Acordei com uma tremenda dor de cabeça, eu estava deitada em um lugar macio. Mesmo na penumbra, pude distinguir a forma de alguns móveis. Levantei-me com cuidado e, ao por meus pés no chão, senti meu pé tocar no tapete fofinho. Caminhei alguns passos e deparei-me com um espelho. Diante dele fiz três constatações.

                A primeira: Meu cabelo estava extremamente oleoso e escuro.

                A segunda: Meu rosto estava tremendamente amassado, como se eu tivesse dormido por semanas.

                E a terceira: Meus olhos estavam horrivelmente verdes. Era um tom esmeralda, igual aos de Luna. Sai meu cambaleante de meu quarto, fui em direção à escada. Meus passos ecoavam baixo, eu podia ouvir uma voz apressada falando na cozinha, apesar de não poder distinguir o que ela falava.

                Conforme eu me aproximava as vozes iam ficando mais lentas e baixas, até que, quando eu parei na entrada da cozinha, elas cessaram. Todos me olhavam com os olhos esbugalhados, mamãe e papai estavam sentados um ao lado do outro, suas mãos estavam dadas e seus dedos entrelaçados.

                Olhei-os com uma sobrancelha arqueada. Sally e Nahuel estavam abraçados, e minha irmã chorava muito. Anthony fazia carinho na cabeça de Jannie, que parecia dormir. Carlisle, Edward e Billy estavam próximos à mesa, e pareciam preocupados. Seth estava encostado na porta que dava para a varanda, ao lado do balcão de granito que havia na cozinha.

                Enquanto todos ainda me fitavam estranhamente, Seth caminhou até mim e beijou-me. Fechei meus olhos tentando manter-me naquele sonho por mais tempo. Sim, porque se eu e Seth estávamos bem, aquilo só podia ser um sonho. Foi só então que percebi que eu e Seth havíamos nos movido. Antes estávamos na cozinha, agora Seth já havia nos trazido para a varanda.

-Não é um sonho, Sarah.- disse enquanto acariciava meu rosto. Seth pegou minha mão e me puxou para longe da casa. Esqueci-me que estava com a mão em seu rosto, e, bem, ainda possuo o poder de minha mãe, o que fez com que ele pudesse ouvir meus pensamentos. Ele pediu que eu o esperasse, Seth se transformou e nós corremos até uma clareira no meio da floresta. Apesar de o inverno começar em um mês, ainda havia várias flores na clareira e fazia bastante calor naquela tarde.

                Bem, eu sabia que era de tarde devido à posição do sol. Depois de transformado, Seth correu até mim e beijou-me novamente, com mais intensidade dessa vez. Suas mãos percorriam a lateral do meu corpo, ele grudavam-me mais a ele a cada toque. Percebi o que estava fazendo depois de alguns segundos e afastei Seth imediatamente.

-Nunca mais faça isso de novo.- ele implorou, com as duas mãos em meu rosto.- Sarah, por favor, prometa.

                Encarei-o confusa.

-Seth, do que está falando?

                Ele pareceu tomar uma decisão difícil, então respirou fundo e perguntou.

-Você não se lembra de nada?- sua voz estava um pouco esganiçada, como se ele tivesse algo em sua garganta que o sufocava.

                Lembrei-me de desmaiar, devia ser disso que ele falava.

-Eu desmaiei e então...nada.- encarei-o.- Seth, o que está acontecendo?-indaguei preocupada. Ele olhou para baixo com pesar e depois encarou a paisagem ao nosso redor. Ele sentou-se na grama e eu o imitei.

-Você não lembra de nada.- sussurrou com a voz pesarosa. Continuei a encará-lo, como um pedido silêncio para que ele continuasse. Seth voltou se olhar para mim e dirigiu-me um sorriso triste.- Você estava acordada, Sarah, todo esse tempo. Bem, Luna estava.- encarei-o confusa.

-Seth, do que está falando?- indaguei, meu desespero começando a ficar visível.- Eu estava conversando com Nahuel e então eu desmaiei, não acordei desde então.- Afirmei-lhe.

                Seth negou com a cabeça.

-Sarah, fazem duas semanas que você falou com Nahuel.- encarei-o confusa, mas ao mesmo tempo, algo surgia em minha mente. Algum tipo de lembrança.

-Mas isso é impossível, Seth. Eu não lembro de nada.- ele acenou com a cabeça.

- Já esperávamos que você não se lembrasse de nada, mas eu esperava que lembrasse do que passamos nessas últimas semanas.- garantiu tristemente.

