O resto do domingo passou rápido com Cindy e Diego jogando conversa fora, mas logo os dois tiveram que ir embora. Eu quis que Diego dormisse na minha casa, mas não teve jeito. Eu não queria ficar sozinha e voltar a pensar naquela maldita noite onde eu tinha feito muitas escolhas erradas.

  Por incrível que pareça eu tentei me desligar daquelas emoções e consegui pegar no sono pesado. Só acordei com minha mãe batendo na porta dizendo que eu já estava atrasada para a aula.

– Já vou mãe! – grite quando as batidas na porta ficaram mais insistentes.

  Me levantei cambaleando e fui tomar um banho. Hoje era o grande dia! Eu teria que enfrentar todas as pessoas daquela escola com a cabeça erguida, mas não eram as pessoas que me preocupavam, mas sim com um certo garoto que no sábado à noite eu tinha decepcionado. Eu não sabia com que cara olhar para Matheus.

  Depois de fazer minha higiene fui trocar de roupa e coloquei uma coisa bem básica, afinal esse era o dia que eu iria ser o centro das atenções não importava a roupa que eu usasse.

  Quando terminei peguei minha mochila e sai de casa indo em direção ao ponto de ônibus. Minha mãe tinha deixado um bilhete dizendo que já tinha saído para trabalhar e que não sabia que horas iria voltar. Eu já estava atrasada, mas Diego ainda estava me esperando no ponto de ônibus.

– Bom dia flor do dia! – disse ele enchendo meu saco.

– Não enche Diego. Você sabe que hoje vai ser um inferno! – disse dando um empurrão de leve em seu braço.

– Não vai nada. Foi você que deu o fora e não quem levou! – falou ele rindo. – E além do mais você agora é uma lenda. “A primeira garota que deu um fora em Matheus Monroe” – falou ele sarcástico. Eu apenas dei um sorriso amarelo. Ainda não sabia o que fazer quando encontrasse Matheus... Eu estava totalmente desesperada, mas Diego não pareceu notar.

  O ônibus chegou e subimos depressa, já que estávamos atrasados. O silêncio foi mantido na maior parti do percurso até chegarmos à escola. O sinal ainda não havia tocado e várias pessoas ainda estavam do lado de fora da escola. Quando eu e Diego nos aproximamos todos olharam para gente, na verdade, para mim. Eu senti minhas bochechas arderem de tanta vergonha, mas o pior não foi isso. Não mesmo...

   Eu parei na mesma hora ao ver a cena, senti como se fosse afundar, como se o chão estivesse sumido dos meus pés. Senti meu coração doer e pesar uma tonelada ao ver Matheus beijando outra garota. Pisquei algumas vezes, mas aquilo não era uma miragem. Ele a beijava com desejo e com vontade.

– O que foi Helena? – perguntou Diego por eu ter parado de andar repentinamente. Eu não respondi, apenas continuei olhando fixo para Matheus. Ele estava praticamente devorando a menina. Fechei os olhos e me lembrei mais uma vez do episodio em seu quarto. Lembrei de como suas mãos quentes passeavam pelo meu corpo e de como eu o desejava naquele momento.

– Helena temos que ir! – disse Diego me puxando, mas eu não tirei os olhos de Matheus por nenhum segundo, até que, finamente, os dois se separaram com a respiração ofegante. Eu não reconheci a garota, mas com certeza era só uma vadiazinha. Meus olhos foram da garota até Matheus que percebeu minha presença e me encarou. Nossos olhos se encontraram por alguns segundos e eu senti minhas pernas tremeram. Matheus me olhava com puro desprezo e raiva. Ele deu um suspiro e voltou a beijar a garota com mais intensidade. Eu precisava sair dali urgente.

– Espera, espera! – gritava Diego atrás de mim enquanto eu corria em direção ao banheiro. Entrei com tudo e agradeci por não ter ninguém ali. Não agüentei e desabei em choro. Meu Deus eu nunca havia sentindo uma dor tão forte, parecia que meu coração estava sendo esmagado.

Helena, o que ta acontecendo com você? Por que eu estou sentindo isso? – Perguntei para mim mesma lavando o rosto.

  Tentei parecer o mais normal possível ao sair do banheiro e ir direto para sala assim que o sinal tocou. Quando entrei Diego me olhou preocupado, mas não disse nada já que o professor tinha acabado de entrar.

  Durante as aulas eu tentei prestar atenção no que os professores falavam, porque eu não queria que meus pensamentos me levassem aquele momento terrível de ver Matheus beijando outra garota. Eu estava tão concentrada que até respondi algumas perguntas quando os professores perguntavam para a sala. Todos olhavam para mim totalmente surpresos até mesmo Diego arregalou os olhos quando eu disse uma das respostas certas.

