Mayumi fica nervosa. Já tem certo apego por Vagner apesar de estarem apenas ficando, mas ela não quer que ele se afaste dela, coisa que ela não tem certeza se vai acontecer ou não depois daquela conversa.

 - Vai Japinha, começou, então vai até o fim. O que você lembrou que pode fazer com que eu mude com você?

 - Vagner, antes do acidente eu tinha um namorado. Ele terminou comigo e por isso eu sofri o acidente.

 - Disso eu sei. Esqueceu que quando isso tudo aconteceu eu estava com a Manuela e o André? Lembro dessa história aí.

 - Certo, mas tem outras coisas envolvidas que você não sabe. Coisas que eu tenho me lembrado por partes e agora finalmente juntei tudo.

 - Certo e que coisas são essas?

 - Você lembra da vez que fui ao cinema com você e tive umas sensações estranhas lá? Do pesadelo que tive aquele dia aqui na sua casa?

 - Lembro claro. Tem a ver?

 - Tudo a ver. Eu já estava me lembrando do Hugo.

 - Pelo visto não eram lembranças boas né?

 - Não. Eu me lembrei do jeito que ele me tratava. E em grande parte das vezes era mal.

 - Se isso te deixa mal não precisa falar japinha, eu entendo.

 - Não Vagner, eu prefiro e preciso falar. Me sinto bem falando com você.

 - Certo, então pode continuar. Em que sentidos ele te tratava mal?

Ao perguntar isso, Vagner viu que a expressão de Mayumi trazia rancor e vergonha ao mesmo tempo. Ele já sabia o que ela diria, afinal já havia conversado com Manuela, mas também havia prometido que Mayumi não saberia.

 - Em todos os sentidos Vagner. – começa Mayumi. – Ele era muito frio, distante, não me tratava como se eu fosse namorada dele. Mas eu gostava dele e era cega. Minhas amigas percebiam, mas não me falavam nada por isso.

 - Normal agir assim quando se gosta de alguém. – diz Vagner sério, ouvindo Mayumi atentamente. – E você gostava dele.

 - Tem outra coisa... – diz meio sem jeito.

 - Pode falar.

 - Ele foi o primeiro e... Único cara da minha vida.

 - Por que você quis né? – diz Vagner com um sorriso torto.

 - Como assim? – responde confusa. – Eu só o namorei na minha vida, se eu tivesse feito isso com outros caras, teria traído ele, e isso não é do meu feitio.

 - Entendi japinha, o que quis dizer é que não precisa fazer isso só quando se está namorando. Você podia ter feito antes de ter conhecido ele entendeu?

 - Mas eu não namorava! – diz Mayumi vermelha.

 - Eu já disse que pra fazer isso não precisa estar necessariamente namorando...

 - Ta, entendi o que você quis dizer, mas era a minha primeira vez, não queria fazer com qualquer um! – responde sem jeito.

 - Entendi, fica de boa. – responde rindo – Mas continua, to te ouvindo.

 - Bom, a questão é que a minha primeira vez não foi legal e tal, mas isso é só mais uma coisa a soma de tudo o que passei.

 - E aonde você pretende chegar?

 - Vagner, eu to curtindo muito ficar com você, sério, mas eu tenho medo agora entende?

 - Na verdade não. Você sempre disse que se sentia bem falando comigo e tal e agora diz que está com medo de mim? Por quê?

 - Não é medo de você em si, mas de como as coisas podem ficar agora. Tenho medo de me envolver mais e você mudar seu tratamento comigo.

Vagner dá um beijo carinhoso em Mayumi e responde:

 - Já te aviso uma coisa; não mudarei. Meu comportamento será o mesmo, como tenho sido até hoje, pode ficar de boa quanto a isso.

 - Você diz isso agora, mas sei que deve ser um saco estar com uma pessoa que até pouco tempo mal sabia quem era e agora tem um turbilhão de coisas na cabeça.

 - Hei japinha, desencana! Você é muito encanada – diz Vagner rindo – Você agora está com o pé atrás pra tudo.

 - Eu sei, mas não consigo evitar. Você me trata super bem, nunca me senti assim antes e agora que lembro do passado tenho mais certeza ainda. Não queria que você mudasse.

 - Já disse que não vou mudar, sou assim, esse é o meu jeito. Fico feliz que você goste do jeito que te trato, você merece porque é super gente boa, curto muito conversar, ficar com você, sério.

 - Mesmo?

 - Claro. Não poso dizer que vamos casar e ter uma família, até porque nem sei se vou estar vivo amanhã e tal.

