Suspirei.
- Olha, eu sei que não foi certo o que eu fiz, mas...Eu tava chateada com o Freddie! Ele Tinha me chamado de louca!
- Ah, eu fico chateada com o Spencer as vezes, você acha que eu saio por aí procurando outra pessoa pra ser meu irmão mais velho? Não! Eu falo com ele, ele faz taco de macarrão pra mim e fica tudo bem!
Me esparramo no sofá dela olhando pro teto. Ela cruza os braços e se senta também, e eu sei que ela olha pra mim com aquela cara de “você sabe que eu to certa!” que algumas vezes ela faz. Eu acho que eu poderia dizer que o que aconteceu não foi minha culpa, mas foi sim. Merda. Suspiro de novo.
- Carly, eu não gostei de ter feito aquilo, mas eu fiz por impulso! – Paro de olhar o teto e encaro o rosto dela – Desculpa, tá bom?
Ela cruza os braços e olha pra mim. Ela finalmente para de me olhar com raiva e começa a parecer um pouquinho preocupada.
- É, você nunca pede desculpas se não for sério. – Ela suspira e descruza os braços – Tá, eu desculpo você. Mas Sam, você tem que pedir desculpas pro Freddie.
Suspiro mais uma vez, a se as coisas fossem simples como no mundo da Carly!
- Ele nem fala comigo...
- Ah...
Nós duas ficamos em silêncio. Aposto que enquanto eu encaro a TV desligada tentando não pensar nisso ela ta pensando em uma solução pra isso tudo, mesmo que só exista uma: Esperar o tempo passar. E eu acho que a Carly percebe isso, porque ela se levanta e diz que vai fazer um sanduíche extra largo pra mim. Dou um sorriso fraco tentando ficar genuinamente feliz e até penso em agradecer, mas tenho certeza que ela sabe que eu sou grata por ela ficar do meu lado. Na verdade, por ela sempre estar do meu lado.
- Presunto ou bacon?
Ela pergunta da cozinho, sorrio com a pergunta, a resposta não é óbvia?
- Mamãe vai aceitar os dois.
Vou até a cozinha e ajudo (na verdade só pego mais comida pra mim) Carly fazendo o sanduíche. Até que me ocorre uma coisa: Todo mundo parece saber sobre eu ter traído o Freddie. Como a Carly não? Ela é a vizinha dele!
- Carly, como você não sabia disso?
Ela da de ombros e sorri.
- “Disso” o quê?
- Você sabe: Eu ter traído o Freddie...você não é a vizinha dele?
- Ah, isso – ela olhou pra cima como se pensasse um pouco – você não percebeu que a casa ta mais quieta?
Dei de ombros
- Tá, e daí?
Ela terminou de fazer o sanduíche e foi lavar as mãos, na pia atrás da gente. Me apoiei na bancada da cozinha olhando pra ela.
- É que o Spencer me viu mandando alguns formulários pra Browstone e ficou com saudade da faculdade
- Mas ele não fez só três dias da faculdade de direito?
- É, eu sei! – Ela riu e virou pra mim, já tendo terminado de lavar as mãos – Mas sei lá, ele resolveu ir pra uma “colônia de artistas” ou alguma coisa assim. Acho que é um acampamento, só que com tintas e pincéis e esculturas gigantes que deveriam representar alguma coisa.
Ri com ela da parte sobre esculturas e peguei meu sanduíche. Nessa confusão toda dos últimos dias, eu até fiquei bastante tempo sem ver a Carly e eu admito que não deveria ter feito isso, mas vai ver eu só precisava de um tempo pra pensar nisso tudo.
Conversamos um pouco até que eu resolvi ir aproveitar a cama de casal com edredom macios da Carly e ir tirar uma soneca. Ela não se importou, então porque não aproveitar a oportunidade? Subi as escadas e abri a porta do quarto dela, pulando do trampolim e caindo na cama, sentindo meus ossos amolecerem.
Tão.
Bom.

Carly P.O.V
Esperei o barulho dos passos da Sam acabarem e desliguei a TV. Eu amo meus amigos, mas porque eles nunca me contam nada? Eu conto tudo pra eles! Sai do meu apartamento e bati na porta da casa do Freddie. Duas vezes. Três vezes. O Freddie ta se escondendo ou o quê?!
- Freddie! É a Carly!
Do outro lado da porta ele gritou “já vai!” e finalmente atendeu.
- Oi Carly, o que foi?
- O que foi?! Porque você não me contou sobre a Sam?! Você ta bem? E ela contou ou você descobriu? Você já ta namorando outra garota? Porque isso não é bom, afinal a Sam é sua amiga a muito tempo e...
- Carly! Calma! Entra e eu te explico o que aconteceu.
Entrei no apartamento e sentei no sofá tentando me acalmar, já disse que falo muita coisa e muito rápido quando to nervosa? E quando esse nervosismo vem misturado com a minha raiva é pior ainda. Freddie termina de trancar a porta e senta do meu lado. Eu olho pra ele sem falar nada, só esperando explicações. 
