Acordei com o célular tocando, os olhos pesados teimavam em não abrir mas fiz um esforço e atendi mesmo sem olhar quem era:

-Alô ?

-PARAAAAAAAAAAAAAAAAAABÉNS STEPH- duas vozes femininas e muito familiares, Lisa Prescott e Tiffanie Wells, as minhas melhores amigas.

-Obrigada meus amores, pelos parabéns e por me acordarem.- disse num tom sarcástico, afinal eram dez horas da manhã.

-Stephanie é seu aniversário, não vai ficar o dia todo na cama, hoje vamos a Ducan fazer compras esqueceu ? Tem que estar pronta ás duas, temos meia hora de viagem e muitas compras para fazer. Minha mãe me emprestou o carro, é de aproveitar.- Lisa já tem 16 anos, tirou a carteira de motorista á pouco tempo e a mãe dela, sra.Prescott, ainda tem medo que ela conduza.

-Claro que eu não esqueci, eu já vou tomar banho.

-Depois ainda vamos ao salão, você tem que arranjar o cabelo.

-Eu prefiro que sejam vocês a arranjar o meu cabelo meninas, é um jantar simples, com amigos e familia.- minha mãe em todos os aniversários reunia amigos e familia no jardim das traseiras de minha casa, fazia sempre um churrasco, minha avó fazia sempre isso quando morava no Brasil e minha mãe diz que quando faz isto é como se tivesse lá, em São Paulo. Minha avó emigrou com ela e com meu avô aqui para o Canadá quando minha mãe tinha 16 anos, desde então ela só foi uma vez ao Brasil.

-Bom você é que sabe, agora vá tomar banho que não pode chegar atrasada.

-Ok, beijos meninas.- desliguei e fui tomar um banho rápido, vesti meu robe e abri a janela do meu quarto. Fiquei analisando a rua do meu bairro, por vezes eu me perguntava como seria morar no Brasil, eu e Daniel, meu irmão, já nascemos no frio Canadá, esta é a cidade natal de meu pai, Stratford que fica no sul por isso não sofremos muito com as baixas temperaturas no verão, porém no inverno o clima é muito rigoroso e neva muito.

Apesar de sermos Canadenses minha mãe diz que nosso sangue é quente, é sangue Latino.

Desci para tomar café e a casa aparentemente estava vazia, fiz um suco natural de laranja e umas panquecas com nutella e morangos, hoje decidi caprichar no pequeno almoço. Fiquei assistindo o programa da Ellen e lavei as louças do pequeno almoço. Arrumei umas roupas no meu não muito grande closet, e pensei no que iria fazer para o almoço, tinha que ser uma coisa rápida e simples por isso optei por feijão, meu irmão adora.

Vesti um roupa de andar em casa e desci para preparar o almoço, sentei na cozinha lendo umas revistas, foi quando meu irmão apareceu na porta da cozinha, com o skate na mão e todo vermelho:

-Já foi andar de skate a uma hora dessas ?

-Fui com o Ryan e com o Chaz, seu namorado não quis vir.

-Ui, deve de estar doente para não ir.

-Maninha, isso agora não é importante, o importante é que você faz anos, PARABÉNS- ele veio no meu encontro pronto para mais um abraço de partir ossos, apesar de Daniel ser um ano mais novo que eu tinha uma força imensa:

-Credo Daniel, vá tomar um longo banho.- disse tentando me soltar daqueles pesados braços, ele tirou o boné vermelho e pousou em cima do balcão:

-Stephanie o que é o almoço ?

-Feijão, sim agora é a parte de você dizer que eu sou a melhor maninha do mundo.- disse fazendo posse, Daniel riu e subi as escadas correndo.

Continuei lendo a matéria da revista, que falava de Johnny Depp.

A campainha tocou:

-DANIEEEEEEL, OLHA A PORTA.

-NÃO POSSO IR, VÁ VOCÊ.

Rolei o olhos e caminhei até á porta da frente:

-Parabens shawty.- era Justin, só poderia ser ele por causa do "shawty", ele tem um vicio com essa palavra.

-Obrigada.- sorri e ele entrou, segurando minha cintura e depois me roubando um beijo, o meu namorado é mesmo um sonho. Sinto arrepios cada vez que estou com ele, como se fosse pela primeiro vez que o visse, pelo primeiro beijo, não sei descrever  a sensação mas era bom poder sentir isso.

