Only You escrita por Lúcia Hill
Notas iniciais do capítulo
Um simples Adeus serviria, porém para Luiza não seria tão simples assim, as magoas do passado a atormenta constantemente.
Assim que Javier colocou os pés na soleira da pequena escadaria, ouviu o velho coronel Cortez, a voz dele parecia um leve sussurro.
— Coronel... — grunhiu.
Subiu rapidamente os degraus e se aproximou. O velho senhor Ernesto estava com o rosto pálido e havia duas olheiras profundas em seu rosto branco.
— Coronel, me responda, pelo amor de nossa Senhora! — sua voz era carregada de um leve sotaque caipira.
Não houve resposta, para desespero total do peão, que sem temer, berrou para que alguém pudesse ajudá-lo. Foi um alvoroço total, era gente berrando e cochichando por toda parte, até que já enfurecido, Javier novamente berrou.
— Calem a boca!
Naquele instante todos se calaram, Javier se virou para os demais peões que estavam na varanda, ordenou para que o ajudassem a levar o coronel para seu quarto. Com passos rápidos, os três peões carregaram Ernesto para o andar superior da casa.
— Precisamos chamar o Doutor! — soou em desespero a voz da criada.
Javier se virou e a encarou pensativo.
— Onde está aquela garota mimada que devia estar aqui nesse minuto? — suas palavras estavam carregadas de ódio evidente.
Carlos e Ruan se entreolharam surpresos com a forma que ele havia se referido da filha do coronel, continuaram calados e com uma expressão de espanto no rosto.
— Ela saiu logo de manhã, sem dizer nada a ninguém. — a velha criada falava cabisbaixa e assustada.
Javier soltou um longo suspiro e sem dizer mais nada, saiu do quarto, rumo à sala, para ligar para o Doutor Herman. Discou rapidamente, nunca tinha ficado tão ansioso daquela forma.
— Alô? — soou baixa e rude.
— Doutor Herman, precisamos do senhor... urgente. — sua voz era rápida e confusa.
Doutor Herman se encostou a cadeira e perguntou calmamente.
— Em qual lugar que você está?
— É da fazenda do Coronel Cortez.
Assim que ouviu o sobrenome, pulou da cadeira, sabia que para todos os fins o Coronel era um homem influente e muito importante para os moradores daquela área rural do estado do Novo México, sem mais delongas, o Doutor disse:
— Aguardem-me, já estou chegando.
Javier agradeceu e desligou o telefone, mas o que o deixava mais furioso era que a única filha dele não estava ali, e se acaso ele piorasse, ou pior, morresse ali, sozinho e abandonado por sua única parente viva.
“Garota mimada com miolos moles!” pensou ele, colocando de volta o fone no gancho, a casa estava um verdadeiro alvoroço de gente.
— Vamos todos voltar ao trabalho. – ordenou Javier para os demais.
O pessoal foi se dispersando até que a sala ficou vazia e silenciosa novamente, em menos de uma hora, o Doutor chegou, todo atrapalhado e enrolado em sua maleta.
— Onde está o Coronel? — perguntou afobado.
Javier nada disse, apenas pediu para que o acompanhasse, subiram a escadaria central que dava quase em frente à porta dele, assim que ele abriu a porta, o médico logo notou que era evidente que o velho Cortez não resistiria a mais essa doença. Aproximou-se rapidamente e tirou seu equipamento para examiná-lo, mas se virou na direção do peão e balançou a cabeça. — Não resistirá... — pausou bruscamente, mas tomou fôlego e concluiu. – Ele não passará dessa tarde, sinto muito, mas não tem o que fazer a respeito.
Javier tirou seu chapéu e o segurou forte, o Coronel era como seu pai, o único que o ajudou quando mais precisou, porém, sabia que o velho Coronel Cortez, por mais rude e severo, em alguns momentos, tinha o coração fraco demais.
— Onde está à menina Luiza? — perguntou o velho médico com os olhos fixos em Javier. Javier o encarou por um breve instante e grunhiu.
— Saiu sem dizer.
— Pobrezinha, deve estar sofrendo. — falou cabisbaixo.
Javier soltou uma risada nervosa com a expressão do médico, que o encarou sem entender nada.
— Ela nem sabe que o Coronel está aqui, morrendo. — grunhiu.
O doutor ficou ainda mais sem jeito, como poderia ser assim tão fria? Por outro lado, Luiza estava com a cabeça em outro lugar, sem saber que seu pai estava morrendo.
O Doutor logo foi embora, como não tinha mais nada para fazer. Já era tarde da noite e nada de Luiza chegar, o Coronel não conseguiria mais resistir.
Assim que Luiza chegou, estranhou não ver seu pai sentado na varanda, fumando seu charuto fedorento, e o silêncio da casa deixou-a preocupada, subiu as escadas, correndo, jogou a bolsa sobre o sofá e subiu a escadaria, mas parou bruscamente ao ver Javier de costa para ela, na porta do quarto de seu pai.
— O que está acontecendo? — perguntou intrigada com aquela visão.
Javier se virou para encará-la, sua expressão era de raiva, mas não esperou ele responder, correu para dentro do quarto.
— P-Pai... — gaguejou ao ver como ele estava pálido e molhado de suor.
Ela se debruçou sobre a cama e se desmanchou em lágrimas, virou-se para Javier com os olhos ainda cheios de água e perguntou:
— O que houve com ele?
Javier se aproximou um pouco, mas parou.
— Ele está morrendo, não vê? — soou áspero.
Ela se levantou, encarou-o com uma expressão fria e raivosa, afinal, quem era ele para falar com ela daquele jeito? Sentiu seu sangue ferve dentro das veias.
— Como ousa falar dessa maneira seu... seu...
— Não me venha com sua interpretação, pois ficou o dia todo fora e não se preocupou com seu pai.
Ela soltou uma risada forçada.
— Como acha que eu poderia saber que ele estava assim, seu peão xucro? — apontou o dedo na direção dele.
Javier iria se aproximar, mas sentiu uma mão o impedir, ao se virar para ver quem o impedia, viu o reverendo Bill, Luiza engoliu as demais palavras que iria dizer.
— Não acho que essa ocasião seja devida para uma briguinha à toa. — encarou ambos. — Aliás, vim o mais rápido que pude, pois o coronel é muito importante para esse povo e não quero que fiquem brigando aqui, na presença dele.
As palavras do reverendo, por mais que tivesse voz mansa, soaram como bombas na direção deles. Luiza não sabia o quanto seu pai era importante para aquela gente. O reverendo se aproximou do leito e fez algumas rezas baixinhas. Luiza estava encostada na janela e Javier na porta, ambos não se olhavam, pois sabiam o resultado disso, até que com a voz muito fraca e quase impossível de se ouvir, o reverendo pediu para Javier se aproximar, deixando Luiza curiosa.
— Sim? — respondeu ao se aproximar do leito.
— O coronel tem algo a te dizer, meu filho. — pousou a mão sobre as costas do peão.
Javier o encarou curioso, o que será que o coronel queria lhe dizer naquele momento?
Pode ouvir a voz fraca e baixa dizer:
— Cuide da fazenda, meu filho. — seus olhos já estavam ficando moribundo.
Javier se afastou do leito, bruscamente, essa era a única vez que o coronel se referiu a ele assim, "meu filho", o peão sentiu as pernas ficarem bambas, sem mais delongas, o coronel soltou seu último suspiro para desespero de Luiza, que não conseguiu se despedir.
Javier saiu sem dizer mais nada, no quarto ficaram apenas Luiza e o Reverendo Bill.
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Boa Leitura!