Novos Começos escrita por Tenteitudo


Capítulo 5
Mary




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E nada aconteceu. Ok, é claro que algo aconteceu, mas no momento em que seus lábios se uniram, nem um único som pode ser ouvido. Mais tarde, Rachel iria descrever esse instante como uma grande pausa dramática, mas foi muito mais do que isso. Foi o momento em que absolutamente tudo mudou.

Elas se afastaram e o silencio continuou, tão denso que poderia se cortado com uma faca. Os olhos de Quinn se mantiveram colados aos castanhos a sua frente, como se sua vida dependesse dessa conexão. Rachel também não desviou os olhos, com medo do que poderia encontrar no rosto das pessoas a sua volta. Ela fora criada por um casal gay e estava ciente da reação que as pessoas costumavam ter a demonstrações publicas de afeto. Uma parte dela tinha consciência do que estava acontecendo, elas haviam acabado de se beijar na frente de um grupo de pessoas extremamente conservadoras dentro de uma igreja. Isso era bastante assustador, mas o que mais a preocupava, era a expressão no rosto de sua namorada.

Os olhos de Quinn haviam se fechado novamente e a trilha de lagrimas em seu rosto brilhava mais uma vez. A morena mordeu o lábio e levou a mão para o rosto da loira, acariciando a pele úmida e fazendo-a abrir os olhos. "Vai ficar tudo bem." Murmura ela, sem ter certeza se acreditava ou não nas próprias palavras, mas querendo confortar a assistente social de alguma forma.

Quinn assente com a cabeça e descansa sua face contra a palma da cantora, contando os segundos até que a bomba explodisse. Só que estava demorando demais para qualquer coisa acontecer, então ela tomou coragem, respirou fundo e olhou em direção ao altar, mais especificamente para Russel Fabray. A expressão no rosto de seu pai, ao contrario do que ela esperava, não era de raiva, mas sim de perplexidade. Seus olhos se desviaram para Olivia e sua irmã olhava para o caixão, aonde sua vó se encontrava. Mary parecia não demonstrar emoção alguma, mas a loira tinha a impressão que os lábios da senhora de idade estavam levemente curvados para cima.

Ela sente um leve aperto em sua mão e abaixa o rosto para encontrar Rachel novamente. A morena silenciosamente lhe perguntava o que fazer a seguir e Quinn responde retribuindo o aperto em sua mão, tentando encontrar coragem para fazer o que sabia que precisava ser feito. Percebendo o receio da loira, Rachel entrelaça seus dedos e da o primeiro passo em direção ao altar.

Quinn havia aprendido algo realmente valioso quando tinha dezesseis anos e seu pai a expulsou de casa, deixando-a sozinha e responsável pela vida da criança que carregava em seu ventre. Ela aprendeu a assumir a responsabilidade pelos seus atos da melhor forma possível com a cabeça erguida, por mais que doesse, por mais que ferisse seu orgulho. Era isso que ela estava fazendo agora. A loira havia se apaixonado por Rachel e estava na hora de assumir isso e lidar com as conseqüências, fossem elas quais fossem. Ela não podia permitir que o medo a impedisse de ser verdadeiramente feliz. Então, quando a cantora dá o primeiro passo a frente, é realmente fácil segui-la.

Santana lhes oferece um sorriso encorajador de seu lugar nos bancos e Quinn se sente um pouco mais segura ao lembrar da presença da latina. Não que ela pudesse fazer alguma coisa graças a gravidez, mas saber que sua amiga estava ao seu lado era reconfortante. Elas alcançam os degraus e Russel as segue com um olhar ainda perplexo, como se ela não pudesse acreditar no que estava acontecendo. Uma onda de sussurros irrompe pela igreja e Rachel não pode distinguir o que as pessoas falam, mas algo lhe diz que não são coisas muito boas. Isso não faz diferença... Pensa ela, fixando seus olhos no senhor loiro de olhos claros que endireita sua postura a medida em que elas se aproximam.

"O que você pensa que está fazendo?" Pergunta ele, sua voz baixa, mas clara manda arrepios pela espinha da loira e por um momento, ela não acha que será capaz de falar.

Ela abre a boca e surpreende-se com a intensidade de suas próprias palavras. "Eu vim para me despedir da minha mãe e é isso que pretendo fazer." O choro aparentemente não abalou sua voz e isso lhe da forças.

Russel aperta os olhos e sua boca se contorce em uma expressão de desgosto. "Quem é você?"

