Era fim de tarde. O sol ainda estava alto, mas apontava no horizonte, refletindo seu tom alaranjado nas águas no lago de canoagem. Thalia estava sentada no fim do píer, com os pés dentro d’água. Usava trajes de banho e uma camiseta branca por cima.

A verdade é que a bobona morria de vergonha do corpão que tinha.

Faziam apenas dois meses que Luke e Thalia começaram a namorar e já estavam passando pela primeira briga. O pai de Luke, Hermes, o incumbirá de ir ao Jardim das Hespérides para roubar uma das maças de ouro de Hera. O porquê de Hermes precisar da maça e, principalmente, precisar que Luke a rouba-se, ninguém chegou a saber. Thalia acreditava que aquela missão era apenas um modo que Hermes encontrará para por Luke a prova. E estava certa.

Luke levou apenas uma semana fora do AMS, mas fora a semana mais difícil pela qual Thalia já passara. Luke e Quíron a proibiram de acompanhar a missão. Luke porque, por mais que gostasse da namorada e soubesse que ela seria a pessoa certa para acompanhá-lo, queria que aquele momento de glória fosse somente seu. Quíron respeitava a decisão de Luke e tomou todos os cuidados para que Thalia não fugisse.

Luke voltara ao acampamento há três dias, mas ainda não conversara com Thalia. Tudo acontecera rápido demais. Ninguém sabe ao certo como Luke foi aparecer na Casa Grande, assim do nada. O palpite de todos é que Luke fracassou e foi levado de volta por Hermes. O único com quem ele conversou sobre a missão foi Quíron. Num primeiro momento ele não permitiu que Thalia nem o visse, tudo por causa do ferimento que Ladon o fez.

As imagens da volta de Luke ainda dançavam na mente de Thalia. Uma verdadeira confusão foi feita: filhos de Apolo correndo de um lado a outro tratando do ferimento, Annabeth chocada dando um escândalo, Thalia tentando ajudar a cuidar de Luke, ele impedindo que ela se aproximasse, Quíron tentando afastar todos...

Luke só agira daquela maneira porque estava envergonhado. Envergonhado por ter fracassado na missão e por agora ter uma horrorosa cicatriz deformando seu rosto. Mas mesmo assim ele sabia que isso não era motivo para maltratar Thalia. Por isso, assim que tomou coragem, Luke foi procurá-la para se desculpar, encontrando-a no píer do lago de canoagem.

– Oi – disse Luke sentando-se ao lado de Thalia. Ele tirou o tênis e pôs os pés dentro d’água. Por fim, encarou Thalia.

Ela o encarava de volta, sem demonstrar nenhum sentimento em sua expressão.

– Me desculpe, ok? – disse Luke, que conhecia Thalia bem o suficiente para entender que seu olhar sem expressão era um incentivo a ele para continuar. – Eu sei que fui um completo imbecil com você, mas é assim que eu estou me sentindo nesses últimos dias. Um imbecil, babaca, idiota, que não consegue fazer nada certo! Eu sou tão burro que, além de ter falho na missão, magoei a pessoa que mais se preocupa comigo! – Luke suspirou, frustrado.

O olhar de Thalia suavizou, se tornando mais gentil. Ela colocou sua mão sob a de Luke, apertando-a.

– Está tudo bem – ela disse.

Eles se encararam por um tempo. Luke sempre achou que o tom dos olhos de Thalia combinava com a noite. Mas ali, com a luz do sol iluminando-os, ele soube que nunca os virá tão magníficos. Não havia motivos para ele se preocupar com a cicatriz que ficaria em seu rosto: Thalia era bonita o suficiente pelos dois.

Luke passou um braço por sua cintura e a abraçou.

– Ah, como eu sou idiota! – lamentou-se Luke.

Thalia riu.

– Um pouquinho – concordou ela.

Luke fez uma careta, como que ofendido, mas Thalia não viu. Ela se afastou dele e voltou a mirar a água.

– E então? – perguntou ela. – O que vamos fazer agora?

– Como assim? – perguntou Luke, tirando a camisa. Estava passando por sua cabeça a idéia de nadar.

– Você não vai querer tentar uma segunda vez? – quis saber Thalia, encarando-o.

– Ah, não mesmo... – respondeu-lhe Luke, entendendo o que ela queria dizer e achando aquela idéia absurda.

– Eu poderia te ajudar – insistiu ela.

– Não Thalia. Sério – Luke a encarou, cortando o assunto com o olhar.

Thalia desviou o olhar para o horizonte. Luke suspirou, percebendo que tinha feito besteira outra vez.

– Durante a missão eu encontrei isso – Luke começou a puxar de dentro do bolso da calça uma correntinha, tirando por último o pingente preso a ela; um coração com arabescos em relevo sobre sua superfície. Ele ficou segurando o colar de modo que o pingente ficasse da altura dos olhos de Thalia, que o encarava. – É uma metáfora. Já que não posso tirar o meu coração do peito e te dá-lo, achei que esse aqui me representaria bem.

Sorrindo, Thalia pegou o colar pelo pingente e passou o polegar pelos desenhos.

– É lindo. Obrigada – ela olha de volta a Luke, que se inclinou e a beijou ternamente, transformando aquele momento em um digno de fim de filme.