

-Não tente me enrolar.

-Com o quê?

-Como assim eu faço parte da sua vida?

-É claro que faz, Kou, pergunta mais besta. Eu te conheço desde sempre e ainda por cima moro com você, como é que não faria? –mal terminei de enxugar o cabelo, já senti seus braços rodeando meu pescoço.

            Sentimentalismo matinal, sempre acontece, mas já passa.

-Sabe o quanto eu amo você, não sabe?

-Impossível não saber.

            É estranho agora, eu escuto declarações como essa todos os dias que me lembro, no começo eu achei engraçado como o meu novo amiguinho da escola era manhoso ao acordar, na primeira noite que eu passei na casa dele. Depois eu comecei a achar adorável e a precisar disso todos os dias, então às vezes eu ligava pra ele de manhã.

            Mas houve um tempo – na adolescência – que eu me incomodei, ele era só meu amigo, eu queria amores de verdade. Então veio uma briga besta, coisa de momento que logo se resolveu. Só que hoje, especialmente hoje, tem alguma coisa diferente comigo.

-Aoi?

-Oi?

            Tirou apenas um braço do meu pescoço pra me dar um peteleco na testa.

-Só pode ser idiota mesmo, piada mais besta.

            Passei alguns segundo apenas admirando o riso tão espontâneo.

            Aí, ô Kami-sama, qual o meu problema hoje, hein?

-Não use minhas palavras contra mim. – fiz birra só pra vê-lo rir de novo.

-Ok, ok. – levantou as mãos em sinal de redenção. – Não uso mais, satisfeito? Agora vai trocar de roupa rápido.

-Para de me tratar como criança.

-Então cresce.

            Devo ter resmungado alguma coisa e saí do banheiro e agora voltava pro quarto com o Uruha na minha cola, de novo. Lá fui eu procurar uma roupa que preste. Pra ficar em casa. Alguém me diga que isso faz sentido?

- Não sei com o que você se preocupa na hora de se vestir. Fica lindo de qualquer jeito.

-Sei.

- É sério. Nunca viu que qualquer coisa que você veste te deixa uma delícia?

            Parei o que estava fazendo e dediquei dez segundos da minha vida a observá-lo com uma sobrancelha arqueada.

-Que foi?

-Testando novas cantadas de novo?

-Não. Mas essa funciona com você?

            Mais alguns segundos... Se eu fosse contar cada (in)direta que o Kou me manda desde sempre, eu teria que validar apenas duas opções: ou ele é louco por mim ou ele tem um problema.

            .

            .

            .

            Ok, ele definitivamente tem um problema. Me virei e comecei a me vestir.

-Eu não entendo se você não gosta de ser elogiado ou é só comigo.

            Não respondi, afinal eu devo colocar um moletom vermelho? Ah não, esse me deixa com cara de velhinha puta. Esse não... Esse é pior... Esse aqui nem que me paguem... Cara, esse devia ter ido pra doação, olha o tamanho disso, nem meu dedo entra mais aqui, talvez algum recém-nascido entre... E um preto. Isso aí, preto sempre salva minha vida.

-Dá pra parar de me ignorar agora ou só depois que a Cinderella achar o vestido perfeito para o baile? Oh, me deixe ser sua fada madrinha. – pegou uma calça preta e empurrou no meu peito. -Você sabe que eu odeio ser ignorado.

-Ok, ok já não ta mais aqui quem ignorou a madrasta-fada-madrinha-loira, agora eu vou me vestir como uma fiel serva e filha para não causar mais problemas.  – fiz uma reverência e ele bufou e saiu andando.

-Vê se não demora, a abóbora encantada não espera muito tempo.

-Ah, os ônibus finalmente viraram abóboras? Nunca pensei que viveria até esse dia. – fingi enxugar duas lágrimas.

-Anda logo, idiota.

            Acabei de me vestir e agora que eu botei a touca, vi que ‘tô parecendo um marginal.

Cheguei na sala em silêncio só pra vê-lo andar de um lado pro outro - pior que pai esperando o filho nascer, e olha que eu nem demorei tanto.

