Quando o dia acabou, Marie tinha escolhido 11 quadros. Ia ser trabalhoso escolher o resto. Separou os 11 e depois voltou para a parte principal da casa. Subiu a escada até o seu quarto, e espiou para dentro do armário. Do que precisaria? Outro roupão de banho, jeans, a saia de camurça cor de champanha que, tinha certeza, agradaria a Justin. O que estava fazendo ali, no quarto de dormir de Mike, planejando a sua vida com outro homem? Estava sendo infantil, ou simplesmente maluca? O telefone tocou enquanto ela olhava para dentro do armário. Nem se sentia mais culpada, exceto quando estava falando com Mike. O resto do tempo sentia como se o seu lugar fosse ao lado de Justin. O telefone tocou de novo, e de novo. Não havia ninguém com quem tivesse vontade de falar. Sentia-se como se já tivesse se mudado. Porém, relutante, atendeu.

- Alô?

- Posso te buscar? Está pronta para vir pra casa? – Era Justin. E eram apenas 16:30.

- Tão cedo? – Sorriu ao telefone.

- Quer mais tempo pra trabalhar?

- Não, acabei por hoje. Escolhi 11 para a exposição. – A voz dela era forte, e ele sorriu.

- Estou tão orgulhoso de você que mal me agüento. Falei hoje a Meg sobre a exposição, vamos publicar um belo anúncio.

Ah, meu Deus, um anúncio, não. E quanto a Kim? Sentia como se estivesse com falta de ar quando falou de novo.

- Tem que ter anúncio?

- Me deixa cuidar do meu negócio, e você cuida do seu. Por falar nisso... – Começou a sussurrar coisas ao telefone, e Marie enrubesceu.

- Pare com isso!

- Por quê?

- Porque você está no seu escritório, e eu... estou aqui.

- Bem, se é só isso o que está te impedindo, vamos ambos dar o fora desses lugares. Eu te pego em dez minutos, está pronta?

- Desesperadamente. – Não podia esperar para sair da casa, cada momento que passava nela era opressivo.

- Desesperada o bastante pra ir até Carmel?

- Adoraria, mas e quanto a sua governanta?

- Está de folga. – Era desagradável estar se escondendo daquele jeito, mas ele sabia que Marie achava que não tinha escolha. Ela ainda não estava livre. – De qualquer maneira, não se incomode com ela. Eu pego você daqui a dez minutos. E, a propósito, Marie – Fez uma pausa enquanto ela esperava, imaginando o que ele diria; parecia muito solene. Então sua voz ficou baixa de novo, e ela quase podia o ver sorrir. – Eu te amo.

Ela sorriu, toda feliz, e fechou os olhos.

- Eu também te amo, Justin.

                                        ***

O fim de semana em Carmel foi uma delícia. Passaram os três dias andando pela praia, deitados ao sol, procurando conchas, juntando pedaços de madeira lançados à praia, e, uma ou duas vezes, enfrentando o oceano ainda gélido para um rápido banho de mar. Ela sorriu consigo mesma enquanto ele se deitava ao seu lado na manta, tremendo de frio da água do mar. Ela estivera se torrando ao sol, aumentando o bronzeado cor de mel.

- Do que está sorrindo, bela adormecida?

O corpo dele era fresco e úmido ao lado do dela, e a sua pele estava deliciosa quando ela se virou e correu os dedos pelo seu braço.

- Eu estava pensando que isso parece uma lua-de-mel, ou um casamento muito bom.

- Não posso saber, não tive nem uma coisa nem outra.

- Não teve lua-de-mel?

- Não de verdade. Nós a passamos em Nova York, ela era atriz e estava trabalhando numa peça off-Brodway, portanto passamos a noite no Plaza em NY. Quando a peça saiu de cartaz, fomos para a Nova Inglaterra.

- A peça ficou muito tempo em cartaz? – Parecia cheia de admiração, os olhos grandes e verdes e inocentes.

Justin sorriu.

- Três dias. – Justin mudou de posição para poder olhá-la. – Você era feliz com Mike, antes de eu aparecer?

- Pensava que era, às vezes. Às vezes me sentia terrivelmente sozinha. Não temos um relacionamento desse tipo. De um certo modo, não somos realmente amigos. Nós nos amamos, mas... é muito diferente. – Lembrou-se da última conversa deles, quando Mike mandara que ela não expusesse o seu trabalho. Ele ainda era a voz da autoridade. – Ele não me respeita como você... meu trabalho, meu tempo, minhas idéias. Mas precisa de mim, gosta de mim. Ao seu modo, ele me ama.

- E você ama ele? – Os olhos dele procuraram o rosto dela, mas ela não respondeu imediatamente.

- Pensei que não íamos falar nessas coisas, esse é o nosso verão. – A voz dela continha reprovação.

- Mas também é a nossa vida, existem algumas coisas que preciso saber. – Estava estranhamente sério.

- Você já as sabe, Justin.

- O que está dizendo?

- Que ele é meu marido.

- E que você não vai deixá-lo?

- Não sei, precisa perguntar isso agora? – Os olhos dela estavam cheios de tristeza. – Não podemos apenas ter o que sabemos que podemos ter, e depois...

- E depois, o quê?

- Ainda não sei, Justin.

- Eu prometi que não perguntaria, mas estou achando cada vez mais difícil.

- Acredite se quiser, eu também. Minha mente se dirige para o fim do verão, e fico me fazendo perguntas que não posso responder. Fico torcendo por um sinal de Deus, um milagre, alguma coisa que tire as respostas das nossas mãos.

- Eu também. – Sorriu pra ela e se inclinou pra beijar seus lábios repetidas vezes. – Eu também.