Seres da Noite escrita por GabrielleBriant


Capítulo 19
O Vampiro




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CAPÍTULO XIX

O VAMPIRO

- Slughorn? Você tem certeza disso?

- Sim, tenho. Armand se arrependeu porque esse homem foi um profes--

Mas, antes que a Condessa Leigh conseguisse terminar de falar qualquer coisa, Snape se levantou. O seu olhar distante denunciava como aquela revelação o havia afetado. Como, em todo aquele tempo, ele não percebera que Slughorn era um vampiro? Ele devia ter observado mais...

Apenas agora ele percebia... Sempre enfurnado nas masmorras... Não deixava os seus aposentos sequer para fazer as refeições... Saía à noite, sempre rondando os jardins e, vez por outra, desaparecia...

E, pensando bem, as poções que Severo fazia sempre acabavam sumindo. De certo ele pegava o seu quinhão...

Slughorn era um vampiro.

- Severo? – Scarlet chamou-o de volta à realidade.

- Muito obrigado, Scarlet. Temos que ir.

Sem mais dizer uma só palavra, ele segurou Mina pelo braço e se retirou. Quanto mais cedo ele chegasse a Hogwarts e tirasse aquela história a limpo, melhor.

XxXxXxX

Era extremamente complicado achar o que fazer naquele castelo solitário.

Não que Van Helsing não gostasse de levar uma vida solitária... No entanto, aparentemente, ele se acostumara muito facilmente a passar as tardes na companhia de Mina. E não era de se espantar: a cada dia que se passava, mais ele via a sua adorada Emily espelhada nos gestos e atitudes da estabanada vampiróloga.

Suspirou.

Ela é minha filha... Como Emily pôde esconder isso de mim?’

E a sua filha, ele sabia, estava naquele momento na companhia de um mostro... Mas será que ele, depois de tanto tempo, ainda teria o direito de tentar protegê-la?

- Merda.

Era melhor deixar tais pensamentos de lado... e só existia uma única coisa em todo mundo capaz de ajudá-lo a livrar-se de lembranças indesejadas: uísque. No entanto, a garrafa que sempre ficava disposta num balcão naquela sala que ele estava dividindo com Mina e Snape estava vazia. E, sendo o único incapaz de fazer mágica dentro daquele castelo, não havia nada que Van Helsing pudesse fazer para enchê-la novamente.

Van Helsing deu um longo suspiro, espreguiçando-se lentamente no sofá.

A maneira de conseguir uma boa garrafa de uísque era, talvez, uma rápida visita ao vice-diretor da escola, Horácio Slughorn. Bufando por ter que fazer um mínimo de esforço, ele se levantou.

Lentamente e tentando não fazer muito barulho, ele deixou a sua sala e começou a caminhar pelos corredores vazios e escuros.

Os aposentos do vice-diretor também ficavam nas masmorras, desde que ele ensinava poções. Com poucos passos, ele pôde chegar à porta que o levaria às diversas garrafas de bebidas alcoólicas...

E, estranhamente, a porta estava aberta.

- Olá?

Os passos cautelosos faziam o velho assoalho de madeira ranger. Todo o local era consumido por uma escuridão sem fim... a única e precária fonte de luz vinha diretamente da porta a qual Van Helsing acabara de cruzar. E essa fonte de luz iluminava como um holofote uma estante cheia de garrafas do que pareciam ser bebidas.

Van helsing passou um momento apenas olhando para os rótulos... Lá, apenas aquelas que poderiam ser consideradas “bebidas de bruxo”. E ele, mais uma vez percebendo que era um completo estranho naquele maldito castelo, não fazia idéia de qual escolher.

No fim, aleatoriamente, pegou uma cujo no rótulo bonito havia escrito “Hidromel”.

Abriu...

E o tão conhecido e fétido odor metálico impregnou o ar. A única bebida que aquela garrafa continha, era sangue.

Estreitou os olhos.

Mais que rapidamente, algumas outras garrafas foram abertas... Ele não se surpreendeu ao constatar em que todas elas o conteúdo era o mesmo. E, a julgar pelo odor e pela fina “nata” de sangue coagulado que tinha em cada garrafa, aquele sangue já estava parado ali há algum tempo.

- Merda!

Van Helsing passara tanto tempo prestando atenção em Snape, que o vice-diretor, sempre tão gentil e solicito, tinha lhe passado completamente despercebido! Ele também nunca saía pela manhã! Nunca saía das masmorras e nunca ia ao almoço!

Como ele podia ter se enganado tanto? Como ele pôde se deixar levar pela sua antipatia? Sim, pois, no fundo, ele queria que Snape fosse o culpado...

