# Matheus

 – Você não perder por esperar! – gritei enquanto Helena saia da sala. Eu a odiava mais que tudo! – Você vai me pegar! – praguejei tocando meu rosto que ainda estava quente no local de sua tapa. – Você vai se arrepender! – falei para mim mesmo ao perceber que ela já estaria muito longe e não conseguiria me ouvir.

  Sentei-me em uma das cadeiras da sala e tentei me controlar. Eu tinha que agir racionalmente, não podia perder a cabeça.

 – Calma Matheus! Você precisa se acalmar. – alertei-me. – A vingança é um prato que se come frio. – tentei convencer a mim mesmo que não adiantava agir por impulso. Eu tinha que bola um plano.

  Passei os olhos pela sala à procura de alguma coisa que pudesse me ajudar e, como se Deus tivesse ouvido minhas preces, encontrei.

 – Você não deveria ter esquecido sua bolsa... Helena. – disse para mim mesmo rindo e pegando a bolsa.

  # Helena

 Eu ainda podia ouvir Matheus praguejar contra mim enquanto saia daquela casa. Tentei percorrer o mesmo caminho que eu tinha feito, mas já não sabia onde era mais nada. Não tinha uma porta aqui?

  Entre em vários quartos e nada de achar a saída.

  – Não acredito que estou perdida. – falei parando de andar e levando as mãos a cabeça.

  – Talvez eu possa de ajudar. – ouvi uma voz grossa e máscula dizer atrás de mim. Virei instantaneamente com medo de ter sido pega.

 – Você? O que faz aqui? – perguntei assustada ao me deparar com o Arthur, vulgo Tocha. Ele riu.

 – Eu é que deveria perguntar isso... – disse ele se aproximando.

 – Você... Você mora aqui? – perguntei confusa. Ele ficou pensativo e deu um demorado suspiro.

 – Deveria. – começou ele. – Mas, não. Eu não moro aqui. Sou irmão da dona da casa, a mãe de Matheus. – disse ele. Eu fiquei pasma.

 – Você é o tio da Matheus? – disse quase gritando. Ele sorriu.

 – Sou sim, mas não precisar sair gritando. – falou ele rindo de mim. Eu estava totalmente surpresa. – Mas e você? O que está fazendo aqui? – perguntou ele. Eu já até tinha me esquecido do que estava fazendo perdida na casa de um dos homens mais ricos da cidade.

 – Talvez seja melhor pular essa perguntar. Você só precisa saber que eu não sou penetra nem nada parecido. – disse constrangida.

 – Eu te mostro a saída. – disse ele sem fazer mais perguntas e passando na minha frente para me guiar.

  Em poucos minutos já estávamos do lado de fora e absolutamente ninguém havia nos visto. Senti um grande alivio por não ter encontrado Matheus novamente dentro daquela casa. Eu já podia respirar tranquilamente.

 – Pronto. – disse Tocha assim que passamos pelo portão.

 – Obrigado... Tocha. – disse rindo do seu apelido.

 – De nada. – disse ele sorrindo, provavelmente, da mesma coisa que eu. – Espera! – gritou ele enquanto eu me afastava. – Quer tomar um sorvete? – perguntou ele fazendo bico e o deixando com uma cara irresistível. Eu não podia recusa com aquela carinha.

 – Tudo bem. – disse suspirando. Eu precisava mesmo ficar longe de todo aquele pesadelo.

 – Oba! – disse ele como criança. – Conheço uma sorveteria aqui pertinho, agente pode ir andando. – falou ele ficando ao meu lado.

  Nós andamos por alguns minutos até que finalmente encontramos uma sorveteria de esquina. Não havia quase ninguém, mas a sorveteria tinha uma boa aparência.

 – Vai querer o que? – perguntou-me Tocha assim que nos sentamos. – Eu indico esse aqui. – disse ele apontando para o cardápio que estava em cima da mesa. – Chocolate com hortelã. – disse ele passando a língua nos lábios. Ele ficava extremamente sexo fazendo aquilo.

 – Acho que vou quere um desses pra experimentar. – Eu disse a garçonete quando ela se aproximou.

 – Opa! Dois de chocolate com hortelã no capricho. – disse Tocha rindo como uma criança.

 – Então... Como assim você “deveria” morar na casa do Matheus? – perguntei pra puxar assunto quando a garçonete se afastou.

 – É que minha irmã não gosta muito desse lance de eu ser independente, já que sou o irmão mais novo. Ela acha que tem que ter obrigação de ser responsável por mim depois que nossos pais morreram. – disse ele se acomodando mais na cadeira.

 – Sinto muito. – disse tentando não ser indelicada nem enxerida.

 – Nada, já faz algum tempo, eu já superei, mas o negocio é que minha irmã acha que eu não superei e me trata como se eu sempre fosse a vitima da questão, mas, na verdade, ela é que ainda não conseguiu superar. – disse ele desabafando. Fiquei surpresa por ele me contar aquelas coisas sobre sua vida pessoal. – Ela quer porque que, que eu vá mora lá na mansão do marido dela, mas eu não gosto de viver de favores dos outros. – falou ele finalizando o assunto assim que a garçonete apareceu com os nossos pedidos.

  Comenos em silêncio saboreando a delicia do sorvete. Ele tinha razão era muito bom mesmo. Depois que acabamos ele não me deixou pagar dando a desculpa que era um cavalheiro. Eu ri e ele também. Contamos coisas engraçadas de nossas vidas enquanto caminhávamos para o ponto de ônibus.

 – Eu a levaria pra casa se tivesse um carro. – disse ele sorrindo.

 – Se você tivesse um carro eu não iria aceitar que me deixa-se em casa porque eu não entro em carro de estranhos. – disse tentando ser engraçada também, mas não consegui, pelo menos, não como ele.

 – Agente se ver por ai... – disse a ele enquanto o meu ônibus se aproximava.

 – Espero que sim. – disse ele com um sorriso torto me deixando encabulada.

 – HA... Na próxima vez você vai me explicar direitinho qual é a desse apelido. – falei já entrando no ônibus. Ele riu.

 – Eu prometo que conto. – gritou ele enquanto eu entrava. – E eu sempre cumpro minhas promessas. – falou com um sorriso malicioso.

  Fiquei o observando pela janela até que o ônibus deu partida e eu não pude ver mais seu rosto. Encostei-me no banco com um sorrisinho. Até que percebi que faltava alguma coisa. Uma coisa que sempre fazia volume quando eu me encostava no banco.

 – Droga! Esqueci minha bolsa. – disse levando a mão a cabeça enquanto o ônibus me levava para casa.