Eu ouvia todos os tiros, golpes de espada, flechas, balas de canhão, pessoas e coisas assim sendo jogadas de um lado para o outro. De onde eu estava, podia até ouvir Smoker tragando seus inúmeros charutos.

  Bem, talvez não fosse por eu estar naquele lugar, mas pelo meu estado de agonia e nervosismo.

  Minhas mãos suavam e eu me culpava pelo que eu não fiz para impedir aquilo tudo. Eu sentia que tinha que ajudar meu neto. Mas não podia. Não que, àquela altura, fosse fazer alguma diferença qualquer movimento que eu pretendesse realizar.

  Não era só eu que estava paralisado, pensando tão rapidamente e em coisas tão complexas que o corpo não se mexia. Muitos piratas e marinheiros estavam assim no campo de batalha.

  A diferença é que eles tinham Medo.

  E eu tinha Dor.

  Sim, Dor. Essa maldita Dor que dilacerava meus pensamentos. Dor por não conseguir salavar Ace. Dor por não conseguir ajudar o Luffy. Dor por não ter os criado direito. Dor por não poder fazer nada. Dor pelas dores dos dois.

  Dor, também, pela Dor do Shirohige, que, ao ver seus filhos caindo um a um, não deveria estar muito melhor que eu.

  Naquele campo de batalha interminável e imenso, eu me lembrei dos pequenos momentos ao lado dos dois quando eram crianças. Eles rindo, se encolhendo diante da minha presença. Declarando que se tornariam piratas sem saber que eu estava por perto.

  O que eu teria feito se eu soubesse de tudo isso? Talvez... Passado mais tempo perto deles? Talvez... Os impedido de ir para o mar.

  A questão é: Olhando agora para o que aquela execução havia se tornado, eu percebi que fui um péssimo avô.

  Não, eu fui mais que péssimo. Eu não mereço nem que eles me considerem alguém da família. Eu não mereço que eles me chamem de ‘avô’, porque eu não fiz nada de bom para eles esses anos todos. Apenas os dirigi à morte. O que eu realmente não deveria ter feito.

  Mesmo assim, eu amo aqueles dois pivetes encrenqueiros. Eu não sou um avô para eles, mas eu ainda tenho uma ínfima esperança de que eles me perdoem.

  - Não pense coisas idiotas, jiji. – Ace sussurrou ao meu lado, enquanto Sengoku estava distraído olhando o campo de batalha. – Mesmo que não quiséssemos, você sempre seria nosso jiji, porque não existe outra pessoa que agüente fazer o seu trabalho.

  - Perdoe-me, Ace. – Respondi, tentando manter as lágrimas dentro de meus olhos velhos e cansados. Recebi de Ace um simples ‘tsc’ dolorido, quando percebi que Luffy se aproximava por uma estranha passarela até o topo da plataforma.

  E eu percebi que tinha que fazer o que eu achava que era certo. Mesmo que não estivesse certo realmente. Então eu caí. Caí quando Luffy me acertou com seu “Punho do Amor – Versão Neto”. O que mais eu poderia fazer afinal, um velho como eu?

  Depois de um tempo, enfim, a Guerra dos Melhores estava chegando perto de seu término.

  Eu ouvia tudo. Tudo o que acontecia, dali eu podia ouvir. Ouvia todos os tiros. Todos os golpes de espadas. Flechas, balas de canhão, e pessoas sendo atiradas de um lado para o outro.

  Ouvia Smoker fumando seus charutos. Ouvia Tashigi gritando ordens. Ouvia Luffy gritando. Ouvia gente lutando. Ouvia marinheiros caindo. E Piratas chorando por seu ‘Pai’. Ouvia a indignação de Sengoku e as piscadas de Ivankov. Ouvia Jinbei tentando pôr alguma ordem naquilo.

  Ouvi as últimas palavras de Shirohige e o último desejo concretizado de Edward Newgate. Ouvi a risada insana de Teach. Ouvi Trafalgar Law chegando e indo embora. Ouvi quando Coby parou aquilo tudo. E ouvi Shanks acabando de vez com a desordem.

  Ouvi quando Ace caiu. E também quando Luffy, aos prantos, gritou e desmaiou. Ouvi ele sendo levado por Jinbei e todo o resto do grupinho que ele trouxera de Impel Down.

  Ouvi tudo naquele dia. Eu só não consegui ouvir...

... Minhas próprias lágrimas.