A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer à Miwa_Mazur, minha flor, que me deu um super apoio, principalmente nesse capítulo final, revisando e trocando ideias! Obrigada, migs, sem você o final não teria o fim dramático que eu procurava mas não encontrava ♥ E agora, aproveitem o último capítulo! LEIAM AS NOTAS FINAIS tem informações importantes ali. rs
"Então eu o vi. Cabelos castanhos e empapados de sangue. Compridos, até quase os ombros. Vestia-se de preto, como muitos que estavam caídos ali."



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O que aconteceu naquela casa foi mais parecido com o que aconteceu em Spokane que eu poderia imaginar. A diferença é que eu estava do lado oposto das buscas. Podia imaginar o que Viktoria estava sentindo – o medo e a determinação lutando para dominar – e desejava que tudo terminasse logo e que ela e as outras pessoas saíssem salvas e ilesas.

Quando adentramos na mata, nos movemos em silêncio e com cuidado, e começamos a fazer a formação que havíamos decidido na Igreja minutos antes. Logo, as únicas pessoas próximas a mim eram Olena e os outros três guardiões que eu não conhecia, mas sabia que se chamavam Yvan, Hana e Igor, e que pareciam muito bons, levando em conta as tatuagens no pescoço e o olhar de fogo que possuíam.

Controlei minha respiração para que ficasse o mais baixo possível, tentando imaginar se estávamos muito longe ou muito perto e se por acaso já sabiam que estávamos ali. Olena ergueu um braço com o punho fechado, indicado que era para pararmos. Repeti seu gesto e pelo canto do olho percebi que Hana fez o mesmo, passando a mensagem adiante.

Alguns segundos, que pareciam horas, se passaram e recomeçamos a nos mover com mais rapidez desta vez. Não demoramos muito e encontramos o casarão abandonado em uma clareira. Ele era grande, mas não imenso, e não havia indícios de que alguém vivia por lá.

O nosso grupo iria entrar pela porta da frente. Igor iria arrombar a porta e entrar primeiro, depois entraria Hana, eu, Olena e Igor, nesta ordem. Iriamos conferir os cômodos do meio da casa e subiríamos caso algum strigoi ou qualquer outra pessoa estivesse no andar de cima. Os outros grupos andariam cômodo por cômodo, igual nos seriados, quando a policia invade uma casa e vai liberando os cômodos vazios. Por ultimo, invadiríamos o porão, que teria sido isolado já que as janelas eram pequenas demais para que fossem usadas como rota de fuga e o único caminho para a liberdade era passando por nós. Só esperava que tudo fosse rápido o suficiente para impedir que os reféns não sofressem nas mãos dos sequestradores.

Paramos novamente no limite da clareira. Podia ver sombras se movendo dos dois lados da casa, indentificando o grupo de damphirs. O que esperávamos, não sei, mas não demorou muito e o um guardião de cada lado, com passos lentos e cuidadosos, se moveram para frente. Levavam algo nas mãos, embora não conseguisse enxergar o que era. Há um metro da casa, eles se abaixaram e jogaram algo que pareciam cilindros para as janelas do porão e então saíram correndo.

Descobri o que eram três segundos depois. Luzes e fumaça explodiram as janelas do porão junto com sons que pareciam trovões seguidos. Foi nesse momento que começamos a nos mover.

Strigois possuem sentidos aguçados, e o que lhes dão vantagem, uma hora ou outra acabaria sendo desvantagem. O barulho alto daquelas bombas, a fumaça e a luz os atordoaria, embora não soubesse exatamente por quanto tempo. Mas de uma forma ou de outra, isso nos traria algum beneficio, esperava.

- Eu não esperava por isso. – disse à Olena enquanto corríamos para a varanda da frente com Igor na dianteira.

- Ninguém esperava, na verdade. Abe anda investido dinheiro em novas tecnologias.

- Isso foi ideia dele? – exclamei surpresa, esperando que Igor arrombasse a porta. Todos tínhamos as estacas em mãos.

