Alugando Hermione Granger escrita por da_ni_ribeiro, thysss


Capítulo 9
Capítulo Nove




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                Não que ela gostasse de assumir, mas naquela manhã, olhando-se no espelho antes de sair para a aula, Hermione tinha de confessar que estava ansiosa, talvez até mais que no dia anterior, afinal hoje não só teria uma nova matéria em Cambridge, como também encontraria com Draco. Sabia que tinha de fazer de conta que não o conhecia, e sabia também que isso nem seria difícil de fazer – ela já sabia como ignorá-lo, simplesmente. Mas o grande motivo da ansiedade era não saber o que lhe esperava, Draco havia dito que eles se conheceriam no campus e começariam uma nova história, mas que início exatamente ele tinha em mente ao pensar nisso?

                Sendo uma romântica nata, era impossível para Hermione não pensar em como seria, se seria igual aos livros... Seu relacionamento com Draco deveria durar em média uns três anos, tempo suficiente para se conhecerem, casarem e ele conseguir seu lugar no parlamento – pelo menos era o que Draco havia lhe dito na madrugada em que ela aparecera em sua casa, três anos deveria ser o suficiente. Agora pensando assim ela já não tinha mais tanta certeza, mas não iria discutir.

                Só o que sabia é que se teria que aturar paparazzi e a falta de privacidade por três anos, que pelo menos fosse bom. Quanto a Cambridge, mais uma vez ela repetia que um diria iria pagar a Draco.

                Quando desceu os degraus do pequeno edifício, sorriu para Gina que a esperava na porta, pronta para acompanhá-la a faculdade.

- Muito obrigada por ontem – a ruiva agradeceu mais uma vez por Hermione ter dito a Rony que ela havia ido ao médico. Assim, ainda havia lhe dado uma desculpa para não comparecer a aula, podendo ficar a manhã toda com Harry, ou fosse qual fosse o nome do novo amor de Gina.

                Apesar de que dessa vez ela tinha de reconhecer que o relacionamento parecia sério. Nunca havia visto sua amiga tão deslumbrada por algum homem antes.

- Rony nem desconfiou de nada – revirou os olhos e logo as duas riram. Gina era uma boa distração para a ansiedade de Hermione. Focada em sua própria vida, ela fazia a amiga se esquecer da dela. – Nós fomos tomar café juntos, tudo bem que foi numa Starbucks que nem é grande coisa por aqui, mas mesmo assim, foi tão bom, como se fossemos um casal mesmo, sabe?

- Mas vocês não são um casal? – perguntou Hermione enquanto caminhavam, com uma sobrancelha arqueada.

- Para mim nós somos, mas para ele eu não sei – ela voltou a revirar os olhos, mas dessa vez não havia nada de engraçado na situação. – Porque, você sabe, ele nunca disse a palavrinha “casal” nem nunca me apresentou como sua “namorada” – Gina parecia realmente frustrada quanto a isso.

- Ah – a castanha pensou no que seria melhor dizer. – Vai ver é porque vocês ainda estão se conhecendo, faz o quê? Uma semana que vocês estão se encontrando? – arqueou uma sobrancelha.

- Quase um mês! – disse Gina com um gemido.

                Hermione não soube o que responder, e agradeceu ao ver que já se encontravam em uma das entradas do campus, assim poderia distrair Gina com qualquer outro assunto rapidamente.

- Você me mostra onde fica a minha sala? – perguntou para Gina, mudando de assunto de forma nada delicada. – Já bastou ficar perdida ontem!

- Eu mesma ainda me perco aqui algumas vezes – comentou Gina com um sorriso amigável.

                Disso Hermione realmente não duvidava, vivendo com a cabeça na lua não surpreendia que Gina se perdesse.

- Vamos logo – disse Gina a puxando pela mão, fazendo Hermione rir da afobação da amiga, era melhor que fossem logo mesmo, antes que Gina voltasse a falar sobre esse tal de Harry.

                Hermione nunca havia se encontrado com esse suposto namorado da amiga, mas por tudo que já ouvira sobre ele, sentia como se conhecesse a vida toda do rapaz.

