Já se passaram três dias desde a aparição de Gabriel me alertando do perigo que rondava a minha família. Arrumei tudo que precisaria para sair dali, coloquei um amuleto escondido atrás do quadro que ficava perto da cama para proteger Charlie de possíveis ataques dos demônios, escondi o meu cheiro e de Bella na casa para que nenhum deles e nem os vampiros soubessem que ele era o pai da escolhida e esperei Charlie chegar para contar a maior e mais dolorosa mentira de toda a minha existência.

Deixei Bella dormindo em seu berço e desci para esperar Charlie chegar, sentei no sofá e comecei a chorar deixando todos os sentimentos e medos saírem por elas, revi todas as minhas atitudes e escolhas que fiz desde que me tornei mortal e não me arrependo de nenhuma delas pelo menos conheci o que significa o amor e suas experiências.

Estava perdida em minhas lembranças quando sinto a presença de um anjo ao meu lado e sorri, pois sabia que era Gabriel, ele sempre me apoiou na minha decisão.

  -Você não deveria estar aqui, o conselho não irá te punir por isso? – perguntei controlando as lágrimas.

-Acho que esqueceu que eu também faço parte dele, pressenti que precisava da minha ajuda e não deixarei que você enfrente isso tudo sozinha sendo mortal ou não sempre será a minha amada amiga e irmã.

-Obrigada por estar aqui Gabe, acho que sem a sua ajuda eu não vou conseguir. – disse lhe dando um abraço rápido.

-Eu te disse no dia da sua transformação que sempre que precisasse de mim era só chamar que eu viria o mais rápido possível, e você sabe melhor do que ninguém que uma promessa feita por um anjo é sempre cumprida. – disse sorrindo, sei que a presença dos seres da luz perto dos humanos os acalma, e a dele aqui me deixava mais confiante para concluir o meu plano.

-Eu me lembro disso, e muito obrigada mesmo, apesar de saber que é o seu dever, sinto que você também se preocupa comigo, nunca me esquecerei disso.

Gabriel sorriu levemente assentindo, mas quando ele ia falar alguma coisa seus olhos mudaram do azul normal para o celestial e virou a sua cabeça em direção a porta se levantando do sofá.

-Renée está na hora, estarei aqui o tempo todo ao seu lado, só você me verá e mais ninguém, assim que você falar com ele suba, faça a sua mala e a da pequena e vá em direção a cidade, pegue um táxi e siga direto para Seattle, dois de nós estarão esperando por vocês lá para pegarem o avião para Phoenix.

Assenti sussurrando um obrigada, pois logo em seguida escutei a viatura de Charlie estacionando em frente a nossa casa. Ele abriu a porta e  me lançou um sorriso e veio até a mim.

-Boa noite meu amor, o dia hoje foi fácil e deu para sair mais cedo um pouquinho, a Bella está dormindo?  - disse me dando um beijo e indo em direção as escadas.  -Vou tomar um banho e já desço para jantarmos.

-Ela está dormindo sim, vai lá que vou esquentar o jantar. – ele assentiu subindo para o banheiro.

Enquanto Charlie estava no banho, segui em direção a cozinha para esquentar o jantar, durante esses três dias pensei em como faria para sair de casa com Bella e resolvi usar o fato da cidade ser pequena e não ter recursos para quase nada. Sabia que Gabriel estava o tempo todo ao meu lado, olhei para a mesa atrás de mim onde ele estava sentado com seus olhos angelicais me observando, apenas sorri para ele que levantou da cadeira e sinalizou com a cabeça que Charlie estava descendo.

Ficamos quietos durante todo o jantar, sabia que cedo ou tarde eu teria que pôr meu plano em prática, pensando nisso terminei de arrumar a cozinha com Charlie me observando ainda sentado perto da mesa, antes de me virar em sua direção respirei fundo escutando Gabriel falar que ficaria tudo bem e que daria tudo certo.

E com a força que Gabriel me dava girei meu corpo em direção a Charlie e comecei a falar...

-Charlie, estive pensando e acho melhor nos mudarmos para Phoenix, em Forks não tem muita coisa e para conseguir temos que ir a Port Angeles ou Seattle, sem contar que Phoenix possui mais recursos do que as duas, o que você acha? – sabia que a sua resposta seria não, ele não largaria tudo em Forks para simplesmente ir em direção a uma cidade maior.

-Você sabe que não é tão fácil assim, e eu não poderia largar a polícia de uma hora para outra, você sempre gostou de Forks, para que isso agora? – disse coçando a cabeça, essa seria a deixa para começar uma briga e me daria à oportunidade de sair de casa levando Bella para Phoenix.

-Eu gostava de Forks Charlie, mas quando se tem uma filha pequena e se mora em uma cidade que chove quase todos os dias tem que se ter cuidado com tudo e onde teria um médico especialista? Só em outra cidade, estou cansada dessa cidade e de tudo que ela não pode oferecer. – disse mostrando irritação a ele, mas por dentro cada palavra que eu dizia era como uma faca perfurando o meu coração.

