Passaram-se alguns dias e nada dos gêmeos aparecerem. Segundo a Mel, eles tiveram uns problemas com a documentação da escola antiga (ou algo assim), mas em alguns dias iam começar a estudar na nossa escola. A sensação estranha tinha passado um pouco, mas depois foi substituída (ou não) pela alegria de tirar B na prova de Matemática. Eu disse que a Melanie é uma ótima professora!

Tive que voltar a pé pra casa, pois tive um problema com meu carro e minha mãe não me deixou usar o dela. Pelo menos ela havia me trazido. Estava radiante por ter ido bem na prova de Matemática. Na metade do caminho resolvi passar numa padaria e comprar algumas coisinhas pra comer mais tarde.

Saindo da padaria, esbarrei com uma menina e derrubei as coisas que tava carregando.

Ela se abaixou pra me ajudar a pegar as coisas e começou a me pedir desculpas:

–Nossa, me desculpa mesmo! Eu sou tão desastrada…

–Imagina! Não foi nada. Essas coisas acontecem e… – eu então olhei pra ela.

Sabe quando você vê uma pessoa e tem a impressão que a conhece de algum lugar? Era exatamente o que eu sentia. Me levantei e peguei  minhas coisas,  tentando me lembrar onde eu poderia ter visto ela, quando percebi que ela já tinha ido.

–Er… Então tá, né? – disse para mim mesma e fui embora.

Mais tarde fui na casa da Melanie e quem me recebeu foi Melody, a irmã dela, uma adorável garotinha de quatro anos. Percebi que ela tinha companhia.

–Oi, lindinha. Cadê sua irmã?

–Tá lá no quarto, Anne. Vai lá…

–Ok. – percebi que havia um par de olhos curiosos me olhando – E quem é a sua amiguinha?

–Essa é a Sunny. Nosotras vamos a jugar juntas.

Ai que humilhação! A menina é menor que eu e sabe falar Espanhol muito melhor que eu! Vê se pode!

Foi então que me dei conta. A amiguinha da Melody se chama Sunny e, pela idade que aparenta, só pode ser a vizinha da Melanie. Se for, a Mel tem razão, a garotinha é muito fofinha.

–To indo lá então. Divirtam-se, meninas! Não façam muita bagunça, ok?

Elas assentiram rindo.

Quando eu estava chegando perto do quarto, ouvi a voz da Melanie. Ela parecia estar conversando com alguém. Eu já sabia quem era.

–Anne! Que bom que você veio! Deixa eu te apresentar minha vizinha. Raven, esta é minha melhor amiga Anneliese. Anne, esta é Raven Goldman, minha vizinha.

Eu abri um largo sorriso pra ser simpática e comecei a observar a menina. E não é que era a mesma da padaria? Exatamente igual: um pouco mais alta que eu, o cabelo castanho claro e ondulado na altura do ombro, a pele mais morena que a minha e olhos castanhos e redondos.

–Já nos esbarramos mais cedo. Literalmente.

Ela deu um sorriso tímido.

A partir daí, a Melanie que assumiu o controle da conversa. Nós três passamos uma tarde bem divertida juntas e descobrimos que tínhamos algumas coisas em comum: amamos chocolate (Mas que menina não ama?), temos uma certa paixão por sapatos, não sabemos nada sobre carros e somos loucas pela série The Big Bang Theory (Que bando de nerds!). A Raven ficou tímida no começo, mas aos poucos foi interagindo mais.

Não vi quanto tempo passamos conversando e nos conhecendo (Na verdade era a Mel e eu que estávamos conhecendo a menina), só sei que quando percebi, já estava tarde.

–Como a hora voa! – eu disse, me levantando. –Acho melhor eu ir. Papai fica muito irritado se não fazemos as refeições juntos à mesa.

Dei tchau pras meninas e segui rumo à minha casa. Aí comecei a pensar numa coisa que tinha me deixado intrigada. Quando eu quero, posso “ler” uma pessoa. Eu posso conhecer a vida toda dela ou só uma parte. Isso depende de mim. Assim eu posso saber como uma pessoa é ou se ela está sendo verdadeira comigo. É claro que eu não vou ficar fazendo isso com todo mundo. Acho isso uma baita invasão de privacidade! Normalmente eu só vejo uma partezinha de nada, só pra ter uma idéia de como a pessoa é.

Por algum motivo, não consegui saber nada da tal Raven, além do que ela falou. Muito estranho isso. Será que meus poderes não funcionam com todo mundo?

Bem, como algum desses caras que escreve livros dizia,, há mais segredos entre o céu e a terra do que possa supor nossa filosofia (Tá, eu tô ficando muito nerd).

E não é que a sensação estranha ficou mais forte agora que eu conheci a garota? Por que será?