                Com um suspiro ela pensou que poderia ser assim com Draco, sentir que já o conhecia, sentir que poderia ficar a vontade com ele sem toda a pompa que o cercava, mas sabia que isso não aconteceria, ainda assim, havia aceitado. Na outra noite ele dissera que seria por uns dois ou três anos, mas sinceramente ela não sabia como reagiria a isso, seriam dois ou três anos de convivência constante para depois simplesmente dizer adeus?

                Além do mais tinha que manter a mente aberta, podia ser por mais tempo, tudo dependia de como o parlamento iria aceitá-lo – e esse desafio incluía a ela também, dependia de como ela iria se portar ante os membros da sociedade britânica. E pensar nisso a fazia estremecer.

- Prontinho – Gina disse e só então Hermione voltou de seu devaneio, quando deu-se conta já estava parada na frente da grande porta que daria para mais uma sala de aula.

- Nos vemos mais tarde? – Hermione perguntou sorrindo para a amiga, não queria que Gina percebesse o quão tensa ela estava.

- Jantamos juntas! – disse Gina com seu típico entusiasmo. – Pode deixar que eu levo as pizzas – rindo Hermione maneou a cabeça, com Gina era sempre assim, ela simplesmente aparecia em seu apartamento com comida e elas passavam horas e horas conversando.

                Pelo menos naquela época o assunto variava, pensou Hermione com um humor contido.

                Deu um beijo na bochecha da amiga e entrou na sala, examinando cada carteira e os poucos alunos que já se encontravam na sala. Teria uma primeira hora de instruções sobre a instituição e logo começaria a aula – e Draco entraria em sua vida, supostamente pela primeira vez.

- O que está fazendo aqui tão cedo, Malfoy? – perguntou Gregory Goyle encarando o loiro que estudara com ele anos atrás.

- Goyle – disse Draco sem entusiasmo, mas visivelmente surpreso por encontrá-lo em Cambridge. Pelos poucos anos em que estudou com Goyle, tinha de dizer que o amigo nunca fora muito inteligente. – O que você faz aqui tão cedo? – perguntou com seu típico humor. – Achei que não precisasse estudar.

- E não preciso – disse Goyle dando de ombros. Ele assumira os negócios da família, e o pai lhe dava todas as instruções que precisava saber, muito mais especificas e garantidas que as que um professorzinho poderia lhe dar. – Mas se o tolo do William conseguiu alguém como Kate numa universidade – deu de ombros com uma gargalhada – pensei que poderia funcionar para outros membros da sociedade inglesa – e continuou a gargalhar.

                Por que todos insistiam em lembrá-lo de Kate? Todos os amigos que encontrava insistiam em tocar no nome da mulher que se casaria com o tolo do príncipe William. Há se eles soubessem que nem sempre Kate foi a santa que agora dizia ser, pensou com mal humor. A mera menção ao nome de Kate já era o suficiente para fazê-lo ficar mal humorado.

- Mas e você? O que faz aqui? – perguntou Goyle ainda com um riso.

                Fazendo a mesma coisa, pensou Draco, mas se conteve. Era ridículo que acabaria fazendo o mesmo papel que Kate fizera, ou melhor, estava fazendo Hermione fazer o mesmo papel – ridículo.

- Um mestrado – Draco deu de ombros, não era o tipo de homem que dava satisfações de sua vida para os outros. Pouco importava se Goyle sabia ou não o que ele fazia ali.

                De fato, cada vez que o despertador tocava quase de madrugada, fazia Draco se arrepender da ideia de conhecer Hermione deste modo. Mas o problema é que não haveria um outro motivo, melhor, que pudesse justificar o fato dele ter uma história com ela.

                Não ficou mais que dois minutos conversando com Goyle, logo inventou que estava atrasado e se afastou. Havia dito a Hermione que só entraria no segundo período, mas isso não o impedia de estar por perto para observá-la.

                Não demorou para encontrá-la, lá vinha Hermione junto com a amiga ruiva ao seu lado, mas parecia muito mais séria do que ele se lembrava, mas não se afetou por isso, tinha certeza que se devia ao fato de encontrá-lo hoje. Em poucos minutos ele estaria entrando na sala e se preparando para conhecê-la.

                A introdução que os professores tinham a dar estava sendo mais torturante do que Hermione imaginava que seria. Eles falavam e falavam, o tempo inteiro vangloriando as famílias ricas da Inglaterra que ajudavam a manter a universidade construindo novos centros de lazer e bibliotecas – isso a fez se perguntar se haveria alguma contribuição da família Malfoy no campus, certamente sim.