-Tudo do que você precisa têm aqui, médicos especialistas existem vários e não posso deixar a polícia simplesmente por um capricho seu. – Charlie disse bastante irritado, a discussão estava seguindo o rumo que eu desejava para sair de casa.

-Capricho meu? Só estou pensando no que é melhor para Bella, e já que a polícia é a sua prioridade não deveria ter se casado comigo. – disse olhando diretamente nos olhos de Charlie que demonstravam surpresa, sabia que o que eu disse o feriria, mas era melhor a dor emocional do que a dor que os demônios o causariam quando descobrissem que ele era o pai da escolhida.

-Então é isso Renée? Você está dizendo que se arrepende de ter se casado comigo? – aquilo me pegou de surpresa, se soubesse o que eu tinha feito por ele jamais falaria aquilo. Quando eu ia dizer que não Gabriel apareceu atrás dele me encarando com os olhos celestiais.

-Diga que sim, lembre-se de que esse é o único modo de salvar ele e a sua filha.

-Estou começando a me arrepender agora, mas fique tranquilo em relação a isso, vou deixar você livre de tudo e quando eu chegar a Phoenix te mando os papéis do divórcio. – dizer aquilo me matou por dentro, mas era o melhor a se fazer para protegê-lo.

-Tudo bem então, se você quer assim quem sou eu para impedir. – Charlie disse surpreso, mas ainda podia ver em seus olhos que atrás da raiva tinha muita dor.

Subi em direção ao meu quarto e arrumei uma mala grande com as minhas coisas e as de Bella, a peguei no colo e desci as escadas e o encontrei sentado no sofá olhando em minha direção, quando cheguei na porta de casa me virei em sua direção o encarando e disse as palavras finais matando de vez o meu coração.

-Quando chegar em Phoenix eu vou contratar um advogado e tratar de tudo e não se preocupe, não manterei Bella longe de você, e quando ela for maior ela poderá passar as férias aqui.

Ele apenas assentiu sem olhar em minha direção, peguei a mala e segui em direção a cidade para pegar um táxi e ir direto para o aeroporto, sentia como se meu coração perdesse um pedaço e a cada passo em direção a cidade não consegui conter as lágrimas que escorriam em meu rosto sem permissão. Me sentia como se estivesse na beira de um penhasco alto prestes a pular em direção ao mar de dor em meu peito. Respirei fundo, eu não podia deixar me abater, teria que ser forte por aqueles que amo e lutar para que estejam em segurança.

Continuava caminhando perdida em meus pensamentos e angustias quando um Chevy Impala SS 1967(n/a: carro do dean em supernatural amo...) parou perto de mim e um homem saiu de seu interior, sorri ao ver quem era.

-Onde arrumou o carro Gabriel? Não sabia que arcanjos tinham carteira para dirigir. – perguntei curiosa, anjos podem chegar a qualquer lugar em um piscar de olhos, literalmente, e ele vinha na Terra regularmente, mas não podia ficar na Terra por muito tempo por causa das suas obrigações celestiais.

-O carro é da Anna, uma amiga muito próxima de nós, ela me emprestou para poder te levar ao aeroporto, ela disse que quando você saísse de casa precisaria de uma carona já que o ponto de táxi é muito longe de onde você mora, ela mesma viria se não tivesse que olhar a Kênia e a May.

-Quem são elas?  – perguntei quando ele pegou a mala que estava na minha mão a colocando no carro.

-Kênia é o oráculo, e May é a sua irmã gêmea, as duas tiveram os pais assassinados por demônios, quando a Kênia nasceu eles queriam a menina para ajudá-los a achar a escolhida e ajudar nas batalhas contra nós, conseguimos salvá-las do mesmo destino de seus pais e o conselho resolveu mandá-las para Phoenix e desde então elas moram com os tios lá, agora entra no carro que eu vou te deixar no aeroporto onde dois de nós estarão te esperando.

-Da Anna eu me lembro, e as outras duas quantos anos têm? – perguntei entrando no carro e ajeitando Bella em meu colo. O Oráculo renascia a cada 300 anos auxiliando os anjos nessa batalha.

-Elas têm um ano de idade e são daqui de Forks, moravam em La Push.

-O nome das duas não me é estranho, qual é o nome dos pais delas? – alguma coisa dentro de mim parecia conhecer as duas mesmo não tendo as visto ainda.

-Realmente lhe são familiar Renée, porque você os conhecia muito pouco, eles se chamavam Michel e Renesmee Flynn e eram grandes amigos de Charlie e Billy, morreram um pouco antes de você descobrir que estava grávida e você cuidou das meninas enquanto os dois cuidavam do funeral. – disse me olhando de lado enquanto dirigia em direção à cidade me fazendo lembrar os acontecimentos daquele dia.

