Unstoppable escrita por Lgirlsclub
Considerações iniciais:
- O veneno administrado -atropina – havia sido aplicado em doses muito superiores do que o necessário para matar alguém, tornando fácil sua identificação apesar de sua rápida absorção pelo organismo – ao menos segundo Akane, porque eu não sei nada desses venenos aí não.
- Continuamos numa sinuca de bico, porque isso pode ter sido especificado no caderno para disfarçar o uso, ou pode ter sido um erro de alguém que tivesse acesso ao remédio, mas não soubesse administrá-lo corretamente
- Meu chefe está parecendo um cachorro e “farejando” máquinas de café pelo caminho.
- A essa altura meu gato já terminou de comer a minha casa.
- Ah, e logicamente, talvez tenha novamente um assassino sobrenatural com um caderno preto advindo de deuses da morte caçando o traseiro de criminosos. Fora isso, o caso está indo muito bem.
Peter estava – além de catando café – tentando obter os papéis com os pedidos da enfermaria, enquanto eu tentava falar com a enfermeira que baixava o rosto constantemente, tentando esconder um olho roxo e mantinha uma fala mansa e gentil, com os braços cruzados em frente ao corpo. Proteção. Era isso que ela queria. Se proteger. Deus, o que fizeram com essa mulher? Quem o fez?
-Bom dia, senhora...-Catei nos papéis, mas havia mais dados em minhas mãos do que contas na minha casa. E isso era um feito memorável.
- Shimura, Emi Shimura. Bom dia. – Ela subiu o olhar para nós dois, acredito que tenha esquecido ou desistido de esconder o olho machucado.
– Os senhores parecem abatidos. Querem um café.
-Santo Deus, sim. – Ok, Peter está ficando com dependência química.
- Não. Obrigado – Olhei para o meu chefe – Não.
- Desculpe, babá.- Meu chefe bufou, voltando a catar os arquivos.
-A senhora trabalha há quantos anos aqui nesse local? Só para registro.
-Creio que há uns onze anos. Sim...meu filho tinha quatro anos e eu vinte e dois, estava me formando.
-Não era um local muito bom para uma criança, não é?- Sorri para a mãe, que parecia preocupada.
- Eu sei que não. Mas... eu nunca tive nada. Estudava em colégios ruins. Não tive base. Estudei a maior parte por conta própria, e isso acabou consumindo muito a minha infância. Eu e os policiais daqui sempre estávamos de olho, brincando , olhando por ele. Só queria que ele tivesse uma infância melhor que a minha.
- Ele tem vergonha da senhora?- Ah, meu chefe é sempre muito conveniente.
- Não, ele é um bom garoto. Conheço muitos dos amigos deles, apesar de não impor muito isso. Ele é um garoto muito carinhoso – ah, cara. Tenho que ir visitar minha velha, bateu saudade agora.
-Então pode ter certeza que a infância que a senhora proporcionou foi muito boa. Muitos traços da personalidade de uma pessoa são determinados na infância, principalmente quando levados até a adolescência, aonde são inconstantes. Parabéns. – Ele acertou uma! Deus é pai. Vai chover canivete aberto.
- Peter...
- O que foi? Achou?
- Nada não, só pra avisar que vou te dar overdose de café todos os dias a partir de agora.
- Obrigada. –Emi sorriu. Acho que ela estava se sentindo mais confortável.
- Senhora Shimura... poderia... poderia me dizer como conseguiu esse – vi uma marca roxa no braço da enfermeira, contrastando com a pele clara e o uniforme branco. – esses – engoli em seco – machucados?
- A-acidentes de trabalho.- ela murmurou abaixando o rosto e soltando os longos cabelos castanhos e a franja, tapando o olho roxo.
- Como conseguiu isso? Você é enfermeira, não parece trabalhar com nada pesado o bastante para causar isso. Mas trabalha com gente forte o bastante, não é? Você fala dos policiais com carinho, e não parece ter medo que eles se aproximem do seu filho. Mas os detentos...
- Só não...reporte isso. Por favor. – ela abaixou os olhos.
- Por que não? É horrível o que fizeram com você... Tem mais machucados, não tem?- ela balançou o rosto penosamente.