"Eu sou Quinn Fabray," Ela quase completa com 'sua filha', mas acaba se contendo, passando o braço pela cintura de Rachel. "e essa é Rachel Berry, minha namorada." Seu coração acelera quando assimila o que acabou de dizer.

Uma sombra percorre os olhos de Russel, mas ele se mantém firme, pensando que isso certamente é um erro.

"Você não é..." Ele faz uma pausa e abaixa a voz, como se mencionar a palavra em voz alta fosse um pecado mortal. "Lésbica."

Quinn sente vontade de rir e certamente o teria feito, se não fosse o velório de sua mãe. "Você não me conhece."

"Minha filha nunca faria isso comigo, minha filha nunca cometeria um pecado desses, se envolver com outra mulher!" Sua voz se eleva e sua face se tinge em vermelho, Rachel percebe o nojo em sua voz e encolhe um pouco contra a lateral do corpo de Quinn. Ela já esperava por isso, mas saber o que está por vir não ameniza em nada o golpe da realidade.

Olivia da um passo a frente e repousa uma mão no braço de seu pai. "Pai..."

"Não se meta Olivia!" Grita ele, chacoalhando o braço bruscamente e fazendo sua filha mais velha se afastar com os olhos arregalados.

"Eu não sou sua filha." Quinn fala em voz baixa, apertando o tecido do casaco da diva.

"O que você disse?" Pergunta ele, se aproximando com um sorriso cínico nos lábios.

"Eu não sou sua filha!" Repete ela, mais alto agora, levantando o rosto e enfrentando-o. "Você me expulsou de casa quando eu tinha dezesseis anos e desde aquele momento, você não tem mais direito nenhum sobre mim!"

"Como você se atreve..." Começa ele, se aproximando, mas Quinn não permite que ele continue.

"Como você se atreve? Você não tem o direito de interferir na minha vida e nas minhas escolhas e muito menos de por palavras em minha boca. Eu sou gay Russel! Nada que você faça vai mudar isso!" Seu rosto fica vermelho também e seus olhos brilham com mais lagrimas. Rachel sente o perigo se aproximar no momento em que as palavras saem dos lábios de sua namorada, algo muda no ar a sua volta e ela levanta o rosto a tempo de ver os olhos de Russel brilharem com ódio. A morena sente uma necessidade repentina de se afastar, fugir, dar um passo para trás. Qualquer coisa que a mantivesse longe daquele homem.

"Você tem razão." Ele fala em um tom que Quinn conhece muito bem, a calmaria antes da tempestade e ela sabe que deve começar a se preocupar de verdade agora. Seus olhos castanho claros encontram os azuis esverdeados e ela vê neles o mesmo brilho de insanidade que ela viu em Michael a mais de um mês atrás. "Você não é minha filha, você me da nojo!" Ele parece prestes a cuspir em cima delas e Quinn engole com dificuldade, recuando um pouco e movendo Rachel para trás de si.

Ninguem na igreja se move para interferir no que está acontecendo. Alguns estão curiosos para ver o desfecho da discussão, outros tem medo do que Russel Fabray é capaz de fazer caso seja contido. Santana fica de pé, pronta para ligar para a policia, ou gritar, ou fazer qualquer coisa. Olivia continua a acompanhar a cena em pânico e Mary se aproxima de sua neta sem que ninguém verdadeiramente perceba, ela era uma mulher muito pequena e frágil para fazer qualquer diferença.

"Saia já daqui. Você não merece estar aqui dentro, esse não é o seu lugar." Continua Russel. "Vocês duas! Saiam já daqui!" Grita ele, quando vê que as duas mulheres não fizeram menção de se moverem.

Rachel morde o lábio e segura o braço de Quinn com força. "Não." Responde a loira. "Eu não vou embora."

"Você vai mesmo me enfrentar?" Pergunta ele, dando um passo a frente e estufando o peito para parecer mais alto e intimidador do que realmente é.

"Eu não preciso te enfrentar, você não pode me fazer ir embora." Ela imita sua posição e Rachel levanta os olhos mais uma vez, sentindo uma mescla de orgulho e preocupação. Seus olhos encontram os de Russel mais uma vez e ela vê o que ele vai fazer antes mesmo que ele se mova. A morena age mais rápido do que jamais achou que poderia e puxa Quinn para trás de si, invertendo suas posições a tempo de evitar que a mão pesada de Russel Fabray atingisse o rosto da mulher que ela amava.