-Me lembro desse dia, antes de descobrir que estava grávida eu vi as meninas e senti uma necessidade enorme de cuidar delas como se fossem minhas filhas. – disse ajeitando Bella nos meus braços.

-Você sempre teve um apreço muito grande pelos humanos, e não me surpreende que você ainda cuide deles. - disse acariciando o rosto da minha pequena rapidamente e voltando sua atenção à estrada.

Em meio a essas revelações não percebi que já tínhamos chegado ao aeroporto, ele estacionou o carro em frente ao portão se virou na minha direção, acariciou o meu rosto e olhou para a minha pequena respirando fundo antes de falar.

-Vá direto para o portão de embarque que você vai encontrar Uriel e Anna te esperando com o passaporte e a passagem, elas irão te acompanhar até Phoenix onde ficará com Anna e o Juan, depois de resolver algumas coisas por aqui irei até onde você ficará e decidiremos o futuro da Bella.

-Muito obrigada Gabriel, nem sei como te agradecer por tudo que tem feito por mim e por minha família, e por favor proteja o Charlie, ele e Bella são tudo que eu tenho. – disse com os olhos marejados, falar de Charlie me trazia um aperto no peito, e teria que conviver com isso pelo resto dos meus dias.

-Você e a pequena Bella estando seguras é o que me basta, e pode deixar que nenhum deles chegará perto de Charlie. – disse me abraçando rapidamente. -Agora vai encontrar com Uriel porque seu vôo sairá daqui a dez minutos.

Assenti e saí do carro pegando a mala e indo em direção a Uriel e Anna que assim que me avistaram correram em minha direção.

-Olá Renée, a vida mortal lhe caiu muito bem, e antes que me esqueça parabéns pelo nascimento da sua filha, pena que tivemos que nos encontrar nessa situação. – disse Anna me abraçando rapidamente por eu estar com a Bella no colo.

-Infelizmente sim Anna, mas de certo modo estou feliz por estar aqui, significa que a minha família estará a salvo e me desculpe por te envolver nisso. - disse em um sussurro e olhando o rosto de Bella adormecida em meus braços.

-Você não tem que pedir desculpas por nada Renée, é apenas o destino cruzando os nossos caminhos de modo diferente. – disse sorrindo e pegando a mala da minha mão. Sorri levemente e me virei em direção a Uriel, sempre tive mais afinidade com ela e com Gabriel que sempre me apoiaram a virar humana e ir atrás da minha felicidade.

-Como vai Uriel? Desculpe te envolver nessa confusão também, sei que você tem muitos assuntos para tratar.

-Não é incômodo nenhum Renée, você sabe muito bem que é o nosso dever e além do mais também tenho muita consideração por você. – disse sorrindo para mim, às vezes esqueço que os anjos conseguem ler e se comunicar através dos pensamentos de todos os anjos facilitando a comunicação em uma batalha mesmo estando longe e no caso dos humanos os aconselhar para que sigam o caminho da luz.

-Está tudo muito bonito, mas temos um avião nos esperando para levá-la a Phoenix, aqui está a sua passagem e o passaporte. Você irá conosco no avião ou vai via “expresso”? – disse Anna fazendo aspas na palavra expresso de modo sarcástico, fazendo Uriel e eu revirar os olhos e rir ao mesmo tempo, ela sempre foi assim.

-Eu vou encontrar vocês em Phoenix, tenho que ajudar o Gabriel em algumas coisas aqui e por isso não irei com vocês, mas não se preocupe, se tiver algum perigo a Kênia me avisará e irei imediatamente me encontrar com vocês.

-Tudo bem então, vamos logo Renée, pois o vôo está para sair. – disse Anna me puxando para o portão de embarque.

-Tudo bem, até logo Uriel. – falei alto enquanto a louca da Anna me puxava.

Uriel assentiu sorrindo e desapareceu rapidamente do meu campo de visão. Entrei no avião e me acomodei no assento, estava cansada por causa da pressão emocional que sofri nas últimas horas. Percebendo isso Anna me olhou meio desconfiada e foi logo falando.

-Você precisa descansar Renée, me dê a menina que eu tomo conta dela e te acordo quando chegarmos ou se ela chorar.

Não falei nada apenas lhe entreguei Bella e me permiti cair na inconsciência...

Acordei horas depois com o som de risos de criança que logo reconheci que eram da Bella.

-Ainda bem que você acordou, já estamos chegando. – disse Anna passando Bella para o meu colo.

Chegamos em Phoenix onde o marido da Anna nos esperava, eu ficaria em sua casa por medida de proteção a Bella já que o oráculo também precisava de muita proteção. Instalei-me no quarto que Anna gentilmente preparou para mim... Agora é o começo de uma nova vida para nós duas, e farei de tudo para mantê-la em segurança.