- Se não ela perde o emprego – Peter disse, puxando um papel e o olhando. Havia achado os registros dos detentos e os pedidos de medicamentos da enfermagem. – Infelizmente, qualquer notícia dessa mancharia a reputação do presidio e contratariam o primeiro armário nada indefeso para servir como enfermeiro.
- Eu não tenho para onde ir. E sem isso, eu não tenho como me manter. Como manter o meu filho – ela disse secando uma lágrima. – Mas conseguimos proteger ele, ele nunca foi machucado.
Nesse momento, um menino de seus quinze anos entrou e largou a mochila, correndo para abraçar a mãe, irritado ao ver a mãe chorando. A abraçou e lançou um olhar zangado para nós, como se tivéssemos sob pena de morte pelo maior crime cometido. Fazer a mãe dele chorar.
- O que estão fazendo com ela?
- Nada, só estávamos conversando, querido- a mãe abraçou o filho, beijando-lhe a bochecha e tranquilizando-o. Ou tentando, pois continuávamos sendo fuzilados pelo olhar raivoso dele.
- Já estamos indo, desculpe o incômodo. – me levantei para sair.
-Um minuto. Senhora Shimura, quem tem acesso à enfermaria?- Peter falou, já sendo puxado por mim.
- Tirando os detentos, que só tem quando estão doentes... Todo mundo. Não é anormal derramarem algo, ou se cortaram com papel. Os curativos e o material de limpeza ficam aqui. Não trancamos.
- E a lista de compras dos remédios?
- Bom, algumas vezes os policiais incluem algumas coisas, e depois reembolsam o pessoal da verba. Eu deixo em aberto até o último dia de entrega da lista. Só ponho o que acabou passando pela minha mão...Algum problema?
- Não. Obrigado. Por enquanto é só.- Meu chefe saiu me puxando. O que afinal ele descobrira?
-Ok, o que viu?
-Pediram atropina. Para reposição. Já faz tempo o suficiente. Mas...se ela fosse capaz disso por que esperar ? Por que esperar eles ficarem tão perigosos que ela tivesse que proteger o filho diversas vezes?
- Como sabe disso?
-Marcas nos braços, são de defesa e são meio antigos. E se ela fosse proteger a ela mesma... bom o rosto dela não estaria roxo.
-...Faz sentido...
- Com licença. – o filho da enfermeira saiu, nos interrompendo. – Desculpe. Bom... minha mãe não é de chorar. É meio durona sabe? Então... achei que tinham machucado ela. Mas..são policiais, não são?- ele esperou nosso sinal afirmativo. – Então... bom, não precisa ser genial pra saber que estão aqui pelas mortes...
-Estamos. – Peter falou, baixando a voz.
- Não sei quem fez. Mas... não peguem ele. Esses caras... Eles fazem mal as pessoas, isso é errado, certo?- as lágrimas começaram a descer pela pele clara do menino.- não impeçam. Eles machucam policiais. Minha mãe. Os policiais... eles tentam proteger a gente e saem machucados. Não podem fazer nada por aqui. Se eu pudesse...eu mesmo afugentaria eles... se eu tivesse força...mas eu só...só consigo chorar. Inútil..
-Ei, ei vai ficar tudo bem.- abracei o garoto.
-Alguns policiais viram o que eles fizeram com sua mãe?- meu chefe perguntou, tentando manter o tom profissional. O meu já tinha ido pra onde Judas perdeu a cueca.
-Viram, mas eram muitos pra controlar...Eles não conseguiam, não podiam e....se fossem bater...depois pra justificar...minha mãe perdia o emprego. Ela diz que não pode perder por minha causa, droga! Minha culpa, e eu não fui capaz de fazer nada!
-Ok, ok, calma. Vai ficar tudo bem- repeti, abraçando o menino. Peter passou a mão pelo cabelo do mais novo. Lá vamos nós. Um adolescente triste no caminho e um grande problema em nossas mãos. Além disso, uma frase de um caderno assassino e nem sinal dele. Algumas vezes, as pistas ajudam. Outras vezes, parecem nos largar num canto escuro, sem luz para nos guiar. Precisamos arrumar uma lanterna ou aprender a nos guiar na escuridão. O mais rápido possível.
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