Não houve tempo de resposta, pois no segundo seguinte invadíamos a casa. Ouvi barulho de luta à minha esquerda e sons de movimento acima de mim, indicando que havia alguém no andar de cima. Andamos pelo largo corredor, sem nos deparar com strigois e começamos a subir as escadas ao andar superior. No segundo andar havia cinco portas e com um olhar entendedor, nos separamos entre elas.

Andei até o final do corredor e abri a porta. Um cheiro forte me nauseou por um momento e meus olhos se encheram de lágrimas. Segundos após me recuperar, entendi o que era: cheiro de podridão. Havia, não alguns, mas muitos cadáveres, alguns desmembrados outros irreconhecíveis. Tive vontade de vomitar, não tanto pelo cheiro, mas pela visão horrenda daquele quarto.

Prendi a respiração e dei um passo à frente. O quarto era grande, não tinha móveis e a janela estava quebrada. Infelizmente, para mim, havia uma porta do lado extremo que eu seria obrigada a conferir. Pulando partes de pernas, braços e cabeças, andei o mais rápido possível para o outro lado e abri a porta. Era um banheiro vazio, mas que tinha as paredes manchadas de sangue.

O que diabos aconteceu nesta casa?

Soltando a respiração, fechei a porta do banheiro, e me dirigi à porta, tentando não procurar entre os corpos um rosto conhecido. Entretanto, no meio a tantas deformidades, uma massa de cabelos cor de bronze me chamou a atenção. Antes que pudesse me conter, andei em direção ao corpo estendido e virei-o para cima.

Me engasguei com um grito abafado na garganta e levei as mãos à boca. Os olhos castanhos de Nikolai me encaravam abertos e cheios de terror. Abaixei-me para, pelo menos, fechar seus olhos, quando reparei que ele respirava com dificuldade.

- Nikolai! – murmurei puxando seu corpo para meu colo. – Vai ficar tudo bem. Encontramos vocês, vai ficar tudo bem.

Eu não o conhecia, mas vê-lo ali, coberto por sangue e tremendo de medo, me quebrou o coração e encheu meus olhos de lágrimas. Ninguém merecia passar por o que ele  e todos o que estavam naquela sala passaram.

- Vai ficar tudo bem. – Não, não iria. Nikolai estava à beira da morte e não sobreviveria, não haveria tempo. Sorri. Era o mínimo que poderia fazer àquela hora. Sorrir e dizer que tudo ficaria bem. – Vamos sair daqui, tudo ficará bem.

Nikolai nada disse, apenas me encarou, com olhos tristes e sábios. As pessoas sabem que estão morrendo? Ele teria entendido que eu estava mentindo? Nunca saberei. Nikolai respirou com dificuldade uma única vez e seus olhos se apagaram. Fechei seus olhos e o puxei para longe dos outros corpos. Era a única coisa que poderia fazer.

Limpei as lágrimas e me levantei. Limpei as mãos na calça e me dirigi para fora do cômodo. Quando cheguei ao corredor percebi que havia perdido muita coisa. Hana lutava contra um strigoi e Igor e Yvan com outro. Não pensei antes de partir pra cima daquele que estava com Hana, já que ela era que estava sozinha.

Foi uma boa escolha, pois o strigoi, com um safanão, arranhou seu braço e derrubou sua estaca no chão. Hana estava presa pelo pescoço contra a parede quando cheguei por trás e enfiei a estaca em suas costas. Senti seu corpo tencionar ele fez um barulho estranho antes de soltar Hana e caiu no chão, seguido por seu comparsa que lutava contra os outros dois guardiões.

- Onde está Olena? – indaguei retirando minha estaca do corpo inerte e limpando-a com a blusa.

- Ouvimos um barulho estranho no andar de baixo íamos ver o que era. Olena foi à frente, mas então esses dois saíram de algum lugar e impediram nossa passagem.

