–Ahn… Alguém pode me ajudar, por favor? - as pessoas passavam por mim como se seu nem existisse - Por favor? Alguém… - um cara passou pisando no meu pé - Ai! Ei, olha por onde… Eu tô falando sozinha… Ótimo…

Saí do aeroporto.

–Eu posso me achar sozinha. É só pegar um táxi e pedi para ele me levar pro… ho… tel… Puta que paril! Londres é muito lindo! - falei. As pessoas me encararam como se eu fosse uma doente. Abaixei o olhar, contrangida. Um táxi parou na minha frente.

Entrei no carro.

–Para onde, senhorita?

–Me leve ao Strand Palace Hotel, por favor.

Ele apenas assentiu com a cabeça e dirigiu. Encostei a cabeça no vidro e relaxei. Quando chegamos ao hotel paguei o táxi e desci.

Quando finalmente estava no meu quarto, deitei na cama por alguns segundos, quando senti uma extrema necessidade de tomar banho.

–Aquele velho com cara de tarado encostou em mim… E ele tinha cheiro de cigarro. - cheirei minha blusa - Agora eu tenho cheiro de cigarro! - liguei meu iPod e coloquei pra tocar Teenagers, do My Chemical Romance, enquanto eu tomava banho.

“They’re gonna clean up your looks,

With all the lies in the books,

To make a citizen out of you.

Because they sleep with a gun

And keep an eye on you son,

So they can watch all the things you do.

Because the drugs never work

They’re gonna give you a smirk,

Cause they got methods to keep you clean.

They’re gonne rip off your heads,

Your aspirations to shreds,

Another cog in the murder machine”

Eu cantava animadamente durante o banho quando a música foi bruscamente trocada por Push.

Alguém estava me ligando.

Coloquei a toalha e saí do banho, era Lucas.

–Hey, what’s up? - atendi.

–Já chegou?

–Já. Tava tomando banho.

–Como ousa chegar em Londres e não me ligar? Quer que eu pense que você morreu? Quer que eu morra de preocupação, garota? Qual seu problema? Tem titica na cabeça? Não acredito… Eu aqui preocupado e você aí tomando banho. Esqueceu que tem amigos, é? Eu te mandei umas 20 mensagens perguntando como você tava e você nem me respondeu! Quando você voltar pro Brasil, eu vou arrancar sua cabeça com um golpe de kung-fu, tá ligada? Acho melhor você ir se preparando, Rebeca Cortez, porque seu contrato com a morte está assinado!

–Calma, Lucas! - falei entre risos. A marca voltou a arder, dessa vez, ardia muito - Ai!

–O que foi?

–É o motivo pelo qual estou aqui…

–Que é…?

–Depois te ligo. - desliguei e voltei pro banho, na esperança de que a ardência passasse em contato com a água.

Coloquei música pra tocar, entrei no boxe e liguei o chuveiro, um jato de água gelada caiu diretamente em cima da marca.

–AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Estava escuro e embaçado. Uma jovem de cabelos vermelhos corria, desesperada. Estava chovendo. A garota entrou num beco. Dois olhos vermelhos a encararam, ferozes.

Abri os olhos, estava deitada no chão do boxe. A água caía diretamente sobre minha barriga, que já estava sem sensibilidade. Levantei aos poucos, estava tonta e minha cabeça doía. O que aconteceu?, eu me perguntava. Desisti daquele banho e fui vestir alguma coisa.

Coloquei uma camisa de lã, uma calça jeans e calcei uma bota. Jantei alguma coisa no restaurante do hotel e subi para minha suíte. Troquei o jeans por um moleton, tirei as botas e coloquei uma meia listrada. Assim dormi, estava cansada da viagem e confusa pelo fuso-horário e ainda atordoada pelo desmaio e a estranha visão que tive no banho.

Tive um sono tranquilo pela primeira vez desde que a marca aparecera.