Insensato Coração escrita por Ray


Capítulo 1
Prólogo e capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Prólogo e Capítulo Final
One baseada na música "Coração em Desalinho - Zeca Pagodinho"
Feita para um concurso de Short fics da Glauciablack.
Capa feita pela MahBlack.



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Prólogo:

Pov – Jane

A floricultura não era tão distante da minha casa. Mas distante o suficiente da casa do meu namorado, para que eu tivesse que pegar um táxi. Antes de entrar no carro, olhei para o céu e tive a nítida impressão de que iria chover, mas o meu guarda-chuva estava dentro do meu armário em meu quarto. Agora, só me restava rezar para que não chovesse quando eu voltasse para casa.

O motorista me deixou em frente a uma casa pintada de azul bebê, nunca gostei muito dessa cor, principalmente em fachadas de casas, mas de que adianta discutir com Demitri Volturi? Ele sempre tinha uma opinião formada, e ninguém podia mudar sua decisão.

Meu nome é Jane Volturi e tenho 21 anos. Moro em Portland, uma cidade no noroeste dos Estados Unidos, no estado de Oregon. Conhecida como a cidade das rosas, possuindo muitos roseirais, dentre eles, a minha floricultura, especializada em rosas diferentes, nas cores diversificadas, como azul, verde, laranja, e as tradicionais, brancas, rosas e vermelhas.

Namoro com meu primo, Demitri, desde que eu me entendi por gente. Sabe aquelas brincadeirinhas de criança, que sempre fala: “Nós vamos nos casar. E vamos viver para sempre!” Palavras infantis, mas que no fundo tiveram algum significado. Pelo menos para mim. Amo meu namorado e esse sentimento é recíproco. Até onde eu sabia.

Toquei três vezes a campainha, e ele demorou a atender. Tinha decidido fazer essa surpresa, porque já fazia uma semana que não nos víamos, e eu estava morrendo de saudades.

Ele abriu a porta e sua cara de “o que você está fazendo aqui?” foi de partir o coração. Tudo bem que ele não sabia que eu vinha, mas custava nada me receber com uma feição mais agradável? Fingi que não fiquei abalada por sua rejeição momentânea, e entrei mesmo sem ser convidada! Aliás, eu estava “em casa”.

Mas parece que eu levei um murro no estômago, quando assim que pus os pés na sala de estar, a mesa estava posta para dois, e eu não era esses dois. Porque ele não me esperava, ele não me convidou para jantar, ele nem me telefonou!

- O que significa isso, Demitri? – Eu perguntei um pouco alterada, a garganta travando por um bolo de lágrimas que ameaçava escapar.

- Amor, não é nada disso que você está pensando. Apenas...

- Como não é nada disso? A mesa está posta para dois, e como não é nada disso? Por um acaso seria para sua mãe? Eu posso ter essa carinha de sonsa, mas eu não sou!

- Jane, por favor, eu posso explicar! – ele passava a mão nos cabelos, nervoso.

- Não preciso de explicações, eu já entendi tudo! Agora seria muito menos covarde de sua parte, se você chegasse pra mim e dissesse, “Jane, não dá mais!”. – Eu falava meio arrastado, as lágrimas rolando pelo meu rosto.

- Amor, por favor, se acalma, vamos conversar!

- NÃO TEM O QUE CONVERSAR! Chega Demitri, nada do que você falar vai adiantar. Eu não acredito em mais nada do que você fala. Acabou, não me liga mais, não me procure, esqueça que eu fiz parte da sua vida! Entendeu? – Enquanto eu falava, ia saindo de lá e bati a porta com força, o eco zunindo em meus ouvidos.

- Jane... – Eu ouvia ao fundo, os seus gritos, aclamando para que eu ficasse e conversasse.

Saí andando o mais rápido possível dali, e a bendita chuva cismou de cair logo agora. O frio estava arrepiando minha pele, a estrada estava muito escura, e eu não via quase nada.