-Então, princesa, acabou?

-Não, eu tô com fome e pára com isso, sabe que não me traz boas lembranças.

-Não traz? Porque não traz? – começou a bater o indicador na testa, como se isso o fizesse lembrar. Até que estalou os dedos -Ah, sim...

-Você não se atreveria...

-Só porque você fez uma peça sendo a Cinderella... – começou a rodear o sofá

-Cala a boca!

-E a sua mãe brigou com a professora...

-Eu não quero saber. – joguei a almofada numa direção que devia ser a dele.

-Opa, cuidado com a mira... Onde eu estava? Ah, é, na sua mãe fazendo uma confusão porque o papel era do filho dela e tinham colocado uma menina no lugar. Muito fofo você correndo de vestidinho atrás da Yeko-sama... “Mamãe, sou eu, olha.”

            Era o que eu precisava pra levantar e avançar contra ele, que saiu correndo. Mas antes de eu fazer a mesma coisa, parei, dei meia volta e caminhei calmamente até o quarto, fechei a porta e voltei pra minha cama ainda desfeita e me transformar num “montinho”. E eu ainda tenho o som relaxante da chuva a meu favor. Cama, doce cama.

            Passaram alguns minutos onde eu cheguei a pensar que poderia dormir.

-O que foi isso de agora a pouco?

-Simples, eu não queria você fora daqui, eu só queria um segundo de paz pra poder pular na cama. – bocejei. -Boa noite, Kou.

-Preguiçoso de uma figa, não ache que eu te tirei daí mais cedo pra nada, hoje você vai passar o dia comigo nem que seja em casa.

-Mas Shima, olha... Kou do meu coração, amor da minha vida, razão de eu estar acordado quase de madrugada... Me deixa dormir, vai...  Só um pouquinho, prometo que não ronco. Sim?

            Ele parou um pouco pra pensar, cruzou os braços e achou um ponto fixo na parede pra analisar enquanto eu praticamente me ajoelhava na cama.

-Hum... Sem roncar? – balancei a cabeça, entusiasmado. -É uma boa oferta, mas... Não. – sorriu e eu rodei os olhos. -Agora vem. – esticou a mão para que eu pegasse.

            Em vez de largá-lo depois de descer, eu entrelacei nossos dedos e o puxei para a cozinha. Eu tô com fome. Assim que eu cheguei lá meus pés não me obedeceram mais e eu fiz Uruha bater nas minhas costas com a parada repentina.

-Você fez tudo isso sozinho?

-Claro que não, pedi ajuda aos seus amiguinhos, os ratinhos e passarinhos.

-Olha só como estamos ácidos hoje. – o guiei até a mesa.

            Estava perfeita. Dava pra ver de longe o trabalho que ele teve.

            Nos sentamos e eu comecei a devorar tudo e qualquer coisa que tinha alí, Kou apenas ria e me olhava. Frutas, queijos, ovos mexidos e até mesmo algumas torradas... Eu não sabia por onde começar.

            Depois de comer mais do que a boca, levantei e estava pronto pra ir a qualquer lugar que ele quisesse.

-Então vamos?

-Pra onde?

-Sei lá, você me acordou e não tem nenhum lugar pra ir?

-Não.

-Assim não serve pra ser namorado... – sentei de novo.

-E olha só uma novidade: eu não sou seu namorado.

-Não lhe tira a culpa de não ter nada em mente pra fazer logo hoje.

            Ele franziu o cenho por um momento, talvez tentando fazer uma conexão.

-Nós podemos assistir a um filme.

-De terror? – meus olhos brilharam outra vez e o sorriso tomou conta do meu rosto.

-Não, de romance.

            Eu apenas arqueei uma sobrancelha.

-Que foi? Não é porque é de romance que tem que ser meloso.

-...

-Que seja, Yuu... De terror, só me espera porque eu preciso comprar uma coisa.

-Mas tá chovendo.

-Eu tenho que ir.

-Depois eu que tenho que ir atrás do corpo enterrado na lama. Vai demorar muito? – levantei, fui colocar a louça na pia e arrumar a mesa.

