Salvation escrita por MilaBravomila


Capítulo 9
Capítulo 9




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Os vampiros rapidamente aproveitaram a vantagem numérica para neutralizar o inimigo e o Anjo estava desarmado e cercado no meio do aposento.

- Boa noite Ser Alado – Julius falou debochado, enquanto todos cercavam a criatura – Veio fazer uma visita?

Não ouve resposta. O Anjo estava tenso, preparado para o ataque. Olhava furtivamente para os outros três que o cercavam. O vampiro chefe acenou a cabeça e rapidamente os três vampiros agarraram o Anjo por trás e o imobilizaram. Eles o puseram ajoelhados ante Julius e dois deles puxavam os braços dele para trás. O Anjo gritou de dor.

Um barulho forte preencheu a sala quando Julius deu um tapa na cara do Anjo e depois emendou uma sequência de socos retos no estômago e no rosto. Não demorou para o sangue divino começar a escorrer pelo chão e o cheiro mais delicioso e irresistível que já senti me atingiu.

Inconscientemente eu avancei, queria, precisava provar do sangue daquele Ser.

- Ora, ora, se não é a bela traidora Michaela. – Julius falou me fazendo parar no meio do caminho para o ouro.

Eu percebi que os outros três vampiros estavam resistindo tanto à tentação quanto eu, mas eles não se atreveriam a fazer algo não autorizado por Julius.

Minha boca salivava intensamente.

- Você quer, Michaela? Quer provar do sangue desse Anjo?

Encarei Julius e depois olhei para frente. Meu olhar cruzou, pela primeira vez, com o do Anjo que traí.

Senti minha cabeça doer tanto que meus olhos latejaram.

- O que foi minha querida? Você prefere foder com ele primeiro, é isso? – Julius falou rindo olhando em minha direção.

Eu estava desnorteada. Minha cabeça gritava e eu não conseguia desviar os olhos daquela figura sangrenta. O azul profundo dos olhos dele olhavam pra mim de um jeito muito estranho. Não havia raiva, não havia ódio, nada. Eu traí o filho da mãe, levei-o à sua morte, mas ele estava ali, todo arrebentado e me olhando com nada mais que pena. Eu não podia suportar.

Julius me empurrou forte na direção do Anjo. Eu caí e joelhos ao lado dele e o cheiro do sangue era insuportavelmente irresistível.

- É Ser Alado, você não deveria ter confiado nela. – Julius falou sacudindo a cabeça – Nunca confie em uma fêmea... deveriam ter te ensinado isso lá no Paraíso.

Eu estava ao lado do Anjo e nós ainda nos encarávamos. Meu peito estava pesado e eu senti como se o mundo estivesse desabando na minha cabeça. Algo estava errado, muito errado, eu só não sabia o que era, mas eu sabia o que precisava fazer.

- Seus dias de Juízo Final acabaram, Ser Alado. Hoje, você vai ser o jantar.

Dizendo isso, Julius deu um passo na direção do anjo. Meu corpo, mais uma vez, agiu por mim. Naquele instante que Julius andou, ele estava focado exclusivamente no Anjo a sua frente. Eu dei um salto e o empurrei para longe com toda a força de meus músculos. É claro que minha força não era nada comparada a do macho, mas a distração dele foi o meu trunfo.

Batemos na parede perto da janela. Eu vi o reflexo prateado a poucos metros. Levantei como um raio, deixando o desnorteado Julius ainda se recompondo do ataque. Corri até o reflexo prateado perto da janela. Era a espada do Anjo. Segurei-a e no mesmo instante minha mão queimou como brasa. Ignorando a dor, joguei a espada para seu dono.

Enquanto o objeto fazia sua trajetória, eu vi que o Anjo se desvencilhou de um dos vampiros que o imobilizavam. A espada chegou ao seu destino e em menos de um segundo, dois rugidos se ouviram e dois vampiros caíram mostos no chão. O terceiro estava vindo em minha direção.

Eu saltei mais para o lado, pouco antes dele me atingir. Minha mão queimava demais e minha cabeça estava aponto de explodir. Ouvi um rugido muito alto e vi que sangue se espalhava pelo apartamento. Provavelmente Julius e o Anjo estavam duelando mais uma vez. Mas não pude ver, o outro vampiro conseguiu me atingir.

Com um soco forte ele quase me desmaiou. Caí no chão, próxima a mesinha do telefone. Mais que depressa, agarrei o aparelho que, para minha sorte, era daquele modelo retrô, bem pesado. Girei rápido e atingi o vampiro na cabeça com força. Ele caiu e vi sangue pingando do aparelho em minhas mãos. De repente, senti um par de braços quente me envolvendo e o som de vidro quebrando.

Quando dei por mim, senti o vento frio no rosto e vi Julius pendurado na janela, rugindo em minha direção. Aí eu me dei conta do que estava acontecendo. O Ser Alado estava voando e me carregando junto com ele.

Pousamos no topo de um prédio há poucas quadras de distância e, sinceramente, se eu já não estivesse meio morta, eu acho que teria tido um treco. Senti os pés batendo no cimento. Minha respiração estava acelerada. O Anjo ainda me abraçava, mas suas asas já não estavam mais à vista, nem sua espada.

O cheiro do sangue dele estava fraco e eu reparei que suas feridas cicatrizavam tão rápido quanto as minhas, apesar de o olho esquerdo e o lábio inferior dele ainda estarem inchados. Ficamos em silêncio.

- Não posso voltar. – falei depois de um tempo.

