Reencontrar escrita por kiryuu_ichiru


Capítulo 3
Capítulo 3




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 “não, não pode ser verdade. É praticamente impossível.” Minha mente repetia isso o tempo todo.

Mas, era só eu perguntar ao Tom, mas não dava; se ele dissesse que não, eu ficaria com cara de idiota se ele dissesse. Achei que era cedo demais para isso. Era melhor esperar.

Fiquei lá olhando o lago, a lua refletida me dava uma certa nostalgia. Peguei uma folha e comecei desenhar. Desenhar sempre fora um de meus passatempos preferidos. Fiquei ali, 3 horas. Quando deparei com as horas, já passava das 2 horas da manhã.

- caramba! Você demorou. – Tom olhou para o relógio assim que abri a porta, ele parecia me esperar.

- Sim, me desculpe, me distraí com a paisagem do parque do Campus. É realmente muito inspiradora. – respondi.

- É mesmo! Gustav acaba de ir embora, ele se cansou de esperar por você. Pensamos em ir te buscar, mas achamos que iríamos te atrapalhar, e você também é muito fechada para nós ainda, é melhor te dar um tempo para se adaptar ao lugar e às pessoas. – Tom respondeu.

- Deve ser isso mesmo. Estou cansada, Tom, amanhã conversamos mais, pode ser?- eu estava realmente cansada, e também não queria ficar ali, àquela hora conversando.

- Ah sim, Boa noite, então. Bom descanso. – Tom respondeu um pouco decepcionado.

Confesso que pensei que naquele momento ele queria dar em cima de mim, por isso preferi subir e dormir.

- Boa noite, Tom! Durma bem. –respondi- Afinal, teve notícias do Bill?

-Sim, a operação foi um sucesso, mas ele precisa de muito repouso. Durante a operação houve algumas complicações, mas no fim correu tudo bem. – Tom sorria enquanto respondia.

- Ótimo. Espero que ele se recupere logo. –respondi, já subindo as escadas para meu quarto.

Enquanto me afastava, ouvindo um baixo ”Obrigado”  vindo da boca de Tom, e logo em seguida um “espero que ele fique bem mesmo”. Eu sabia que, bem no fundo, Tom estava preocupado com o irmão gêmeo. E que tinha muito medo por ele.

Entrei em meu quarto, tranquei a porta e fui para a minha cama. O dia fora cansativo, pacato, mas cansativo. O dia seguinte talvez fosse melhor, talvez eu não levasse uma chuva de ovos, talvez.

Apesar de chegar às 2h30 da manhã, eu sempre sofri de insônia, só consegui dormir às 6horas da manhã. Insônia sempre me atormentara, mas eu não sentia sono, acho que é algum tipo de problema que eu tenho, não sei. Por um instante me esquecia de que era sexta feira e que quando eu acordasse já seria sábado. “Que bom pelo menos não preciso acordar cedo amanhã”, pensei.

Quando se aproximava das 6 da manhã, depois de horas na minha cama pensando na vida, consegui pegar no sono. Enfim eu poderia sonhar e entrar em um mundo em que tudo era ótimo e feliz.

Naquela noite, não sonhei, foi mais uma lembrança do passado, em que aquele menino de quem eu gostava se distanciava cada vez mais de mim. Para muitos isso seria um sonho, para mim, um pesadelo.

Acordei às 13h do sábado. Levantei, tomei um banho e desci para ajudar Tom com o almoço.

- Bom dia, pessoa dorminhoca!- disse-me Tom, com aquele sorriso no rosto.

- Bom dia, Tom. Precisa de ajuda com o almoço? – perguntei.

- Rum. Agora você vem oferecer sua ajuda? Depois que ele já terminou tudo? – Caroline saíra do sofá para vir me xingar.

Revirei os olhos.

- E você, por um acaso faz alguma coisa? Acho que não, então, por favor, não venha tentar me dar lições. – falei, em tom um pouco firme.

Eu sempre odiei que me dessem lições de moral, não as pessoas que faziam pior...