Snape era vampiro, de fato... Mas não fazia nenhum sentido achar que ele era o responsável pelos ataques: ele dormia no quarto ao lado do de Van Helsing; se ele saísse à noite, Van Helsing escutaria, com certeza! O vice-diretor, no entanto, poderia sair muito bem sem que ninguém percebesse.

- Slughorn! SLUGHORN!

Nenhuma resposta.

Depois de tantos séculos exterminando aquele tipo de criatura, Van Helsing as conhecia bem... Era muito difícil fazer com que um vampiro voltasse a se contentar com as poções depois de provar do sangue quente... Se o abraço tivesse despertado a natureza violenta no vampiro, isso era praticamente impossível - e bastava um olhar em Slughorn para ter plena certeza que a sua natureza certamente não era lasciva!

Já havia se passado algum tempo desde o último ataque... Se Slughorn não estava mais consumindo o sangue das poções, deveria estar faminto. Faminto e particularmente violento. E, se ele não estava em seus aposentos, era porque...

Mina!’

O último ataque do vampiro aconteceu na Floresta Proibida!...

...E Mina estaria voltando com Snape pela floresta!

Ele tinha que ir!

XxXxXxX

Aparataram em algum ponto no coração da Floresta Proibida.

Mina mordeu o seu lábio, relutantemente soltando a mão esquerda de Snape.

- Será possível? Que ele seja o assassino?

Ele crispou os lábios.

- Slughorn sempre gostou do melhor, Stoker. Se ele realmente for um vampiro, não me surpreenderia que ele preferisse vítimas ao sangue das poções.

Começaram a caminhar.

O silêncio incomodava Mina mais do que o normal... Levando em consideração os últimos acontecimentos, era de se esperar que pudessem usar esse tempo livre para tentar conversar sobre o que ele sabia que ela estava sentindo... E o que ele parecera também sentir, a julgar pela noite anterior.

Mina suspirou alto.

Aquela era uma das horas em que ela gostaria de ser um pouco mais corajosa... A vontade que tinha era de simplesmente segurar a mão de Severo e lembrá-lo que agora que tudo estava perto do seu fim; que eles prenderiam Slughorn e a missão estaria acabada... e ela iria embora. E revelar que ela não sabia se queria ir... Falar que, talvez, ela quisesse ficar... ao lado dele.

Mas, ao invés disso, ela simplesmente olhou o seu relógio e comentou.

- É melhor nos apressarmos. Já está quase amanhecendo.

Sem uma palavra sequer, Snape assentiu.

A visão do castelo era cada vez maior e as árvores já estavam quase se acabando quando, de repente, Mina sentiu um forte puxão em seu cabelo. O susto e o pavor fizeram um grito fino ser liberado pela sua garganta, enquanto uma mão rechonchuda agarrou a sua cintura ao mesmo passo que a outra soltava o seu cabelo e apontava para o seu pescoço uma varinha.

A voz grave do vice-diretor de Hogwarts soou perto do seu ouvido, enquanto ela via os olhos negros de Severo perderem o seu brilho, encarando o agressor com... medo?

- O que Leigh contou a vocês?

Snape deu um passo para frente, aproximando-se cautelosamente dos dois. Slughorn, furioso, encostou mais a varinha ao pescoço de Mina – ela prendeu a respiração por um segundo.

- Eu fiz uma pergunta, Snape! E, se eu fosse você, não daria mais nenhum passo!

Severo, tenso, parou imediatamente. Lentamente, ergueu uma sobrancelha.

- Acabou, Slughorn. Se entregue, e talvez Van Helsing não te mate.

Slughorn deu uma risada rouca, enquanto puxava Mina mais para perto.

- Acabou? Não, Severo. Se você não percebeu, eu estou ditando as regras agora. Acabou para você. Solte a sua varinha, se não quiser que a sua querida vampiróloga seja brutalmente assassinada.

Os olhos negros vagaram de Mina para o vice-diretor, relutantes. Ele sabia que soltar a varinha seria jogar fora a única chance de prender Slughorn... ele sabia o que deveria ser feito. No entanto, ao olhar os olhos azuis marejados de desespero, nada pôde fazer senão deixar cair aos seus pés o objeto mágico.

Uma gargalhada maldosa cortou o silêncio da Floresta Proibida.

Violentamente, Slughorn empurrou Mina para o tronco de uma árvore e avançou sobre Snape, tirando do bolso das suas vestes uma seringa exatamente igual àquela que, na noite anterior, Rosmerta tentou usar para matá-lo.

