Pov. Cici

Minha vida há um mês se resumia a escola – hospital - casa. Desde aquele dia trágico em que meu pai entrou em coma, eu vinha todos os dias visitá-lo, mamãe não achava saudável, ela dizia que eu precisava sair de casa e espairecer um pouco, ir visitar as amigas, meus avós, mas eu não me importava muito em não sair para a casa de ninguém, eu via meu avô Billy toda semana no hospital, e sempre via a titia Rachel e a até a tia Rebecca. Vovô Charlie também vinha sempre visitar o papai e a mim.

Mamãe também vinha toda semana visitá-lo com Joey e Cathy que sempre ficava insistindo em vir junto, ela gostava do pai do Joey como falava do meu pai. Evy também às vezes ficava comigo aqui depois da aula, era quase sempre assim, mas ela também tinha uma vida.

Hoje não foi diferente, sai da escola e vim direto para o hospital onde meu pai Edward trabalha, assim que cheguei eu segui direto para a sala do meu pai biológico. Eu sempre chegava no mesmo horário e saia junto com Edward era ele que me levava embora todos os dias e me reconfortava antes de chegar em casa deprimida ou abalada o bastante para minha mãe começar outra crise de choro. O quarto ainda estava com o mesmo cheiro e clima de ontem, e vi que meu pai estava na mesma.

Quando eu chegava era sempre a mesma coisa, eu entrava e logo me lembrava do dia em que tudo aconteceu.

Flashback On

Eu estava tão magoada com tudo, eu finalmente falei tudo que achava dessas atitudes do meu pai e fui muito sincera quando falei cada palavra, era evidente e verdadeiro tudo o que ele estava causando, ele não se preocupava nem em saber se estávamos bem, sua vontade era apenas ganhar nossa guarda e nada mais, todos estavam chocados, minha família toda, meus avós maternos e paternos e até mesmo minhas tias por parte de pai, elas viam tudo que estava acontecendo e eu também infelizmente sabia a dura verdade. Eu nem sabia o que doía mais ver meu irmão e minha mãe sofrendo ou esse sentimento que guardava dentro de mim?

Papai nem se tocava disso pelo que eu vi e ouvi dele, mas também percebi seu arrependimento sincero, eu sabia que ele estava sendo totalmente honesto ao me pedir perdão, mas eu não podia perdoá-lo agora, isso tudo ainda me machucava bastante e eu sei que precisava de um tempo para me esquecer disso e seguir em frente, eu estava trabalhando nisso a partir de agora, eu precisava perdoar meu pai, era a coisa que eu mais queria no momento, mas eu sabia que isso levaria um tempo, não seria assim tão fácil.

Talvez essa nossa viajem para Londres fosse realmente muito prestativa, eu poderia relaxar de toda essa pressão agora, poderia curtir um pouco e pensar bastante no que fazer e como fazer para perdoar os erros absurdos dele.

Resolvi apenas terminar de arrumar minha mala em paz, Evelyn estava ao meu lado ainda calada, ela sabia que eu não queria falar nisso agora e minha mãe também entendia muito bem meu silêncio e eu agradecia fervorosamente por isso, eu realmente não queria falar disso.

Eu já colocava minha mala ao lado da de Joey quando meu celular vibrou novamente, vi que era da casa do vovô Billy e atendi apressada, meu coração denunciava algo de errado, meu avô nunca ligava para mim.

As noticias não eram das melhores, papai tinha sofrido um acidente no caminho de volta para casa. Vendo minha cara de espanto e as lágrimas caindo em uma velocidade extrema Evy também soube que algo de muito errado estava acontecendo, ela se aproximou de mim exigindo respostas e eu não conseguia dar-lhes, eu me sentia mal, muito mal. Ela saiu gritando pela mamãe e pelo papai.

 Mas assim que meu avô falou que papai estava desacordado e indo em direção ao hospital senti minhas pernas perderem o equilíbrio e depois minha consciência abandonar minha cabeça.

Flashback Off

Foi tudo tão conturbado nesse dia, eu acordei em uma cama de hospital e novamente recebi a péssima noticia de meu pai, ele havia feito uma cirurgia e estava ainda desacordado, ele se encontrava em coma.

