Café, Cigarettes Et Chocolat escrita por Ryuuki


Capítulo 1
Unique


Notas iniciais do capítulo

Uma one-shot leve com o enredo leve como o início do outono. Espero que gostem.



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Takanori! – A voz grave e exaltada de meu chefe ecoou, despertando-me e fazendo com que eu soltasse o que segurava para remendar o furo de uma blusa que havia sido rasgada por um descuido.

- Hai! Estou indo! – deixei o material de qualquer maneira sobre a mesa, pois apesar da gentileza, Yuu também possuía impaciência e a cabeça-quente, então eu sabia das minhas consequências caso não o obedecesse. E meu emprego, no momento, era o meu bem mais precioso, mas apenas o início do meu sonho que pouco a pouco eu começava a construir.

Quando adentrei a outra sala, vi a imagem perfeita e estonteante de Takashima a minha frente. Mesmo sendo quase seu estilista particular, não deixava de me surpreender e de me deslumbrar a cada vez que o encontrava. Sua aparência era magnificamente indiscutível.

- Hoje Kouyou-san terá um longo dia. – Os lábios grossos de Yuu repuxaram-se num sorriso ao pronunciar seu nome. O orgulho era tanto em sua voz, que parecia ter acabado de ser premiado e Takashima-san era este prêmio. – Entretanto, terei uma reunião após o almoço, e depois um compromisso que exige a minha presença. Com isso, quero dizer que você, Taka-chan, ficará responsável pelo photoshoot do Kouyou-san, para que este fique impecável. – Os olhos negros retornaram para a minha face. Eu nem fazia ideia da minha expressão no momento. – Posso lhe confiar isso, ne~?

- U-Un...

Senti meu estômago revirar-se dentro de meu corpo enquanto Yuu dava tapinhas leves sobre meus cabelos loiros. Aquele sentimento de nervosismo me encobria, e me sentia incrivelmente estúpido, como uma criança que acabara de se separar da mãe em seu primeiro dia de aula num colégio repleto de estranhos, pessoas fúteis e regras ridículas a serem obedecidas. Entretanto, a diferença era palpável. Eu não teria de lidar com desconhecidos e no momento, nem com pessoas fúteis. Mas se não seguisse certas regras, o que estaria na reta seria o meu emprego.

Entretanto, mesmo com isso... não era exatamente esse fato que instigava a minha aflição, e sim ficar... praticamente sozinho com Takashima-san. Ele, até por causa da beleza desconcertante, não era o tipo de pessoa que você se sentiria muito a vontade.

Ele não era difícil de lidar, pois raramente eu via seus lábios se mexerem para realmente pronunciarem alguma coisa; possuía uma aura agradável, até. Mas mesmo me sentindo mais confortável, ao mesmo tempo ele tinha algo que intimidava as pessoas a sua volta, e eu não saberia distinguir o que causaria tal coisa. Talvez seus olhos, pensei, juntamente com a sua expressão, ou também... isso poderia ser uma característica própria de sua personalidade... que, apesar de tudo, me intrigava... ao mesmo tempo que me repelia.

-

 Apesar da ansiedade, estava orgulhoso de mim mesmo por não ter cometido nenhum erro nem causado nenhum problema até agora. A última coisa que eu queria era me sentir – ainda mais – constrangido na presença de Takashima-san.

Só estava um pouco preocupado pelo fato de mal ter conseguido almoçar, pois tivera de ajeitar alguns pontos nas vestes que ele ia usar, então... não poderia controlar caso meu estômago clamasse por comida.

Eram nove horas da noite, e o dia havia passado rápido demais - tanto que eu nem tinha notado, até porque não possuía tempo nem para olhar pro relógio.

Arrepiei-me enquanto dava o último ponto na manga longa da blusa de Kouyou-san, que não havia se dado ao trabalho de tirá-la para facilitar minha tarefa. E, para compensar, como se eu não estivesse aflito o suficiente, ainda sentia seus olhos castanho-claros sobre a minha silhueta enquanto tentava meu máximo me concentrar para acertar a agulha no lugar certo.

Quando terminei, meus orbes admiraram de relance a sua face perfeita, e com isso, eu podia jurar que ele sorria.

Era o primeiro sorriso que o via dar.

-

Desliguei a luz, certificando-me antes que havia posto o lugar todo em ordem, fechando e trancando a porta em seguida. Yuu me receberia segurando uma serra elétrica no dia seguinte caso faltasse ou encontrasse alguma coisa a mais desarrumada.

Soltei um suspiro, ajeitando as minhas vestes de inverno. Não resisti ao olhar para o céu, deparando-me com a escuridão abundante deste e apenas alguns poucos pontos prateados, assim como a quantidade escassa de nuvens finas vagando com a brisa leve e gelada.