Pov - Seth

Meu nome é Seth Clearwater e tenho 23 anos. Moro em Portland, no estado de Oregon. Sou o armador do Portland Trail Blazers, um time profissional de basquete da NBA. Moro sozinho, em uma casa no centro. Minha família toda mora pertinho daqui, em La Push, uma reserva indígena, perto da cidade de Forks.

O suor pingava pelo meu rosto, a visão estava meio embaçada, a sensação de perder corroendo por dentro. O time estava todo desorganizado, descontrolado, e as jogadas estavam saindo de todo jeito. Agindo por impulso, sem esquematizar nenhuma maneira para que pudéssemos reverter essa situação, eu no meio da quadra joguei a bola, mirando a cesta, mas infelizmente ela não caiu no aro e o rebote foi da equipe adversária, dando a eles a chance de fazer mais dois pontos. O desespero tomou conta de mim, quando eu olhei por reflexo o placar e os segundos que faltavam para o juiz apitar e o jogo acabar.

Capítulo Final:

Pov – Seth

Flash Back On

O jogo havia acabado, e após eu tomar um banho rápido, apenas para limpar as impurezas de uma derrota por 13 pontos de diferença, para um time de jogadores perturbados, vesti meu usual casaco preto, com a estampa do mascote prateado brilhando no peito, o símbolo do time que fracassou. As mangas compridas aquecendo a pele nessa noite fria e úmida de Portland.

Andando rumo à minha casa, e a chuva fina começava a pinicar em meu rosto e molhar meus cabelos desalinhados. Puxei o capuz por cima da cabeça, escondendo as mãos por dentro dos bolsos, caminhando apressadamente pela rua escura e esquisita, deserta. Carros apressados passavam por mim despercebidos.

A chuva, que agora estava forte, ensopava minhas roupas e pingava pelo meu rosto, formando uma névoa, devido à intensidade dos ventos uivantes chocando-se contra as densas árvores. Um vulto magro e esguio vinha na direção contrária a minha, desconcertado, como se estivesse vagando pelo ar, sem rumo ou rota precisa.

Um carro preto vinha desnorteado, em alta velocidade, devido à escuridão, chuva, névoa. Pareceu não perceber que havia alguém ali, que poderia ser atropelado por milímetros de distância. E foi por tão pouco que a garota, percebi quando os faróis iluminaram seu rosto, mesmo que rapidamente, não foi atirada a metros, porém o carro desviou e atirou uma poça de lama em cima dela.

Ela gritou frustrada, ou talvez com medo, ou até mesmo derrotada. Quem sabe aquele não era o seu desejo? Que um carro louco passasse e a atingisse, para que ela finalmente pudesse se libertar dos sentimentos que a possuíam.

Corri até seu encontro, desesperado para descobrir se ela estava bem. E eu não sei o porquê, mas senti a necessidade de ajudá-la da melhor maneira que me fosse possível.

- Você está bem? – Eu lhe perguntei, angustiado com sua feição que demonstrava que seu coração estava partido em mil pedaços.

- Como? Quem é você? Desculpe, mas eu não te conheço! – Ela falou embolada, por meio de soluços e da água que escorria por seus cabelos, dando-a um ar mais “sexy”. Não que eu a tenha visto dessa forma.

Saiu andando sem ao menos me olhar no olho e meu coração apertou. Fui atrás dela, virando-a pelo braço, fazendo com que nossos corpos se chocassem de forma violenta.

- Meu nome é Seth. Seth Clearwater. Você quase foi atropelada, está se sentindo bem? – Ela estreitou os olhos, mas logo cedeu. Eu afrouxei o aperto em seu braço.

- Eu estou bem. Agora com licença, você poderia me soltar? – De uma coisa eu tenho certeza, o que fizeram com essa garota para ela estar azeda e arrogante não foi nada bom.

- Você está chorando? O que aconteceu? Deixa eu te ajudar!