-Não se preocupe, eu me comprometo a morrer aqui pertinho e não, eu não posso te deixar sozinho por muito tempo lembra?

-Não tem graça, eu sou o mais velho aqui, ok?

-Como se isso servisse pra alguma coisa, quando é no meu nome que a maioria das contas está.

-Não é minha culpa se você tem essa mania de responsabilidade.

-E agora a culpa é minha?

-Totalmente.

-Muito maduro, Yuu. Muito maduro. – me deu dois tapinhas nas costas.

-Vai se fuder, loira. – ele foi pra sala e eu parei encostado na porta da cozinha.

-Sempre bom ouvir suas doces palavras. Agora me deixa ir, eu volto logo.

-E eu ‘tô te segurando?

-Babaca.

            Foi embora, sem lembrar daquela mania estranha de ficar me beijando toda vez que chega ou sai de casa que segundo ele, são selinhos inocentes.

            E eu nem consigo saber se isso é bom ou ruim.

-Ah, eu quase esqueci.

-Nani?

            Pronto, agora eu não posso mais reclamar de falta de beijo. Aliás, eu tenho que admitir que se houver alguma reclamação, vai ser de excesso de língua.

-Resolvemos radicalizar hoje, hein?

-Aproveita que eu tô de bom humor. – piscou pra mim, já com a mão na maçaneta.

            Agora sim, ele foi embora.

            Depois do meu momento idiota de ficar sorrindo que nem leso para o nada, eu resolvi arrumar a sala pra assistir o filme. Fechei as cortinas – ainda a tempo de ver o guarda-chuva dele caminhando –, trouxe cobertores, arrastei o colchão dele e pus em baixo do sofá. Quem disse que eu vou sujar o meu lindo colchão’zinho? Escolhi o filme, o primeiro com um casal na capa que estava na parte do Kou da estante e fui ligar o DVD. Quando eu acabei de colocar e ainda estava naquela linda posição de quatro a porta foi aberta novamente.

            E por ela entrou um Uruha cheio de sacolas, com o casaco encharcado e sem conseguir fechar a porta que nem gente.

-Quer ajuda?

-Não, prefiro que você fique aí de quatro, olhando.

-Ok.

            Uma música romântica tomou conta da sala. O DVD passava e repassava cenas do filme, mostrando um menu cheio de corações e coisinhas rosas.

            Depois eu chamo ele de gay e levo bolsada na cara.

            Levantei na maior boa vontade, peguei algumas, depois outras e coloquei tudo no sofá. No meio de uma daquela tinha um pacote vermelho enorme com um laço e um cartão.

            Fiquei tão feliz que só faltei agarrá-lo.

            Desfiz todo aquele embrulho e comecei a comer meu chocolate.

-Parece criança. Depois vai tudo pra sua bunda e você reclama.

            Cara, isso mudou minha vida. Dei de ombros.

-Deixa, é minha e eu engordo ela quando eu quiser.

-Ok, então faça o favor de quando ela estiver gigante não ficar rebolando.

-Que foi, Uru-chan? Não consegue resistir?

            Olhei pra ele e... Ê, ficou vermelhinho.Coisa linda.

-Eu não estava falando de mim.

-Ah, não? Tá com ciúmes de quantas eu posso pegar sendo rebolante?

-Com certeza, eu ‘tô realmente me segurando pra não voar no pescoço da vaca ou pro filho da puta que vai tirar você de mim.

-Falando assim eu até acredito.

-Hm...

-Será mesmo que Uruha, o pegador tem ciúmes de mim?

            Depois dessa fuzilada eu devia começar a praticar o exercício “mantenha sua boca fechada”. Respirou fundo. O assunto estava encerrado.

-Tem certeza que quer assistir isso? – indicou a televisão com a cabeça.

-Claro, não é um dos seus? – comi mais um pouco do meu néctar dos céus.

-E desde quando você é tão prestativo comigo?

-Desde... Sempre?

-Sei.