Eu não podia nem pensar em voltar pra casa, Julius iria me procurar com certeza. Eu tinha agredido ele e tinha lutado contra os vampiros para proteger um Anjo. Eu estaria morta em pouco tempo, disso eu tinha certeza.

- Eu sei. – ele disse.

Quando ouvi sua voz, reparei que estava muito próxima e aí eu vi que ainda estávamos abraçados. Separei-me rapidamente e olhei para o azul profundo a minha frente. Antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, eu comecei a sentir uma queimação nos olhos e um formigamento na pele.

Soltei um gemido.

- O que foi? – ele perguntou.

Olhei para cima. O céu já não era negro. O dia estava começando a nascer. Merda.

- O sol... – falei fechando os olhos.

Ainda não havia sol, mas o céu estava começando a clarear e isso já era o suficiente para me incomodar bastante. Se eu estivesse naquele telhado quando o sol aparecesse no céu, viraria churrasquinho de vampira.

Ele tirou a camisa. Senti que ele me envolveu com o tecido manchado com seu doce e maravilhoso sangue. Eu estava só de sutiã, afinal. Eu fechei forte os olhos, que estavam doendo por causa da claridade, e o desespero bateu em mim. Eu tinha que ir pra um lugar fechado de qualquer maneira.

Senti quando o Ser Alado me abraçou novamente e continuou abraçado mesmo com os meus protestos e os rugidos que saiam do meu peito. Eu estava desesperada. Não podia abrir os olhos e estava com o meu maior inimigo bem na minha frente. De repente, senti um imenso alívio.

Abri um dos olhos um pouco e vi que estava rodeada de sombras. Ele tinha estendido as asas e estava me protegendo da luz com elas. Contra todos os meus instintos, eu o abracei apertado. Apesar do que ele estava fazendo, eu já sentia uma queimação forte em meu corpo.

O Anjo me apertou em seus braços fortes. E ouvi sua voz segura falar:

- Fica calma, vou tirar você daqui.

Senti quando alçamos voo, mais uma vez. Em poucos segundos aterrissamos no chão e ele me guiou, ainda me abraçando, embora eu não sentisse mais os alívios das sombras de suas asas. Andamos apressados e eu soltei mais um gemido.

- Calma. – ele falou em meu ouvido.

Então nós paramos e ouvi uma campainha. Alguns dolorosos segundos depois, ouvi a voz de uma senhora.

- Sim?

- Bom dia, minha senhora. Por favor, nos desculpe, mas minha amiga está ferida e precisa muito descansar um pouco. Estamos longe de casa e ela precisa deitar. Será que pode nos ajudar? Ela pode entrar um pouco?

Eu ouvi incrédula como a voz dele saiu controlada e doce. E velhinha não hesitou.

- Sim, é claro, meu filho, entrem.

Entramos no refrescante lar, mas eu ainda não estava totalmente aliviada. Pelo o que pude ver depois de dar uma espiada, as janelas estavam abertas e a pouca claridade de fora ainda me incomodava.

- Minha amiga precisa descansar um pouco, está muito assustada. Tem algum lugar em que possamos deitá-la?

- Sim, venham, por favor.

A velhinha nos encaminhou para dentro da enorme casa e tudo foi ficando menos doloroso pra mim. Até que entramos em um quarto, satisfatoriamente fechado.

- Me desculpem, mas esse quarto é do meu filho. Ele não está mais entre nós, mas eu... mantenho tudo do jeito que ele deixou. Acho que vai servir pra sua amiga descansar.

O Anjo me deitou na cama macia do filho morto da velha e cada músculo do meu corpo agradeceu.

Eu vi quando ela se encaminhou para a janela para abrir a cortina.

- Não, não precisa, minha senhora. Está bem assim ela só precisa descansar um pouco. – o Anjo falou.

A velha voltou e me olhar.

- Não acha melhor chamarmos um médico? Ela não se acidentou?

- Sim, mas não se preocupe, eu sou médico.

- Você é, meu filho?

- Sim. Nós estávamos em um encontro com conhecidos, quando saiu uma briga e ela se feriu, mas ela está bem, só está um pouco assustada com tudo isso. Foi tudo um acidente. Ela só precisa descansar um pouco, se a senhora permitir. O fato é que estamos longe de casa e acho que ela não iria ter forças para voltar.

A velhinha acenou.

- Tudo bem, meu jovem, fique o tempo que precisar. Você quer que eu pegue alguma coisa pra comer, roupas limpas, talvez?

- Sim, muito obrigado.

Ela acenou e saiu devagar do quarto. Era incrível como ele conseguia transmitir segurança e confiança, até mesmo para mim. A velhinha faria tudo o que ele quisesse. Bom, ele era um Anjo, afinal, quem não confiaria nele?

Ele andou até a beira da cama que eu estava depois de verificar se a janela estava fechada e a cortina bem fechada. Quando ele parou em frente a cama foi que eu reparei em seu corpo. Ele tinha me emprestado a camisa de manga comprida, mas ainda vestia uma camiseta branca. Ainda assim pude ver que o braço direito era todo tatuado. Dos pulsos até o ombro, com alguns resquícios da tatuagem atingindo o pescoço e entrando pela camiseta, predizendo que pelo menos parte do peito e das costas também deviam ser tatuados. Era lindo.

- Você acha que vai ficar bem se passar o dia aqui? – ele perguntou de pé junto a cama.

- Sim. – respondi.

- Então vou deixar você descansar. Estarei na casa com a Senhora Bentley quando acordar.

Dito isso ele se virou para sair do quarto.

- Como sabe que o nome dela é Bentley?

Ele não me respondeu, apenas sorriu rapidamente antes de sair.


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Notas finais do capítulo

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