                Os minutos pareciam se arrastar, e sua vontade era de abaixar a cabeça sobre a carteira e fazer de conta que estava dormindo, o que, de acordo com vários outros alunos que ela observara, não era um crime, afinal metade da turma se encontrava exatamente assim, largados sobre as carteiras ou com fones nos ouvidos, ou ambos.

                A porta foi aberta inúmeras vezes, demonstrando que por mais que universidade quisesse aparentar ser uma instituição séria, os alunos não ajudavam nesse quesito. Alguns dormiam, quase nenhum chegava no horário certo, outros mexiam em seus celulares e computadores portáteis – Hermione teve de conter o desapontamento quanto a isso. Sempre imaginara que entraria em uma sala em Cambridge onde todos teriam tanto interesse quanto ela em fazer perguntas, em chegar no horário e prestar atenção, mas pelo que havia presenciado no dia anterior, era raro algum aluno levantar a mão e questionar – de fato a maioria das perguntas feitas haviam sido por conta dela – e o interesse não era grande.

- A senhor Malfoy – o professor falou com certo sarcasmo na voz e Hermione foi obrigada a se virar.

                Como se fosse a primeira vez que o via, Hermione prendeu o fôlego ao ver a beleza do homem que descia pelo corredor central. O cabelo loiro platinado estava perfeitamente penteado para trás, e o terno me ajustava a seu corpo definido. Draco era realmente alto, e em seus lábios um sorriso de desdém. Era como se ele pouco se importasse com o que o professor pensaria de seu atraso e por interromper a aula.

                Se Hermione estivesse em seu lugar, suas bochechas estariam mais que coradas e ela se sentaria na primeira carteira que visse, para não chamar mais atenção. Mas com Draco a situação era outra, ele preferiu parar no meio do corredor, inspecionando o lugar que mais lhe agradaria sentar: atrás dela.

- Devo me sentir honrado por sua presença aqui? – o professor perguntou com um sorriso meio sádico, que fez Hermione entender que aquele senhor provavelmente já havia dado aulas a Draco na primeira vez em que ele esteve em Cambridge.

- O senhor é quem sabe – respondeu Draco pondo o iPad que trazia em mãos sobre a mesa.

- Então se me permite continuar...

                Com um aceno de cabeça Draco concordou, deixando claro sua arrogância, e fazendo Hermione encará-lo abismada.

                Quem era aquele homem de verdade? Um arrogante aristocrata ou um jovem que não dava a menor importância para nada?

                Voltando a atenção para o professor, Hermione teve de se conformar em aceitar, Draco já estava cumprindo com a parte dele no acordo, agora cabia a ela aceitar o homem que ele seria, fosse arrogante ou não dando a mínima para nada. Não dava mais para voltar atrás.

                Foi então que decidiu que cada vez que Draco fizesse algo que não a agradasse, ela apenas manteria em mente “esse é o meu sonho”. Era o seu sonho estar em Cambridge, e o estava realizando graças a Draco, então acabaria por aceitar o modo como ele decidisse agir.

                Além do mais, não era como se ela realmente tivesse alguma escolha. E também não duraria para sempre.

                A aula quase acabava quando o loiro se aproximou, como quem não quer nada e lhe fez algumas perguntas superficiais sobre a matéria, inventando uma desculpa qualquer de que havia estado ocupado com seu próprio trabalho portanto não conseguira prestar atenção na aula. Como uma estudante que sempre foi, Hermione o encarou naturalmente e lhe mostrou suas anotações. Sentia-se prestando um papel ridículo, como se alguém como Draco Malfoy realmente não conseguisse entender uma matéria tão básica, e principalmente, iria falar justo com ela para tirar suas dúvidas.

                Maneando a cabeça, Hermione se lembrou de que não estava mais no ensino médio, onde as garotas populares a achavam uma esquisita por estar sempre estudando e tirando notas boas. Agora estava em Cambridge, bem distante das pessoas que haviam feito o ensino médio com ela.

- Eu ainda não entendi – respondeu Draco, ignorando o fato do professor ainda estar em sala explicando alguma outra matéria.