Arrumei o cachecol preto sobre meu rosto, cobrindo a parte inferior até o nariz, pois já sentia uma fina camada de gelo envolver minha pele exposta.

Quando me virei para tomar meu caminho pra casa, assustei-me ao deparar com Takashima-san encostado no carro branco bem à frente à galeria, tragando o resto de um cigarro.

Os lábios grossos e rosados entreabertos deixavam a fumaça esbranquiçada do tabaco escapar lentamente, enquanto a cabeça pendia de leve para o lado com a expressão plácida, dando um ar despreocupado à face alva que destacava-se na noite pouco iluminada da pequena rua. Seus olhos miraram meu rosto de uma maneira que seria constrangedora de se descrever, após ele jogar o cotoco do cigarro no asfalto.

- Vamos tomar um café. – Eu não soube identificar isso como uma pergunta ou uma afirmação, pois seu tom era tão autoritário que de qualquer maneira, ele não me dava escolha se não ir com ele.

- Eh? U-Un, está bem.

Pus-me ao seu lado, e não trocamos uma palavra durante o curto percurso de apenas atravessar a rua. Eu não sabia nem como organizar meus pensamentos, agora.

Uma garçonete nos abordou, notificando que o local encontrava-se cheio, e nos sugeriu que sentássemos nas mesas geladas do lado de fora.

Não conseguia recordar-me do que senti no tempo em que trabalhei hoje, já que agora, não importasse o que fosse, o sentimento parecia ter dobrado de tamanho. Se era nervosismo, bom, agora era tão aparente que acho que tremia debaixo da luz amarelada próxima da cadeira que eu sentara.

- Está com frio?

Meus olhos, que antes evitavam todos os ângulos que avistassem sua silhueta, miraram sua face límpida e serena que encarava meu rosto. De súbito senti minhas mãos suarem, e o cachecol que já escorrera por minhas bochechas provavelmente denunciara a vermelhidão de minhas maçãs do rosto.

- Hm? Não, eu só... – Antes que pudesse terminar, ele me estendeu sua mão alva segurando o casaco preto de lã que antes usava.

- Coloque. – Takashima-san dissera com aquele mesmo tom, então apenas assenti e o vesti, cautelosamente, sem olhá-lo enquanto enfiava meus braços pela veste estranhamente fria, o que era peculiar, já que ele a vestia fazia um tempo.

Assim que o coloquei propriamente, senti o aroma de seu perfume cítrico impregnado, o que ocasionou outro arrepio e o aumento de temperatura repentina em meu rosto novamente. Por sorte, achava que estes não tinham sido avistados por Kouyou-san.

Continha-me o máximo que podia para que meus orbes não estacionassem na sua imagem intacta e esculpida como uma bela escultura grega a minha frente, mas era quase impossível me privar de admirar a beleza de sua imagem que se realçava em qualquer lugar que fosse.

Entretanto, apesar de esta ser o que sobressaia em relação a ele, não era o que mais me chamava à atenção. Na verdade, tudo nele era convidativo, pra mim. Seus olhos, seus gestos, suas expressões, suas atitudes, os movimentos que fazia com as mãos, a maneira como sorria, o jeito que sua face fechava quando estava aborrecido... Eu notara tudo que envolvia Takashima Kouyou. E algo que não passaria despercebido por mim de nenhuma maneira, além disso, era sua personalidade. Forte, de uma gentileza encubada, envolvida por uma frieza intrigante. Prepotente na maneira certa, arrogante com elegância e nunca mal educado. Apesar disso, possuía um gênio abstruso de lidar quando já o conhecia, mas não era difícil de agradar. Era só saber usar as palavras adequadas nos momentos corretos que ele te trataria com cordialidade, não importando quem você seja nem da onde você venha. Ele poderia ter uma primeira impressão de você, mas não te julgaria até te conhecer. Essa era a característica que eu mais admirava nele.

Enquanto bebericava meu chocolate quente com essência de caramelo, sentia novamente uma sensação desconfortável no estômago, e com isso, tinha certeza que seus olhos dourados estavam sobre mim novamente. Apenas de relance, vi que estes pareciam sorrir para mim, e me limitei a prender o sorriso envergonhado que teimara de querer surgir por meus lábios.

Era a isso que nosso pequeno encontro – se é que eu poderia chamar assim – se resumira: olhares, gestos, sensações. E quase nenhuma palavra.

-

Nos levantamos da mesma maneira que sentamos: calados, calmos, e no meu caso, constrangido.

Mas mesmo com a ausência de nossas palavras, possuíamos o som ambiente da brisa gelada que fazia meu corpo tremular mesmo debaixo do casaco pesado e envolvido pelo meu calor, mas que ainda possuía o aroma agradável do perfume de Takashima-san.