- Ela não conseguiu enfiar isso em você, mas eu acho que vou conseguir!

- Você vai ser preso, Slughorn!

- Não, Severo, não vou. Eu vou contar a todos a triste história de como cheguei à Floresta Proibida e te vi atacar a Srta. Stoker. E que, para salvá-la, tive que matar você... mas, infelizmente, acabei sem conseguir salvar a vida da pobre vampiróloga. Uma tragédia! Agora...

O vice-diretor rapidamente empunhou a seringa, deixando-a pronta para ser usada em Severo...

Mas Slughorn não conseguiu terminar o que Rosmerta começara na noite anterior. Ao ver a ameaça que pairava sobre o homem que amava, algo acendeu dentro de Mina. E, mesmo sabendo que não era nada boa naquilo, pegou a cruz de prata do bolso interno do seu blazer e correu ao encontro do vampiro assassino.

Encostou a pesada cruz no rosto de Slughorn e o fétido odor de carne queimada subiu, enquanto o rosto dele era corroído pelo objeto sagrado, tal qual fosse feito de puro ácido.

O grito foi agonizante.

A dor lacerante fez com que Slughorn soltasse a seringa e se esquivasse. Por um breve momento, o olhar aliviado de Mina perdeu-se no olhar de Severo... Mas esse mísero espaço de tempo em que os dois apenas comemoraram em silêncio a vitória foi suficiente para o vice-diretor se recompor e fazer com que a sua pesada mão acertasse Mina em cheio no rosto e a fizesse voar para longe. Imediatamente, diferiu a maldição que o próprio Severo o ensinara anos antes:

- Sectusempra!

Ela gritou, vendo desesperada jorros de sangue deixar o seu corpo e uma dor alucinante tomar conta de si, enquanto o vampiro aproximava-se ameaçadoramente dela.

- MINA!

A única coisa em que Severo conseguia pensar era em correr ao encontro daquela mulher e consertar o que o feitiço que ele mesmo inventara. E, para tanto, apressou-se para onde há pouco deixara cair a sua varinha... Mas, quando abaixou para pegá-la, sentiu uma terrível dor lhe acometer e a sua mão imediatamente enegrecer: era a luz do sol, que recaía sobre ela.

Ele olhou para trás. O cheiro do doce sangue de Mina inebriava os seus sentidos, mas não era da maneira boa, como há alguns dias, quando a mordeu. Era agonizante... O agradável ruído dos batimentos cardíacos dela aos poucos se desacelerava...

E Slughorn aproximava-se lentamente dela, aparentemente para terminar o que começara.

E, como um raio, a verdade o atingiu: Não havia mais tempo. Mina morreria. A menos que...

Severo finalmente percebeu que teria de tirar Slughorn do caminho antes que o diretor desse o golpe de misericórdia. Olhando para os seus pés viu que, apesar da varinha estar no sol, na sombra estava a seringa que o vice-diretor usaria para matá-lo.

Rapidamente a pegou e correu. Antes que Slughorn pudesse chegar a Mina, ele enfiou a agulha nas suas costas – mais um grito.

O veneno mortal começou a entrar em suas veias.

Raivosamente, Slughorn virou-se e pegou Severo desprevenido. Segurou-o pela cabeça a bateu várias vezes contra o troco de uma árvore... O último pensamento que teve antes de perder a consciência foi que a única coisa que poderia salvar Mina seria a sua mordida... exatamente como, há anos, ele fora salvo por Scarlet Leigh.

Slughorn caiu ajoelhado; os olhos marejados encarando o corpo ensangüentado de Mina com pura maldade.

Segurou os seus cabelos ruivos e a puxou para si.

- Minha última refeição!

E a mordeu.

Um fraco grito de terror escapou da garganta de Mina.

E ela soube, em seu fiozinho de consciência, que o vice-diretor apenas aceleraria o seu fim. Já estava morrendo... sua visão escurecia...

Fechou os olhos, fazendo uma prece silenciosa...

E o corpo sem vida do vice-diretor caiu sobre ela.

Com dificuldade, ela usou o resto das suas forças para abrir os olhos... e viu a figura embaçada de Van Helsing surgir por trás do cadáver de Slughorn, segurando em suas mãos uma estaca cheia de sangue.

Com os olhos castanhos cheios de preocupação, ele se abaixou.

- Deus! Mina, o qu--? Agüente, eu vou te tirar daqui!

Mas ela só podia pensar no sol que estava aparecendo.

- Não, pai... Severo... salve Severo...

E tudo ficou escuro...

XxXxXxX


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