                O que complicaria para Hermione mais tarde, pois não conseguia prestar atenção ao professor tendo esse homem loiro e tão bonito, porque ela não podia negar que Draco Malfoy era realmente belo, ao seu lado.

                Os minutos finais da aula demoraram mais para passar do que Hermione gostaria, além do fato de que só teriam um breve intervalo e logo estaria de volta naquela mesma sala, com Draco Malfoy novamente ao seu lado, ou não. Esperava que ele não quisesse dar bandeira logo de cara, atraindo a atenção para cima dos dois já no primeiro dia de aula.

                Mas então lembrou a si mesma que agora faltava menos de um mês para o grande casamento real, e que se Draco pretendia mesmo que esse evento fosse a primeira aparição dos dois em público, tinham de acelerar esse processo de “se conhecerem”.

- Você está me desconcentrando – ela resmungou no minuto em que o professor os liberou.

                Revirando os olhos de seu jeito típico, Draco soltou um risinho e se afastou alguns passos.

- A propósito, sou Draco Malfoy – ele disse com uma piscadela, que fez as bochechas de Hermione corarem enquanto diversas alunas viravam-se para ver o loiro saindo da sala.

- Hermione – ela gritou – Granger – mas então ele já estava na porta da sala e certamente não ouviu.

                Com um sorrisinho Draco foi obrigado a se afastar, fingir-se de burro em nada o agradava, ainda mais a matéria sendo extremamente fácil. O professor não era de todo ruim, mas pigarreava demais e se perdia nas explicações, o que o fizera revirar os olhos diversas vezes, levando-o a focar nos assuntos que realmente lhe interessavam, como os lucros da família Malfoy.

                Sua família mesmo fazendo parte do parlamento britânico obviamente não dependia apenas dos lucros, que não eram baixos, que uma carreira assim gera; quando seu pai casou-se com sua mãe as empresas da família dela, sendo ela filha única, ficaram para Lucius administrar, e tinha de assumir que seu pai fizera um bom trabalho ao longo dos anos. A empresa crescera muito mais nos quase trinta anos em posse de Lucius que nos últimos 50 em posse da família de sua mãe, e agora cabia a ele continuar gerando tamanho lucro.

                E ouvindo repetidamente o que já sabia certamente não o ajudava, só o fazia perder tempo. Mas então, ao virar-se para o lado e se deparar com a bela castanha que vinha conhecendo nos últimos dias, e que por sinal tinha um acordo do qual ele tinha de cumprir sua parte, Draco abriu um sorrisinho e se aproximou dela bancando o aluno perdido na matéria – certamente o trouxa do professor que pensava que ele só estava ali por diversão, por poder pagar e se exibir e não por realmente querer adquirir conhecimento (não que fosse o caso no presente momento, mas anos atrás assim fora!) pensava exatamente isso: que ele era um aluninho burro. E por mais que lhe desse prazer mais tarde esfregar suas notas na cara do velho, no presente momento precisava de uma desculpa para se aproximar de Hermione – e sendo ela a aluna esperta que ele sabia que era, afinal havia tido acesso a todas as suas notas para fazer a matrícula dela na universidade, não havia ninguém melhor que ela para ajudá-lo.

                E dando uma olhada geral na sala, certamente não havia. Boa parte da turma era constituída por jovens que vinham de camisa achando já serem grandes advogados, quando a maioria ali não estava nem um mês na universidade – era patético! E as garotas não chamavam sua atenção no mais mínimo, olhando bem para cada uma só conseguia ver reflexos de Pansy Parkinson, todas com uma postura ereta sem nem olharem para o lado, fingindo que realmente prestavam atenção, mas no fundo deveriam estar pensando em algo totalmente mundano. E as outras poucas que não pareciam réplicas de Pansy, eram na verdade vulgares demais para terem a ambição de um se tornarem advogadas de respeito.

                No fim, mesmo que não tivesse ali com o propósito de conhecer Hermione Granger, ela acabaria sendo mesmo sua única escolha ao pedir ajuda. Ainda mais que não pretendia estar presente em cada aula, ela mais tarde poderia ajudá-lo com a matéria.

- Você está me desconcentrando – ela respondeu e ele se calou, de fato deveria estar fazendo isso mesmo. Com um sorrisinho pensou que no final das contas ele era quem acabaria ensinando Hermione Granger.