- Olha, a coisa com a Sam – ele olha pra cima e suspira antes de continuar – eu não posso fazer nada. Ela tomou a decisão dela e eu a minha, só isso.
Olho pra ele chocada e dou um tapa no braço dele, sem acreditar no que ele disse.
- É só isso?! Não é só isso! Vocês terminaram! E, e vocês se gostavam, não é?
Ele bufou e apoiou a cabeça em uma mão, sem fazer mais contato visual comigo. Essa é a parte em que ele não consegue mais responder nada (eu acho que o problema é que ele não consegue achar uma resposta) e eu começo a ficar preocupada. Olho pra ele por alguns segundos e fica óbvio que ele não ta bem com essa coisa toda.
- Freddie...Olha, o que a Sam fez foi errado mesmo  – suspiro sem saber o que fazer, nunca sei o que fazer pra consolar garotos – Mas nenhum dos dois ta bem com isso, vocês parecem...tristes com isso tudo.
Ele olhou pra mim triste como se tivesse confirmando o que eu tinha acabado de falar.
- Mas essa mudança nunca vai acontecer se vocês continuarem colocando seu orgulho antes. Quer dizer, eu sei que dessa vez ela pegou pesado, mas a Sam já fez vários erros antes e...
- Mas dessa vez ela não fez um erro, Carly! – ele me interrompeu – Ela fez o que queria, o que tinha vontade. E eu já disse que não posso fazer nada se é isso que ela quer! Não é minha culpa.
Bufei. Ele escutou qualquer coisa que eu disse? Garotos são tão idiotas as vezes, arg!
- “Não é minha culpa, não é minha culpa!” quer saber a verdade? A culpa é dos dois! Ela devia te dizer desculpas de uma vez, porque dá pra ver que ela ta morrendo por causa disso e você deveria dizer pra ela como se sente! Fala sério, Freddie! Você acha mesmo que isso é o que ela queria? Se sim, porque ela escolheu namorar com você e não te deu um fora assim que o Will chegou da Inglaterra? Pra alguém tão inteligente como você, as vezes você pode mesmo ser um grande idiota.
Me levantei do sofá e bati a porta com força. Porque eles não fazem nada?! Não é possível que eu seja a única que vê o verdadeiro problema aqui: nenhum dos dois ta disposto a desistir do seu orgulho pra isso dar certo. Abri a porta do meu apartamento e fechei com força, pisando forte até o sofá e me jogando com toda força lá.
- Carly...?
- O quê?!
Olho pra trás e vejo a Sam na escada, como se tivesse acabo de acordar. Mas os olhos dela tão vermelhos e isso significa uma das três coisas:
1)    Ela ta com muito sono (mas ela acabou de acordar, então isso não é possível).
Ok, então:
2)    Ela andou chorando.
3)    Ela fumou maconha.
E eu não sei qual dessas possibilidades é a pior, sério.
- Oi Sam, desculpa. Eu te acordei, né?
Ela balança a cabeça e desce os degraus meio sem direção. E só agora eu noto que ela ta horrível. E eu sei que isso não é uma boa coisa pra dizer, mas mesmo assim. Ela tem alguns fios desarrumados, olhos vermelhos, e a boca insiste em ficar meio aberta. É uma imagem um tanto deprimente.
- Sam, o que aconteceu com você?
- Ah, eu recebi uma ligação do Will dizendo que é urgente. Se importa de me levar até lá? Eu venho pegar o carro amanhã, é só que... cara, eu não quero ter que dirigir agora.
E ela se esquiva da minha pergunta, simples assim. Penso em perguntar mais uma vez, só que esse é o indicador principal que ela não quer falar de alguma coisa. E bem, quem sou eu pra obrigá-la a falar? Eu pergunto mais tarde de qualquer jeito. Ela olha pra mim esperando resposta e eu percebo que dei uma daquelas longas pausas sem falar nada.
- Ah! Claro, sem problemas.
Passamos a viagem toda falando sobre coisas sem importância, mas eu acho que conheço a Sam bem demais pra saber que ela tava só se esquivando de falar sobre o que realmente importa. Queria poder ter falado pra ela sobre como o Freddie ta mal desde que eles terminaram, mas acho que ela não ficaria muito feliz sabendo que eu fui lá falar com ele.
Chegamos no prédio no Garden (o prédio do Will) e a Sam sai do carro, a gente se despedi e faço o caminho de volta quase que automaticamente.
Porque tem que ser tão complicado? É quase como se eu quisesse que eles nunca tivessem namorado, porque ai tudo ainda ia estar do mesmo jeito: A gente ainda seria amigo, toda terça íamos fazer o iCarly, a Sam continuaria implicando com o Freddie e eu iria separar os dois, claro. Que saudade de quando as coisas eram simples!