12 de Novembro de 1978

“Querida Lily,

Não sei. Houve-se muitas coisas em Hogwarts, como tu sabes. As notícias passam a correr e chegam rapidamente a todo o lado. Com os boatos é exactamente a mesma coisa, nunca sabemos o que é verdade e o que não é. É melhor não te dizer o que ouvi, pode ser mentira e estaria a iludir-te. Apenas mantêm-te atenta, não deixes que ele te engane.

Já decidiste alguma coisa?

É verdade, eu não gosto muito dele, nota-se muito? Mas eu sou imparcial, não te posso é dizer exactamente o que deves fazer. Isto vai soar meio piroso e tal mas acho que deves seguir o teu coração e fazer o que ele diz. Ok, isto escrito ainda soa pior do que quando pensei escrevê-lo…

Olha Lily, não te posso explicar as coisas todas. Aliás, não consigo. Esse tipo de coisas só tu podes descobrir. Apesar de às vezes ser meio óbvio, nós normalmente demoramos imenso tempo a perceber esse tipo de coisas e só tu podes fazer isso.

P.S. Bom dia!

Com amor,

J.”

“Querido J,

Tu sabes muito bem o que é que se diz sobre ele, mas não me queres contar. Vou fazer o que tu dizes, afinal não tenho nada a perder. Sempre me disseram que ele era muito simpático, só tenho de descobrir se isso é mesmo verdade ou não, certo? Se ele se revelar um autêntico paspalho acho que posso deixar de me encontrar com ele e fica o problema resolvido!

Sim, já decidi. Pensei muito sobre isso ontem à noite e hoje de manhã quando acordei e já sei o que fazer: Eu vou com o Amos à festa mas no dia a seguir logo de manhã encontramo-nos num sítio qualquer e conversamos… Já esperei tanto tempo, não há-de ser muito mau esperar mais umas horinhas…

Não, não soou piroso. Por acaso ficou bastante querido… Segue o teu coração. Gostei. Podias escrever uns poemas e uns livros giros, tens jeito com as palavras!

Ok, o teu último parágrafo ficou um pouco estranho. Estás a falar de quê? Eu não sinto nada mais por ele além de amizade. Aliás, para quem achava que o ia odiar sempre, até é bem bom chegarmos a este ponto. Tirando o facto de que nós não falamos um com o outro ainda… Por causa da briga de ontem…

Bom dia!

Beijinhos,

Lily.”

“Querida Lily,

Sim, acho que isso pode realmente resultar. Eu também vou estar de olho nele, só para ter a certeza de que ele não te vai magoar. E nem vale a pena tentar impedir-me, ok?

Tu é que sabes o que é que hás-de fazer, se é isso que queres então não posso fazer nada, certo? Resta esperar. Mas como dizes são apenas algumas horinhas.

Eu tenho jeito com as palavras? Essa é boa, realmente boa! Normalmente falo imenso com as pessoas e não me calo nenhum segundo mas acabo por não dizer muita coisa que realmente interesse… E quanto a isso de escrever livros ou poemas… eu não sou bom com as letras, agora mesmo estou a escrever isto e nem sei como. Acho que é por ser para ti, parece que as palavras saem mais livremente. Aquela frase, o ‘segue o teu coração’ é mais uma ideia impulsiva da minha mente, surgiu assim do nada. Acho que é o que eu tenho vindo a fazer nos últimos tempos, talvez por isso tenha achado boa ideia dizê-lo, poderia dar-te uma ajuda!

Não percebeste o meu último parágrafo? Ora bolas… Era uma semi-indirecta, mas pelo que parece não resultou. Tu já o odiaste? Ontem disseste que estavas com imensa vontade de ir falar com ele, esclarecer as coisas e pedir desculpa. Porque é que ainda não foste? O tempo passa! Imagina que Hogwarts rebentava agora e a última coisa que tu lhe tinhas dito era  para ele parar com a cena de ciúmes? Acho que não ias gostar disso. Talvez um gosto de ti ou um adoro-te fosse mais apropriado. Pensa nisso.

Beijinhos,

J.”

“Querido J,

Por favor, não faças isso! Eu sei tomar conta de mim própria, não preciso de guarda-costas nem de seguranças… Mas como é que te posso impedir? Nem sequer sei quem és!

Então está tudo bem? Não te importas que eu não esteja contigo na festa do Dumbledore? Podemos combinar no dia 21 às 9h00 na torre de astronomia? Assim temos muito tempo até ao almoço e não acordamos muito cedo (Dia 21 é sábado, não te esqueças…).