E a partir desse dia eu o perdoei por tudo, eu não sentia mais aquela mágoa dele, havia me esquecido de tudo, estava tudo enterrado para mim, o mais importante agora era que ele acordasse logo e voltasse a sorrir como antes, aquele sorriso cheio de vida que ele lançava para mim e para Joey quando chegava em casa, mesmo errando sempre, mesmo estando longe por tanto tempo, ele nunca abandonava seu sorriso no rosto quando nos via e isso pra mim era o que realmente importava agora.

Joguei minha mochila no sofá do quarto e puxei a cadeira para perto de sua cama, meu pai não tinha nenhum sinal de mudanças fisicamente, mas Edward sempre me mantinha bem informada sobre seu quadro clinico e ele me garantiu a melhora dele. E era nisso que eu continuava a me agarrar, era uma esperança.

- Papai, eu cheguei. – falei com a voz mais doce que eu podia ter, eu sempre conversava com ele, contava tudo sobre meu dia e de Joey. – Hoje eu tive prova de matemática. – suspirei e beijei seu rosto. – Eu fui bem, as aulas do Travis estão fazendo efeito. – ri no final.

Travis era outro ponto, nos víamos apenas na escola agora, à noite eu chegava em casa tão exausta física e emocionalmente  e ainda tinha os deveres da escola e trabalhos, e era outra hora que muitas vezes aproveitávamos juntos. Ele sempre vinha fazer trabalhos escolares comigo e tinha também minha aula de matemática semanal, mas era apenas isso.

Sinceramente não sei como ele ainda está comigo, eu o amo muito sim, mas já havia lhe dito que o que mais queria era vê-lo feliz e eu não tinha condições de lhe proporcionar isso no momento, eu estava profundamente magoada e abalada com tudo, eu sabia que ele não merecia passar por isso comigo e foi uma semana depois desse pesadelo todo começar que tivemos um pequeno desentendimento, não foi nada grave e eu estava muito insegura na época.

Flashback On

- Cici o Travis chego! – Cathy falou batendo na porta do banheiro e abri para poder vê-la. Ela sorriu pra mim de sua maneira única me fazendo ter um lampejo de felicidade no meio desse caos todo.

- Você pode dizer a ele que eu já estou descendo? – pedi e ela concordou alegre. Ela me olhou por mais um tempo e me chamou de novo.

- Você tá bonita, mas tá branca, feito a parede do quarto. – ela falou séria. – Passa bush. – ela continuou e eu ri.

- Tudo bem meu anjo. – falei pegando a minha bolsa de maquiagem dentro do compartimento da pia e ela ficou me olhando. – Satisfeita? – perguntei assim que terminei de passar um blush cor coral, me deixou realmente mais apresentável.

- Passa goss também Cici. – ela pediu e eu obedeci novamente. Depois ela sorriu sapeca. – Tá gatinha. – ela falou que nem o tio Emm agora. Revirei os olhos e a peguei no colo.

- Obrigada meu amor, agora vai dizer para o meu namorado pra subir, vamos estudar aqui no quarto hoje. – beijei seu rosto e ela concordou animada.

Enquanto eu colocava meus livros e cadernos na cama, aproveitei para ligar meu notebook e já deixá-lo em cima da minha cômoda, tinha que pesquisar um assunto chato sobre história. Logo ouvi batidas na minha porta e sorri, era ele com certeza.

- Amor. – ele falou piscando o olho assim que abri a porta e eu sorri.

- Oi. – falei e ele veio me dar um beijo, que era pra ser calmo, mas foi bem exigente. Eu na verdade adorei, era ótimo quando nos beijávamos calmamente, mas adorava quando ele me beijava com tanta paixão.

- Estava com saudades. – ele disse apertando minha cintura e ainda com os lábios colados aos meus.

- Também. – falei agarrando seus cabelos e mordendo seus lábios.

- Vocês não eram pra estar estudando? – ouvi alguém pigarreando e me afastei do Travis um pouco envergonhada. Era o tio Emmett.

- Que susto. – falei colocando a mão no peito e encarando ele.

- Sei. – ele olhou desconfiado para o Travis e revirei os olhos pra ele. – Então vão estudar no quarto é? – ele perguntou e revirei novamente os olhos olhando na direção do meu namorado que estava meio envergonhado.

- Sim tio, tem algum problema?

- Acho bom a porta deste quarto ficar aberta. – ele falou sorrindo pra mim e piscou o olho. Ninguém merece. – Eu posso aparecer aqui. – ele falou olhando para Travis e depois para mim.

- Tudo bem. – falei baixo e tentando ignorar essa doidice dele.

