PVO Silena

     --- Nada, mãe! --- gritei de volta.

     --- Tá bom --- disse ela ironicamente --- Então eu to descendo ai!

     Charles abriu a porta da despença e fez um sinal para que Luke se escondesse lá dentro.

     --- Oi --- disse para mamãe, que havia acabado de entrar na cozinha.

     --- Expliquem-se --- disse ela bravíssima --- Por que toda essa algazarra?

     --- É que o Charles estava com fome... --- comecei.

     --- Eu né? --- interrompeu Charles.

     Eu o ignorei e continuei:

      --- Daí ele me chamou para ir fazer um lanche com ele. É claro que eu não queria, mas ele insistiu porque estava morrendo de medo de... cachorros.

        --- Cachorros?! --- disseram mamãe Charles ao mesmo tempo.

        --- Sim, é claro... cachorros... eu morro de medo deles --- disse Charles meio sem graça.

        --- Tá --- disse mamãe pouco convencida --- Se foi isso que aconteceu, por que berrou por ajuda Silena?

         --- Porque...

         --- Tinha acabado a geléia --- interrompeu Charles.

         Mamãe encarou-o desconfiadamente.

         --- Não precisava ter gritado --- disse ela --- Era só me chamar.

         --- É que ela não queria atrapalhar --- falou Charles.

         --- atrapalhar em que? --- perguntou mamãe, e pude jurar que a vi corar.

         --- Haa, sei lá --- disse meu irmão corando também.

         --- Que tal irem para a cama os dois, em? --- perguntou ela, mudando de assunto.

         --- Boa ideia --- falei indo para meu quarto.

         Esperei até que tudo se silenciasse e fui ao encontro de Luke.

         Ajudei-o a sair da despença, e levei-o até meu quarto. Peguei alguns curativos e comecei a cuidar de seus machucados. Comecei limpado o sangue e não pude deixar de notar que este tinha uma coloração...

           --- Dourada? --- falei baixinho.

           --- Sim, os nórdicos têm essa cor de sangue --- explicou Luke.

           --- Nem todos --- disse pensando nos ferimentos no braço de Kathy.

          A luz do sol nascente batia em meu rosto, iluminando diretamente meus cabelos.

          --- Você é muito bonita, sabia? Mesmo com esses cabelos negros e bagunçados.Você fica feroz! --- disse ele em tom de brincadeira.

            Eu corei.

            Muitas pessoas diziam que eu era bela. Tinha olhos claros e cabelos negros ondulados, aparentemente havia puxado meu pai, ao contrário de Charles, que herdara os olhos e os cabelos de mamãe.

              --- Obrigada.

              --- De nada.

              --- Você também é muito bo-bonito --- o que! Por que eu dissera aquilo? --- Quero dizer... lindo... ou melhor, maravilhoso.

               Baixei a cabeça, envergonhada.

                Ele levou a mão à meu rosto e vagarosamente foi levantando-o e se aproximando cada vez mais de mim.

                Sua mão era quente e gentil.

                Seus lábios estavam a milímetros dos meus.

                Fechei os olhos esperando o beijo.

                Bateram na porta.

                 Ele ignorou e me beijou. Uma carga elétrica percorreu meu corpo, e gostaria que aquilo nunca mais acabasse.

                  E então pensei: por que estava fazendo aquilo? Ele era um cara nórdico, de sangue dourado e que havia tentado roubar comida de casa. Eu mal sabia quem ele era. E se estivesse mentindo?

                  Afastei-me delicadamente.

                  Ele corou e cochichou:

                  --- Desculpe, fazia tempo que não me sentia... atraído por alguém.

                  Ouvi batidas na porta novamente.

                  --- Si, deixe-me entrar!

                  --- Já vai Charles, vou destrancar...  --- falei.