Eu queria de alguma forma conseguir encontrar uma solução para tirá-la de tanto sofrimento. Eu não agüentava mais vê-la nesta situação. O que está acontecendo comigo? Eu nem ao menos sei o seu nome!

- Garoto, eu nem te conheço. – Ela bufou. – Por favor, eu tenho que ir, ou vou pegar um resfriado!

- Eu já disse. Sou Seth! Qual o seu nome?

- Anônima. Com licença.

E ela partiu. Deixando-me sozinho na estrada. Virei-me e voltei a caminhar pela calçada molhada. Até que escutei passos apressados e uma mão fina e delicada, gelada, tocar meu braço, virando-me para sua direção.

- Jane. Meu nome é Jane Volturi. E eu não te conheço, mas não estou bem. Tudo aconteceu de errado comigo. Eu preciso de ajuda, por favor, me desculpe.

Eu estava atordoado, com o tanto de informação que recebi. Ela falou rápido demais, entre soluços. Mas eu entendi perfeitamente o recado e a abracei. Eu não sabia de onde ela tinha surgido, não sabia nada sobre a sua vida. A única coisa que eu sabia era o seu nome e que ela estava precisando da minha ajuda. Ela deveria estar mesmo desesperada, pois não são todos que tem a capacidade de confiar e se abrir tão facilmente com estranhos.

Estávamos agora aquecidos e secos pela lareira da minha casa, e pelo calor de nossos corpos, cobertos por mantas de lã, tecidas por minha própria mãe, Sue. Deitados no chão, rodeados de almofadas e tomando um delicioso chocolate quente, minha especialidade.

Esse momento parecia ser mágico, como se os segundos tivessem sidos pausados como em um jogo de vídeo-game. Poder sentir sua pele fina, aveludada e macia embaixo da minha, é de uma sensação inigualável. O sabor do seu beijo, o toque de suas mãos e o carinho que ela me deu, é indescritível.

O sentimento de desprezo e de ser a pior pessoa do mundo habitava o coração dela, e ela me contou toda sua história e tudo aquilo que afligia sua alma. Talvez esses sentimentos ruins, fizeram com que ela se entregasse assim tão despreocupadamente, em todos os sentidos. Eu não posso negar que adorei tudo isso, mas acho que ela não estava preparada para se deixar levar pelas sensações sem pensar nas conseqüências. Deveria ter agido conforme a razão, talvez fosse evitar confusões futuras.

Conversávamos enquanto desfrutávamos do líquido em nossas xícaras.

- Ele dizia que me amava Seth, que eu era a mulher da vida dele. Que iríamos casar assim que ele acabasse a faculdade. Doce engano. Por minhas costas, ele me traía e deveria dizer a todas que saía que elas também eram únicas.

- Você ainda gosta dele?

- Infelizmente sim. Mas eu vou esquecer, eu tenho que esquecer. Eu não vou me deixar abalar por uma simples farsa. Seguir adiante e tentar ser feliz agora.

- Vem aqui.

Ela sentou ao meu lado e deixei que suas lágrimas molhassem a minha camisa. Passei a mão por sua cintura fina, confortando-a com todo o apoio que eu podia lhe dar. Uma estranha que entrou em minha vida num dia estranho de uma forma estranha. E eu não sei o que acontece comigo.

Flash Back Off

Um ano se passou desde aquele dia incansável, onde eu poderia ficar horas, noites e anos grudado ao lado de Jane, eu não iria reclamar, pelo contrário, eu deixaria que ela molhasse quantas camisas fossem necessárias, para que ela afogasse suas mágoas, e esquecesse de vez aquele crápula que só a fez sofrer.

Eu esperava ser recompensado. Um dia, talvez um dia, ela me olhasse de outra forma, e eu poderia amar-lhe da maneira certa, da forma como ela merecia ser amada. Quem sabe um dia casar e ter filhos. Mas o seu olhar era de eterna amizade. Grata, por tudo o que eu lhe fiz, todo o carinho e afeto que lhe ofereci, apenas como amiga.