            Comecei assistindo não muito empolgado, mas prestando atenção na história, fazendo comentários idiotas e rindo das ironias que o Kou dizia vez ou outra. Até que meia hora depois eu já sabia que o maldito casal principal ia se juntar pra viver feliz para sempre então o tédio tomou conta. Enquanto eu estava lá, contando os segundos pra acabar a porcaria, acabei encostando a cabeça no ombro do Kou.

-Já deu sono? – começou fazendo carinhos leves na minha nuca.

            Agora sim, eu vou dormir.

-Uhum.

-Quer ir pra cama?

-Nãão. – bocejei. -Eu consigo chegar até o fim.

-Tudo bem. – riu de leve. -Vamos chegar até o fim, então.

            Preciso dizer que eu não consegui? O Kou é carinhoso demais pro meu próprio bem.

            Acordei sentindo suas unhas passando pelo meu braço, me fazendo arrepiar, levantei um pouco a cabeça e ele ainda estava vidrado na televisão.

-Kou... – minha voz saiu meio rouca de encontro ou seu pescoço. Foi a vez de ele se arrepiar, eu pude sentir isso.

-O que?

-Falta muito?

-Não

            Ele evitava me olhar e a sua voz estava ficando um pouco falha.

-Tá...

            Cadê meu chocolate? Procurei da forma mais preguiçosa possivel: só com os olhos e fui achá-lo bem na minha frente. Peguei e voltei a comer.

            Nada anormal, o filme continuou, o casal terminou feliz e saltitante numa igreja, a vilã terminou sozinha... Quando os créditos começaram a passar é que o loiro resolveu se mexer.

            Tradução: me tirar de seu ombro pra poder se mexer.

            Mas no meio de todo esse processo, nós acabamos nos encarando por um tempo e foi tudo tão rápido que eu não creio que tenha pensado muito bem quando minha mão segurou seu queixo e eu o beijei.

            Nada naquele momento, que não fosse a boca dele, parecia me importar. Ele apertava e massageava minha cintura, enquanto eu alternava minhas mãos entre rosto e nuca.

            Nos separamos e eu mantive nossas testas encostadas, minha mão fazendo carinho em sua bochecha. Suspirei.

            Ele não abriu os olhos, apenas avançou e me beijou novamente, sua mão agora tirava minha touca e procurava caminhos por entre o meu casaco. Dessa vez tinha algo a mais, foi mais que impulsivo, que prazeroso... Foi apaixonado. E eu não posso dizer que não correspondi dessa forma.

            Mais uma vez o beijo foi interrompido e a minha mão continuava lá, meu polegar fazendo circulos imaginários. Sua voz não conseguia passar de um sussurro.

-Influência do filme?

-Definitivamente.

-Isso é loucura... – eu assenti uni nossos lábios demoradamente, pra depois abraçá-lo.

-É a quinta dessa semana.

            Procurei sua mão pra entrelaçar nossos dedos e fazer o pedido que vinha me atormentando há um bom tempo.

-Você... Quer namorar comigo? – estava meio incerto, talvez essa fosse a pior frase que pudesse sair da minha boca.

            Afinal que tipo de pessoa espera anos pra dizer uma coisa dessas?

            Depois de algum tempo sem resposta alguma eu separei nossos corpos, para fitá-lo. Ele me pareceu chocado, atônito... Sei lá.

-Kou...?

            Recebi um sorriso meigo como resposta e soube que estava tudo bem.

-Você demorou, Yuu.

            Não perdi muito tempo e logo minha língua já redescobria aquela boca deliciosa.

            E isso era só o começo.


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Notas finais do capítulo

Se alguma pessoinha legal *--* -n quiser agradecer a alguém por eu ter postado essa, vá lá e encha o saco da Yuu, porque né. Eu tinha desistido...

Aliás, muito obrigada pela capa, seu jeito especial [risca]ameaças[/risca] de me encorajar a postar e pelo nome, porque né. Virei uma ameba --'

Reclamações com ela também õ/

Não, mentira. Essa parte é comigo. Nessa caixinha limds aí em baixo *---*

*=