- Como um ninja! – ele gritou de repente indo pra perto do Travis e o assustando, na verdade eu também me assustei.

- Tio! – eu falei ainda assustada. Ele estava ficando louco?

- Que foi? – ele perguntou rindo. – É brincadeira Cici. – neguei com a cabeça e ele saiu rindo, eu hein.

Começamos com história e depois passamos para literatura, tínhamos que fazer um trabalho sobre Romeu e Julieta. Foi legal e fácil, meu namorado é bom em literatura também, certo ele é bom em todas as matérias, não me pergunte como, o menino é esperto demais. E até ríamos de vez em quando, pois como o tio Emmett prometeu, ele ficou aparecendo mesmo de vez em quando no quarto, e quando não vinha mandava a Cathy ou o Joey.

Mamãe e papai estavam trabalhando e Evy estava no shopping com a tia Alice, quando o Tio Emm estava de folga ele sempre ficava aqui em casa, ele gostava de brincar com Joey e Cathy, ele era bem infantil nesse ponto, mas sempre divertia os dois.

Estava terminando de olhar um artigo no notebook quando me virei para Travis que estava bem concentrado no dever de casa. Ele era tão lindo e fofo também. Meu coração se apertou pelo fato de mal estar lhe dando atenção nesses últimos dias, ele não merecia isso de jeito nenhum. Eu já havia pensado nisso ontem a noite, até tinha cogitado o fato de terminarmos, ou pelo menos darmos um tempo no nosso namoro, eu via em seus olhos que ele sentia falta de mim, de ficarmos juntos normalmente, sem as desculpas de trabalhos e tarefas escolares.

- Travis? – o chamei e ele me olhou sorrindo um pouco. – Você está feliz comigo?

- Por que tá perguntando isso? – ele perguntou me olhando desconfiado.

- Eu apenas quero saber. – falei suspirando. – Eu tenho te deixado de lado esses dias e sei que você deve estar se sentindo rejeitado.

- Que bobagem Cici. – ele falou docemente, e isso piorava a situação.

- Não é bobagem Travis, eu sei que você tem se sentido um pouco de lado sim. – falei me levantando. – Eu realmente sinto muito por tudo isso. – falei indo em direção a janela e começando a sentir gotas quentes no meu rosto.

- Eu não estou reclamando. – ele deu de ombros e eu o olhei triste.

- Mas eu me sinto péssima fazendo isso. – falei olhando bem nos seus olhos. – Saiba que é horrível te ver assim. – eu suspirei e olhei de lado, não queria olhar em seus olhos quando proferisse a próxima frase.

- Amor deixe de bobagem, por favor. – ele pediu com a voz novamente carinhosa e eu fechei um pouco os olhos, por que tudo tinha ficado tão difícil?

- Não é bobagem Travis, acho que... – eu realmente não queria e nem podia continuar.

- Acha que? – ele perguntou e eu suspirei pesado.

- Você não pensa em, sei lá, em terminar, ou dar um tempo? – eu realmente perguntei isso sem olhar para ele, eu não conseguia, eu tinha medo. Medo de ver que ele talvez achasse isso uma boa ideia realmente.

- Você quer terminar comigo? – ele perguntou e o olhei, sua voz era magoada, mas nada se comparava ao que vi em seu rosto, tristeza, dor, decepção, tudo estampado em seus gestos e em seus olhos.

- Não! – eu falei tentando acalmá-lo. – Mas, eu cheguei a pensar que seria melhor para você. - eu estava mais nervosa e começava a pensar que tudo que eu disse até agora parecia uma grande loucura. – Talvez você quisesse outra namorada, não sei. – abaixei um pouco a cabeça e senti ele se levantar.

- Que história é essa Cecília? – ele me puxou em sua direção. – Eu não preciso de outra namorada, eu tenho você. – ele falou me olhando sério. – Você não gosta mais de mim? É isso?

- Não, claro que não é isso. – falei triste. – Eu te amo. – declarei e chorei um pouco, ultimamente eu apenas chorava. – E é por isso que eu quero que você seja feliz.

- Eu sou feliz. – ele rebateu. – Você só está passando por uma dificuldade agora. – ele falou me abraçando. – Acha que eu desistiria assim tão fácil de você? – ele perguntou carinhoso. Eu sorri. – Eu te amo muito. – ele falou e beijou meus olhos.

- Me desculpe. – pedi. – Eu também te amo muito.