Sons de corpos se chocando e objetos quebrando interromperam nossa conversa e nos movemos para o andar de baixo. Os olhos chorosos de Nikolai foram varridos de minha mente quando nos deparamos com a bagunça que havia na casa. Uma parede havia sido derrubada e janelas também, quando corpos as ultrapassaram. A luta se seguia lá fora.

Não sei quantos strigois havia, mas era bastante. O suficiente para deixar os quinze damphirs que ficaram no térreo muito ocupados. Eu, Hanna, Igor e Yvan nos entreolhamos e nos separamos. Cheguei a ver Yvan socorrer um daphir que lutava em desvantagem por conta de um grande e feio corte no braço antes de correr para a sala ao lado e estaquear os cadáveres ambulantes. Silenciosamente desejei que Dimitri e Olena estivessem inteiros.

Vi uma damphir de cabelos curtos e mais baixa que eu ser encurralada em um canto da sala e fui ao seu alcance. Golpeei o lado de sua cabeça com o cotovelo e o strigoi de cabelos compridos e um rosto deformado pela fúria voou pra cima de mim.

Literalmente.

Caímos sobre uma mesinha de madeira que se espatifou às minhas costas, e só não me machuquei graças à jaqueta de couro que usava. Tinha que me lembrar de agradecer a Abe depois. Ajoelhei seu estomago com força e tentei jogar seu corpo para o lado, mas suas mãos eram garras em meus pulsos. Rezando mentalmente para que desse certo, dei uma cabeçada o fazendo afrouxar o suficiente para que me libertasse e conseguisse chutá-lo com força de cima de mim. O strigoi caiu no chão de barriga para cima e a damphir que não deveria ser muito mais velha que eu deu o golpe final.

Ela jogou o corpo para o lado e me estendeu a mão para me ajudar a levantar.

Juntas, ajudamos a matar mais três strigois na sala e corremos em busca de mais. Os cômodos da casa eram amplos e com mobília antiga e escassa, ainda assim encontraram formas de destruir ainda mais o casarão abandonado.

- Onde estão as crianças? – indaguei minutos depois após outro strigoi cair ao meu pé.

- O grupo que estava lá no porão conseguiu passar por nós há alguns minutos – disse-me um guardião que possuía uma cicatriz cortando as sobrancelhas – Eles seguravam três como reféns e impedir que ataquemos. Mas Belikov e Pavel os perseguiram lá pra fora.

- Três? – meu coração se apertou com a segunda morte.

O guardião me lançou um olhara de compaixão. Havíamos perdido duas crianças, isso não era legal. Mas a batalha ainda não havia terminado, mais strigois para matar e crianças para resgatar e, por tudo o que é mais sagrado, Viktoria estaria entre eles.

Poucos strigois vivos restaram dentro de casa, e os guardiões que lutavam com eles davam conta do recado, então eu e Bea, a guardiã que eu ajudei, juntas ao guardião com a cicatriz, corremos para o lado de fora, onde a visão não era muito boa.

Corpos no chão. Não sabia se vivos, desmaiados ou apenas muito machucados. Não sabia se eram strigois ou damphirs. Não vi Dimitri ali, mas vi Olena com mais quatro tentando cercar um grupo de oito strigois. As três crianças estavam com eles e entre elas, uma Viktoria assustada.

- Vocês não querem que um acidente ocorra, querem? – indagou o strigoi de cabelos tão claros que chegavam a ser brancos. Ele tinha uma voz fria e muito má, que me provocou um arrepio macabro pela espinha. – Se afastam ou os três morrem. E logo em seguida, vocês. E iremos ir embora e drenaremos cada pescoço macio dessa cidade.

O que fazíamos quando o inimigo ameaçava matar todo mundo? Tentávamos entrar em algum acordo? Matávamos todos, aguentando as consequências? Nunca havia passado por isso, geralmente era estaca no coração e boca calada.

- Mama!

Viktoria gritou em meio ao choro esticando os braços para Olena. O strigoi que segurava seu pescoço com o braço intensificou o aperto a fazendo arfar e engasgar. Ele sorrio, e parecia um tubarão prestes a atacar a presa.