Com o barulho de Daniel descendo as escadas paramos o beijo e fomos para o sofá:

-Interrompo alguma coisa ?- ele disse apontando para nós dois e com os olhos muito abertos.

-Imagina, senta aqui com a gente.- Daniel fez o que Justin disse e ficou nos fazendo companhia, queriamos que justin ficasse almoçando com a gente mas ele hoje iria almoçar a casa da avó dele.

E Daniel fomos comer, apesar de eu quase engolir a comida pois estava atrasada:

-Ja vou Daniel, depois arruma a cozinha.

-Onde vai ?

-A Ducan.- disse quase berrando e subindo as escadas de lanço, vesti uma roupa qualquer e apanhei meu cabelo num coque mal feito e peguei minha bolsa.

Desci, fiquei sentada nos degraus de madeira em frente a minha casa esperando-as. Começei a pensar em como a minha vida era boa e má.

Meu pai trabalhava com o meu tio Kevin na sua empresa de carros, passava muito tempo fora e pouco tempo em casa.

Tenho saudes de ir na casa da tia Rosi, que fica na margem do grande lago do Urso, beber um chocolate quente com ela e pescar quando o tio Kevin está cá, de acamparmos e vermos as constelações.

Eu amo a zona da margem sul da lagoa, eu morei lá muito tempo. Quando me mudei para cá tinha 8 anos, por isso lembro muito bem.

Uma irritante buzina interrompeu o meu pensamento, só poderiam ser aquelas garotas.

Entrei no carro e seguimos rumo a Ducan, não havia tráfego a essa hora o que facilitou a condução de Lisa.

Chegamos a Ducan mais ao menos á hora prevista, estacionamos o carro e fomos no shopping, subimos até ao segundo andar e fomos na loja "Pretty Claire", comprei lá um vestido e um salto azul. Demos umas voltas ao shopping e eram cinco horas quando entramos no carro.

Quando entramos na auto estrada vimos que o tráfego estava um caos, tudo completamente parado, Lisa não parava de tocar na buzina:

-ANDAAAAAAA PALHAÇO, NEM MINHA AVÓ CONDUZ ASSIM.

-Lisa tenha calma, eu também não aguento mais esse tédio.

-Já sei, não fico nessa estrada nem mais um minuto, GOODBYE LOSERS- ela fez um desvio na estrada:

-Lisa tem a certeza que este é o caminho certo ?

-Tenho baby, sei que é por aqui.

Enquanto elas falavam eu ia distraida ouvindo músico no ipod, quase caindo num sono profundo. Consegui fechar os olhos por uns momentos, e quando os abri novamente vi que Lisa tinha razão, estavamos entrando em Stradford.

Elas me deixaram em casa e eu subi, me vesti e apanhei o cabelho numa trança de lado natural, fiz um make básico e fiquei sentada no cadeirão perto da janela.

Estava me sentindo mal, a minha cabeça latejava de dores, chamei a minha mãe. Mesmo o fato de levantar a voz já era demais para a minha cabeça:

-Mãe eu acho que estou doente.- ela colocou as costas da mão na minha testa:

-Você tem febre Stephanie, tome um comprimido.- ela saiu do quarto e eu fui no banheiro procurar os comprimidos, tomei dois de uma vez, com água gelada para acalmar o efeito da febre no meu corpo.

Minha mãe chamou meus amigos mais próximos, meus avós, Pattie e tia Rosi para o jantar, quando desci só faltava tia Rosi, Justin, Ryan e Daniel chegarem.

Fui até lá fora falar um pouco com os meus avôs, passado um pouco tia Rosi chegou:

-Ai a minha sobrinha preferida está ficando tão grandinha.- corri pra ela e lhe dei um grande abraço, como eu amava minha titia. Ela é a única irmã de minha mãe e é nova, tem 27 anos. Ela passa muito tempo sozinha, tio Kevin passa maior tempo fora de casa, ele é o dono da empresa onde meu pai trabalha, eles são sócios. Eu e Rosi fazemos grandes planos quando estamos sozinhas lá na casa do lago, minha tia é como se fosse minha irmã.

-Que saudades tia e ainda só passaram duas semanas.