                O caderno dela estava cheio de anotações, enquanto ele com seu iPad aberto mal havia escrito duas linhas – que foram escritas apenas para ter algo para perguntar para Hermione depois, dando a entender que havia prestado o mínimo de atenção na aula.

                Quando o professor os dispensou, Draco saiu da sala ouvindo ela se apresentar: pronto, seu papel pelo dia esta cumprido, mas tinha de confessar que gostara de desconcentrá-la e não perderia a chance de incomodá-la um pouco sobre poder ajudá-la mais tarde, porque certamente Hermione não contava com isso – e ele adoraria vê-la surpresa.

                Voltando do intervalo ele se sentou ao lado dela novamente, que revirou os olhos e maneou a cabeça sem deixá-lo entender se apenas atuava por vê-lo ao seu lado novamente, ou se de fato a havia incomodado tanto assim.

- Não quis desconcentrar você – foi a primeira coisa que disse após se sentar. Ela deu de ombros. – Está mesmo bancando a difícil, hein Granger? – ele murmurou baixo e com humor. A sala ainda estava praticamente vazia, e os poucos presentes se encontravam sentados no fundo, distantes o suficiente para não ouvir o que eles falavam.

                Talvez estivessem só observando, pensou Draco sem um pingo de humor. Isso tendia a acontecer, fora assim no seu ensino médio, na faculdade, em cada saída que dava... Voltar a Cambridge mesmo que anos depois só mostrou a ele que muitas coisas não mudaram.

- Não vou cair tão fácil na sua lábia, Malfoy – ela respondeu e ele não soube dizer se estava falando a sério ou só se divertindo as suas custas. Em todo caso, a segunda opção lhe agradava mais.

                O tempo estava correndo, e o casamento do idiota do William com Kate estava chegando. E ele queria mesmo chegar lá com Hermione toda bonita e arrumada ao seu lado, para mostrar a Kate que no final das contas quem perdeu foi ela, e que ele acabou encontrando alguém ainda mais bela. Mas só de pensar que teria que ficar horas no mesmo ambiente do príncipe e sua futura esposa o fazia se sentir doente.

                Nunca gostou de William, isso era fato, mas o suportou durante toda sua infância, tinham idades semelhantes e foram ao mesmo colégio, mas quando conheceu Kate a situação mudou, e quando ela conheceu William, mudou ainda mais.

                Balançando a cabeça Draco decidiu que não queria se lembrar daqueles dias, Kate se casaria, e ele também estava se arranjando. Era mais do que hora de seguir em frente.

- Já arranjou um vestido? – perguntou com humor. Mas Hermione tinha mesmo de providenciar isso logo, ou melhor, ele tinha que providenciar junto dela, afinal não poderia aparecer no casamento real usando um vestido de uma grife qualquer. – Esqueça isso – maneou a cabeça. – Eu posso ajudá-la se quiser.

- Me ajudar? – ela perguntou com uma sobrancelha arqueada e Draco riu.

- Não com o vestido, por agora – complementou – mas com a matéria. Já aprendi toda essa porcaria.

                Ela franziu o cenho com uma pergunta se formando em seus lábios, pergunta essa que obviamente ele já sabia qual seria.

- Eu tinha de encontrar você mais que um dia na semana – ele revirou os olhos, porque somente uma matéria o faria ficar na mesma sala que ela se seguisse o cronograma certo.

                Nada que uma alteração no sistema e outra conversa trocada com o reitor não resolvesse.

- Falo em sério – e de fato falava – você perdeu as primeiras aulas.

                Ela tinha de aceitar que ele poderia mesmo ajudá-la, a matéria mal começara e ela já se encontrava um pouco perdida – não que não conseguisse resolver sozinha, mas era melhor assumir logo que precisava da ajuda de Draco para recuperar as aulas que perdeu a pagar papel de boba, porque ele queria vir como o garoto que não dá atenção a matéria e depois precisa de ajuda. Pelo visto, e não para o seu agrado, parecia que desta vez seria diferente.