Mas o apenas não era o suficiente para mim. Eu queria mais. Eu queria bem mais. Mais de suas mãos em meu corpo, de seus beijos molhados, de nossos corpos colados e suados pelo desejo emanado de ambas as partes. Mas isso não era possível, amizade era a única coisa que eu despertava nela.

Até que surgiu outra pessoa em sua vida, ou melhor, ressurgiu das cinzas. Um primo distante de terceiro grau, que resolveu bancar o bom garoto. Primo este que conseguiu reconquistar aquilo que eu mais desejava. Seu coração. E eu ainda tive que agüentar as falações sobre como ele foi gentil com ela, ou como o jantar foi perfeito, como ele estava bonito e cheiroso, ou “como eu fui idiota, de não ter dado outra chance a ele”. Poupe-me, o cara a trai de uma forma ridícula, e ela ainda vem me falar isso?

Eu cheguei a chorar nesse dia, chorar de raiva, de ódio e de dor. Raiva desse cretino que me roubou quem eu amava. Raiva por ele ter feito as besteiras que fez e ela simplesmente ignorar o passado assim, sem mais nem menos. Ódio de mim, por alimentar minhas próprias esperanças. Esperanças inúteis e ridículas que nunca iriam se realizar. E dor por sentir que todo o carinho, todo o tempo perdido e todo o sentimento guardado, foram em vão.

Jane faz questão de sair nas ruas, com os amigos e familiares, e mostrar seu troféu, Demitri Volturi. Talvez ela até se exibisse comigo antes e eu me achava com isso. Persistindo no sonho infantil de que um dia ela seria minha.

Eu acho que eu acreditava mesmo em conto de fadas, em papai Noel, e esqueci-me de viver a realidade, a vida de verdade. Porque não há castelos mágicos, princesas indefesas e mil maravilhas. Porque eu quis ser o cavaleiro do cavalo branco, que salvou a princesa do vilão, mas eu acabei caindo do cavalo e virando um sapo.

Por mais que eu tentasse mostrar que eu a amava, que ela era a mulher da minha vida, de que adiantaria? Ela simplesmente me ignoraria. Por isso eu prefiro calar e ficar sozinho com minha dor, com minha agoniada paixão. Ela está feliz com ele, e eu nada posso mudar nisso. Mesmo que eu não concorde.

Até que o Demitri é legal, não o culpo! A sorte é dele de conseguir fazer com que a Jane repensasse nas atitudes imundas dele. Ser retribuído com o amor daquela que eu amo. Mesmo que ele naquela época não tenha sido o melhor homem do mundo, parece que agora, ele tomou vergonha na cara e resolveu valorizar a mulher especial que estava ao seu lado.

Eu quero apenas ser feliz, ao menos uma vez. Encontrar uma pessoa que me ame de verdade, e não que apenas me tenha como uma mera distração para esquecer amores antigos.

Eu estou confuso, não consigo encontrar qualidades suficientes em nenhuma mulher mais. Sempre que eu saio com alguém, eu tenho procurar características da Jane nelas. Mesmo que involuntariamente. E eu cansei de procurar em outras pessoas o que eu nunca vou ter.

A única forma de me libertar dessa prisão é tentar esquecer, mas a cada segundo que passa, eu me torno mais e mais dependente dela. E eu não sei o que fazer. Só sei que por enquanto sento aqui no meu quarto gelado, com os braços envolvendo as pernas, olhando a janela, vendo a chuva cair drasticamente.

Por enquanto, apenas curto minha solidão e minha dor.


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Notas finais do capítulo

N/Ray: Meninas, uma one de minha autoria, criada exclusivamente para um concurso realizado pela Glaucia, onde infelizmente eu acabei em segundo lugar. Espero a sincera opinião de vocês, eu sei que é um shipper altamente diferente, mas eram regras do concurso.
Espero que gostem e comentem.
Beijos
Ray Lima



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