A mansão dos Malfoy sempre foi vítima de muitos olhares. Admiração, medo, mas em sua maioria, inveja. Seu terreno se estendia por um campo verde e um pequeno bosque com lago, e toda a estrutura da casa parecia atemporal: não importava pelo que tivesse passado, a mansão sempre permaneceria perfeitamente intocada.
Alguns suspeitavam ser uma magia secreta. Afinal, como poderia aquele lugar ser tão bem tratado tendo uma família como os Malfoy a morar nela? Era chocante e irritante passear pelos imensos cômodos e vê-los esbanjar uma aura quente e acolhedora, contrário ao que a família apresentava. A frieza dos Malfoy era contrastada com a calorosa mansão.
Contudo, o que ninguém poderia imaginar, era que o segredo da casa era tão simples, tão pequeno, que chocaria mesmo os mais observadores. Não vinha dos jantares em família ou das noites em frente à lareira; não vinha do amor dos pais para com o filho que gostava de correr pelos corredores largos; tampouco vinha das danças inesperadas de Lucius e Narcissa pelo escritório.
Não, o segredo da felicidade que irradiava nas paredes escuras vinha de Draco Malfoy e seu amor por pavões.
Oh, o pequeno e único herdeiro se apaixonara à primeira vista por aquelas aves majestosas, com suas penas brilhantes e a confiança em cada passo elegante. Eram grandes, vibrantes e havia algo de misterioso na forma como o olhavam. Draco assistia aos pavões todos os dias, até o dia em que pode andar entre eles, como um igual.
Mesmo depois de entrar em Hogwarts, mesmo depois de fazer amigos – e inimigos – Draco nunca parou de visitar o criadouro de pavões. Conhecia cada um pelo nome, suas preferências para comer e o nível de carência. Nenhum animal que conheceu, nem mesmo os belos unicórnios, foram capazes de ganhar o amor de Draco como os pavões o tinham.
Quando a segunda grande guerra bruxa explodiu e Draco se viu distante de seu refúgio, a mansão dos Malfoy perdeu o calor amoroso e se tornara um lugar vazio, sem vida. Draco estava quebrado, e por meses, acreditou que nada jamais o consertaria de novo.
Nada seria tão bom para Draco quanto seus pavões um dia foram. Nada lhe daria a mesma inspiração. Iria para Azkaban ao fim da queda de Lord Voldemort e oh, seus pobres animais morreriam abandonados. Draco se veria sozinho, falhando com a única criatura que o via para além das aparências.
Mas agora, anos depois do fim daquele inferno, Draco conseguia se levantar da cama e perceber que – sim – ele estava vivo, e estava bem. E enquanto observava seus lindos companheiros alongarem a plumagem chamativa, deixava os pensamentos correrem para o responsável que lhe possibilitou um caminho de redenção.