- Hey, meninas! Por favor, sem tumulto. Yuuki, não há problema em não ter vindo me ajudar. Ah, sim; e Gustav vem almoçar conosco hoje. Espero que você não se importe. – Disse Tom, tentando mudar de assunto, rapidamente.

-Por mim, tudo bem! – dei de ombros e sentei-me no sofá para esperar Gustav.

Os dias pareciam os mesmos, aquele lugar, pareceu a meu ver, era muito monótono. Sempre odiei monotonia. Mas dependia de mim, sair da rotina.

O som da campainha ecoou na casa.

- Deve ser Gustav! Yuuki, você poderia atender, por favor?- Tom estava empolgado.

- Olá, Yuuki! Tudo bem? Este é meu amigo, Georg! –Gustav parecia mais elétrico que nunca.

 - Oi! – Georg parecia constrangido com o fato de ter uma menina nova no pedaço.

- Olá Georg! Sou Yuuki. Eu estou bem, Gustav,e vocês?- respondi.

Ambos fizeram que sim com a cabeça.

-Bem, podemos entrar? Acho que estamos atrasados para o almoço. – Gustav olhou sério para Georg quando terminou a frase, pareceu-me que Georg fora a causa do atraso.

Fiz que sim com a cabeça. Abri mais a porta e dei caminho aos meninos. Pronto, logo que entraram, Tom pulou nos dois em uma recepção calorosa. Eles começaram conversar e brincar, fazer piadas. Foi bem engraçado. Caroline ao ver Georg, fingiu que ninguém estivesse lá, parecia que ela escondia algo.

O almoço foi mais alvoroçado. Tom geralmente não gostava de conversas durante as refeições, mas acho que era porque ele achava que eu não gostasse de conversas durante a mesma.  Nesse dia, Tom quebrou o gelo na refeição, conversando com seus amigos. Eu apenas ouvia. Conversas sobre meninas, carros, música, faculdade e sobre a vida deles.

- Você é brasileira. O que tem a dizer sobre o Brasil? – Georg perguntou - Sabia que nosso querido Tom também é de lá?

- Sim, eu sou. Não sei muito o que dizer, nunca fui muito fã do meu país. Tom é do brasil? – olhei de georg para tom.

- Sou, mas saí de lá muito cedo e vim para cá. – ele respondeu.

 Afirmei com a cabeça. Continuei comendo.

- Yuuki, você não conversa muito, não é? – Gustav me olhava fixamente. Como quem quer entender algo.

- Converso, mas conheci você há pouco e é difícil arrumar assuntos com pessoas que eu quase não conheço. Eu sou péssima nisso, desculpem. Às vezes eu prefiro observar também, é muito legal. Mas acredite, com o tempo, eu começo a entrar na brincadeira com vocês. – dei uma piscadela para ele e sorri.

Um silêncio... sendo quebrado por gargalhadas. Todos estávamos rindo, exceto Carol, que fingia estar comendo sozinha à mesa.

Após o almoço, fiquei por lavar a louça e arrumar a cozinha enquanto Tom e seus amigos conversavam mais um pouco e iam para a piscina.  Após arrumar tudo, me juntei a eles à beira da piscina. É claro que eu estava de calça, eu sempre odiei biquínis e afins.

Devo admitir que naquela tarde, me diverti bastante com os meninos. Caroline permaneceu em silêncio até que os meninos fossem embora, já na hora do café.

- Eu pensei que aqueles meninos nunca fossem embora. Tom, por que você não experimenta ir, pelo menos uma vez, até a casa deles? Assim vocês ficariam lá, uma casa só de rapazes, fazendo coisas de rapazes. – ela disse.

- Porque esta casa também é minha e eu tenho o direito de trazê-los aqui. Só por isso. – Tom respondeu em tom simpático, mas sarcástico.

Sempre gostei de pessoas sarcásticas. Elas são... Estimulantes.

