Primeiro a escuridão, depois os gritos. Não, não era um pesadelo. Era a minha vida.

-Gerard Way!Levanta logo! Em cinco minutos eu quero você la embaixo.

Abri os olhos antes que a minha mãe me batesse.

Levantei devagar da cama e espreguicei, depois fui tomar um banho.

Embaixo da água quente meus músculos relaxaram. Vesti-me e finalmente desci as escadas. Na sala, Mikey estava vendo um desenho que eu conhecia bem.

-Mais um dia podre nesta terra imunda! –a personagem berrou em plenos pulmões

-Eu que o diga! –retruquei.

Tomei meu café e fui para a escola maldita. No meio do caminho parei nos portões do cemitério, como era de costume. Mas eu nunca entrava la. Pelo menos de dia.

Faz um tempo que eu não entro no cemitério.

O dia passou, e a escola foi uma merda como sempre. A noite veio e era a minha hora de me divertir.

Pulei a janela do meu quarto, e fui correndo para a rua de trás. Cheguei ofegante aos portões do cemitério. Foi fácil pular o muro, era comum para mim.

Quando entrei fui direto para o meu tumulo preferido: Era grande, de marfim. Eu não sabia quanto tempo tinha, nem de quem era, mas ali eu transformei em meu refugio.

Quando me sentei nele outra lapide chamou a minha atenção: Era negra, de aparência gótica e parecia recente. Cheguei mais perto e li a inscrição da lapide:

*Rowena Allen Phillips. 10/05/93 – 13/04/2011*

*Meu coração vai se partir na queda

e sangrar da mesma forma

que sangrou quando você partiu*

-Eu sinto muito - me senti com pena dessa garota desconhecida, ela tinha a minha idade...

-O que esta fazendo no meu tumulo? –Uma voz nem um pouco rude indagou

Eu me virei. Só podia ser piada.

Mas não era. Uma garota muito pálida, com os olhos pretos e cabelos igualmente escuros me olhava com interesse.

 -Você deveria pelo menos ter me trazido flores... - Ela ainda me encarava

-E quem é você? Rowena? Essa aqui não é porque essa já morreu. –apontei para o tumulo.

-Como você adivinhou? Faz uns meses que eu não venho aqui em cima.

Eu tentei rir, mas o sorriso não veio. Olhei a menina estranha e percebi o quanto ela era bonita, tinha algo de estranho e belo na sua figura. Algo quase sobrenatural.

Ela se aproximou e eu não conseguia me mexer, simplesmente a sua beleza me hipnotizava. Ela parou na minha frente, me olhou nos olhos e fez a coisa mais estranha a se fazer numa hora dessas: Estendeu a mão.

-Prazer, sou Rowena. E você?

-Há Ger. Gerard. – Estendi a mão.

O toque da sua mão era gelado, parecia mesmo que ela estava mesmo morta.

- Como você estava me contando, você não vem muito aqui em cima? Nessa rua?

-Não seu tolinho. No mundo dos vivos.

Fiquei em choque. Eu não acreditava no que eu tinha ouvido.

-Vo... Você não morreu? – agora ela parecia assustada.

-Não, sinto muito.

O lindo rosto ficou desapontado e muito triste. Mas ela não disse nenhuma palavra, ele simplesmente se me deu as costas e começou a caminhar para o fundo do cemitério.

-Vai me deixar sozinho aqui?

Eu não podia deixá-la ir. Algo dentro de mim implorava para que ela ficasse. Eu faria qualquer coisa para ver Rowena novamente:

-HEY, amanhã eu volto. Eu vou te trazer flores.

Ela virou a cabeça e esboçou um sorriso, mas não parou de andar.

-Amanha então...

Aquele foi o sorriso mais lindo que eu vi na vida.

Ela começou a cantarolar uma musica que eu não conhecia quando desapareceu na curva do cemitério.

-Então tchau. – eu disse num sussurro, meu coração disparado, minhas pernas tremendo.

Um pássaro preto vôo quando a Lua se libertou das nuvens que iam desaparecendo.

Meu peito ardia.

Fui embora olhando a Lua e cantarolando:

This night, walk the dead In a solitary style And crash the cemetery gates. In the dress your husband hates Way down, mark the grave Where the search lights find us drinking by the mausoleum door And they found you on the Bathroom floor...