O encontro com Jynx, o garoto azarado da gata preta (se ele já era azarado, porque tinha uma gata preta? Não fazia muito sentido. Loou fez uma nota mental para perguntar isso a ele da próxima vez que o visse), fez com que Loou se sentisse mais tranquila em relação às pessoas do internato. Ele era muito simpático, e talvez houvesse mais gente assim.

Seu quarto era no terceiro andar (é lógico, se ele era o 302). Ficava bem perto da escada, e o corredor estava vazio - a aula ainda não tinha acabado.

Loou tirou a sua chave do bolso, imaginando que horas seriam (o relógio em seu pescoço estava parado...), e destrancou a porta do quarto 302. O céu já estava escuro, então quando ela entrou, nada viu - as luzes do quarto estavam apagadas.

Fechou a porta devagar. Quando seus olhos se acostumaram ao escuro, Loou percebeu um vulto uniforme à sua frente. A única luz do quarto vinha dos olhos desse vulto, que pareciam brilhar no escuro.

Loou teve medo. Começou a tatear pela parede, procurando o interruptor. A forma escura ainda a mirava com seus olhos cintilantes. As cortinas da janela estavam fechadas.

De repente, as luzes acenderam-se. Loou abaixou a cabeça e cobriu os olhos com as mãos, impedindo a claridade de queimá-los. Ouviu uma voz de garota, calma, doce, meio viajada:

- Você... ah! Deve ser a nova colega de quarto! Né?

Loou, de olhos apertados e cabeça baixa, ouviu a menina se aproximar. Viu seus tênis, azuis com rosa bebê, decorado com pequenos desenhos de ovelhas brancas felizes.

Uma mão macia segurou o queixo de Loou e levantou seu rosto. Os olhos de Loou se acostumaram à claridade e ela analisou a face da garota à sua frente.

Seus olhos eram maravilhosos. Pareciam pedras preciosas, diamantes, e brilhavam como tal. Eram de um azul cristal cegante, e pareciam conseguir ver até a alma de Loou. Ela tinha cabelos louros levemente acinzentados, pele clara, bochechas rosadas e lábios cheios. Exibia um sorrisinho meio bobo. A menina usava um moletom azul e saia rosa bebê, combinando com os tênis tipo All-star.

Loou não conseguia desviar-se dos olhos de cristal à sua frente. Não disse nada.

- A diretora me falou de você! Loou, não é? Seu nome é uma gracinha - disse a menina, balançando seus cabelos muito ondulados que lhe chegavam à cintura.

- O-oi... - murmurou Loou, ainda fascinada pela beleza da garota.

- Eu sou Katie, muito prazer! A Kimi ainda está em aula... eu fui liberada e fiquei aqui só pra te receber.

- Obrigada...

Loou passou os olhos pelo quarto. Tinha uma cama estilo beliche, e outra normal. Essa primeira com uma roupa de cama estampada, nas partes de baixo e de cima, e a outra estava vazia. A um canto, uma mesa longa com vários papéis, dois notebooks e outras coisinhas, inclusive um urso rosa de pelúcia, gigante. Havia um sofá na lateral esquerda do quarto, com uma mesinha de café à frente. Em cima da mesinha, um vaso com uma flor. Esse último detalhe incomodou Loou.

Nas paredes, haviam muitos quadros coloridos. Loou percebeu que haviam muitas plantas no quarto, e ficou se imaginando o por quê disso. Não via nada de especial em plantas, nem em flores.

- Aquela cama ali é sua! Espero que não se importe de dormir sozinha...

- Anh? Ah. Não. Tanto faz.

Loou sentou-se na cama. Aquela menina era muito bobinha. Irritante. Katie aproximou-se e sentou ao lado de Loou, sorrindo.

- É provável que você acabe não conhecendo a Kimi hoje, Loou. É raro ela dormir nesse quarto.

Loou olhou para Katie, imaginando de quem era o quarto onde Kimi iria dormir esta noite.

- Tudo bem. Acho que vou dormir, Katie.

- Ah, eu queria poder conversar um pouco mais, pra te conhecer direito! - reclamou ela - mas tudo bem, você deve estar cansada. Vou pegar sua roupa de cama, espere aí.

Katie foi pulando até um armário e pegou um travesseiro e um edredom estampado de cores berrantes. Estendeu-os para Loou.

- Tenha uma boa noite.