                Apenas maneou a cabeça quando o professor entrou na sala, dando a Draco a resposta que ele queria. Então afastou-se duas cadeiras dele, porque realmente não estava ajudando sua concentração tê-lo tão perto, cada vez que o encarava lembrava-se das atitudes mesquinhas de puro aristocrata que ele era, assim como do acordo que permitia que ela estivesse ali naquele momento.

                Não poderia sentir nada por ele, e de fato não sentia. E queria garantir que fosse continuar assim.

                Nos minutos finais da aula, ela se surpreendeu por Draco não ter voltado a se aproximar, mas quando começou a guardar seu material, discretamente um cartão deslizou entre as folhas de seu caderno. Um cartão que ela sabia que não precisaria olhar para saber do que se tratava, era o telefone dele dado em público. Como se só a partir de agora ela estivesse permitida a ligar para ele ou lhe mandar uma mensagem.

                Pensando que era o certo a se fazer, passou por ele na saída, e sem dizer nada ele acenou para ela. Apesar de tudo, apesar de terem de cumprir o trato, de terem só um mês até o casamento, Draco Malfoy era um homem discreto que não sairia abraçando-a em público para provar que se conheciam. Apostava que ele nem se importava com isso, mas certamente sua família pensaria diferente.

                Poucos passos a frente de sua sala, uma animada Gina a esperava acenando com a mão, e ao seu lado o moreno de que tanto falava. O famoso Harry Potter, pensou Hermione com humor. E pela proximidade entre os dois, as coisas estavam ficando mais claras naquela relação, o que causou em Hermione um genuíno sentimento de felicidade por sua amiga.

                Gina podia ser meio bipolar de vez em quando, mas parecia realmente afim desse Harry.

- Olá – Gina disse com um sorriso, e Hermione não pode deixar de reparar na mão entrelaçada deles.

- Oi – Hermione respondeu com um pequeno sorriso.

- Esse é Harry – Gina não perdeu tempo – meu namorado – completou com uma piscadela e um sorriso ainda maior enquanto Harry, ao seu lado, apenas sorria. – E essa é Hermione, minha melhor amiga.

                Pelo visto as coisas andavam rápido com todos no campus.

                As apresentações foram rápidas e logo seguiam pelo campus até o estacionamento, onde Harry tinha deixado seu carro estacionado. Hermione seguiria para o outro lado, uma pequena caminhada até em casa – depois de negar a carona e combinar com Gina de se encontrarem mais tarde, ou melhor, lembrá-la de que haviam combinado isso – que a deixaria pensar no que acontecera.

                A aproximação de Draco na sala de aula fora simples e sutil, nada do que viera fantasiando, mas ainda assim parecia o jeito certo de fazer as coisas. Tinha de deixar um pouco de lado essa sua mente fantasiosa para contos de fadas e esperar as coisas acontecerem do jeito certo, do jeito que normalmente acontecem – sem exageros.

                O fato de Draco tê-la despedido do trabalho fez suas tardes se tornarem mais entediantes do que imaginava que seriam, o pequeno apartamento já havia sido limpo no dia anterior e agora não tinha mais nada a fazer. As compras haviam sido feitas a poucos dias. Tudo limpo. Só lhe restava estudar, mas não se surpreendeu ao se pegar estudando o cartão preto de letras prateadas que carregava o nome dele. Cartão esse que lhe mostrava efetivamente que Draco Malfoy estava entrando em sua vida, e não seria por pouco tempo.

                Quando a campainha tocou, horas mais tarde, Hermione nunca se sentira tão aliviada por ver a amiga. Definitivamente não poderia ficar muito tempo sem trabalhar, por mais que fosse tranquilizador saber que podia chegar a hora que quisesse em casa, saber que tinha tempo para cuidar de seus próprios assuntos e interesses e não ficar o tempo todo com o celular ligado caso precisassem que ela cobrisse algum turno, sim, isso era bom, mas por outro ela trabalhava há tanto tempo que não sabia mais como era ficar sem fazê-lo. Nem férias havia tirado nos últimos anos, considerando que cada gorjeta a mais era um acréscimo ao seu sonho – e agora ela não precisava de um centavo daquelas gorjetas para pagar a faculdade.

- Pelo menos você tem com o que se manter por um tempo – respondeu Gina depois de ouvi-la reclamar por meia hora sobre o assunto.

