3- Lithium

Aos poucos, Lilian foi recuperando a consciência, não se lembrando muito bem do que tinha acontecido. Sua cabeça doía, na verdade, todo seu corpo estava dolorido e a não conseguia mais ignorar o chamado de sua barriga, que roncava implorando por algum tipo de comida.

 Lítio - não quero me trancar por dentro

Lítio - não quero esquecer como é sentir saudades

A menina percebeu que não estava mais na avenida movimentada de Nova York e sim em um quarto de hotel barato. Como ela havia ido parar ali? Quanto tempo eu fiquei desmaiada?

- Lilian – disse alguém ao seu lado. Ao se virar, a garota acabou encontrando um par de olhos verdes, um verde tão conhecido por ela que, no momento, achou muito difícil ter se esquecido deles por tanto tempo.

Lítio - quero permanecer apaixonado pela minha tristeza

Oh, meu Deus, eu quero deixá-lo ir

- James. O que você está fazendo aqui? O que eu estou fazendo aqui? – Lilian disse tentando se levantar, mas sendo impedida pelo amigo.

Venha para a cama, não me faça dormir sozinha

Não poderia esconder o vazio que você deixou à mostra

- Fique deitada, você ainda está muito fraca – disse em um tom indiferente que, aos ouvidos de Lilian, pareceu que ele tentava esconder uma emoção muito forte, talvez raiva ou tristeza. E ele tinha todo o direito de se sentir assim e a pequena Evans sabia disso. Desde a morte de seu irmão, ela só vem tratando todos, especialmente ele, de uma forma nada boa. Indiferente, seria uma palavra melhor.

Nunca quis que fosse tão frio

Apenas não bebeu o suficiente, para dizer que me ama

- Onde estamos? – perguntou obediente.

- Em um hotel. Sabia que você não iria querer ir para sua casa e eu nunca poderia a levar para a minha. Então... – ele deu os ombros.

Os dois ficaram em silencio. Lilian, sem saber o que falar, começou a analisar o quarto. Como todo hotel, apartamento ou casa de Nova York, era barulhento por causa dos carros que passavam por ali. Apesar de não ter muito luxo, era simples, mas até que bonito. Com uma cama, um sofá, uma porta que deveria dar para o banheiro e uma pequena geladeira, num canto afastado.  James estava sentado em uma cadeira que ficava de frente para sua cama, fazendo com que seus olhares se cruzassem constantemente e eles só demonstravam uma coisa: ressentimento.

Não consigo me segurar,

Pergunto-me o que há de errado comigo?

- Obrigada, por tudo – disse de repente. James deu um sorriso fraco, se levantando logo em seguida, mas voltando com um pacote em suas mãos.

- Aqui tem um lanche, talvez você esteja com fome.

Você não imagina o quanto.

Lilian pegou o pacote, se segurando muito para não atacar a comida toda de uma vez, como se fosse um animal. Não deu muito certo.  Foi só sentir o cheiro de hambúrguer que a menina já atacou o lanche, sem se importar muito em oferecer a James.

Há quanto tempo não comia um hambúrger?  Cinco anos? Ela mal podia acreditar que ficara tanto tempo sem seu amado fast-food.

Lítio - não quero me trancar por dentro

Lítio - não quero esquecer de como é sentir sem

Lítio - quero permanecer apaixonado pela minha tristeza

- Sabe Lilian, você não devia ficar tanto tempo sem comer – disse James de uma forma casual – Pois quando tiver fome, comerá tanto que a vontade de vomitar só será maior, sabia?

- O que? – perguntou ela, tossindo após ter se engasgado.

- Eu sei da verdade, Evans – James estava sério agora, tão sério quanto um dia a menina sequer tenha o visto.

- N-não sei do que você está falando Potter – Lilian tremia da cabeça aos pés, estava tão nervosa que até a fome havia passado. Não, ele não pode saber. Ninguém sabe! Pare de pensar nisso Lilian, talvez ele só tenha descoberto que seu pai bate na sua mãe... Droga! Isso é mil vezes pior! Respire e tente se acalmar.

Não quero deixar isso me abater desta vez

Afogar minha vontade de voar

- Não sabe Lily? Não sabe mesmo? – a menina estremeceu ao ouvir seu antigo apelido, um apelido que só James e seu irmão usavam. Lily.  Ao contrario do que ela sempre imaginou não se sentiu mal ao ouvir a palavra que se tornara proibida para ela, quase um tabu. Ela se sentiu feliz, confortada, quase protegida.

- Como você descobriu?

- Na escola, vi você indo correndo para o banheiro uma vez. Fiquei preocupado e te segui. Não acreditei quando vi você enfiando o dedo na garganta para vomitar, Lily. Você não é assim.

Lágrimas começaram a cair dos olhos da pequena Evans, por mais que ela tentasse segurá-las.

Aqui na escuridão eu me conheço

Não posso me libertar até que deixe ir, deixem-me ir

- Quem mais sabe?

- Só eu. Acha mesmo que eu iria contar para alguém sem sua permissão? – James parecia ofendido e Lilian sabia que não o devia tratar desse jeito, não depois de tudo que ele fez por ela, mas não conseguia conter o ódio de alguém saber de seu segredo.

- Me desculpe, eu... Eu sei que não deveria fazer isso, eu... Estou em tratamento há alguns anos, mas a dor... - não conseguiu terminar a frase, começou a chorar convulsivamente e copiosamente, para ela doía muito falar sobre esse assunto. Sentiu dois braços a abraçarem amavelmente. Sem agüentar muito, pulou no pescoço do antigo amigo, soltando tudo que ela tinha guardado durante esses nove anos.

Querido, eu perdoo você depois de tudo

Qualquer coisa é melhor do que ficar sozinha

E no final eu acho que eu tinha que cair

Sempre encontro o meu lugar entre as cinzas

- Vai ficar tudo bem, Lily, vai ficar tudo bem – dizia James, passando sua mão pelos longos cabelos ruivos de Lilian.

Porque eu me afastei dele?Porque eu fui tão má com a única pessoa que nunca me tratou ou fez algum mau? Por quê?

Não consigo me segurar

Pergunto-me o que há de errado comigo?

- Vamos superar isso junto, Pequena Evans – disse dando um beijo em seus cabelos – tudo vai ficar bem, eu prometo.

Lítio - não quero me trancar por dentro

Lítio - não quero esquecer de como é sentir sem

Lítio - ficar apaixonada por você

Oh, eu estou querendo deixar isso ir