Thalia acordou com um pressentimento ruim naquela manhã. Não tivera nenhum sonho estranho nem nada, mas por volta das 5h da manhã ela simplesmente despertou com um arrepio; uma sensação ruim.

   Por um bom tempo ela só ficou deitada encarando o teto, sem conseguir adormecer novamente. Quando o sol já estava nascendo e começou a clarear seu chalé foi que Thalia reparou em uma folha de papel dourada caída perto de sua janela.

   Curiosa, ela empurrou as cobertas para o lado e saiu da cama, caminhando até a janela. Abaixou-se e pegou o papel, que parecia feito de ouro. Olhou e, de um dos lados, estava escrito: “Abra o olho”. Estava assinado como “GG”, o que não fez nenhum sentido para Thalia. Ela olhou pela janela, procurando pistas de quem poderia ter deixado aquele bilhete, mesmo que já fizesse muito tempo que passara por ali, mas o que ela viu foi muito mais do que uma pista.

   Do outro lado do conjunto de chalés, Annabeth e Luke caminhavam em direção ao chalé de Atena. Quando o alcançaram Annabeth virou-se para Luke, que se despediu dela com um beijo. Pausa. Thalia não devia estar enxergando muito bem. Talvez ainda estivesse dormindo e sonhando com aquilo. Não, era mesmo real. Luke havia acabado de beijar Annabeth na boca, e ela retribuirá.

   Bom dia Acampamento Meio-Sangue. Essa é a chamada para acordar.

   Quando se separaram Luke fez um movimento como que fechando a braguilha. Então eles estão muito além dos beijos, pensou Thalia. Agora o bilhete fazia sentido. Uma ânsia de vômito lhe subiu até a garganta, mas ela reprimiu. Mesmo ainda de pijama – que era uma camisa de Luke que ela pegara – Thalia saiu de seu chalé e foi até o de Atena caminhando entre os chalés pra que eles não a vissem. Ela se aproximou o máximo que pode, mas não conseguiu ouvir muito bem o que eles diziam.

   Luke deu um último beijo em Annabeth, e dessa vez Thalia pode ver que ele também a acariciava. Ele se virou e foi em direção ao chalé 11, deixando Annabeth ainda ali o observando. Foi só quando ele entrou que Annabeth virou-se para encarar uma Thalia enfurecida.

   - Foi bom? – perguntou Thalia aproximando-se.

   - Eu não sei do que você está falando – respondeu Annabeth

   - Estou falando sobre ele ser um trepador sensacional – Thalia empurrou Annabeth contra a parede, encurralando-a. – Se eu souber que você esteve com o meu namorado mais uma única vez, eu vou fazer picadinho de Annabeth.

   Poderia ser uma ameaça tradicional, mas ficava bem assustadora dita por Thalia. Ela lançou um último olhar feio a Annabeth e voltou a seu chalé. Nunca foi visto um olhar mais mortal do que o que Thalia lançou a Annabeth nesse dia.

   Annabeth ficou observando Thalia ir embora. Ela se controlava para não gritar com a amiga. Como filha da deusa da estratégia, Annabeth sabia muito bem que discutir não faria diferença nenhuma, assim como as ameaças de Thalia. Luke e ela se encontrariam outras vezes, até o momento que ele não quisesse mais voltar para Thalia. E então ele seria só dela, como ela sempre quis.

   De volta ao seu chalé, Thalia não mais conseguiu segurar as lágrimas. Ainda não conseguia acreditar no que Luke e Annabeth fizeram com ela. Seu namorado e sua melhor amiga juntos era um clássico que ela imaginou que nunca veria. Nesse momento trilhões de coisas passaram por sua cabeça. Ela pensava nos motivos que haviam levado Luke a fazer isso. Não existiam. Ele sempre fora tão carinhoso com ela, parecia sempre tão apaixonado. Perguntas clássicas como “será que o problema sou eu?” e “o que eu fiz de errado?” passaram por sua cabeça.

   O bilhete dourado ainda estava sobre sua cama. Thalia o olhou mais uma vez. Quem quer que tenha lhe mandado aquilo iria morrer se contasse a alguém o que viu.