- Uuuh... mamãe está aqui. – ele e os outros damphirs riram – Irei drenar o seu sangue na frente de sua mãe, mas não irei mata-la... ela viverá para saber que falhou com você.

Onde, Diabos, estava Dimitri? Ele saberia o que fazer, como proceder! Não poderia estar morto, poderia? Meu coração acelerou com a simples ideia e me senti enjoada. Ele era bom demais para ter sido morto. Não ali.

Meus olhos percorreram o gramado em meio aos corpos no chão, procurando por uma cabeleira castanha. Sabia que, depois de Nikolai, não deveria fazer isso. Mas o pânico tomou conta e precisava saber.

Então eu o vi. Cabelos castanhos e empapados de sangue. Compridos, até quase os ombros. Vestia-se de preto, como muitos que estavam caídos ali.

Não. Dimitri não poderia estar morto. Nem pensar. Aquilo estava além das possibilidades.

Dimitri não estava morto. Não o meu Dimitri.

- Direi o que irá acontecer – a voz ecoou na clareira como um trovão. Era ameaçadora e letal, tão feroz quanto seu olhar. – Vocês largarão as crianças e tentarão fugir. Então iremos atrás de vocês e antes que possam sair do bosque, cada um terá uma estaca atravessando seu coração. Se algo acontecer às crianças, me certificarei pessoalmente que tenham uma morte lenta e dolorosa.

Dimitri, em toda sua glória, surgia de algum lugar de dentro do bosque. Considerando seu estado, deveria ter perseguido alguns strigois e dado cabo deles.

O strigoi que liderava riu, às gargalhadas. Estava irritando a todos, mas o medo de que matassem as três crianças era grande demais para nos fazer mover. Eles estavam em vantagem.

- Claro. Logo depois que casa erguer as saias e sair andando para longe daqui.

Era muita falação e pouca ação. E, não sabia se era apenas eu que percebia isso, mas lentamente os strigois davam passos para trás, e direção ao bosque. Eles não poderiam fugir, mas estava querendo.

Lembrei-me do punhal que Abe havia me dado. Jogar uma estaca na cabeça do cara não seria muito vantajoso. Elas não foram feitas para serem jogadas e não faria muitos danos, principalmente porque não acertaria o coração. Mas se jogasse o punhal, a lâmina faria um maior estranho em sua cabeça e seria uma distração para que os guardiões pudessem atacar. Era um plano...

Estiquei o braço e me curvei levemente para que o movimento não chamasse a atenção e retirei o punhal da bota, escondendo-o atrás da perna. Dimitri me olhou, e seu olhar foi de alivio ao perceber que eu estava bem, antes de recair em minha mão. Ele ergueu a sobrancelha e fez um mínimo aceno; ele, como sempre, sabia o que se passava em minha mente e concordou com o plano.

Segurei em seu cabo com força e respirei fundo, colocando um pé em frente ao outro e me pondo em posição. O grupo de Olena recuou, assim como o grupo de strigois. Era agora ou nunca.

Fechei os olhos, inspirei fundo e prendi a respiração. Soltei o ar devagar e ao abrir os olhos, em um movimento ágil e rápido, arremessei o punhal.

O que aconteceu a seguir foi muito rápido.

Um grupo de guardiões, liderados por Pavel, atacou os strigois por trás, provocando sua movimentação. A lâmina, ao invés de acertar a cabeça do cara que segurava Viktoria ameaçadoramente, acertou o strigoi do lado, provando sua queda. Com a quebra de tensão de sua formação, os strigois tentaram se espalhar, mas estavam cercados pela frente e por trás. Sua fuga foi pelos lados, mas os guardiões, dessa vez, estavam prontos.

Tornou-se um caos.

Bea e eu corremos para nos juntar aos guardiões. Os strigois haviam ido para o bosque e rumei para lá. Retirei o punhal da cabeça do strigoi, que algum havia empalado, e corri perseguindo os gritos de Viktoria.