  Enquanto as aulas se passavam percebi que Cindy não tinha ido para aula. Eu sabia que estava sendo dificio para ela, afinal tudo que ela conhecia, tudo que ela prezava estava por um fio. Ela já tinha perdido toda a sua popularidade e se escolhesse ficar com agente seria expulsa das lideres de torcida. Aqueles pensamentos me levaram para o beijo de Matheus e daquela garota nojenta... Ela parecia ser uma das lideres de torcida amiga de Cindy. Mas o que Matheus queria com aquilo? No sábado à noite ele tinha feito uma declaração para mim na frente de todo o mundo e eu... Eu, eu tinha desprezado ele completamente. Senti uma tristeza inundar meu peito ao me lembrar daquela noite.

– O que foi aquilo, Helena? – perguntou Diego quase pulando em cima de mim e me acordando dos meus pensamentos. Eu passei os olhos pela sala e não vi mais ninguém.

– Do que você está falando? – perguntei me levantando sem nenhuma vontade de encarar as pessoas no intervalo.

– Vai fingir que não sabe? Ok, se você não se lembra, eu vou refrescar sua memória... Primeiro aquele surto quando viu o Matheus agarrando outra garota. Acha que eu não percebi? Segunda coisa: O que foi isso na aula? Desde quando você presta atenção na aula e responde as perguntas dos professores? – perguntou Diego com os olhos arregalados.

– Você vê muita coisa onde não tem. Não foi nada, eu só queria mudar um pouquinho pra variar... E o negocio de Matheus foi só impressão sua. – disse a ele enquanto caminhava em direção ao pátio da escola.

  Diego não falou mais nada quando entramos no pátio, porque tudo mundo encarou agente. Passei o olhar pelas pessoas e encontrei a mesa de Matheus cheia de garotas. Uma das garotas estava beijando ele e eu senti novamente aquela dor infernal em meu peito.

– Droga! – disse um pouco alto demais.

– O que você disse? – perguntou Diego seguindo meu olhar.

– Nada. – falei desviando meu olhar bem na hora. Eu não queria que ninguém soubesse que eu estava sentido “alguma coisa”, que eu ainda não conseguia definir, por Matheus. Diego me olhou desconfiado, mas continuou andando em direção a nossa mesa de sempre.

  Ficamos o intervalo sentados olhando um pra cara do outro tentando não prestar atenção no olhar que as pessoas laçavam em nossa direção.

  Faltava menos de cinco minutos para o sinal tocar quando percebi alguém se aproximar da nossa mesa.

– Oi Helena! – Me cumprimentou Otavio com um sorriso radiante. Eu o encarei com raiva.

– O que você ta fazendo aqui? – perguntou Diego, mas Otavio não se importou com sua presença.

– Eu sei que você deve está com raiva de mim, mas eu queria me desculpar. Na verdade, eu nem sei o que realmente aconteceu. Eu estava totalmente bêbado! – disse ele sentando ao meu lado com um sorriso.

– Otavio é melhor você voltar pra sua mesa. Não precisa mais fingir! – eu disse com puro ódio.

– Helena, eu não estou fingindo. No começo foi tudo uma aposta, mas depois as coisas ficaram diferentes. Antes eu achava você só mais uma garota qualquer, mas você é totalmente diferente das outras... Eu sei que não vai ser fácil me perdoa, mas mesmo assim eu sempre vou tentar. – falou ele se levantando e me deixando de boca aberta. Eu olhei ao redor e meus olhos se encontraram com os de Matheus. Ele me lançou um olhar de puro desprezo e voltou a beijar ferozmente a garota que estava ao seu lado. Eu voltei a olhar para Otavio, porque não agüentava ver aquilo.

– Você achou que eu estava mentindo quando disse que estava apaixonado por você naquele dia? – perguntou Otavio em meu ouvido. Ele não esperou eu responder. – Se você pensou que eu estava está muito enganada. – disse ele de forma suave em meu ouvido e depois saiu andando. Eu não me incomodei com aquilo, já tinha problemas demais em minha cabeça e um estava só a alguns metros de mim agarrando uma garota que deveria ser eu.

– O que ele disse? – perguntou Diego me balançando.

– Nada... Só besteira. – eu sabia que não iria convencer Diego, mas não queria falar sobre isso naquela hora.

  Diego abriu a boca para protestar, mas o sinal tocou bem na hora.

– Salva pelo gongo. – disse ele se levantando. Eu o acompanhei, mas antes olhei na direção de Matheus que na mesma hora também olhou para mim. Desta vez não pude decifrar seu olhar. Ficamos nos encarando até que ele desviasse o olhar para uma das garotas que estava com ele na mesa e a agarrasse pela cintura dando um sorrisinho debochado para mim. Eu esperei que a raiva crescesse dentro de mim, mas ela não veio e ao invés disse eu só sentia um dor descomunal esmagando meu peito.