-O que passamos nessa últimas semanas?- perguntei receosa. Seth sorriu.

-Muita coisa boa. Eu achei que depois de tudo aquilo, todas as declarações, todos os beijos, todos os carinhos...- ele suspirou.- eu esperava que pudéssemos voltar a ser o que éramos.

                Então, algo no fundo de minha mente despertou em mim todas essas lembranças de que Seth falava. Mas foi então que entendi o que Seth queria dizer quando falou que Luna estava acordada durante todo este tempo. De alguma forma, Luna havia tomado o meu lugar.

-Seth, não...não era eu.-senti-me uma estúpida por gaguejar, mas eu estava com medo. Muito medo, para falar a verdade.

-Sabemos que não.- ele afirmou, Seth olhava-me nos olhos como se conseguisse ver minha alma.- Era Luna.- abaixei minha cabeça rapidamente, mas Seth pegou meu queixo e me forçou a olhá-lo.- Você devia ter visto, quando você...Luna acordou ela saiu xingando todos.- ele deu uma gargalhada gostosa, aquele que eu tanto gostava.- Sabe, ela chegou e disse que sua mãe e seu pai eram loucos por ficarem separados, que seu pai merecia uma segunda chance...coisas assim. Foi realmente engraçado, pensamos que você estivesse louca. Ela obrigou-os a conversar e se acertar, fez o mesmo com Sally e Nahuel.

                Eu dei uma risada triste.

-Parece que não sentiram minha falta.- disse desviando o olhar. Seth puxou meu rosto e forçou-me a olhar para ele.

-Os outros eu não sei, mas a cada beijo que eu dava em Luna eu torcia para que você se lembrasse quando voltasse.- uma lágrima fujona escorregou de meus olhos e Seth limpou-a com um beijo.- Quantas vezes eu vou ter que dizer que te amo pra você acreditar?- perguntou-me.

                Balancei a cabeça.

-E quantas vezes teremos que brigar até podermos em fim ficarmos juntos?- indaguei.- Somos condenados, Seth. E eu tenho um sério problema com minha alma.- afirmei. Seth sussurrou.

-Sarah, posso te contar uma história?- perguntou-me, confusa, assenti com a cabeça. Seth puxou-me contra seu peito.- Era uma vez eu e você.- levantei minhas sobrancelhas, diferentemente dos homens de minha família, eu não conseguia levantar uma só.

-Só isso?- perguntei.- Não tem fim?

-Essa é minha parte favorita.- ele afirmou. Meu coração vacilou e perdeu uma batida. Ele virou-me e me encarou sorrindo.- Sarah, minha princesa, minha pequena, não importa o quanto briguemos, ou o quanto as pessoas tentem nos afastar, o destino nos quer juntos. E é assim que vamos ficar.- ele assegurou.

-juntos.- ecoei. Foi o necessário para que Seth me beijasse novamente. Fui tomada por aquela sensação inebriante, senti que poderia voar, me senti completa. Os lábios de Seth moviam-se suavemente sobre os meus, suas grandes mãos seguravam meu cabelo e me puxavam para perto de seu corpo. Afastei-me de Seth lentamente, em busca de ar. Eu o amava muito, mas foi apenas quando vi o lindo sorriso que ele trazia em seus lábios, foi que percebi que não poderia, de nenhuma maneira, viver sem ele.

-Volta pra mim.- ele pediu, encarando-me com aqueles lindos olhos negros.- eu prometo que você será a única para mim.- ele disse. Segurei seu rosto entre minhas mãos.

-Eu não quero que prometa, eu quero que cumpra, Seth.- afirmei séria. Ele sorriu.

-Farei isso.- respondeu, antes de me roubar um beijo.

                                                               (...)

                Já começava a escurecer e nós caminhávamos de mãos dadas em direção à minha casa.

-Acha que vai acontecer de novo?- perguntei.

                Seth parecia alheio a tudo. Ele apenas olhou-me desinteressado por alguns segundos e, então, perguntou:

-O que?

                Ele parecia tão inocente fazendo aquela pergunta que eu quase – QUASE- pensei em deixar pra lá, mas meu orgulho falou mais alto.

-Qual é o seu problema?- perguntei, largando sua mão e parando-me em sua frente. Seth suspirou e olhou-me pesaroso.

-Tem uma coisa que eu queria te contar.- ele respondeu. Eu assenti, para que prosseguisse.- Sarah, ninguém sabe ainda, mas a Leah vai voltar.