"Não se atreva a encostar nela!" Grita ela, usando toda a potencia de sua voz (que é realmente grande, considerando-se o treino vocal ao qual ela se submete). "Você é um covarde!" Essas palavras parecem despertar as pessoas, que começam a se movimentar para perto do grupo, alguns em uma tentativa de ver melhor e outros no intuito de impedir que algo pior aconteça.

"Quem você pensa que é? Sua vagabunda!"

"Do que você a chamou?" Pergunta Quinn, sentindo uma onda de raiva percorrer seu corpo, uma coisa era ser ofendida outra era ver ele falar assim com Rachel. A morena a mantém segura atrás de si, sem permitir que ela faça algo idiota.

"Suas palavras não me atingem de forma alguma senhor Fabray, na verdade, elas só servem para provar o meu ponto. O senhor é um covarde, que vive de uma imagem falsa e não consegue aceitar nada que seja um pouco diferente. Eu amo a sua filha, mas tenho certeza que isso não significa nada para o senhor, já que você não seria capaz de reconhecer o amor nem que ele te atropelasse com um caminhão!" Ela respira fundo e mantém o contato visual. O silencio prevalece por um momento até que a mão de Russel sobe novamente, pronta para acertar um novo alvo e um som gutural e completamente inumano escapa de sua garganta.

Rachel não se move, nem ao menos se encolhe, ela não quer lhe dar o prazer de vê-la com medo. Ao invés disso, ela levanta o rosto e espera pela pancada que nunca vem. Um homem loiro e meio descabelado surgiu do nada e segura o braço de Russel para trás. O homem mais velho luta para se libertar, mas o mais novo é mais alto e aparentemente mais forte. "Me larga!"

A próxima coisa que atinge os ouvidos das duas mulheres é o choro de uma criança, as duas olham para o lado e vêem Olivia pegando uma menina loira de no máximo três anos no colo e a levando para longe.

"Eu disse para você me largar!"Russel se move com violência e consegue se livrar do abraço do outro loiro, virando-se para ele e acertando um soco em sua face. O som de algo quebrando é perceptível e Quinn envolve Rachel em seus braços protetoramente.

"PAREM JÁ COM ISSO!" A voz de Mary Collins ecoa por toda a igreja, e tudo parece cessar. "MINHA FILHA ACABOU DE MORRER E O MINIMO QUE EU PEÇO É UM POUCO DE RESPEITO!" Rachel arregala os olhos para a pequena senhora, não imaginando que alguém tão frágil pudesse se impor dessa forma. Algo nela lembrava a loira que a abraçava, era quase como olhar em um espelho e ver como Quinn seria daqui a sessenta anos. Mary se aproxima deles e remove Russel de cima do rapaz descabelado. "Ela era sua esposa, assim como Quinn e Olivia são suas filhas. Você jurou amá-las e protegê-las e veja o que acabou de fazer!" Ela parece incrivelmente triste e desapontada.

Rachel arrisca um olhar para seu salvador e percebe que o barulho de quebrado veio da armação de seus óculos e não de seu nariz ou algum osso importante, ela respira aliviada antes de levantar o rosto para Quinn. A loira olha para seu pai com algo que lembra dor e pena, a morena leva uma mão para a sua face, guiando seu olhar para baixo e lhe oferecendo um pequeno sorriso. Seus lábios forma as palavras 'eu te amo' e a assistente social se inclina para beijar sua testa antes de voltar a atenção para sua avó e seu pai.

"Sua neta está chorando e você podia ter machucado seu genro seriamente." Mary faz um gesto indicando o homem que recolhia os pedaços de seu óculos do chão, antes de se voltar para sua neta mais nova. "Sem contar que você ameaçou agredir duas mulheres! Mulheres Fabray! Essa menina tem razão Russel, você é mesmo um covarde." Rachel sente suas bochechas esquentarem e Quinn olha para sua avó completamente perplexa. "Esse é o momento de homenagear a memória da minha filha e é exatamente isso que vamos fazer, sem brigas. Não importa o que Quinnie seja ou o que ela escolha fazer com a própria vida Russel, ela já provou que vale muito mais do que você e eu não quero te ver em nenhum lugar perto dela, entendido?" Ela fala devagar, mas firme, como se ele fosse uma criança rebelde e por incrível que pareça, suas palavras parecem surtir efeito e o homem se levanta devagar.

Quinn sente uma mão em seu ombro e percebe que Santana agora está ao seu lado.

Russel lança um olhar assassino para as três mulheres e assente com a cabeça, quase que imperceptivelmente antes de deixar a igreja sem olhar para trás.

