Rainy Day escrita por Vickawaii


Capítulo 1
Capítulo Único - Rainy Day


Notas iniciais do capítulo

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Olhei para a janela desinteressado. Estava fazendo um belo dia de chuva, um dia digno da melancolia de Suzumiya Haruhi. Era um daqueles típicos dias que existiam unicamente para dormir com o barulho lá fora, ou estudar. E eu faria tudo isso se meu destino depois das aulas não fosse, diariamente, ir até a Brigada S.O.S encontrar Haruhi e os outros. Sabia que era a atividade mais inútil que eu poderia escolher, mas considerando que eu não tive escolha e que era membro do clube há mais de dois anos, fazer isso já havia se tornado um hábito que eu não abriria mão.

- Você está atrasado. – Constatou Haruhi com mau humor, como se pelo meu atraso tivéssemos perdido um ônibus que passasse a cada quarenta minutos, ou uma reunião muito importante com o presidente dos Estados Unidos. Não iria prolongar a questão dizendo que todos que eu passei pelo corredor estavam arrumando meios de voltar para casa enquanto eu ia para a Brigada, era bem mais fácil sentar e aceitar o chá oferecido por Asahina-san, que estava realmente doce vestida como maid. Pena que o chá também estava: se continuasse assim, acabaria ficando diabético.

- Kyon, saia. Mikuru-chan precisa se trocar.

- O quê?! Mas sobre a mesa não tem nenhum cosplay...

- Saia! – Haruhi me empurrou porta afora. Droga, ela precisava ser sempre imperativa comigo? Era apenas estranho (na nossa Brigada bizarra, claro) ver Asahina-san usando o uniforme da escola e não cosplay. Quando pude entrar, porém, a menina já estava se despedindo: iria para sua casa. Olhei para Nagato-san que até então estava sentada lendo um livro.

- Você também vai embora, Nagato-san? – Perguntei.

- Só vou terminar este livro primeiro. – Disse ela, e um minuto depois, já tinha fechado o livro e se retirado da sala. Me espreguicei e levantei da cadeira que estava.

- Bem, Haruhi, acho que já vou indo...

- O quê?! Não! – Se opôs HAruhi. – Você precisa me levar para casa!

- Ótimo, então vamos embora agora.

- Mas... O Koizumi ainda não chegou! Ele pode chegar a qualquer momento!

- Haruhi, Asahina-san e Nagato-san já foram embora. Não tem sentido continuar com três membros. E além disso, Koizumi nem sequer foi na aula!

- Nããão, ele disse que viria hoje. Vamos esperá-lo!

Sempre o Koizumi, eu devia imaginar que por causa dele não chegaria mais cedo em casa hoje. Se pelo menos eu tivesse ignorado Haruhi da primeira vez que ela falou sore a Brigada... De qualquer forma, Haruhi tinha um guarda-chuva e seria melhor se eu a levasse para casa então. Sentei-me no sofá e comecei a ler um livro.

- Kyon! – Exclamou Haruhi. – Eu não vou ficar quatro horas sem fazer nada!

- Vamos embora, então. Ou vá jogar Paciência.

- Mas eu não estou com paciência! – Gritou. Ótimo trocadilho. Daqui a pouco, ela começaria a fazer piadas do tipo “Ken está falando?” e coisas do tipo. – Kyon, vamos fazer alguma coisa! Kyon? Kyon! Kyooooon!

Kyon certamente deveria significar ‘monge budista’ em alguma língua oculta, porque ninguém mais teria tanta paciência assim ao ouvir mais de oito mil vezes seu nome. E caramba, Kyon nem era meu nome de verdade! Haruhi olhava fixamente para mim, os grandes olhos castanhos esperando ansiosamente que eu fizesse alguma coisa. O que eu poderia fazer, excetuando os caóticos eventos da Brigada Haruhi e eu mal tínhamos assuntos para conversar. Quer dizer, se considerássemos produtivas as conversas sobre viajar no tempo, comunicar-se com aliens e coisas do gênero, então conversávamos muito mesmo. Mas não estava a fim de ficar quatro horas preso nas divagações de Haruhi, não mesmo. Levantei-me e fui em direção ao armário, daonde retirei uma caixa com um conhecido jogo de tabuleiro.

- O que é isso? – Perguntou a menina, curiosa.

- Você está entediada, não? Acho que podemos jogar um jogo de tabuleiro, Detet-...