-Ei, que tal ir dormir lá em casa no próximo fim de semana ? Nas férias você já sabe que fica lá acampada.- ela disse rindo e me entregando um embrulho.

-Tia, você sabe que não precisa disso.

-Cala a boca e vamos entrar.- ela comprimentou os avôs e nós entramos, sentamos nós sofás e Pattie estava desviada fazendo uma chamada.

Os três meninos chegaram, finalmente.

Pattie fuzilou os três com os olhos e minha mãe disse:

-Daqui a pouco nós até iamos na policia participar o desaparecimento dos garotos.

-Vamos comer ?- Ryan como sempre pensando em comida e desviando o assunto, nós rimos e fomos para a mesa.

Quando acabamos o jantar cantamos os parabéns, eu estava cheia de vergonhamas tentava disfarçar.

Como estava calor fomos para o jardim, eu, Justin, Daniel, Lisa, Tiffanie,Chaz e Ryan sentamo-nos na berma da piscina combinadando um "acampamento" nas férias de natal. Como neva muito aqui nessa época nós não acampamos com tenda. Vamos para umas casinhas feitas de troncos, que são muito acolhederas e existem em grandes quantidades aqui.

As pessoas começavam a ir embora, até mesmo Pattie teve que arrastar o Justin pra fora de minha casa.

Tia Rosi ficou um pouquinho lá comigo com Daniel e com a mãe, ficamos tomando café e assistindo um pouco tv. Ela disse que o tio Kevin avisou que eles não poderiam ligar desejando os parabéns por causa de reuniões e do fuso.

Quando ela foi embora nós subimos para dormir, tomei mais dois comprimidos para aquela febre irritante, tirei a maquilhagem e vesti o pijama e me deitei.

Estava cheia de frio, provavelmente pela febre, tirei mais duas cobertas do closet e coloquei-as por cima da que tinha na cama, fiquei me virando de um lado para o outro mas o sono teimava em não vir.

Começei a ouvir um barulho, parecia de uma pedra batendo em algo.

Confesso que estava ficando assustuda, me levantei lentamente e caminhei em direção á janela e inclinei a cabeça devagar pra ver quem era. Justin, era ele, sweetshirt preta de capuz, provavelmente pra não os vizinhos não o reconhecerem. Fez sinal pra eu descer e eu acenti, tentei fazer o minimo barulho possivel e fui abrir a porta lateral do jardim. Ele me deu a mão e me puxou pra perto da piscina:

-Justin o que está fazendo ?

-Acha que eu ia deixar passar essa data em branco ?- ele disse sorrindo olhando para o célular, colocou uma música calma e pousou o célular em cima da mesa.

-A senhorita me concede essa dança ?- ele se inclinou e esticou á mão na minha direção, como um verdadeiro principe.

-Com todo o prazer.- dessa vez fui eu que fiz uma vénia meia desajeitada, tentando imitar as princesas da Disney mas sem sucesso.

Eu enrolei meus braços em torno do seu pescoço e ele abraçou minha cintura, abafei minha cara em seu peito e fiquei sentindo seu perfume leve e fresco como um bebê.

E ali estava eu, de pijama e descalça, sentindo a grama fresca e com febre mas esqueçendo os promenores só por estar com ele, o garoto que tentava não ser conhecido pelos vizinhos usando uma sweetshirt preta, o meu namorado, simplesmente o Justin.

Quando a música parou continuamos dançando, até eu ter a iniciativa de começar um beijo.

As mãos de Justin deslizaram até ao meu pescoço e nós ficamos namorando um pouco, no jardim de minha casa, de madrugada:

-Justin agora você tem que ir.- disse interrompendo um beijo e empurrando ele.

-Já ? Porque ?

-Você já viu se alguem nos apanha ? Nem pensar, amanhã temos muito tempo pra ficarmos juntos.

-Ei ei e eu não mereço nada ?

-Você é o melhor namorado do mundo.- disse entre selinhos e o expulsando oficialmente de minha casa, ele correu até ao fundo da rua e eu entrei dentro de casa, subi as escadas lentamente e fechei a porta do meu quarto, fiquei na frente dela fazendo peso como se estivesse impedindo a entrada de alguem e soltei um "uffa".

Esta surpresa do Justin foi coisa de filme mesmo, foi a melhor prenda que alguma vez poderia ter recebido em toda a minha vida.