As corridas que Dimitri havia me submetido se provaram uteis quando não precisei parar para respirar e já sabia como era correr em um bosque com raízes, pedras e buracos no chão. Pouco tempo depois, consegui vislumbrar as costas do strigoi. Sem parar para pensar, fiz um segundo arremesso do punhal, acertando no meio de suas costas e o fazendo cair.

- Viktoria! – gritei quando os alcancei. – Você está bem?

Ela estava assustada e machucada, seu pescoço estava com marcas de mordidas e seu vestido rasgado; mas estava viva e era isso que importava.

Sustentei-a pelos braços, visto que ela mal se aguentava sozinha e a afastei do vampiro que tinha a cara no chão. Eu não havia torcido a lâmina, então ele estava apenas paralisado. Ficaria assim por algum tempo, decidi primeiro afastar Viktoria dali e sentá-la em alguma raiz. Ela tremia muito e parecia em estado de choque.

- Okay. Tudo vai fica bem agora, Vik! Vamos, sente-se aqui. – a guiei até uma arvore caída e a fiz sentar em seu tronco. Enfiei a estaca no cós do jeans, retirei a jaqueta e pus em seus ombros, não me importando com o frio. – Você está bem agora. Está segura.

Seus olhos se arregalaram e esfreguei as mãos em seus ombros, procurando aquecê-la e acalma-la. Viktoria tinha um olhar horrorizado e depois do que vi naquela casa, não lhe tirava a culpa. Entretanto, deveria ter sabido que havia algo errado. Foi somente quando ela gritou que entendi.

Mãos geladas e fortes me pegaram pelo pescoço e me arremessaram para trás. Acertei uma arvore com força e cai no chão desnorteada e com muita dor do lado do corpo. Deveria ter quebrado pelo menos uma costela, e, puta merda, isso doía muito.

- Vem cá, sua inútil. – ouvi o strigoi resmungar.

Abri os olhos e através da dor, o vi pegar Viktoria pelo braço e se aproximar novamente de mim, com um sorriso perverso nos lábios. Tentei me mover, mas cada movimento era uma pontada aguda em todo o meu corpo que me impedi até mesmo de respirar.

- Viktoria, não é? Bem, Viktoria, foi um prazer te conhecer. – Ele afastou seu cabelo do pescoço e acariciou sua pele. – Vocês duas se reencontrarão em breve... no inferno.

Ele parou de sorrir e para me lançar um olhar cheio de fúria antes de perfurar sua pele e beber seu sangue. Mas vê-la drenar seu sangue não foi o pior. A pior parte foi quando ele parou, a olhou nos olhos e disse com extrema frieza, que iria mata-la e que iria gostar de cada rápido momento. Antes que eu pudesse desviar o olhar, ele segurou sua cabeça e com um movimento brusco, quebrou seu pescoço.

O strigoi riu e a soltou. Viktoria caiu feito boneca de pano no chão, seu corpo virado para mim, mas seu rosto para o outro lado.

- Agora, vamos cuidar de você. – sem aviso ou cuidado, ele me puxou pelo braço e me botou em pé. – Vou te ensinar a não jogar facas nos outros.

Segurou-me pelo pescoço e me prensou contra a mesma árvore que havia me arremessado contra. A dor em minhas costas aumentou e uma nova pontada aguda na altura das costelas me fez perder o folego. Mas desta vez não iria fraquejar. Estava com fúria o suficiente para ignorar os ossos quebrados e a dor emocional.

- Eu irei te matar – avisei por entre os dentes, fazendo-o rir –, e amarei cada rápido momento.

Na hora não pensei no efeito dramático da repetição de sua frase. Só queria joga-las em sua cara antes de acerta-lo com o punhal que ele havia deixado no chão e eu consegui alcançar enquanto ele se divertia com Viktoria.