O sábado passou e a noite chegou. Caroline foi ao shopping com suas amigas, novamente. E Tom decidira ir à um barzinho com os meninos. Eu, como sempre, fiquei em casa assistindo televisão. Logo que Tom saíra, o telefone tocou.

- Alo! Quem fala? – atendi.

- Alô. Eu poderia falar com Tom, por favor? – uma voz fraca no outro lado da linha respondera com um pouco de esforço.

- Me desculpe, ele não está. Mas com quem eu falo?-insisti.

- Me desculpe. Sou Bill o irmão dele. – respondeu- e você?

- Sou a Yuuki, a novata. – dei uma pausa muito breve- você gostaria de deixar recado, Bill?

- Yuuki??- ouvi ele dizer meu nome em tom de pergunta bem baixo- Não, tudo bem. Apenas diga que liguei, por favor.

- Eu direi, não se preocupe. – respondi.

- Obrigado! E, seja bem vinda à universidade! – ele respondeu. – Bem, até logo então.

-Obrigada, também. Até logo, Bill. –respondi.

Ambos desligamos o telefone. Nosso primeiro contato. Aquela voz... fraca... me causou um sentimento de pena e fraternidade... e nostalgia,

Fiquei a noite acordada assistindo televisão e utilizando a internet. Já passava da 1hora da manhã quando Tom chegou. Ele estava um pouco alto.

- Cheguei, Yuuki! – ele disse ao entrar, quase gritando.

- Hey Tom, por favor, você está... está bêbado?- perguntei espantada.

- Claro que não, eu estou bem! Só um pouco com sono e cansado. Bebi por mim e por meu irmão, coitado. – ao falar isso, Tom me abraçou e começou chorar.

Fiquei sem reação, o rapaz soluçava em meu ombro, era lamentável. Eu nunca imaginara Tom chorando, muito menos para mim. Ele me abraça forte e eu podia sentir suas lágrimas molharem meu pijama. Dei uns tapinhas leves nas costas de Tom, como quem tenta consolar alguém. Naquele momento preferi não dizer que Bill ligara.

- Ele ficará bem, você verá! É apenas  questão de tempo.- disse.

- Não -  ele gritou  e me olhou nos olhos - você não sabe como é. Eu nunca estive longe dele. Estou explodindo por dentro sem ele. Estou preocupado com sua saúde, em como ele está sendo tratado naquele lugar .

-Tom, vem comigo. –falei.

Me desvencilhei de seus braços e o conduzi, pelas mãos, até o banheiro. Lá eu liguei o chuveiro no gelado para que eu pudesse dar um banho nele  e fazê-lo recuperar a consciência. Tirei sua calça e sua camiseta, deixando-o apenas de cueca. Coloquei Tom em baixo do chuveiro, sentado e o deixei lá por um tempo. Ele gritava, dizendo que a agua estava muito gelada. Dez minutos depois o tirei de lá, dei-lhe roupas limpas e secas para vestir. Depois de vestido, Tom voltou ao meu encontro, eu o levei até a sala novamente e coloquei-o no sofá. Lá ele se deitou com a cabeça em minhas pernas e eu comecei acariciar seus cabelos.

- Você é muito boa. Qualquer pessoa que fosse, nem ligaria para mim, mas você é diferente...- ele disse entre soluços.

- Shhh, tudo ficará bem.- respondi em um tom sereno.

Tom caiu no solo ali mesmo, e eu também. Acordei no outro dia, com dor nas costas e no pescoço, mas sabia que tinha feito a coisa certa.

Quando acordei, percebi que Tom já havia levantado. Fui atrás dele para ver como ele estava. O encontrei no banheiro de seu quarto , agarrado ao vaso sanitário, passando mal. Desci novamente, peguei agua e levei até ele.

- Aqui, beba uma pouco de agua, Tom. – falei.

Ele ergueu a cabeça e pude perceber que ele estava pálido de tanto vomitar.

- Tom, beba essa agua. Sente-se um pouco e  respira.- falei.

- Obrigado, Yuuki. – ele pegou a agua e tomou.