 - Credo Vagner, não fala assim, dá medo!

 - Não é pra ter medo japinha, mas é sério. Ninguém tem controle sobre o próprio futuro. Nossas escolhas agora podem influenciar nele sim, mas mesmo assim, controle não temos.

 - Isso é.

 - Então tenta desencanar ta? Não se sinta obrigada, até porque é normal você se sentir assim pelo momento que está passando, mas também não precisa se sentir obrigada a isso. Estamos numa boa e vamos continuar assim, pode confiar.

Vagner beija Mayumi, inicialmente com sutileza, mas não demora muito até o clima esquentar e o beijo se tornar mais intenso.

Ele se deita sobre ela que não mostra resistência. Ele a beija enquanto acaricia seus cabelos. Mayumi por sua vez coloca as mãos por baixo da camiseta dele e acaricia suas costas. Vagner não perde tempo e coloca as mãos por baixo da blusa de Mayumi, acariciando suavemente sua cintura.

Ela joga a cabeça para traz e ele começa a beijar seu pescoço, apertando sua cintura. Nesse momento Mayumi barra tudo.

 - Vagner, agora não, hoje não, por favor.

 - Tudo bem. – diz se levantando e trazendo Mayumi pra mais perto de si. – Acho melhor eu te levar pra casa agora né?

 - Não, precisa, não está tão tarde assim, vou sozinha.

 - Até parece que vou deixar você ir sozinha. Vou trocar de roupa e já te levo.

Vagner pega então uma calça jeans e uma camisa que estavam mais próximas e vai se trocar no banheiro.

Mayumi fica sentada esperando por ele. Ela sorri lembrando do que quase acabaram de fazer. Apesar de ter barrado, ela estava se sentindo bem à vontade. Mas apesar disso ficou com receio do que Vagner pensaria dela, ainda mais depois da conversa que tiveram. Enquanto está perdida em seus pensamentos, Vagner volta já trocado.

 - Vamos?

 - Ah sim, vamos – diz ela aérea.

No caminho vão conversando normalmente, mas Mayumi ainda se sente estranha.

 - Ta tudo bem japinha? Parece que está na lua!

 - Ta tudo bem sim, só fiquei com um pouco de vergonha de você agora há pouco.

 - Vergonha de mim? Por quê?

 - Pelo o que fizemos. Melhor, pelo o que quase fizemos...

 - Por isso? Não tem o porquê ter vergonha, fica tranqüila.

 - Claro que tem, ainda mais depois das coisas que te falei.

 - Você é muito encanada mesmo hein? – diz sorrindo. – Não foi você mesma que disse que se sente bem comigo? Relaxa, não tenho o porquê te recriminar por nada. Na verdade se tivesse rolado algo, eu bem que ia gostar!

 - Vagner!  - diz Mayumi sorrindo sem jeito.

 - Relaxa, foi jeito de falar. – diz sorrindo. – Mas não deixa de ser verdade!

Mayumi fica sem graça e pra não deixa - lá mais constrangida, Vagner muda de assunto.

 - O quanto a esse cara? Existe a possibilidade de vocês se verem de novo?

 - As meninas disseram que ele mudou para a praia. Melhor assim, não quero ver a cara dele nunca mais.

 - Mas o mundo é pequeno. Isso pode acontecer um dia. Não pensou nisso?

 - Na verdade não. Mas também não quero falar sobre ele agora.

 - Ta certo, pra que estragar a noite né? – diz estacionando o carro. – Pronto japinha, está entregue.

 - Obrigada.

 - Obrigada só não. E o meu beijo de despedida?

Mayumi e Vagner se beijam e o clima esquenta mais uma vez, porém dessa vez é Vagner que corta.

 - Pronto, parei – diz levantando as mãos e sorrindo.

 - Engraçadinho! – diz Mayumi lhe dando um selinho e saindo do carro.

Assim que ela entra em casa, Vagner repara que a cada dia está ficando mais difícil se controlar perto de Mayumi.

 - Pelo visto vou ter que tomar outro banho, mas gelado dessa vez. – diz pra si mesmo.

Já Mayumi pensa sobre a mesma coisa, mas com outra linha de raciocínio.

 - Ele disse que não precisa se estar namorando pra transar. Não estou namorando com ele, mas pelo o que entendi, ele quer transar comigo. Mas será que eu também quero? Não posso querer, não mesmo! Quem ele pensa que sou? Aí Mayumi, cala essa boca e vai dormir, você tem trabalho para amanhã. – diz pra si mesma indo para a cama.