Dizes que falas com as pessoas mas não dizes nada de interessante, certo? Isso é mentira. O que dizes é muito interessante! Porque outra razão estaria eu a falar contigo agora? É porque o gosto de fazer, gosto da tua maneira de ser, da forma como respondes e como me ajudas com os meus problemas. Tens vindo a fazer isso? Acho que é bom, vou tentar seguir o teu conselho e fazer o mesmo!

Humm, era uma semi-indirecta? Eu sou um bocado lerda às vezes, desculpa. Não, eu acho que nunca o odiei. Só não gostava muito dele, ele conseguia ser bastante chato e irritava-me muito facilmente, além disso andava sempre ‘às turras’ com o Snape e isso na altura fazia-me ficar zangada.

Oh, mas Hogwarts não vai rebentar agora. E mesmo se rebentasse íamos todos morrer portanto o ‘adoro-te’ ou o ‘gosto de ti’ não valiam de nada, ele bem podia ficar com o ‘importas-te de parar com a cena de ciúmes’. Irrita-me às vezes a forma como ele se mete na minha vida. Parece que é meu pai, meu irmão, meu amigo e meu namorado tudo ao mesmo tempo. Isso é estranho. Até porque ele só é meu amigo.

P.S. Desculpa lá os meus dramas melodramáticos…

Beijinhos,

Lily.”

“Querida Lily,

Sim, realmente… Então ainda é melhor! Não me podes impedir.

Por mim tudo bem, pode ser. Portanto dia 21 às 9h na torre de astronomia? Acabei de apontar na minha agenda. Tenho de marcar com antecedência antes que esteja completamente lotada, porque eu tenho uma vida social muito activa como é óbvio. Ahah, brincadeira. Nem tenho uma agenda.

Não tenho bem a certeza do que estás a dizer, eu não digo nada de jeito. Porque é que estás a falar comigo? Opa, isso já é uma pergunta difícil.

Tu não és lerda, Lily. Só não vês o que não queres ver. Agora já não te irrita facilmente? E o Snape, finalmente deixaste de te dar com ele?

Lily! Era um exemplo! A questão não era terem morrido os dois e por isso não importava o que quer que fosse porque afinal estavam mortos. A questão era que a última coisa que lhe tinhas dito era isso e ele não sabia o que realmente sentes por ele… Oh, isso é porque se preocupa contigo. Às vezes pode ser demasiado mas é por bons motivos.

Eu gosto de ouvir os teus dramas =)

Com amor,

J.”

“Querido J,

Infelizmente não te consigo impedir não é? Infelizmente.

Não tens nenhuma agenda? Então é isso que te vou dar no Natal. Uma agenda! A única coisa má é que tu já sabes. Humm… E também não é nenhuma prenda de jeito, realmente.

Tu consegues ser muito idiota, moço.

Portanto eu sou cegueta para algumas coisas, é o que me estás a dizer? Oh, a questão agora não é essa. Agora fizemos um acordo, e como ele deixou de me pedir para sair e parou de ser irritante, ficou tudo mais fácil! Já não falo com o Snape há algum tempo. Ele era meu amigo, era mesmo mas desde o 3º/4º ano em Hogwarts que ele começou a dar-se com as pessoas erradas, começou a agir de uma forma estúpida. Eu fingia que não via porque no fundo ele ainda era meu amigo mas passou a ser demais para mim quando ele me começou a chamar sangue de lama. Aí fartei-me. Ele já não era a mesma pessoa e eu finalmente dei ouvidos ao James, ao Sirius e ao Remus. Agora passo por ele nos corredores e finjo que não o conheço, aliás, eu não o conheço mesmo. O meu amigo Sev desapareceu há anos.

Eu percebi isso. Não era a última coisa que eu gostaria de lhe ter dito, isto se Hogwarts explodisse agora mesmo. Tenho de ir falar com ele para resolver as coisas. Vou agora mesmo.

Já sabes da novidade? O Sirius e a Lene já assumiram a Hogwarts inteira que têm qualquer coisa! Será que o Six já a pediu em namoro? AAHHH, que queridos!

Beijinhos,

Lily.”

“Querida Lily,

Não é infelizmente, é felizmente! Ainda bem!

Então não é só uma coisa má, são duas. Lily, já não sabes contar? Mas eu não me importava de receber uma agenda, pode ser que me tornasse mais organizado. É uma tarefa difícil.

É verdade! E tens razão, é uma das poucas vezes… =P

Sim, é o que te estou a dizer. Tu és muito perspicaz, és muito inteligente mas quando existe algo que não queres ver, quando existe algo que acontece mas que tu não queres és capaz de não ver que isso aconteceu mesmo. É compreensível. Eu às vezes faço a mesma coisa, sabes?