Seus olhos, quando acertei seu coração, se abriram surpresos e seu aperto em meu pescoço ficou mais forte. Lentamente, perfurei seu coração mais fundo e soube quando o ultrapassei. Sem desviar o olhar e ainda mais vagarosamente, torci a lâmina até que desse a volta completa. Ele iria morrer e iria sentir dor. Caímos juntos ao chão, seu maldito corpo por cima de mim, mas não tive forças para retira-lo.

Sentia a morte de Nikolai e agora a morte de Viktoria. Isso não era justo. Eles não deveriam ter morrido. Ninguém deveria ter morrido. Os inocentes e os bons sempre morrem e eu estou sempre lá para ver suas vidas se esvaindo. Isso não era justo.

- Rose!

A voz de Dimitri, ao longe, me tirou do torpor de dor e tristeza que enublavam minha mente e olhos. Sua voz também me fez começar a chorar. Eu estava viva. Mas Viktoria não. Eu sobrevivi, mas vi sua irmã morrer. Não bastasse, eu também era a culpada.

- Roza, você está bem? – ele retirou o corpo do strigoi de cima de mim. Seu rosto perfeito tinha apenas um corte na testa, mas sangrava bastante. Ele tentou me mover, mas eu gemi de dor. – Você está machucada.

Sua voz ficou preocupada e pesou, mas não queria cuidados.

- Dimitri...

- Onde está doendo? O que aconteceu?

- Não, Dimitri, eu...

- Você precisa de um médico. – com cuidado, ele conseguiu me sentar e me recostei na árvore atrás de mim - A batalha terminou. Os strigois estão mortos, Pavel disse estar com os reféns.

Eu teria que dar a noticia também. Seria a responsável por quebrar seu espírito, sua esperança.

- Dimitri, me escuta. – ele se calou e franziu a testa em confusão. Meus olhos se encheram de lágrimas. – Não está tudo bem. Não está nada bem.

Acariciei seu rosto tristemente e virei sua cabeça com as mãos para onde o corpo de Viktoria se estendia.

- Não. – ele sibilou com uma dor tão grande que a estaca parecia ter sido enfiada em meu coração. – Não pode ser...

- Me desculpe... Ele... eu... Se tivesse girado antes, mas Viktoria estava tão...

Um grito agudo e alto, cheio de dor, tristeza e desespero ecoou na floresta. Olena se aproximara com mais alguns guardiões e seu olhar era apenas para Viktoria.

- Minha menina! Minha criança!

Ela correu para o seu lado e chorou enquanto a segurava no colo. Dimitri não disse uma palavra. Sentou-se exaurido e desacreditado ao meu lado, sem participar da cena. Os guardiões foram se aproximando, em silêncio. Encontrei o olhar de Pavel, que era tão vazio quanto todos os rostos ali. Minutos depois, ou talvez horas, Dimitri segurou minha mão. Com força e desespero, como se para ter certeza de que estava ali, viva e quente ao seu lado. Como se fosse um bote salva-vidas em meio a um naufrágio, a única coisa que o sustentava ali.

Havíamos vencido a guerra. Os strigois foram mortos e o plano deles de atacarem Baia foi interrompido com êxito.

Mas a que preço?


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Notas finais do capítulo

Ei gente!! Gostaram do final e da surpresa? Okay, não foi uma surpresa alegre, mas a morte da Vik não foi esperado, então espero ter surpreendido vocês. *foge das pedras*
Obrigada à todos que acompanharam a fic até aqui e leram e comentaram (ou não D: vai saber) Eu nunca achei que iria termina-la, SÉRIO. kk Mas aqui está, capítulo final.
Mas, como sou uma pessoa muito linda e boazinha, em breve eu posto o epílogo - está quase pronto, mas a Miwa precisa betar antes e ver se está tudo certo. Eu também, mais para frente, postarei alguns extras. Cenas que não mostraram, talvez algum POV do Dimitri (acabei e ter essa ideia) e vai ter um final alternativo do epílogo. Então fiquem ligados! :D
A Brave New World acabou, mas agora terá Love&Blood, que planejo ser uma trilogia. Acompanhem! http://fanfiction.com.br/historia/292658/Love_and_Blood/