Coalescência escrita por Lany


Capítulo 1
Prólogo: Dor




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*Alice*

-Esta quase acabando querida! – A voz sempre soprano de Lizbeth. – Minha avó –, estava em pura aflição. -Calma! Calma, falta pouco. – Pediu enquanto mais um grito rouco e agonizante passava rasgando por minha garganta seca.

  Não sabia o que fazer: tentei parar de respirar, pedi inúmeras vezes pela a morte, entretanto a pacifica escuridão que devia dominar meu corpo nunca chegava. A paz que o céu deveria trazer aos anjos também não chegava. – Afinal tenho apenas 15 anos, não me lembro de ter feito algo tão grave ao ponto de ser castigada e mandada para o inferno. – Inferno, me parece tão convidativo!

  Duas semanas, já faz duas semanas que sinto meu corpo, arder, queimar, deflagrar. Chamas parecem consumir-me e arrastar-me cada vez mais para um fundo mais doloroso onde não a fim. Voltei a gritar. O mesmo grito agonizado de antes. Por que eles não me matam? Será que eles não veem que isso não vai parar?

 Algo em mim estava mudando. – Eu sentia isso. – Parecia que eu explodiria a qualquer momento, é como se algo lutasse tentando atravessar todos os meus ossos, minha pele, e se libertar. Vovó não parava de tentar me explicar o que estava acontecendo comigo. –Pela primeira vez duvidei de suas palavras. –

  Cessou, a dor cessou. Não acreditava no que sentia, ou melhor, no que não sentia. Cessou por exatamente 6 segundos. Quando um pequeno sorriso, quase invisível começava a brotar em meus lábios, a traiçoeira dor voltou, e aumentou, aumentou, aumentou, chegou ao seu limite, e voltou a aumentar. Era bem pior do que antes, era impossível conter o grito, o pior deles. Pude ouvir os altos, soluços de minha mãe vindos do andar de baixo.

-Esta quase, apenas mais alguns segundos! –Vovó sibilou.

 Segundos? Segundos? Eu não suporto nem mais um milésimo de segundo. Voltei a gritar. Sentindo como se os ossos de meu corpo estivessem servindo de peças de um enorme quebra cabeça para uma criança que tira e coloca peça sem se importar com os lugares certos.

   O fogo lambia meu copo por completo cada mínimo pedaço estava coberto por ele. Ser pisoteada por búfalos selvagens, ser atropelada por milhares de trator, ser decapitada, dilacerada, tudo isso junto não se compara com o que sinto agora. A morte era o que desejava e infelizmente ela nunca chegava.

  A dor se concentrou em dois pontos fixos de minhas costas. – Onde tudo havia começado.  –Aos poucos pude voltar a sentir meus dedos, logo depois meus braços e pernas. Estava acabando! Era quase impossível acreditar, mas estava. Tentei concentrar-me onde não doía. Entretanto como uma criança teimosa – Incapaz de obedecer. – Meus pensamentos, meu corpo e tenho certeza que ate mesmo minha alma foram tomados pela dor massacrante que se fixou nas grandes retas que enchiam minhas costas, a dor era tamanha que não havia como gritar, eu tentei, queria de alguma forma aliviar o que sentia agora, mas o som não saia. Senti meu corpo tremer, tremer excessivamente e violentamente. A pouca sanidade que me restava dizia que isso não era normal. Eu estava em convulsão. – Mas psicologicamente não me sentia como tal. – Os braços de minha avó envolveram-me tentando me manter sobre as mantas e travesseiros cobertos de sangue, espalhados pelo o chão em baixo de mim. Era como fogo e ácido escorregando lentamente pelas aberturas de minhas costas. A queimação aumentou mais, mais e mais.  Sentir algo rasgar-me e enfim se libertar.

  E tão misteriosamente repentina como havia começado, Acabou.

Paralisei esperando qualquer sinal que a dor voltaria, passaram-se milésimos, segundos. – 30 segundos exatamente – E não voltou.

 Abri os olhos cuidadosamente, aproveitando cada momento sem a terrível dor. Não acreditando que enfim havia passado.

-Acabou, agora sim acabou e você foi ótima! Ótima. –Vovó sussurrou, os braços cobertos por meu sangue e os olhos marejando. Eu era incapaz de sorri, ou de lhe agradecer por estar comigo todo esse tempo. -Descanse! –Pediu enquanto afagava meu rosto.

 Deitei a cabeça sobre o pequeno travesseiro, estava cansada, exausta, não tinha forças nem para puxar o ar que me cercava, respirar deveria ser fácil, mas agora era uma tarefa extremamente difícil. Não sabia como aguentei tudo o que se passou, perguntava-me se havia morrido e a ausência de dor fazia parte do paraíso.

 Ouvi passos curtos subirem as escadas, pela delicadeza só poderia ser minha mãe! O porta foi aberta, e minha mãe – Ao ver minha imagem. Presumo.– Prendeu a respiração.

-Não! Não pode ser... minha Alice não! –Mamãe suplicava, provavelmente observando o meu novo eu!

-Eu sinto muito, por você. Sei que não queria isso para ela! Mas veja como ficou... ela esta linda. –Lizbeth ao contrario de minha mãe. – Que se preocupava mais com o que falariam de mim, do que como me sentia naquele momento. – Entedia o que se passava comigo, ela era diferente... igual a mim.

-Ela... ela... ela é uma aberração! –As palavras de minha mãe arderam em meu peito. Depois de tudo que passei, eu não precisava ter ouvido isso.

-Essa “Aberração” faz parte de quem ela é! Faz parte do que eu sou! Esta no sangue dela, no meu sangue, e por mais que pule uma geração está em seu sangue também. –Lizbeth estava calma, entretanto seu tom firme assustaria qualquer adulto que a contrariasse.

-Eu... Eu não... Posso! Não com ela... desse jeito.

Encolhi-me, abraçando minhas pernas. Não querendo e não sendo capaz de escutar mais nada. Estava com medo do que aconteceria comigo daqui para frente, do que seria de mim? Como eu viveria desse jeito? A preocupação manifestava meus pensamentos como se fosse algo palpável.

  As enormes asas, que agora faziam parte de quem eu sou, embalaram meu corpo de uma forma protetora. Eu poderia odiar quem ou o que eu me tornei. – Afinal essa modificação acabou com minha vida, com minha família – Mas como vovó disse, é isso que eu sou e não da para mudar.


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Notas finais do capítulo

Bom... é isso! Espero que gostem tanto quanto eu estou gostando de escrever a fic.
Esse é o prólogo e logo logo virá o primeiro capítulo, quanto mais cometarios vocês deixarem mais rapido eu posto.

Alguém já sabe o que a Alice é?

Bjoksss.



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