                A ruiva deu de ombros mordendo um pedaço da pizza de mussarela e Hermione riu baixinho, algumas vezes desejava ser mais parecida com Gina, no sentido de que sua amiga pouco se importava com o que acontecia, ela era a favor de só seguir em frente sem muito se preocupar, claro que isso já lhe causara problemas, mas Gina parecia confortável vivendo assim, e parecia ser realmente bom deitar a cabeça no travesseiro e só relaxar.

- Agora pode me contando quem foi o loiro que te deu uma piscadela quando você saia da sala – comentou Gina sentando-se novamente no sofá com os olhos claros arregalados pela expectativa. Hermione deveria saber que nenhum detalhe escapava dela. – Mal começou na faculdade e já arranjou um gatinho? – comentou rindo. – Meu irmão vai ficar decepcionado quando souber.

- Não é bem assim – Hermione deu de ombros, não querendo que Gina soubesse do acordo que tinha com Malfoy.

                Tudo bem que Gina fosse sua melhor amiga, mas sabia como ela era e tinha certeza de que se contasse alguma coisa, logo outras pessoas saberiam – porque a ruiva simplesmente não conseguia guardar muitos segredos, e se havia uma coisa que Hermione presava era a sua privacidade.

                Além do mais sentia-se um pouco envergonhada pelo que estava fazendo, não havia nada de sórdido no contrato e sabia que Draco nunca a obrigaria, mas ainda assim, era como se estivesse sendo usada e quando esse o prazo de validade ele a jogaria fora.

- E que história é essa do seu irmão ficar decepcionado? – perguntou, claramente desviando o assunto para outro tópico, com uma sobrancelha arqueada.

- Não vai dizer que você nunca percebeu – respondeu Gina de forma simples, dando de ombros. – Ele é caidinho por você desde que te conheceu.

- Eu era uma criança – comentou Hermione revirando os olhos.

- Como se isso importasse para ele – foi a vez de Gina revirar os olhos. – Além do mais agora você de criança não tem mais nada – disse com um riso.

                Gina não tinha mesmo jeito, e jamais dispensaria os comentários que a faziam ficar corada.

- Mas acho que agora ele não tem mesmo mais chance com você – continuou falando e Hermione apenas suspirou. – Mas também pudera, eu vi aquele loiro e realmente, sou muito mais ele que o feio do meu irmão – Gina vivia pegando no pé do irmão, mas sempre o amara incondicionalmente e seria capaz de tudo para defendê-lo.

- Ele nunca teve uma chance comigo – Hermione retrucou com as bochechas coradas. – E você sabe disso! Espero que não tenha ficado iludindo ele esse tempo todo.

- Claro que não – ela respondeu pegando outro pedaço de pizza. – Não é a toa que volta e meia ele aparece com alguma garota lá em casa, eu vivo jogando garotas para cima dele – riu.

- Isso não se faz! – retrucou Hermione com o cenho franzido.

- Era você ou outras opções, eu procurei outras opções – deu de ombros ainda rindo.

                O que lhe agradava em conversar com Gina era que a conversa era sempre tranquila e fluía bem, a fazia relaxar e se esquecer um pouco dos problemas que a rondavam.

- Mas e você e esse Harry, o que me conta? Que história é esse de namorado? – perguntou Hermione com animação. Estava realmente feliz pela amiga. – Ontem mesmo você resmungava que ele não considerava você em nada.

- Eu sei – ela disse com um sorriso. – Mas tivemos um período livre, ele me levou para tomar café e me pediu em namoro – comemorou ela sorridente e com as bochechas coradas. – Não foi o pedido mais romântico que eu já vi, mas foi tão lindo e espontâneo.

                Hermione sorriu voltando a prestar atenção em sua fatia de pizza.  Quando Gina saiu dali, não muito mais tarde, Hermione olhou para o apartamento e suspirou, pelo menos teria algo para distrai-la no dia seguinte. Rindo de seus próprios pensamentos mergulhou sob as cobertas para se entregar ao sono, só então se deu conta de quão cansada estava.


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Notas finais do capítulo

n/a: ok, podem reclamar que demorou ainda mais dessa vez! Mas foi por falta de comunicação entre a Dani e eu... não sei se compensa, mas pelo menos esse capítulo é longuinho :)
Espero que gostem e comentem!
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Beijos.