New Wonderland escrita por FaynRith


Capítulo 3
Trap


Notas iniciais do capítulo

Gentem!
Perdoem-me pela demora, mas aqui está outro capítulo novinho em folha!
Para que não fiquem muito ansiosos quanto os próximos capítulos, coloquem em suas opções para receber um comunicado da próxima vez que um for lançado. Porque eu sei como é difícil aguardar e ter de ficar conferindo a cada segundo.



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-  Calados! – rugiu a ex-rainha, num gesto brusco. Inevitavelmente todos estremeceram com sua voz irritantemente fina.  - Se vocês querem que a garota retorne para a sua família, é melhor cederem a coroa.


T R A P


Perder a liberdade, ou prender todos os outros?

                - A coroa? – Sibilou o chapeleiro, com os olhos faiscando enquanto sacava sua espada.

                Murmúrios. Altos, eloqüentes. O campo zumbia em protestos. Até aqueles que não entendiam o que estava acontecendo levantavam-se do chão para urrarem em pé contra a rainha vermelha.

                - Calados! – rugiu a ex-rainha, num gesto brusco. Inevitavelmente todos estremeceram com sua voz irritantemente fina.  - Se vocês querem que a garota retorne para a sua família, é melhor cederem a coroa. – Sorriu lúgubre, ao ver que todos a encaravam indecisos. – E que seja rápida a escolha, pois não serei breve nas torturas.

                -Pois eu hei de mostrar-lhe o que é tortura! – a lebre de março exclamara do outro lado do campo. Jogou dois jogos ingleses de chá, sem sucesso em acertá-la.

                A multidão ganhou vigor e avançou sem parar na direção da mulher anã. Os próprios guardas já não entendiam a razão de protegê-la e não os impediram. Carta por carta, peça por peça, escalavam-se uns aos outros até a plataforma alta onde ela recuava amedrontada pela raiva súbita. Tweedledee e Tweedledum estavam prestes a agarrar-lhe pelos cabelos quando a rainha branca, num suave suspiro, pediu que eles parassem.

                - Caros súditos! O que minha irmã pede nada mais é do que justo. - Mais gritos revoltados. – Alice é a nossa libertadora; foi ela que nos guiou por esse campo, e mesmo não sendo desse mundo, não hesitou em nos liderar. Devemos a ela nossa liberdade.

                - Minha alteza, - o coelho retirou sua cartola num gesto cortes, aproximando-se lentamente da rainha com os olhos cravados no chão. – Nenhum de nós quer que Alice esteja presa a esse mundo.  Mas não vamos deixar que sua irmã retorne ao poder. Passamos meio século sob sua custódia e agora temos nossa liberdade. E infelizmente, temo que todo o povo pense assim.

                - O coelho está certo. – O bispo e conselheiro apressaram em concordar. – A própria Alice não gostaria que fôssemos presos em seu lugar. Não é, Alice?

                A loira que durante todo esse tempo mantivera-se calada ao lado do trono apenas retrucou uma palavra incompreensível, que o bispo fez questão de aceitar como um sim. Seus olhos azulados vagavam sem rumo; Perturbados, talvez até irritados com aquela situação.

                Não entendia. Percorrera aquele mundo extenso, invadira os domínios da rainha vermelha, batalhara por um povo a qual não pertencia. Tanto por algo que já não fazia sentido. Afinal, porque eles estavam decidindo sua liberdade? Ela não era livre para escolher o que fazer com sua própria vida?

                A rainha branca não demorou a notar o comportamento melancólico de Alice. Abandonou o bispo no meio de seu discurso sobre as maravilhas do Mundo das Maravilhas e disfarçadamente aproximou-se da menina.

                - Não se preocupe. – Murmurou docemente. - Não vou abandoná-la.

                Alice limitou-se a sorrir em resposta. Não sabia bem o que pensar sobre o assunto. Parecia confuso demais.

                - Ei, psiu! – o Gato de Cheshire cantarolou. – Aliice! Sua louca, louquíssima. Disse-lhe que era doida mais pouco quis me ouvir não*? Veja no que deu!

Alice voltou-se para seu fiel amigo. Sua cabeça pequena estava apoiada na alta plataforma enquanto seus pezinhos mal tocavam o chão. Os olhinhos esverdeados sorriram sombrios para Alice, num malicioso tom de deboche.