Flashback Off

Eu sei que nesse dia eu realmente estava insegura demais, mas pensar que talvez ele fosse mais feliz sem mim era tão doloroso.

- Oi. – ouvi uma voz conhecida soar da porta e levantei um pouco a cabeça para encarar Evy que estava entrando e sentando onde antes eu havia jogado minha mochila.

- Oi. – falei sorrindo.

- Por que não me esperou? – ela perguntou se aproximando e me abraçou pelos ombros.

- Eu vi que estava com o Matt, não queria atrapalhar vocês. – falei e ela sorriu.

- Você não iria atrapalhar. – ela disse séria. – A gente estava apenas conversando sobre o que fazer hoje à noite. – ela disse se animando. – Vamos acampar a luz das estrelas e como amanhã é sábado, então está tudo certo.

- Que bom. – falei sorrindo pra ela.

- Que bom nada, você também vai maninha. – ela disse e eu neguei.

- Acho melhor não. – analisei e franzi a testa. – Mamãe e Edward sabem disso? – perguntei me referindo aos nossos pais, eu tentava não chamar Edward de pai na frente do meu pai biológico, eu sabia que era uma coisa que magoava ele antes.

- Teremos o nosso melhor vigia – ela revirou os olhos. – O tio Emm vai com a gente, ele e a tia Rose adoram essas coisas de acampar.

- Ah. – foi apenas o que falei.

- Nada de ah dona Cici. – ela falou me olhando séria. – Você vai com o Travis, já falei com ele e está tudo certo.

- Eu acho que tudo bem então. – falei rendida, talvez fosse realmente uma boa ideia, eu faria isso por Evy, mamãe e Travis. Eles também mereciam minha atenção e carinho.

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- Não acredito que concordei em vir. – tia Alice reclamou pela décima vez e eu ri novamente. Eu realmente gostei de vir.

- Pára de reclamar maninha. – tio Emmett pediu de novo e nós rimos.

- Cala a boca Emmett! – tia Alice falou estressada e passando mais repelente. – Aqui está cheio de mosquitos. – ela fez careta e eu ri alto junto com Travis, Evy e Matt.

- Vem pra fogueira tia. – Matt falou e sorriu. Ele adorava chamar a titia de tia, ela revirava os olhos toda vez, e sempre dizia a mesma coisa.

- Garoto insolente. – seu conhecido bordão para se referir ao Matt. – Eu não sou sua tia!

- Que isso tia. – Matt reclamou. – Eu queria ser seu sobrinho. – ele fez um bico e Evy o beijou. Logo a discussão entre ele e tia Alice foi esquecida, Matt agora estava bem ocupado namorando.

Eu também encarei Travis que estava concentrado olhando as estrelas, assim que me viu o encarando, ele sorriu e afagou minha bochecha. Beijei seu queixo e me acomodei em seu peito, estávamos perto da fogueira improvisada que o titio tinha feito, havia ficado perfeita ali, nos aquecendo e também clareando um pouco nossos rostos.

- Adorei vir acampar com você. – declarei e senti seus lábios em meus cabelos. – Com todos vocês.

- Que bom que você esta feliz amor. – ele falou me abraçando mais forte. – Eu estou adorando estar ao seu lado hoje, a luz das estrelas, diante da fogueira, está tudo perfeito. – eu sorri grande.

- Sim, está tudo perfeito amor. – falei e suspirei baixinho. Eu estava feliz parcialmente, estava sendo relaxante, eu realmente precisava disso, dessa paz e calmaria e apenas curtir um pouco minha família e meu namorado, apesar da mamãe, o papai, Cathy e Joey não estarem ali, uma parte da minha família estava, e isso era importante, principalmente por saber que isso fazia a outra parte da família feliz.

- Agora é hora da história de terror. – tio Emm falou e olhei para ele que estava com uma cara de sapeca. – Quem tem medo de monstros? – ele perguntou já sentando perto da fogueira e olhou sério para Evy que ainda estava beijando o Matt, eu ri quando eles pararam e nos olharam envergonhados.

- Que foi? – Evy perguntou desconcertada.

- Acho bom você se ligar na história Evelyn. – tio Emmett exigiu e ela soltou um beijinho para ele, que se acalmou e voltou a nos fitar, Evy tinha um poder sobre os homens da nossa família que era incrível, até mesmo titia Alice saiu da barraca e sentou ao meu lado e do Travis.

Sim essa noite estava realmente perfeita! Nada de estresse, nada de preocupação e nada de problemas por enquanto.