Travis olhou atentamente para a rua vazia em frente ao Empire State, alguns semideuses circulavam cansados e feridos. Ele também estava ferido, mas sabia que a guerra ainda não havia acabado, mesmo que o exército do titã Cronos tivesse partidos, pelo dia as forças de Cronos eram menores e ele tinha menos chances de vencer, mesmo que os semideuses já estivessem com sua previa de cartão de entrada para o mundo inferior.

Travis praguejou em grego, seu irmão não estava muito longe, ele tinha machucado o braço, em uma ferida um tanto séria e um dos garotos de Apolo estava cuidando do ferimento. Apertou o botão do elevador, teria que ir até o Olimpo, comer alguma coisa e voltar a se preparar para a guerra.

Não esperou muito até chegar ao ultimo andar e quando saiu demorou um pouco pelas ruas, conversando com seus amigos e fazendo piadas para amenizar o clima tenso. Continuou andando, ele ouviu disser que o chalé de Deméter preparara um banquete para todos comerem, chalé de Deméter...

Ficou nesse pensamento, quando viu alguém parado olhando para ele, poucos metros a sua frente. O cabelo castanho um tanto desgrenhado, a pele pálida, cortes pequenos por várias partes de seu corpo, os olhos verdes com um brilho determinado, ela parecia uma heroína de filme de ação e mesmo assim continuava linda.

-Katie...

Ela se aproximou, passou o dedo pelo corte que ele tinha na cabeça - nada sério - e limpou o sangue em sua própria roupa.

-Travis – ela sorriu, finalmente – você está bem?

Por um momento ele achou que ela não estava falando com ele, Katie Gardner era uma garota simpática, mas com um filho cleptomaníaco de Hermes? Nem tanto.

-Alguns arranhões, mas nada que vá me matar – ele disse – e você?

-O melhor que alguém pode estar numa guerra.

Ela sorriu mais uma vez e Travis sabia que ela estava triste, como todos, ela deveria ter perdido alguém especial, via pessoas se machucarem ou ela mesma se machucar, mas mesmo assim se esforçou e sorriu para ele.

Para ele, o cara que colocou coelhinhos de chocolate no telhado dela, o cara que roubou seus objetos favoritos, o cara que fez ela passar uma semana com o cabelo loiro em cor permanente.

Mas ela continuava a fazer isso, droga, ele odiava isso. Como ela podia ser tão odiosamente linda, legal, engraçada, gentil, bondosa e tanto outros adjetivos legais?

Travis não sabia o porquê, mas aquele momento poderia ser o ultimo em que a veria e sem excitar, ele sabia o que deveria fazer.

-Katie – ele disse cautelosamente, não queria que ela o batesse – Essa pode ser minha ultima chance, então, por favor, não me detenha.

Ela olhou para ele confusa, então perdeu o fôlego, como se já soubesse o que se passava pela cabeça dele.

-Eu não vou... Te deter.

-Ótimo.

Ótimo, por que seu próximo passo foi segura-la pela cintura e beijá-la como se fosse mesmo a ultima vez que a veria. E quando a soltou, nem mesmo ele sabia onde estava, demorou um pouco para se recuperar, olhar para ela e sorrir. Katie parecia confusa, mas olhou para ele e Travis podia jurar que ela pensava o mesmo que ele.

-Me prometa uma coisa.

Não era uma pergunta.

-Qualquer coisa.

-Fique vivo.

Ele sorriu, passou a mão pelos cabelos e girou a espada em suas mãos.

-É essa minha intenção.

Então tudo passou muito rápido e eles haviam vencido a guerra, em palavras parece muito fácil, rápido e lindo, mas a realidade foi dura, sacrificante e banhada a sangue. Ele não queria nem lembrar que pessoas que ele realmente gostava estavam mortas, mas ali estava o seu irmão e no meio da devastação, estava ela, pegando uma flor da calçada e sorrindo. Ela estava sorrindo!

Ele respirou fundo, sempre soube que Katie era apaixonada por ele – certo, ela brigava com ele o tempo todo, mas isso faz parte da relação – ela não podia resistir a Travis Stoll não é mesmo?

-Você é um idiota – escutou seu irmão dizer, se virou para ele, indignado.

-Não, você é um idiota. Mas o que eu fiz para merecer esse termo nenhum pouco idealizador da minha bravura?

Connor revirou os olhos escondendo o celular roubado dentro da calça jeans.

-Por que você não diz para ela logo? Sempre ajudei você com as brincadeiras, mas estamos no final de uma guerra, você quase perdeu a garota jardineira, irmãozinho.

Travis olhou para ele confuso, mas sabia que Connor estava certo, suspirou e seguiu até Katie, a garota olhou para ele sorrindo, mas quando notou o grande corte no braço de Travis, seu sorriso desapareceu do mesmo modo que surgiu: em um piscar de olhos.

-O que aconteceu?

-Ah, isso? Nada!

Katie fechou os olhos, então novamente os abriu e foi tão rápido que Travis quase não viu, mas bem, ele sentiu, e como. Um tapa bem dado em seu rosto.

Tinha vontade de dizer: garota louca! Olhe o estado do meu braço! Você não está ajudando.

-Isso é por me deixar preocupada, e isso... – ela não terminou, por que tascou um beijo nos lábios dele – É por cumprir sua promessa.

Travis levantou uma sobrancelha, indignado.

-Só um beijo? Isso não é nada Katie!

Ela apenas riu, então começou a dar pequenos beijos em seus lábios.

Ele estava vivo, ela estava viva. Então tudo estava bem.

Por que tudo era uma questão de aproveitar oportunidades.