                - Preocupada com sua sentença? – ele rebolou pelo ar. Um sorriso excêntrico deu parte em seu rosto.

                - Do que está falando? Estamos decidindo como reagir à ameaça da Rainha.

                - Nãao. – O gato debochado esticou suas pernas – O assunto mudou quando ela pediu a coroa em troca. Agora estamos decidindo condenar ou não sua liberdade.

                - A rainha nunca permitiria. – Alice se levantou – Ela... não iria me abandonar.

                - Será? – o Gato pôs se a rir – Olhe para ela! Pode ser pura e ingênua, mas jamais deixaria de pensar em seu povo. Você faz parte do povo?

                - Não mas...

                - Mas?

                Uma faísca brilhou nos olhos de Alice. Ficara mais tímida, descrente da realidade, mas jamais perdera o que parecia ser sua essência: Seu gênio irritadiço e orgulhoso.

                - Gato de Cheshire! – Alice exclamou. Lembrava-se do travesso em seus sonhos. Só esquecera-se de como podia ser desagradável. Duvidar de uma das únicas pessoas em que confiava? – Como pode duvidar? Tenha mais modos. Sua própria rainha disse-me que não me abandonaria. E ela não irá! Assim como todos que estão aqui.

                - Se está tão confiante... – Ele esboçou um sorriso. Desapareceu num piscar de olhos para reaparecer bem acima da cabeça de Alice, brincando com seus fios de cabelo. Rapidamente trocou de assunto:  Parece-me que todos estão cuidando de sua própria cabeça, enquanto esqueceram-se da maior delas. – Apontou para a rainha vermelha. – Não era dela que devíamos estar duvidando?

                Alice absorveu as palavras lentamente. Sua testa enrugou-se ao perceber o que ele quis dizer. Virou-se para ele, mas já tinha desaparecido.

                - Obrigada.

                Rapidamente, ela sacou sua espada da bainha e segurou-lhe pelo punho. 

                - Não está certo. – A menina levantou-se bruscamente. O bispo parou de falar, olhando fixamente para a espada que Alice agora empunhava em sua direção.

                - Alice! – Repreendeu a rainha. Mas ela não abaixou a espada.

                - Onde está o suposto antídoto miraculoso a que se refere? – e então o bispo compreendeu que não se tratava dele e recuou rapidamente. A espada agora apontava para a grande cabeça da Rainha Vermelha.

                - Ora! – Bufou a rainha em menosprezo. – Eu não levaria comigo para o campo de batalha e muito menos contaria a vocês onde ele poderia estar.

                - Pois eu duvido da existência dele. – Alice a desafiou. – Aposto que é apenas ladainha para escapulir da sua punição.

                A cabeça da Rainha vermelha inchou e tomou como cor um vermelho sangue, tamanha era sua raiva. Suas mãozinhas cerradas em punhos tremelicavam e tentavam debilmente socá-la de longe.

                - Como se atreve!? A duvidar de minha palavra e ainda por cima dizer que falo ladainhas! – Os guardas que afastaram-se dela, com os olhos temerosos a sua cabeça. – Ora! Onde já se ouviu? Uma mera humana do mundo de cima, apontar para mim uma espada. Digo minha espada!

                - Então me prove que diz a verdade. Enquanto isso não vai passar de mentiras.

                A rainha vermelha – que não era boba – entendeu suas pretensões e acalmou-se. Rapidamente recuperou sua compostura enquanto suas bochechas retornavam ao branco giz de sua pele.

                - Não preciso provar-lhe nada. Basta para eu saber que digo a verdade e que você duvida de mim por insegurança. – rebateu a rainha pomposamente.

                A rainha branca, num leve gracejo, colocou sua mão em cima dos ombros de Alice. Ela percebeu que ainda estava apontando a espada para a Rainha e tratou de abaixá-la.

                - Não se preocupe querida. – Branca sussurrou para Alice. - Coelho, convoque o oráculo. – A rainha puxou a menina para longe – Vamos averiguar isso agora.


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Notas finais do capítulo

N/A: No primeiro encontro do Gato de Cheshire com Alice foi no capítulo 6 - Porco e pimenta, onde ele reclama que a menina é louca e deveria juntar-se com o chapeleiro e a lebre de março, que também eram loucos.


Amores! Já peço desculpas antecipadas! Como sempre, o capítulo vai demorar.