E com isso ela me agarrou pelos ombros e empurrou-me com força para dentro do prédio.

E o meu queixo quase caiu.

A estrutura externa da construção não se equiparava ao seu interior.Grossas colunas de gesso sustentavam um teto que eu quase não pude ver de tão alto.Tecidos dourados pendiam  de pilares nos quais se encontravam 12 estatuas de bronze de homens e mulheres,todos,de sua forma,exalavam poder.

Não tive muito tempo para admirar a arquitetura,pois no momento seguinte a loba que eu havia visto na floresta apareceu,vinda de uma porta lateral.Bastou um piscar de olhos pra que o animal quadrúpede a minha frente crescesse e tomasse a forma de uma mulher.Uma linda mulher,diga-se de passagem.

-Gosta do que vê?-ela falou,sua voz ecoando no pelo lugar.-Estes a sua frente são os nossos 12 deuses.

-Eu sei.-falei,inseguro de se eu sabia ou não.-Zeus,Poseidon,Hera,Atena...

-Não,meu jovem.Esses são os deuses gregos.

-E tem diferença?-perguntei,mais rude do que queria.

A ex-loba pareceu insultada,por isso mudou de assunto.

-Me chamo Lupa,chefe do acampamento.

-Você que treinou aquelas crianças com espadas e lanças?

-Sim.-disse ela.-E em breve você aprendera a fazer o mesmo que eles,talvez até melhor.

-E por que eu iria querer aprender aquilo?

-Essas estatuas.-continuou Lupa.-Como eu já lhe disse,são os deuses romanos aos quais cultuamos.Você já ouviu falar em nomes como Jasão,Perceu,Hercules?

-Sim.-eu respondi.-São os filhos mortais dos deuses.

-Exato,com a exeção de que eles não eram meros mortais,e sim semi-deuses.Meio deuses,meio mortais.E eles não foram os único.

Lupa veio até mim e passou a rodear-me,me analisando.

-Há milênios os deuses tem filhos com mortais,e a milênios semi-deuses surgem.Aqueles jovens que você viu na floresta são um exemplo.-neste momento notei que ela havia sacado uma faca de dentro das vestes brancas,túnicas.-E você é outro.

Então ela me atacou,com a faca indo na direção do meu peito.Esquivei-me e girei sobre os calcanhares,desviando do segundo golpe que veio a seguir.

Assim que desviei,Lupa passou batida na direção do chão,mas pouco antes de cair ela voltou a forma de lobo e se voltou para mim,mostrando os dentes afiados e nada desejáveis que ficassem perto de mim.

Recuei,agora minhas pernas não tremiam mais,tudo na minha mente a respeito daqueles últimos instantes havia sido momentaneamente dissolvido,eu só pensava em sobreviver a aquela loba maníaca.

Nas paredes,estavam expostas relíquias,entre elas espadas.Corri até lá e desatrelei uma do suporte e me pus em posição de defesa,pronto para o que viesse.

Mas não veio.Lupa voltou a forma humana,agora com um sorriso satisfeito no rosto.

-Sangue divino corre em suas veio,garoto.-disse ela,ainda sorrindo.-Seu instinto de luta é o que mantém vivo.Tu és um lutador nato.Um romano.

-N-Não,eu não sou romano.Sou de...-foi ai que eu lembrei,ou melhor,não lembrei.Eu não sabia nem de onde havia vindo.

-De onde vens?-perguntou Lupa,agora curiosa.

-Eu não sei.Não lembro de onde vim nem como vim parar aqui.

Lupa me lançou um olhar estranho,como se estivesse indecisa se eu estivesse mentindo ou curtindo com sua cara.Acho que optou pela segunda opção.

-Explique-se.-ela ordenou.

-Eu não sei quem sou,de onde vim,nem porque ou como vim parar aqui.-falei,sem conseguir convencer nem a mim mesmo,meu tom de voz aumentando a cada palavra.-Só sei que acordei do nada numa floresta com crianças malucas se espetando com espadas.Não sei quem sou!

Lupa não pareceu muito convencida.

-Sophie.-disse ela em voz alta,chamando a garota que me acompanhara até ali,e que só então eu notei que estava no segundo piso da construção,observando a conversa acompanhada de outra garota.

-Sim,Lupa.-falou Sophie,que ainda vestia a armadura.

-Quero que acompanhe nosso visitante esquecido até o lado para que fale como os Áugeres.Teremos respostas queira esse garoto dar ou não.

Sophie acentiu e desceu para o térreo,enquanto a outra garota sumia por uma outra porta lateral no segundo piso.

-Ela é meio instável,não é?-eu dizia enquanto acompanhava Sophie em uma caminhada até o tal lago,que ficava do outro lado daquele imenso acampamento,próximo a floresta.

-Quem?Lupa?

-É.O que ela faz aqui afinal?

-Ela nos treina.-disse Sophie,demonstrando novamente um profundo respeito pela loba.-Ela é como uma mãe para todos nós,para alguns ela é inclusive a única,mas ironicamente Lupa não é muito maternal,é mais como uma...

-Adestradora?-sugeri.

-É,acho que adestradora lhe cai bem,tendo em conta que muitos aqui são uns animais.

-Sei,e quanto tempo você esta aqui?-perguntei,tentando não demonstrar todo meu nervosismo e desconforto para com essa situação que eu nem sequer sabia descrever.Mas o rosto de uma garota com olhos acinzentados continuava em minha mente.

-Uns dois anos apenas,alguns estão aqui a mais de década. Reyna,por exemplo,nasceu no acampamento.

-Sério?-eu disse,olhando ao redor,não conseguindo me imaginar morando ali durante uma vida toda.-Ela nasceu aqui?

-Sim, Reyna é aquela garota que estava comigo no Conselho,que a propósito era onde você estava.A mãe dela,outra meio-sangue,procurou abrigo aqui após ser perseguida por criaturas vindas do mundo inferior,mas ela não sobreviveu ao parto.Desde então,Reyna mora,estuda, e é assim como eu uma das chefes do conselho de união inter-chalés.

-Inter-chalés?-eu disse.

-É um grupo de criamos para promover a união entre os alojamentos.Por sermos filhos de deuses diferentes,há muitos atritos entre nós.

-E de quem você é filha?

-Sou filha de Mercúrio.-disse Sophie com orgulho apontando para o emblema de um sapato alado incrustado no centro da armadura que usava.-Deus dos mensageiros e viajantes.

-E você,de quem é filho?-ela perguntou,oportunista.

-Já disse que não sei!-falei impaciente.-Não estou mentindo!

-Tudo bem,os Áugeres vão ajuda-lo a se lembrar,ou pelo menos explicar como veio parar aqui.Pelo menos é o que eu espero.

Mesmo sem saber quem eram esses tais Áugeres,continuei seguindo Sophie na direção do lago que agora eu já podia ver.