Depois disso ele se sentou, encostado na parede do banheiro, com a cabeça erguida e passou a respirar mais rápido. Quando sua respiração normalizou, eu liguei o chuveiro e mandei que ele tomasse banho e depois descesse para comer.

Enquanto ele tomava banho, eu desci e preparei um café da manhã para ele. Pus a mesa e o esperei descer.  Vinte minutos depois ele aparece descendo a escada, se apoiando no corrimão.

- Você está melhor? – perguntei.

- Sim, obrigado. Nossa, foi você quem preparou tudo isso? – ele se surpreendeu.

- Sim – respondi -  Eu também sei fazer coisas na cozinha, você não é o único. Agora sente-se e coma um pouco.

Ele se sentou e comeu... eu nunca o vira comer tanto desde que chegara ali, ele estava realmente faminto.  Ao terminar de comer, pedi que esperasse até que eu terminasse de arrumar tudo para que pudéssemos sair e irmos para o parque para ele tomar um ar.

Enquanto saíamos, deixei um recado avisando que não havia ninguém em casa, caso Gustav fosse procurar por Tom. Eu conversaria com ele mais tarde também.

Chegamos no parque e sentamos em um banco de baixo de uma árvore bem na beira do rio.

- Tom, o que houve com você? – perguntei.

- Nada, Yuuki. Eu só bebi um pouco. -ele respondeu e tentou desviar o olhar do meu.

- Tom, eu sei que nos conhecemos há pouco, mas eu sei que você precisa desabafar, agora que não tem seu irmão aqui por perto. Sei que você não gosta da Carol e que não consegue falar sobre essas coisas com Gustav ou Georg. Não esconda as coisas, eu já percebi. Sei que ainda sou estranha para você, mas pode falar comigo se quiser. – falei.

- Yuuki, eu sei que você me ajudou ontem e  sou muito grato, mas eu não devo satisfação a você e não sei se posso confiarem você ainda. – ele falou.

- Eu entendo. Mas acho que você pode confiar em mim, uma vez que eu tive que te dar banho ontem, que ficar cuidando de você. Uma vez que seus amigos queridos te deixaram lá em casa bêbado sem nem ao menos se preocupar com você. – falei. – Mas tudo bem, Tom...

Houve um breve silencio. Eu não podia força-lo a fazer isso. Minutos que pareceram uma eternidade.

- Yuuki – Tom quebrou o gelo

-Sim? – perguntei.

- A verdade é que eu não ando muito bem ultimamente. – ele respondeu, de olhos baixos – sabe, eu nunca fiquei sem meu irmão antes, eu não sei o que fazer, sabe.

- entendo, mas por que você bebeu ontem? – perguntei.

- Por isso. Ele é quem nunca me deixou fazer essas coisas; eu via todo mundo ficando bêbado, mas quando meu irmão estava comigo, ele nunca me deixava beber muito. E mesmo que eu bebesse, ele me dizia quando parar e me levava para casa e cuidava de mim. –ele respondeu.

Pude perceber que seus olhos se encheram de lágrimas. Foi ali que eu percebi que nunca se deve separar dois irmãos gêmeos.  Aquele olhar de Tom, eu parecia me lembrar dele... Eu não sabia de onde. 

- Mas você não consegue se virar sem seu irmão ? É ele quem tem que te ensinar o que fazer ou não? Tom, isso não justifica. E aqueles seus amigos, grandes amigos eles são. – falei.

- Eu até consigo, Yuuki, mas estou tão preocupado com meu irmão... – ele começou chorar.

Fiquei confusa e com pena daquele homem que chorava em minha frente.

- Por que, Tom? – perguntei.

- Eu não tenho recebido notícias dele ultimamente. – Tom em prantos, terminou o que dizia.

- Ai meu Deus, é verdade. Ele te ligou ontem, logo que você saiu. –falei. – sua voz estava um pouco fraca, mas ele queria falar com você.

- Ai meu deus! – ele começou chorar mais ainda- eu não acredito nisso!

- O que foi, Tom? – perguntei, em desespero.


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