- Detetive?! – Interrompeu com uma expressão braba. – Eu me recurso terminantemente a jogar essa droga de Detetive!

- Não fale assim, Detetive é um jogo muito legal! – Defendi. Sério, não sei como alguém poderia falar mal do Detetive. – Que jogo você quer jogar, então?

- Banco Imobiliário? Já sei, War! – Gritou com entusiasmo.

Megalomaníaca. Só isso que tenho a dizer. Jogar um jogo de mistério, raciocínio, emoção? Nããõ. Tem que ser um jogo envolvendo conquistas, poder, enfim, derrotar o adversário. Guardei Detetive no armário e peguei o tal jogo que Haruhi queria. Eu gostava de War também, mas pelo que conhecia de Haruhi ela acabaria tornando a partida empolgante demais para mim. Minha suspeita se confirmou depois de mais de uma hora jogando, com a menina ganhando e se animando enquanto eu estava morrendo de sono.

- Vou te ganhar de novoooo! – Entusiasmou-se Haruhi.

- Haruhi, não. – Disse. – Já cansei de jogar.

- Mas eu estou entediadaaaaa! – Reclamou a menina. Mentirosa. Mentirosa! Ela ficou o tempo inteiro fazendo o que queria, não estava entediada, não.

- Você estava jogando até agora. Você não consegue ficar quietinha, não?!

Ela fez uma expressão debochada, e em seguida me ajudou a guarda o tabuleiro. Ficamos arrumando as coisas em silêncio durante alguns minutos, apenas ouvindo o barulho de chuva lá fora. Chuva me dava sono. Chuva me dava uma agradável sensação de não ter que se preocupar com nada. Infelizmente, teria que me preocupar com Haruhi, que esperneava demonstrando seu tédio e irritação de forma imatura e bastante infantil. Como ela já estava no sofá, resolvi ligar a televisão para ela ficar um pouco menos chateada. Ou chata, na verdade: era eu que teria que aturar seu mau humor. Fui passando os canais até achar um programa interessante para vermos.

- Eu quero aquele canal. Volta. – Interrompeu ela, e repassando aos canais, cheguei no que ela pediu: estava passando um melodramático filme romântico. Ela assentiu com a cabeça, aprovando. Eu duvidava com todas as minhas forças que Haruhi se interessasse por esse tipo de filme, aliás, duvidava que ela fosse minimamente romântica. Tive certeza disso quando, quinze minutos depois, Haruhi apoiou a cabeça no braço do sofá e adormeceu. Mimada.

Como não tinha nada para fazer, continuei a ver o filme. Realmente, Haruhi não era nada romântica: caso fosse, nunca perderia aquele filme enjoado e quase utópico de tão fantasiosa que era a realidade ali apresentada. Ou, pelo menos, deitaria a cabeça no meu ombro. Olhei para Haruhi. Apesar do seu jeito dominador e infantil, ela era realmente bonita. Tanto seu corpo era proporcional como cada linha do seu rosto era bem definida, até mesmo o cabelo curto e liso modelava a sua face de maneira angelical. “Angelical”, ri com o pensamento. Não pensei que pudesse descrever Haruhi um dia com esse adjetivo, mas apesar dela ser demoníaca, parecia um anjinho com os olhos fechados pelo sono e com um sorriso no rosto.

-...Tarado.

- O que?!

- Tarado! – Haruhi se levantou, braba. A fera desperta. – Por que estava me vigiando?!

- Por Merlin, Haruhi, você obriga a Asahina-san a se vestir de bunny e eu que sou tarado! Eu não fiz nada demais!

- Hm, okay Kyon, dessa vez eu perdôo você. – Declarou ela, depois de alguns segundos de hesitação. Revirei os olhos. Ela ajeitou a fita no cabelo e em seguida olhou para o televisor. – Mas que droga é essa de filme que está passando?!

- Argh, Haruhi, você não pode ser assim! – Me irritei.

- Por que não?

- Como assim “por que não”, porque é irritante oras! Há mais de dois anos que eu passo todo o maldito dia na Brigada e você nunca oferece nada em troca!

- Hahah Kyon, você não espera ser pago para trabalhar aqui, não é?!

- Não! – Respondi. Certo, se fossemos considerar tudo que eu fazia, um salário não só era bem merecido como, se justo, me faria ser um milionário antes de terminar o ensino médio. Mas não era essa a questão. – Eu quero... Sei lá, poder relaxar um pouco.