"Daniel!" Olivia passa por seu pai na entrada e se encaminha apressadamente para o altar, tocando gentilmente no rosto de seu marido e coletando um pouco de sangue em seus dedos. A preocupação era visível em seus olhos e a menina em seus braços começa a chorar novamente.

"Não foi nada Liv, só a armação do óculos... acho que acabou arranhando meu rosto, mas vou ficar bem." Ele sorri para ela e ela o abraça.

Um tumulto de vozes irrompe pela igreja, mas as pessoas no altar ignoram e continuam imóveis. "Quinnie..." A voz de Mary chama a atenção da loira.

"Vó eu..." Começa ela, soltando Rachel e sentindo-se mal por ser a causa de toda essa confusão, ela quer se desculpar, mas uma parte dela não acha certo ter que pedir desculpas por ser verdadeira consigo mesma.

"Não diga nada minha querida." Ela esboça um sorriso triste. "Antes de morrer, sua mãe, ela... Tem algumas coisas sobre a sua mãe que eu acho que você deveria saber..." Mary olha para Rachel e estende sua mão para a morena pegar. "Mary Collins, é um prazer finalmente conhecê-la"

"Rachel..." Começa a diva, mas para ao perceber o que a senhora a sua frente havia acabado de dizer. "Finalmente?"

"Como eu disse, tem algumas coisas sobre Judy que vocês duas precisam saber..." Ela envolve a mão da cantora com as suas e a guia até o sofá próximo ao caixão. "Mas agora não é o momento." Ela olha para o corpo de sua filha e uma única lagrima escorre por sua face. "Quinn?"

"Sim?" Responde a loira imediatamente.

"Acho que sua irmã precisa de ajuda com a Evelyn, será que você poderia?"

Quinn encontra os olhos de Rachel com os seus e a morena parece um pouco confusa ao ser puxada para baixo e forçada a sentar ao lado de Mary, a loira sente um pouco de receio em deixar sua namorada sozinha com sua avó, afinal, até onde ela sabia, Mary não pensava muito diferente de Russel no que dizia respeito a religião. A velha senhora havia sido a primeira a lhe recusar abrigo quando ela estava grávida de Beth.

"Quinn?" Repete Mary.

"Sim..." Responde ela, se desviando para sua irmã, que tentava cuidar do rosto de Daniel e segurar sua filha ao mesmo tempo. "Liv?"

Olivia se vira para ela, mas a expressão em seu rosto é ilegível.

"Posso?" Quinn encosta uma mão nas costas de Evelyn, que abre um sorriso no momento em que a vê e estende os braços em sua direção.

"Tia Quinn!"

"Acho que sim..." Responde Olivia, passando sua filha para os braços de sua irmã. "Obrigada." Ela fala brevemente, antes de voltar a atenção para o pequeno corte no rosto de Daniel. "Vamos lavar isso..."

Quinn recebe um aceno de seu cunhado antes que ele seja arrastado para um banheiro e a pequena menina loira enterra o rosto no pescoço de sua tia, respirando profundamente. A assistente social corre os dedos pelos cabelos finos e lisos e se encaminha para o lugar aonde Santana se encontra agora.

"Meu irmão está vindo me buscar agora Q. Acha que vai ficar bem?" Pergunta a latina, alisando o vestido da menininha nos braços de sua amiga, sorrindo ao pensar que daqui a pouco ela vai ter sua própria menininha para abraçar.

"Sim, obrigada por tudo S..."

San se inclina para a frente e beija sua bochecha.

"Eu volto para o enterro, Ok?"

"Ok."

Quinn se vê sozinha em meio ao altar, de alguma forma, ela não se sente como ela mesma. Agora minha família sabe quem eu sou... pensa ela, mordendo o lábio e caminhando devagar até aonde sua avó e sua namorada estão sentadas e tomando o lugar ao lado de Rachel, que imediatamente descansa uma mão em sua coxa. Evelyn suspira novamente e a diva sorri para ela, afastando alguns fios loiros de seus grandes olhos verdes.

"Oi" Murmura a morena.

"Oi" Responde a menina, sorrindo timidamente de volta antes de esconder o rosto no pescoço de Quinn novamente. A assistente social cobre a mão de Rachel com a sua e elas trocam um olhar significativo, ambas gratas por estarem próximas e vivas e intrigadas com o que Mary pode ter para dizer.

A velha senhora observa a interação de sua neta com a pequena morena e por mais triste que esteja, não consegue deixar de sorrir. Há alguns anos ela nunca teria se imaginado em uma posição dessas, mas Judy a havia ensinado tanto...

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