Andávamos lado a lado, sem um rumo exato. Pelo menos eu não sabia para onde estávamos indo, tirando que caminhávamos por uma rua não tão movimentada em Shibuya.

Em nossos passos lentos, eu, por um deslize, movi-me para o lado esquerdo, fazendo com que nossas mãos esbarrassem-se uma na outra levemente. A sua pele pálida estava álgida como mármore, tanto que a expressão que eu o olhara quando nossos olhos se encontraram deveria ser nada menos do que uma de espanto.

- Takashima-san... sua mão está muito gelada. – murmurei interrompendo nossos passos. Para não ter o risco de me perder em seus olhos, admirei a fumaça esbranquiçada que saíra de meus lábios ressecados.

Entretanto, ele não me encarava como se desse muita importância a isso, já que sua expressão mostrava a apatia usual. E pela milionésima vez no dia, senti a vermelhidão e o calor do sangue quente subir direto para o meu rosto quando um curto sorriso adornou seus lábios cheios e rosados que contrastavam com a pele de porcelana.

De súbito, ele se colocou à minha frente. Os olhos dourados se espelhavam nos meus, e nesse momento era impossível que eu conseguisse desviar-me deles. Estava sobre um efeito hipnótico.

Eu tinha conhecimento de que ele se aproximava, mas meu rosto continuava imóvel, enquanto apenas meus pés recuavam como reação. Porém, senti-me encurralado ao sentir o ferro gelado esbarrar em minhas costas, insinuando que acabara de me encostar a um poste, e que não tinha saída. O sorriso perfeito de Kouyou-san se mantivera até ele acabar com todo o minúsculo espaço que pudera sobrar entre meu corpo e o dele. Já conseguia sentir o aroma de seu perfume mais forte, o preciso calor de meu corpo perto do seu, e a respiração calma que saia por seus lábios entreabertos e balançava alguns fios de meus cabelos loiros. Depois, a sua mão fina e bem desenhada, além de frígida pela temperatura ambiente, deslizara por meu rosto, multiplicando a quantidade de arrepios que eu havia sentido o dia inteiro. Ela se arrastara por minha nuca, passando pela gola do casaco e permanecendo ali. Estremeci pelo toque gelado, mas não tive tempo de ter outra reação, pois seus lábios já adentravam minha boca. Mesmo secos pelo frio, a textura de sua pele ainda conseguia ser tão macia quanto uma pétala de rosa. A língua quente e branda entrelaçava-se com a minha de maneira gentil. O gosto de café e tabaco do interior de sua boca conseguia manter-se agradável ao juntar-se com o da minha, a qual o chocolate ainda se sobressaia. Eu não sabia descrever o que realmente estava acontecendo ali... afinal, Takashima-san, além de ser uma pessoa que eu respeitava, era a pessoa pela qual eu trabalhava, que só de saber que o veria todos os dias já era motivo o suficiente para me fazer sorrir. E embora ter de conviver num mesmo ambiente que Yuu pudesse ser um tanto desgastante, isso não tinha importância perante o sentimento de saber que Kouyou-san também estaria lá.

Mas, além de tudo isso... Takashima-san era a pessoa que eu amava, mas que eu fora capaz de guardar os sentimentos no lugar mais profundo de meu peito, onde até mesmo eu fosse esquecer que este existia, para não prejudicar-me em minha carreira, na realização de meu sonho.

Só que isso, agora, parecia ser muito melhor do que eu almejava. Mesmo que fosse momentâneo, eu... eu...

- Você pode esconder isso de todo mundo, Taka. – murmurou assim que nossos lábios deram-se espaço. – Menos de mim.

- O quê...?

- Meu estilista particular... Meu, Taka. Eu quero que você seja meu.

Não conseguia acreditar no que estava ouvindo, quero dizer... Não parecia real, mas devia constatar que era. A sinceridade congelada nos olhos dourados de Takashima-san comprovavam cada palavra, e assim, cada teoria que se passava por minha mente.

Não poderia ter outra reação que não fosse sorrir.

- Você sempre me teve... Kouyou-san. – Minha cabeça abaixou um pouco, mas a levantei em seguida. Surpreendi-me com a minha própria ousadia, contudo, prossegui. - O fato de que você sabia o que eu sentia só afirma isso.

Pela primeira vez na minha vida eu o vira dar um sorriso inteiro. Fechado, mas ainda sim inteiro.

Após isso, eu sentira seus lábios mornos tocarem mais uma vez os meus docemente.

- Você está realizando o meu sonho... – murmurei, envergonhado, pondo minha cabeça sobre seu peito cálido.

Ele me envolveu com seus braços longos e finos, apoiando seu queixo sobre meus cabelos dourados.

- Ah, é? – Olhei para cima e o vi sorrir novamente. - Eu pensava que... fosse o meu.


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