- Hm...Você não se diverte aqui? – Perguntou Haruhi, e dessa vez ela me desarmou, pois estava séria. Confesso que fiquei um pouco desconcertado com a preocupação com que me dirigiu a palavra, e com aqueles brilhantes olhos castanhos olhando diretamente para mim. Na situação e na distância em que nos encontrávamos, dava para ver nitidamente cada pintinha de seu rosto.

- Não é isso, Haruhi, é que...

- Você quer algo a mais, não é?

- Hm...Sei lá...Ééé...

E Haruhi inclinou-se sobre mim e me beijou. Ela me beijou, simplesmente aproveitou o momento e encostou seus lábios junto aos meus. Não sei o que passou na cabeça dela para que fizesse isso, mas de uma maneira estranha eu tive certeza que não foi apenas para recompensar algo, nem foi algo momentâneo. Talvez aquilo representasse o motivo de ficarmos tanto tempo juntos, ou o motivo de eu não ter ido para casa e ter ficado até aquela hora na Briga em um dia de chuva. Agora que eu a tinha tão próxima de mim e a chuva escorria de forma tão intensa, descobria que meus sentimentos por Haruhi também eram intensos. Coloquei minha mão sobre o ombro dela, e...

- Com licença, posso entrar? – Haruhi se afastou abruptamente de mim, e logo depois Koizumi entrou pela porta. Idiota, desgraçado. Sempre presente para estragar os melhores momentos.

- Estou interrompendo alguma coisa? – Perguntou Koizumi, sorridente. Estava. Estava interrompendo um grande momento. E Haruhi rapidamente negou isso.

- Não, só estávamos discutindo a respeito da participação da Brigada S.O.S no próximo festival. Agora já estamos indo para casa.

- Quê?! – Levantei-me. – Mas a gente passou a tarde inteira esperando o Koizumi por nada!

- Não foi por nada. – Retrucou a menina. – A gente esperou pois ele disse que viria!

- E por que ele veio?!

- Porque eu disse que viria.

Certo, aquela conversa não tinha sentido nenhum. Koizumi pegou qualquer coisa do armário da Brigada e em seguida saiu, deixando eu e Haruhi sozinhos arrumando as coisas. Ela estava feliz. Andava de um jeito animado e cantarolava uma melodia que acho que era da Aya Hirano. Havia parado de chover. Aproveitamos esse fato, fechamos a sala e fomos para casa.

A cidade ainda estava impregnada pelo cheiro de terra molhada e pelo aroma das flores. Nada disso, entretanto, se comparava ao perfume vindo de Haruhi, que eu senti bem de perto há alguns minutos. Mas, tratando-se de Haruhi, ela passou metade do caminho andando afastada, quase sempre na frente. Já esperava uma atitude dessas, mas já que ela me beijou, poderia pelo menos andar ao meu lado ou falar algo. Assim era meio desanimador. Comecei a torcer para que começasse a chover.

E choveu. A chuva, que não era tão fina, foi o suficiente para que Haruhi pegasse seu guarda-chuva na sua mochila e me entregasse para segurar. Ela agarrou-se ao meu braço e andamos assim, desta vez falando sobre viagens no tempo e um monte de coisas sem sentido.

- Haruhi, - Comecei, quando já estávamos na frente do prédio dela. – Você não vai falar nada do que aconteceu?

- Anh? Como assim?

- Você sabe... Antes de o Koizumi chegar, a Brigada...

- Não sei do que você está falando. – Declarou ela olhando séria pra mim, e quando percebeu que eu não estava gostando da brincadeira, riu. – Brincadeirinha! – Disse, erguendo-se na ponta dos pés e me dando mais um beijo. Dessa vez foi um pouco mais demorado que o primeiro, molhado por causa da chuva e tão intenso quanto o outro. – Não se esqueça de passar aqui amanhã para irmos para a escola juntos, e devolver meu guarda-chuva! Tchau, tchau!

Despedindo-se, Haruhi deu as costas e entrou no prédio. Ela estava feliz sim, só não sei se era pela minha companhia ou porque dia seguinte eu seria obrigado não só a subir aquela maldita lomba para ir à escola como também caminhar até a casa de Haruhi para buscá-la. Acho que eu usaria a bicicleta. Vendo que no céu se projetava um arco-íris, percebi que estar na Brigada e aturar Haruhi não era tão ruim assim. Aliás, era ótimo.


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