O Snape começou a dar-se com as pessoas erradas e fez escolhas erradas. E a pior coisa que ele fez foi chamar-te sangue de lama. A pior decisão dele foi tratar-te mal. Desde aí até ao facto dele se ter juntado ao grupinho que se intitula ‘devoradores da morte’ e que apoia o Voldemort foi sempre a descer. Ele está abaixo do chão como pessoa.

Depois diz-me o que é que aconteceu, por favor.

Ah, sim, eu também tenho andado a ouvir coisas. Não sei, Lily, tu é que és amiga da Lene, começa a extorquir-lhe informações!

Com amor,

J.”

“Querido J,

Foi um trabalhão enorme para descobrir o James, parece que ele estava a fugir de mim. Mas passado algum tempo lá o encontrei ao pé do lago perto de uma árvore meio escondida deitado no chão a ver as nuvens a passar, pelo menos era o que ele parecia estar a fazer. Pedi-lhe desculpa por ter sido idiota e ter começado a discutir com ele por uma razão tão estúpida. Ele sorriu e disse que também estava arrependido por ter gritado comigo, disse que o facto de eu ir ou não com o Amos não tinha nada a ver com ele e que portanto ele não tinha de se meter. Foi mais ou menos isso… Eu sentei-me ao lado dele, dei-lhe um abraço, DISSE QUE GOSTAVA MUITO DELE e ficámos lá os dois a ver as nuvens a passar e a discutir quais eram as formas delas enquanto nos fartávamos de rir.

Claro que sei contar! Oh, hei-de ter uma ideia ainda melhor que esta, o que não é muito difícil já que está nem sequer é uma boa ideia! Tu ficares mais organizado? É possível?

Não, não sabia. Nem sabia que eu mesma fazia isso quanto mais… Mas é involuntário, certo?

O Snape é um idiota. Nem sequer merece que estejamos a falar sobre ele.

A Lily vai partir para o ataque agora mesmo, a Lene que se prepare!

P.S. Estou a ignorar o facto de que tu disseste que eu quase nunca tenho razão, ok?

Beijinhos,

Lily.”

“Querida Lily,

Portanto já está tudo resolvido, certo? Eu disse que ele também ia assumir a culpa dele, afinal a idiotice foi dos dois, discutir por uma coisa tão estúpida! Ah, seguiste o meu conselho? Disseste que gostavas muito dele? Uau, demais! Agora se o castelo rebentasse neste momento já não te arrependias porque já tinhas dito que gostavas muito dele, vês? Não sabe bem ter essa sensação?

Claro que é possível. É muito muito difícil mas é possível. A ideia nem foi assim tão má como dizes, a sério, falo por mim!

Pode ser voluntário ou involuntário. De certeza que já o fizeste das duas formas, não sei.

Concordo plenamente contigo, Lily!

Já estou com pena dela…

P.S. As verdades são para se dizer…

P.P.S. Vou domir agora. Boa noite e bons sonhos!

Com amor,

J.”

“Querido J,

Sim, está tudo resolvido e está tudo muito bem agora. É verdade, como sempre tens razão (custa muito a admitir isto…). E também segui o teu conselho. Acho que me sinto completamente normal, era suposto o quê?

Humm, está bem. Finjo que acredito!

Tenho as novidades todas daquilo da Lene e do Six, então basicamente o que aconteceu foi: a Lene e o Sirius estavam a encontrar-se já há mais de duas semanas e decidiram revelar que estavam a ter qualquer coisa, o que foi feito de uma forma bem espalhafatosa, própria daqueles dois. E depois hoje à tarde o Sirius pediu a Lene em namoro! O SIRIUS PEDIU A LENE EM NAMORO! É uma coisa que eu nunca esperei presenciar, uau. As pessoas mudam mesmo! E a Lene ainda não lhe disse nada. Eu perguntei-lhe porquê e ela disse que ia fazer o Sirius sofrer um bocadinho durante um dia e depois lhe dizia que sim. Ela estava em pulgas para ir logo falar com ele mas a ideia de ver o Six nervoso deu-lhe logo ânimo para continuar com o plano dela.

Já agora que falamos dos dois pombinhos, preciso de mencionar que o Frank e a Alice finalmente fizeram as pazes, já não conseguia aturar aqueles dois casmurros a choramingarem por aí! E o Remus e a Mary parecem bem encaminhados! Só casais promissores! Sinto-me como o cupido…

E pronto, acabaram as fofoquices todas por hoje, não há nada mais a dizer!

P.S. Isso não era verdade!

P.P.S. Ok, eu também vou! Dorme bem, J. Já agora que estou numa de dizer a toda a gente o que sinto por elas… Gosto muito de ti. Se o castelo rebentasse amanhã já não tinha este peso na consciênci, como tu dizes. E sim, sinto-me bem!

Beijinhos,

Lily.”